“TARSILA,
A BRASILEIRA”
ou
(SE HÁ ERROS,
NÃO OS VI.)
ou
(É ARREBATAMENTO
QUE SE DIZ?)
ou
(UM JUSTO TRIBUTO
A UMA ILUSTRE
MULHER BRASILEIRA.)
Nunca fiz
segredo de que adoro espetáculos musicais, infelizmente, ainda, não muito do
agrado dos espectadores assíduos de TEATRO – há um público específico para eles
-, com uma ligeira exceção em São Paulo, onde o gênero vem
crescendo a olhos vistos, nos últimos anos, principalmente durante a mais
recente década ou um pouco mais, e a despeito de ocuparmos a terceira colocação
no “ranking”
dos países que mais produzem, mas não consomem tanto, espetáculos
desse tipo. Gosto de qualquer modelo ou exemplo de musical, dos mais simples
aos mais sofisticados. Não faço a menor distinção entre aqueles e estes, com
uma única exigência: que sejam bem feitos. A grande
maioria dos que aqui se apresentam, como todos sabem, é de musicais “gringos”,
apresentados como “cópias” dos originais ou com algumas alterações e adaptações
permitidas pelos que detêm os direitos de exibição da peça, entretanto, nos
últimos tempos, graças a uma “forcinha” dos DEUSES DO TEATRO, a
produção de musicais brasileiros, autorais, vem se destacando, substancialmente,
e confesso que, de uns tempos para cá, embora continue não deixando de assistir
a nenhuma produção forânea, das que são encenadas no eixo Rio – São Paulo, “importadas”
a maioria, repito, venho preferindo assistir aos musicais “brazucas” e
valorizando-os mais que todos. Os artistas e
criadores brasileiros, em termos de TEATRO MUSICAL, estão na crista da onda, em
condições de competir com o que é feito de melhor fora do país.
Digo isso sem nenhum ufanismo, mas com muita sinceridade, uma “verdade”
de quem é um amante do gênero e, modestamente, sem maiores pretensões, conhecedor de
como deve ser a encenação de um bom musical, e com experiência e a oportunidade
de assistir a icônicas montagens no exterior.
Na
atual temporada teatral (2024), em pouco mais de um mês, considerando-se a pausa feita para o carnaval, já tive o privilégio e o
prazer de ter assistido a 7 musicais autorais brasileiros, dos
quais destaco três, embora todos tenham me agradado, em intensidades diferentes.
Assisti a dois deles, formidáveis, em São Paulo – “Codinome Daniel”,
crítica pronta para ser publicada, na dependência das fotos de cena que ainda receberei
da assessoria de imprensa, porque não foram feitas ainda, e “TARSILA, A BRASILEIRA”;
e um no Rio de Janeiro, “Por Elas”, crítica já publicada.
Aqui,
discorrerei sobre “TARSILA, A BRASILEIRA”,
um fabuloso musical, em cartaz no Teatro Santander (VER SERVIÇO.). Tentarei
ser o mais sucinto possível, o que muito me custa, já que meus dedos ficam “nervosos”,
e as teclas do teclado “em pânico”, quando gosto muito de
um espetáculo teatral e tenho vontade de escrever muito sobre ele. E dois são
os motivos pelos quais lutarei pela brevidade: falta de tempo e excesso de
pormenores interessantíssimos do espetáculo, que acabo esquecendo (Assisti
a ele no dia 26 de janeiro / 2024 e precisaria revê-lo, o que muito me
agradaria, para escrever com mais precisão e riqueza de detalhes.), e
já começo dizendo que é impossível não se
apaixonar por essa produção, impecável, em todos os sentidos,
que reúne o que há de melhor, entre tanta diversidade, em termos de artistas: criadores
e executores.
Não
é só o “Brazil” que não conhece o Brasil; o que se grafa com “S”
também desconhece nosso passado, no campo das ARTES, o que não é de se
admirar, pois muitos não se interessam nem pelo presente, para a nossa tristeza
e vergonha alheia. É lamentável que os estrangeiros não conheçam a potência da ARTE
brasileira, o que, no máximo, podemos considerar ignorância, falta de interesse ou egocentrismo;
“condenável”,
mas que não chega a ser um “pecado mortal”. O que não pode ser
aceito, em hipótese alguma, é um brasileiro de médio grau de instrução e
cultura não saber quem foram alguns dos grandes nomes da ARTE nacional, em todas
as suas manifestações. Há os que “já ouviram falar” ou “têm
uma vaga lembrança”, porém não se preocupam em conhecê-los profundamente
e, mais ainda, divulgar o trabalho desses grandes artistas. Mas veneram
qualquer “entulho”, principalmente no campo musical, que a grande mídia faz
de tudo para que engulamos (#prontofalei). TARSILA DO AMARAL, infelizmente, faz parte do grande rol dos
esquecidos e injustiçados, o que me impele a escrever um pouco sobre sua vida e
obra, à disposição na internet - onde busquei precisas informações, a fim de
complementar as que já me eram dadas conhecer -, para quem quiser saber maiores
detalhes (Fonte: Wikipédia, com supressões, acréscimos pessoais e adaptações.).
TARSILA de Aguiar DO AMARAL (Capivari, 1º de setembro de 1886 - São Paulo, 17 de janeiro de 1973) foi uma pintora, desenhista, escultora, ilustradora,
cronista
e tradutora brasileira. É considerada uma das
principais artistas modernistas latino-americanas,
além de ser a pintora que melhor alcançou as aspirações brasileiras de
expressão nacionalista em seu ofício. Foi integrante do chamado "Grupo dos Cinco", do qual faziam parte, além dela, Mário
de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti
Del Picchia - todos personagens importantes do musical em tela -, alguns
dos mais representativos nomes que participaram, diretamente, da “Semana
de Arte Moderna”, realizada no Theatro Municipal de São Paulo,
entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922 – efetivamente, nos dias 13,
15
e 17
-, uma manifestação artístico-cultural que reuniu diversas
apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras - pintura
e escultura - e palestras, momento em que os artistas envolvidos propunham uma
nova visão de ARTE, a partir de uma estética inovadora, inspirada nas
vanguardas europeias, buscando uma renovação social e artística no país, o que
fez com que o evento chocasse boa parte da população, pois trazia à tona uma
nova visão sobre os processos artísticos, bem como a apresentação de uma arte “mais
brasileira”, com um intencional rompimento com a ARTE acadêmica.
Claudia Raia / Tarsila do Amaral
TARSILA, ao lado de seus companheiros do “Grupo”
e outros grandes artistas, também é considerada uma grande influência no
movimento da ARTE moderna no Brasil. Foi fundamental na formação
do movimento estético "Antropofagia" (1928-1929), com seu célebre
quadro, Abaporu, pintado em janeiro de 1928, que ela deu de presente a Oswald
de Andrade, na comemoração de um dos seus aniversários. A pintura inspirou
o famoso "Manifesto Antropofágico" de Oswald de
Andrade”. Nasceu de uma família rica, de fazendeiros e
latifundiários, os quais cultivavam café, numa época em que as
mulheres não eram incentivadas a grandes carreiras profissionais,
principalmente se viessem de famílias abastadas. A célebre artista foi uma
exceção, incentivada pela família, a ponto de poder estudar na Europa
(Barcelona e Paris). Garanto que vale a pena ler mais sobre ela
e, principalmente, assistir ao musical aqui comentado. A propósito,
sobre o Abaporu, confesso que quase entrei em transe – sou fã de eufemismos,
mas pouco faltou para isso -, quando me vi diante do original, exposto no Museu
de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, há alguns anos. Emoção bem
próxima vivenciei, na cena em que uma cópia do quadro, em tamanho gigantesco, muitíssimo
superior ao do original, é descerrada no palco.
Abaporu
A história começa com a
chegada de TARSILA (CLAUDIA RAIA) a São Paulo, em 1922,
vinda da Escola de Artes de Paris, e seu encontro com os modernistas, o qual daria origem ao famoso Grupo dos Cinco, do qual faziam parte TARSILA,
Anita Malfatti (KEILA BUENO), Oswald de Andrade (JARBAS HOMEM DE MELLO),
Mário de Andrade (DENNIS PINHEIRO) e Menotti del Picchia (IVAN PARENTE),
e seria o início de um tórrido romance entre ela e Oswald.
A ação, então, passa pela
efervescência e excessos dos modernistas, a vida entre São Paulo e Paris,
o atribulado e concorrido atelier de TARSILA em Paris, frequentado pela nata
artística da época (Pablo Picasso, Igor Stravinsky, Eric Satie e Jean
Cocteau, entre outros), o “redescobrimento do Brasil”
e as revoluções estéticas que culminaram no movimento Antropofágico e na
criação do Abaporu, ponto máximo da colaboração artística entre TARSILA e Oswald.
A segunda parte da história
começa justamente com a Crise de 1929, quando TARSILA perde toda a sua fortuna e
descobre a traição de Oswald com Pagu (CAROL COSTA), jovem protegida do
casal.
Separada de Oswald
e destituída de suas fazendas, TARSILA
viaja para Moscou e dá início a sua fase de pinturas “sociais”, retratando os
trabalhadores brasileiros.
TARSILA é presa pela polícia de Getúlio Vargas, suspeita
por atividades “revolucionárias”, pelo simples fato de ter ido à Rússia (coisas
do Brasil).
Acolhida e amparada pelos
amigos, TARSILA, então, conhece seu
último amor, o jornalista carioca Luis Martins (REINER TENENTE), 24
anos mais jovem do que ela, com quem viveria por dezoito anos.
Após a morte da sua única filha, Dulce (CAROL COSTA) e
sua neta, também única (esta afogada num lago), da separação de Luís, e da morte de Mário,
Anita
e Oswald,
TARSILA reflete sobre suas perdas e
encontra consolo na espiritualidade – mais especificamente, na doutrina
espírita de Chico Xavier.
Numa epifania, TARSILA revela sua visão e renova sua convicção na ARTE como possibilidade de transcendência e de encontro com as pessoas que amou e as pessoas que compartilharam do mesmo sonho, que se funde com a Retrospectiva da Semana de Arte Moderna, cem anos depois, numa grande consagração da Cultura Brasileira.
Possivelmente alguém possa estar se perguntando por que
motivo iria assistir ao musical, se, na SINOPSE supra, o que não falta é “spoiler”.
Menos,
gente! O que consta na SINOPSE, inserida no “release”
que recebi de PRISCILA PREVIATO (Marra Comunicação), pode ser
encontrado em vários “sites”, na internet. A questão não
é ir ao Teatro Santander sabendo “tudo” sobre a vida dessa
extraordinária mulher; é ver como sua intensa vida, cheia de altos e baixos, é
mostrada num palco, de uma maneira magnífica, extremamente bem pensada,
conduzida e concretizada.
Para expressar todo o meu encantamento pelo espetáculo,
valho-me de uma metáfora, que já utilizei em outra(s) vez(es) (?): Nem com uma “lupa ou telescópio da NASA”, acho que alguém conseguirá encontrar alguma falha na montagem.
Do texto à interpretação, passando pela direção e pelos artistas de criação,
sem falar no batalhão de técnicos e contrarregras, tudo funciona perfeitamente,
quando até seria aceitável uma falha pequena, aqui ou ali, pela grandiosidade
do espetáculo.
Assinam a dramaturgia dois nomes já consagrados do TEATRO BRASILEIRO, principalmente no nicho dos musicais: ANNA TOLEDO, autora de “Conserto Para Dois”, “Divas - O Musical”, “Nuvem de Lágrimas” e “Vingança - O Musical”, e JOSÉ POSSI NETO, ambos também responsáveis por todas as letras das canções que fazem parte da trilha sonora original da peça, musicadas por GUILHERME TERRA e TONY LUCCHESI. Sobre o texto, tenho a dizer que ele é bastante “enxuto”, limitado aos fatos mais importantes da vida da homenageada, expressos em diálogos consistentes, distribuídos em cenas muito bem estruturadas. Chamou-me a atenção o fato de os autores não terem exagerado, em momento algum, a ponto de mostrar uma TARSILA “vitimizada”, nos momentos de muita dor e sofrimento por que passou, que não foram poucos. ANNA e POSSI, ao contrário, fizeram questão de mostrar a forças daquela mulher, que sempre se mostrou uma “fênix”, após cada perda, das muitas que contabilizou. Agrada-me muito o título com que batizaram o musical, pela escolha do aposto, que não faz só referência à nacionalidade de TARSILA, mas procura, por meio de uma conotação, reunir todas as qualidades inerentes às mulheres brasileiras, um detalhe muito importante, num momento em que elas, com muita luta e garra, estão atingindo conquistas há muito aspiradas, embora ainda precisem de muitas mais.
O
elenco de “TARSILA, A BRASILEIRA” se
comporta com total brilho e correção, a começar pela protagonista, interpretada
por CLAUDIA RAIA, um nome que
dispensa comentários, por seu talento e versatilidade em cena, mormente em
musicais. Não vou enumerar todos os espetáculos do gênero a que assisti com
ela, bastando dizer que jamais me decepcionei com seu rendimento sobre as
tábuas, seja protagonizando excelentes personagens, seja num pequeno papel, como
quando a aplaudi, pela primeira vez, ainda adolescente, no início da década de 1980,
em “A
Chorus Line”, no antigo Teatro Tereza Rachel, no Rio
de Janeiro, hoje totalmente reformado e transformado no Teatro
Claro Mais – RJ.
Talento imenso e inquestionável à parte, a figura de RAIA é exuberante, uma luz a mais no palco, um “evento”, motivo de entusiasmo, êxtase, arrebatamento para o espectador, e sua primeira aparição já contagia a plateia, anunciando as gratas surpresas que acontecem durante os 150 minutos de espetáculo, sem contar o intervalo. Pelo que conheço da personagem, percebi que a atriz estudou, com afinco, seus detalhes, para uma representação que muito deve se aproximar de como TARSILA se comportava. De todos os seus trabalhos no palco, não titubeio em afirmar que se trata de sua maior e melhor criação.
Os
principais personagens são representados por excelentes atores, com bastante
experiência em musicais, todos com um rendimento muito acima do que pode ser
considerado bom. JARBAS HOMEM DE MELLO
está muito seguro e convincente, na pele de Oswald de Andrade, o qual
merece, e merecerá sempre – o personagem, que fique bem claro –
ser aplaudido por sua ARTE, mas não
pelo seu comportamento pessoal. KEILA BUENO compõe uma interessante
Anita
Malfatti, personagem sobre a qual pesquisei bastante, há pouco tempo,
para dirigir uma leitura dramatizada da peça “A Fúria dos Modernistas”,
inédita ainda, à espera de quem a deseje produzir, da autoria de Paty
Lopes. Anitta é muito rica, em sua personalidade, e encontrou em KEILA quem a interpretasse
impecavelmente. IVAN PARENTE vive o
poeta Menotti del Picchia, de uma forma leve e descontraída, muito
próxima do que conheço – pouco, é verdade – de sua
biografia. Deixei para o comentário
final, sobre os personagens mais ligados à protagonista, o trabalho de DENNIS PINHEIRO, como Mário
de Andrade. O motivo é muito simples: acompanho a carreira de DENNIS, desde os seus primórdios, e venho
percebendo, visivelmente, um grande amadurecimento em seu trabalho, na
interpretação, na dança e no canto, os pré-requisitos para quem deseja ser um
grande ator de musicais. DENNIS, a
meu juízo, por sua atual interpretação, já pode ser considerado um. Aproveito
para adicionar um comentário relacionado a ele, porém direcionado ao estupendo
trabalho de visagismo, assinado por DICKO
LORENZO, que o transformou num personagem totalmente diferente de sua aparência
física: irretocável. Aliás, o trabalho de LORENZO,
aplicado as todos os personagens, é digno de muitos aplausos.
Em
papéis menores, lembrando que secundários são os personagens, e não os atores,
temos mais 18 atores / cantores em cena: CAROL COSTA (Dulce / Pagu), LIANE MAIA (Dona Olívia Guedes Penteado),
REINER TENENTE (Luís Martins / Blaise Cendras),
ESTELA RIBEIRO (ensemble / Tarsila do Amaral
alternante), ANDRÉ LUIZ ODIN
(ensemble),
JOHN SEABRA (ensemble / Mário de Andrade cover), FERNANDA GODOY (ensemble / swing), FERNANDA SALLA (ensemble), GUILHERME TERRA (Igor Stravinsky / Maestro Condutor),
MARCOS LANZA (ensemble), MARILICE COSENZA (ensemble / Anita Malfatti cover),
MATHEUS PAIVA (ensemble), MIRELLA
GUIDA (ensemble), CAROL BOTELHO (ensemble / Dulce / Pagu cover),
RAFAEL LEAL (ensemble), RENATO BELLINI (ensemble), VANESSA COSTA (ensemble / Dona Olívia Guedes
Penteado cover) e GUILHERME
PEREIRA (ensemble / dance captain).
Antes de prosseguir nos comentários sobre a peça, acho oportuno esclarecer que Oswald e Mário de Andrade, a despeito do mesmo sobrenome, não eram irmãos, como julgam alguns. Na verdade, nem parentes. Os dois escritores eram amigos, porém se tornaram inimigos, por conta das excessivas brincadeiras de mau gosto, modernamente chamadas de "bullying", da parte daquele, um reconhecido "piadista", com relação a este. Dizem que eram de fundo crítico e zombateiro à homossexualidade assumida de Mário, o qual, sempre, porém, preferiu a discrição, porque sabia que, na realidade, era difícil o convívio com um grupo que, apresar de modernista, era, na sua maioria, altamente conservador, em matéria de costumes (Será que mudou muita coisa, de lá para cá?).
A direção do espetáculo é
de JOSÉ POSSI NETO, o qual, além de
dividir, com ANNA TOLEDO, a escrita
do ótimo texto, também é o responsável pela direção de arte do
musical; um verdadeiro exemplo de multiartista. POSSI tem uma ligação não só com o TEATRO, mas também com a música, daí o sucesso que sempre tem
obtido em direções de musicais, como comprovam, por exemplo, “Crazy
For You” e “Peter Pan – O Musical”, apenas para citar dois dos mais
recentes. Ao longo de mais de 40 anos de ofício, já encenou
espetáculos de TEATRO de prosa ou declamado,
TEATRO
MUSICAL, ópera, TEATRO-dança, balé e “shows”
musicais, num total de cerca de 100 espetáculos, ao todo. Acredito
que, quando a direção de um espetáculo é feita por quem escreveu o texto, a
tarefa torna-se mais fácil e o espetáculo é erguido em menos tempo, visto que,
ao longo do processo de escrita, o futuro diretor já pode ir desenhando o seu
trabalho de “reger” atores no palco. Enxerguei, no palco do Teatro
Santander, uma precisão muito grande de marcações e soluções
inteligentes e práticas para cada cena, trabalho de quem “tem garrafas vazias para vender”
(Entreguei
a idade.)
Como não poderia deixar de ser, num musical, a música e tudo
o que diz respeito a ela têm, praticamente, o mesmo peso do texto, até porque
as letras fazem parte deste, para ajudar a contar a história. São ótimas as
letras de ANNA TOLEDO e JOSÉ POSSI NETO, como já disse, assim
como as excelentes melodias, compostas por TONY
LUCCHESI e GUILHERME TERRA,
também já mencionados. As canções não têm um grande apelo popular, a ponto de
fazer o espectador voltar para casa com elas na memória, porém são de excelente
qualidade artística. Nesse universo,
merece destaque o trabalho de direção musical, a cargo do maestro GUILHERME TERRA. São, ao todo, 23
canções:
Prólogo
Abertura: Vinte e Dois • (Oswald, Anita, Mario e Menotti e Ensemble)
A Semana de Arte • (Oswald, Anita, Mario e Menotti e Ensemble)
Souvenir de Capivari • (Tarsila, Oswald, Anita, Mario e Menotti)
Um Mundo Sem Moldura • (Tarsila)
Vem Dar um Rolê • (Modernistas e Ensemble)
Vem Dar Um Rolê (reprise) • (Oswald e Tarsila)
Tarsilwaldo • (Ensemble)
Souvenir de Capivari (reprise) • (Tarsila)
Rebu no Atelier • (Oswald, Dona Olívia, Picasso, Cocteau, Blaise Cendrars, Stravinsky, Príncipe
Kojo Tuvalu)
Ó Que Trem Bom • (Tarsila, Oswald, Anita, Mario, Dona Olívia e Ensemble)
Capoeira do Mario • (Mario de Andrade e Ensemble)
O Casamento • (Tarsila, Oswald, Anita, Mario, Dona Olívia e Ensemble)
A Criação do Quadro • (Tarsila e Ensemble)
Ato II
ABAPORU • (Companhia)
Semana de Arte / Abaporu (reprise) • (Ensemble e Pagu)
O Angu da Pagu • (Anita, Dona Olívia, Pagu e Ensemble)
Eu Como Mesmo • (Oswald)
Um Mundo Sem Moldura (reprise) • (Tarsila e Ensemble)
A Rainha de Sabá • (Tarsila e Prisioneiras)
Aí Vai Meu Coração • (Tarsila e Luis)
Quando Eu Morrer • (Oswald, Mario e Anita)
Finale • (Companhia)
Pelos nomes já citados e pelos que ainda virão, qualquer mínimo conhecedor e frequentador assíduo de musicais, mesmo antes de assistir a um, já pode esperar que tudo dê certo nele, como ocorre aqui. Uma produção que traz, na FICHA TÉCNICA, nomes como ALONSO BARROS, RENATO THEOBALDO, FABIO NASMATAME, WAGNER FREIRE, TOCKO MICHELAZZO e DIKO LORENZO pode dormir tranquila, todos os dias, durante o período de ensaios, pois sabe que a soma desses talentos dará bons frutos.
A coreografia, de ALONSO, como sempre, em todas as dezenas de trabalhos assinados por ele, é um dos pontos altos do espetáculo, a meu juízo: dinâmica, alegre e com muitas pinceladas de brasilidade.
A cenografia, de THEOBALDO, é belíssima e consegue ser, ao mesmo tempo, exuberante e econômica. O artista usa menos elementos cenográficos em cena - móveis de época, de uma beleza indescritível - para deixar o palco mais livre para as atuações.
Os figurinos, de NAMATAME, além de fiéis às épocas percorridas pela peça, são extremamente elegantes e com cortes e caimentos impecáveis. O destaque vai para todos os trajes usados por CLAUDIA RAIA – muitos; só no primeiro ato, são mais de 10.
Costumo dizer que todo presente, por mais valioso que seja, precisa de uma rica embalagem, que mais ainda o valorize. Em forma de metáfora, digo o mesmo em relação ao desenho de luz de um espetáculo teatral. E é assim que considero o lindíssimo trabalho de WAGNER FREIRE, responsável pela luz do espetáculo, a qual esbanja cores, numa paleta variadíssima, e põe em evidência tudo o que é para ser visto no palco.
O espectador, em qualquer lugar que esteja ocupando, consegue ouvir tudo o que é dito ou cantado no palco, sem perder nenhum detalhe audível, porque um competente e premiado profissional se ocupa disso, o que é fundamental para a compreensão de qualquer história: TOCKO MICHELAZZO.
Quanto ao importante trabalho de visagismo, de LORENZO, tantas vezes invisível aos olhos do público e, até mesmo
da crítica especializada – eu o valorizo muito -, já fiz as
devidas observações. Acho difícil, porém não impossível, surgir, no decorrer do ano teatral, um trabalho de visagismo que supere o deste artista nesta peça. É uma pena que, nos prêmios de TEATRO, ainda não exista, a não ser que eu não saiba, um prêmio destinado a essa categoria.
Texto e Letras: Anna Toledo e José Possi Neto
Músicas: Guilherme Terra e Tony Lucchesi
Encenação e Direção de Arte: José Possi Neto
Elenco / Personagem:
Claudia Raia (Tarsila do Amaral), Jarbas Homem de Mello (Oswald de
Andrade), Keila Bueno (Anita Malfatti), Dennis Pinheiro (Mário de Andrade), Ivan
Parente (Menotti del Picchia), Carol Costa (Dulce / Pagu), Liane Maia (Dona
Olívia Guedes Penteado), Reiner Tenente (Luís Martins / Blaise Cendras), Estela
Ribeiro (Ensemble / Tarsila do Amaral Alternante), André Luiz Odin (Ensemble),
John Seabra (Ensemble / Mário de Andrade Cover), Fernanda Godoy (Ensemble /
Swing), Fernanda Salla (Ensemble), Guilherme Terra (Igor Stravinsky / Maestro
Condutor), Marcos Lanza (Ensemble), Marilice Cosenza (Ensemble/ Anita Malfatti
Cover), Matheus Paiva (Ensemble), Mirella Guida (Ensemble), Carol Botelho (Ensemble
/ Dulce / Pagu cover), Rafael Leal (Ensemble), Renato Bellini (Ensemble),
Vanessa Costa (Ensemble / Dona Olívia Guedes Penteado Cover), Guilherme Pereira
(Ensemble / Dance Captain).
Coreografia e Direção de Movimento: Alonso Barros
Direção Musical: Guilherme Terra
Cenário: Renato Theobaldo
Figurino: Fábio Namatame
Desenho de Luz: Wagner Freire
Desenho de Som: Tocko Michelazzo
Visagismo: Dicko Lorenzo
Fotos: Paschoal Rodriguez
Realização: Oito Graus Produções e Rega Início Produções Artísticas
Idealização: Raia Produções
Temporada: De 25 de janeiro até 26 de maio de 2024.
Local: Teatro Santander.
Endereço: Av. Presidente Juscelino Kubitschek, nº 2041, Itaim Bibi, São
Paulo (Complexo JK Iguatemi).
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, às 20h; aos sábados e domingos,
sessão vespertina, às 16h.
Duração: 150 minutos, com intervalo.
Classificação Etária: Livre (Os menores de 12 anos devem estar acompanhados dos pais ou
responsáveis legais.).
Valores dos Ingressos: Variáveis, de R$ 25 a R$ 300, dependendo da
localização do assento, do dia e horário da sessão (Verificar no “site” do Teatro Santander ou da plataforma
Sympla, estes acrescidos de taxa de conveniência.) e dos descontos cabíveis.
Os Ingressos também podem ser adquiridos presencialmente, na bilheteria
do Teatro Santander (sem taxa de conveniência), todos os dias, das 12h às 18h.
Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da
apresentação. A bilheteria do Teatro Santander possui um totem de autoatendimento,
para compras de ingressos, 24h por dia.
ASSESSORIA DE IMPRENSA:
VITOR DEYRMANDJIAN – vitor@motisukipr.com.br
GIULIA POLTRONIERI - giulia@motisukipr.com.br
REGIS MOTISUKI – regis@motisukipr.com.br
MARRA COMUNICAÇÃO – Assessoria de Imprensa Teatro Santander
Vinícius Oliveira: vinicius@paulomarra.com.br - 11 95946-2063
Priscila Previato: priscila@paulomarra.com.br - 11 99152-1525
Paulo Marra: marracomunica@gmail.com - 11 99255-3149
Redação: redacao@paulomarra.com.br – 11 3258-4780
Além de protagonizar o espetáculo, CLAUDIA RAIA ainda é a produtora desta montagem, pelo que devemos agradecer e nos orgulhar. Se não me equivoco nos números, ao agradecer à plateia, CLAUDIA disse que o espetáculo emprega um total de 267 pessoas, o que corresponde a 267 famílias que vivem de seu trabalho, vivem do TEATRO. RAIA se decidiu por esta produção
depois de ter recebido, em plena pandemia de COVID-19, um telefonema de Tarsilinha, sobrinha-neta de TARSILA DO AMARAL, que a procurou com
um pedido: que a atriz desse vida à pintora modernista, em um musical,
afirmando acreditar que CLAUDIA possuía a mesma força da tia-avó, opinião da qual compartilho. O espetáculo era para ter sido estreado em 2022, quando se comemorou
o primeiro centenário da “Semana de Arte Moderna”, com a
produção iniciada três anos antes, contudo, por contingências várias, teve de
ser postergado. Mas valeu muito a pena esperar pela estreia em 25 de
janeiro de 2024, dia da fundação da cidade de São Paulo, um verdadeiro
presente para a capital paulista. Sempre é bom lembrar que o musical é 100%
nacional e que “retrata a vida de TARSILA DO AMARAL, a
qual, com sua paleta de cores e inovação, mostrou a verdadeira face do Brasil,
traduzindo a complexidade e a riqueza da cultura nacional para o mundo todo.
Só espero ter a oportunidade de poder rever esta OBRA-PRIMA do TEATRO
MUSICAL BRASILEIRO.
FOTOS: PASCHOAL RODRIGUEZ
GALERIA PARTICULAR:
Fotos: Leonardo Soares Braga.)
Com Leonardo Soares Braga.
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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