“POR ELAS”
OU
(ELAS PARA MIM.)
OU
(ELAS PARA
TODOS NÓS.)
Procuro jamais deixar de assistir aos musicais
em cartaz, porque sou um inveterado apreciador do gênero, a despeito até de
críticas que recebo de pessoas que, além de não gostarem de TEATRO
MUSICAL, ainda o consideram uma “arte menor” e no direito de me questionar: “Como um crítico de TEATRO pode
gostar de musicais?” Respeitando a opinião de todos, custa-me crer que
alguém possa não gostar de uma ARTE
que reúne três, com as quais tenho a maior afinidade: TEATRO, canto
e dança.
Gostos há diversos, e ninguém pode, nem deve, questioná-los, mas... (“Prefiro
não comentar!” – bordão da personagem Copélia, do “siticom “Toma Lá, Dá Cá”.)
Na grande maioria das
vezes, os musicais que entram em cartaz no Brasil são “importados” dos dois maiores
centro de produção e consumo deles, a Broadway e o West End. São montagens,
em geral, sofisticadas, com um grande aparato tecnológico, muito bem cuidadas,
com uma ficha técnica exuberante, na qual, não raro, há nomes dos criadores
do original, mesclados aos de grandes artistas de criação brasileiros. E o
resultado, via de regra, costuma ser o melhor possível. Ocorre que, de uns
tempos para cá, venho percebendo uma maior incidência de musicais autorais brasileiros,
como o que está sendo motivo desta crítica, pelos quais passei a desenvolver
uma admiração e um carinho especiais. Por conta de acuradas observações que
venho fazendo, cheguei a uma reflexão que, inevitavelmente, me leva a uma
afirmação: Não devemos nada, em termos de produção e
execução, aos estrangeiros, quando o assunto é TEATRO MUSICAL.
Havendo quem tenha interesse e “munição” para produzi-los, visto que,
mesmo para a mais simples das produções, sempre isso demanda um custo muito
elevado, a maior porção do desafio já não preocupa. É só partir para quem tem
competência e talento para “pôr a mão na massa”, os artistas, o que existe à
farta entre nós.
Por vários motivos, todos
muito alheios à minha vontade, só consegui assistir a “POR ELAS” no penúltimo dia da curta temporada, que, infelizmente,
se encerrou no último domingo, dia 04 de fevereiro, no Teatro Clara Nunes, Rio
de Janeiro. “Antes tarde do que nunca”, porque valeu muito a pena. O
musical foi idealizado e escrito por ELINE
PORTO, que também atua, ao lado de mais quatro excelentes “cantrizes”:
ESTRELA BLANCO, JANA FIGARELLA, MARYA BRAVO e SUZANA
SANTANA. O quinteto atua sob a direção de STELLA MARIA RODRIGUES. No título da peça, utilizei apenas duas
palavras, para facilitar a comunicação; e continuarei a fazê-lo, no decorrer
destes escritos, entretanto o título oficial é “POR ELAS - UM MUSICAL SOBRE A FORÇA DO CANTO FEMININO”. É muito
importante essa complementação, por ser o “cartão de visitas” do
espetáculo.
Mergulhando em histórias autênticas de mulheres reais, e outras fictícias, o musical tece um fio condutor de emoção e ressonância, através da música.
Trata-se de um musical brasileiro e autoral que tem como objetivo celebrar a força feminina, dentro e fora dos palcos.
Buscando transcender o entretenimento, o espetáculo, inédito, emociona e celebra, através da música, a história e memória de inúmeras mulheres queridas pelo público, brasileiras e estrangeiras.
Histórias e canções se cruzam na trajetória de mulheres fortes e determinadas.
“POR
ELAS” é um daqueles musicais montados com poucos recursos financeiros e que
deu muito certo. O talento e a garra do artista brasileiro falaram mais alto
que o dinheiro. A célula inicial da peça surgiu durante a pandemia de COVID-19 e foi tomando
forma, à medida que o tempo passava e as peças do “quebra-cabeças” iam se
ajustando, pelas mãos de ELINE PORTO,
sua idealizadora, além
de atriz,
cantora,
autora,
compositora
e produtora.
A grande motivação para criar sua primeira dramaturgia foi sua “paixão
por narrativas diversas e impulsionada por uma profunda conexão com as mulheres
de sua família”. A partir desse mote, a autora mergulhou no afã de “compreender
as raízes e os caminhos trilhados pelas gerações que a precederam”. O
resultado de seu trabalho de pesquisa e criação desaguou num musical inédito, “a
celebração da resiliência feminina”, contada através de mais
de 20 músicas “que ecoam em cada capítulo das vidas dessas
mulheres extraordinárias”, o que inclui sucessos de nomes como Gal
Costa, Rita Lee e Elza Soares, além de outras cantoras
nacionais e estrangeiras, com arranjos vocais exclusivos, dignos dos maiores
elogios direcionados ao trabalho de CLAUDIA
ELIZEU e ERICA DE PAULA. Além
dos sucessos que compõem a trilha sonora da peça, ainda há
algumas canções autorais, de ELINE PORTO.
Segundo a dramaturga, no “release”
que me chegou às mãos, as personagens foram sendo criadas “como uma colcha de
retalhos”, com base em histórias diversas que ouvira e
também saídas de sua imaginação. Segundo ela, “é uma grande celebração da
força e união feminina, representando a interconexão entre diferentes origens”.
Todas as histórias, brilhantemente interpretadas pelo quinteto de atrizes, são bastante
emocionantes e encantam o público. A estrutura do musical divide-se em cinco monólogos centrais e diversas outras cenas, “que abordam,
com sensibilidade, através de jogos teatrais,
fazendo um paralelo entre a força das mulheres brasileiras e a grandeza musical
das cantoras homenageadas, temas cruciais na construção social do papel
da mulher”. Mas não pensem que “POR
ELAS” é uma encenação direcionada, exclusivamente, às mulheres. É um
espetáculo para todos, independentemente de gênero e idade; é um espetáculo
para a família e para quem gosta de boa música e bom TEATRO. Antes de ocupar o
palco do Teatro Clara Nunes, para apenas 12 apresentações, a peça
passou por uma estreia especial, em Ipatinga,
Minas
Gerais, no Teatro do Centro Cultural Usiminas, em outubro do ano passado,
como um “esquenta”.
Merecedor de muitos aplausos, um detalhe muito importante, nesta produção, é que, além das cinco “cantrizes” e da diretora, a equipe criativa é, em sua grande maioria, feminina, além de outras mulheres que, ao vivo, acompanham, as intérpretes: ANNE AMBERGET, GEORGIA CÂMARA, THAÍS FERREIRA e LETÍCIA MAYARA. E isso é formidável - a mulher mostrando seu poder de ocupação de um espaço que lhe pertence e lhe é de direito; a mulher com vez e voz.
A simplicidade da montagem, do ponto de
vista estético, é mais que compensada pelo teor do texto, a inventividade na
direção e, acima de tudo, pela interpretação de cinco das melhores “cantrizes”
do TEATRO
MUSICAL BRASILEIRO. Para atender ao propósito do espetáculo, as “pirotecnias”
plásticas, sobre as quais não tenho, absolutamente, nada contra – muito pelo
contrário – poderiam mesmo ser dispensadas. O conjunto cenário / figurinos / iluminação sejam de ótimo bom gosto e atendam, perfeitamente,
às necessidades da peça e ao conjunto da obra. A diretora do espetáculo, ao
final da sessão a que tive acesso, durante um bate-papo com a plateia, disse
que, para a realização daquela montagem, bastavam cinco boas atrizes e cinco
cadeiras; eu já dispensaria até as cadeiras e ficaria só com as magníficas atrizes.
Para a cenografia, BETO SARGENTELLI utilizou apenas cinco “chamativas” cadeiras
amarelas sobre um grande tapete redondo. Essas cinco peças são, constantemente,
deslocadas e trocadas de lugar, pelas próprias atrizes, o que confere dinamismo
à encenação. Ao fundo, uma parede, ou melhor, um grande pano em cor neutra, o
que me trouxe a mente uma alegre recordação: o espetáculo “Beatles num Céu de Diamantes”,
da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, que trazia um
cenário que lembra um pouco o de “POR
ELASS”. É menos sendo mais. Os figurinos, de KATIA GIMENEZ, elegantes e muito bem talhados, com um fino
acabamento, são em cores diferentes e alegres, o que dá um toque de leveza ao
espetáculo, sem falar que os modelos pendem um pouco para o lado do “arrojado” e parecem
deixar as atrizes muito soltas e confortáveis dentro deles, para a execução dos
muitos movimentos de dança que há na peça – JULIANA GAMA caprichou na direção de movimento e,
implicitamente, na coreografia. ADRIANA
ORTIZ emoldura e faz realçar toda essa bela simplicidade plástica com cores
firmes, num belo desenho de luz, que tem alguns momentos de grande destaque,
mais um pouco para o final da encenação. Todos os elementos de apoio, aos quais
incorporo o visagismo, a cargo de MARCOS
PADILHA, concorrem para o engrandecimento do musical. Não podem ficar de
fora, quando se fala em setores favoráveis à peça, a preparação vocal, de BETO SARGENTELLI; o desenho
de som, de JOÃO PAULO PEREIRA;
e a direção
de arte, de GUS PERRELLA.
Cada dedinho empregado na mistura agrega valores positivos à peça. Afinal de
contas, TEATRO não é uma ARTE coletiva?
Sob meu humilde “julgamento”, ou melhor, minha modesta opinião, STELLA MARIA RODRIGUES “passa direto, por média, sem prova final” para a sua próxima aventura “do outro lado”, já que é uma excelente atriz, com atuação em grandes musicais, ela que também domina o canto. ELINE PORTO "acertou na mosca", quando a convidou para dirigir o musical, o primeiro de sua carreira, salvo engano, que a credencia a assinar outros.
Stella Maria Rodrigues.
Considerando todos os
méritos de cada um que fez parte do projeto, não posso dizer outra coisa: O elenco é a
cereja do bolo de “POR ELAS”. Nem sob ameaça de morte, eu me
atreveria a dizer quem é a melhor das cinco. Isso porque todas são excelentes, e
cada uma, particularmente, tem seus predicados e digitais únicas. São
belíssimas vozes, com um alcance surpreendente, as quais, quando reunidas,
formam um coro angelical. Ouvi-las, naquela extensão de entrega e vibração, me emocionou
extremamente (Saí do Teatro em estado de êxtase total.), e me emociona
sempre, como quando as vi em várias montagens anteriores. Cada uma tem seus
momentos de solo e, juntas, produzem um canto muito harmonioso, pela beleza das
vozes e os arranjos vocais surpreendentes. A cada dia, declaro-me ser mais fã
ardoroso dos trabalhos de ELINE PORTO
(“O
Despertar da Primavera”, "Cássia
Eller - O Musical", "Dois Filhos de Francisco", "Os Últimos 5 Anos", "Nautopia", “Bonnie & Clayde - O Musical” ...)
ESTRELA BLANCO (“O Despertar da Primavera”, “Beatles num Céu de Diamantes”, “A
Noviça Rebelde”, “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90
Minutos”, “Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”, “Hair”, “Los
Hermanos – Um Musical em Construção” ...), JANA
FIGARELLA (“Cássia Eller – O Musical”, “Morte e Vida Severina”, “Dom Quixote de Lugar Nenhum”
...), MARYA BRAVO (“Somos Irmãs”, “Cristal
Bacharach”, “Lado a Lado com Sondheim”, “A Ópera do Malandro”, “Beatles
num Céu de Diamantes”, “Cauby! Cauby!”, “Clube
da Esquina – O Musical” ...) e SUZANA SANTANA (“A
Pequena Loja dos Horrores”, “Grease – O Musical”, “Love
Story - O musical”, “A Cor púrpura - O Musical”, “Bob
Esponja – O Musical” ...).
Idealização:
Eline Porto
Texto: Eline
Porto
Direção:
Stella Maria Rodrigues
Direção
Musical e Arranjos: Claudia Elizeu e Erica de Paula
Elenco:
Eline Porto, Estrela Blanco, Jana Figarella, Marya Bravo e Suzana Santana.
Cenografia:
Beto Sargentelli
Figurino:
Katia Gimenez
“Designer” de Luz: Adriana Ortiz
Preparação
Vocal: Beto Sargentelli
Direção de
Movimento: Juliana Gama
“Designer” de Som: João Paulo Pereira
Visagismo:
Marcos Padilha
Direção de
Arte: Gus Perrella
Assistência
de Direção: Renata Ghelli
Produção
Executiva: Lucas Mello
Assistência
de Produção: Bia Souto Maior
Direção de “Marketing” e Comunicação: Rodrigo
Medeiros - R+ “Marketing”
Social
Media: 1812 Comunicação
Assessoria
de Imprensa: GPress Comunicação - Grazy Pisacane
Fotos:
Rodrigo Zeferino (cena) e Stephan Solon (estúdio)
Realização:
Andarilho Filmes
Adoro quando a expectativa que me leva a assistir a um espetáculo de TEATRO fica muito além do que me foi dado ver. E isso aconteceu, mais uma vez, naquela noite de sábado. Considerando-se o grande sucesso que o
musical atingiu, nas 12 sessões em que foi apresentado,
contando com quase nenhum espaço na mídia carioca, valendo-se da divulgação “boca
a boca”, que sempre funciona, com muita gente assistindo a “POR ELAS” mais de uma vez, com plateias
que quase lotaram o Teatro Clara Nunes (800 lugares), aplaudindo muito a encenação –
muitas vezes, em cena aberta -, tenho esperança de que ele volte ao
cartaz, para muitas outras apresentações. E espero revê-lo, porque gostei
muito da peça; do que vi e ouvi. Fiquem atentos! Evidente é que RECOMENDO MUITO O MUSICAL.
FOTOS: RODRIGO ZEFERINO
e
STEPHAN SOLON
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: Ana Cláudia Matos):
Com Eline Porto.
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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