segunda-feira, 6 de março de 2023

“AS PESSOAS”

ou

(QUEM SÃO ELAS?

SOMOS NÓS.)

ou

QUEM PRECISA

OUVIR?  NÓS.)



     Muitas vezes, tive vontade de dizer que um espetáculo de TEATRO é “necessário”, entretanto consigo reprimir esse desejo, já que o adjetivo é amplamente utilizado por um amigo, Francis Fachetti, em suas críticas teatrais, para não parecer que estou copiando o colega, contudo, depois de ter assistido, na última sexta-feira (13 de março/2023), ao espetáculo “AS PESSOAS”, em cartaz no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim (VER SERVIÇO.), não tenho como ceder à tentação, para o que conto com a compreensão do Francis. “AS PESSOAS” é um espetáculo “necessário”. Na verdade, mais do que.


 


SINOPSE:

MÁRCIA SANTOS, pela boca da personagem Zelma, aborda, de maneira crítica e bem-humorada, comportamentos contemporâneos que, em geral, são percebidos por nós na ação alheia.

É um padrão coletivo analisar hábitos e condutas sociais a partir da observação do outro, não raro, julgando-o ou responsabilizando-o.

E, embora essas pessoas sejam os outros, elas também somos nós

Zelma traz à tona o modo como naturalizamos certos comportamentos, como reproduzimos padrões sociais de controle do outro e sobre a nossa imensa responsabilidade social na dinâmica de uma sociedade global.

“AS PESSOAS trata das pequenas ferocidades presentes em atos triviais do dia a dia.

E, ainda que não seja possível controlar, completamente, a percepção e a reação do público, o que o texto propõe é o incômodo.

Confronta o público com questões pontuais, que permeiam nosso cotidiano e que denunciam diversos hábitos e condutas que passaram a ser naturalizados e que, muitas vezes, são responsáveis por inúmeros desgastes e esgarçamentos nas relações sociais.

“AS PESSOAS é o desabafo de uma mulher instruída e cansada, que se sente inadequada, descrente e sozinha, em sua forma de perceber o mundo, a qual, ao movimentar caixas e livros, talvez na tentativa de construir uma muralha simbólica, tenta se separar e se proteger do mundo lá fora, já que o que ela deseja, é se esconder.


 

 


       Vivo me perguntando, e não encotro uma resposta "publicável", por que certos(as) dramaturgos(as), ou pessoas que se julgam escritores de textos teatrais, insistem em complicar as coisas, escrevendo “só para si”, utilizando uma linguagem extremamente hermética e, falsamente, “culta”, abusando de “simbolismos”, esquecendo-se de que o público gosta do que é simples, porém bem escrito, e o toca sem a necessidade de grandes elucubrações. Quero distância desse tipo de texto, que contraria todos os princípios básicos da comunicação humana. Minha “santa”, e “sábia”, avó materna costumava dizer, com relação a pessoas que ela queria ver bem longe de onde estivesse, por motivos vários: “Esse não vai na (sic) minha missa.”. Não é difícil decodificar o sentido da frase. Eu também não terei, decerto, esse tipo de gente na minha. Graças a Deus!



        MÁRCIA SANTOS, por outro lado, com total certeza, seria bem aceita no ato litúrgico que marcaria o sétimo dia após meu falecimento. MÁRCIA escreve bem, sem ser rebuscada, dizendo, em palavras do dia a dia, em “linguagem de gente”, como dizia Guimarães Rosa, tudo o que deve ser dito, para atingir seu objetivo, como dramaturga. Isso está sendo mostrado no palco de um Teatro, no monólogo “AS PESSOAS”, e, ao final da sessão, percebe-se a alegria da artista, também intérprete de seu próprio texto, pela certeza de ter atingido, clara e diretamente, o público, pessoas que saem de suas casas, enfrentando uma série de dificuldades e perigos, para entender o que lhes é dito, não importando se concordam ou não com o que ouvem.



     MÁRCIA sabe como tocar e pressionar feridas existentes e entorpecidas, à espera de alguém, com a coragem da dramaturga, para comprimi-las e gerar dor, única maneira, talvez, de despertar o ser humano do mundo de torpor, do universo “pollyannesco” em que vive, preocupado em acusar o próximo, esquecendo-se daquela máxima de que, ao apontar um indicador para alguém, três de seus próprios dedos estão voltados para si. É muito fácil e comum terceirizar a culpa das coisas. E até onde vai a participação de cada ser humano nos erros contidos nessas coisas?



       Quando se deseja apontar os erros responsáveis por um certo indesejado “estado de coisas”, dizemos, por exemplo, que “as pessoas não sabem voltar”, “as pessoas são egoístas”, “as pessoas são mal-educadas” e “as pessoas não colaboram”. Mas quem são “essas pessoas”? São os outros, e nós também. É muito difícil admitir o próprio erro, porém, só dessa forma, poderemos atingir um estágio civilizatório desejado. Nesse sentido, o solo de MÁRCIA SANTOS tem o propósito maior de tirar o público da zona de conforto, sacudi-lo e chamá-lo à realidade e à responsabilidade. “Acorda, ‘humano’! É com você que eu estou falando!”.



        A dramaturga explora, à exaustão, o estado de indignação da personagem Zelma, seu “alter ego”, para criticar as mazelas do mundo moderno, fazendo isso com muito humor e ironia, certamente cônscia de que, como dizia o poeta Billy Blanco, “o que dá pra rir dá pra chorar”. O texto segue nessa linha, até o seu epílogo, quando a plateia silencia as gargalhadas e parece ter mergulhado no seu interior, fruto de uma reflexão: “Esse cara sou eu!”.

        Pela metade da encenação, num átimo, lembrei-me de uma das minhas crônicas favoritas, “Eu sei, mas não devia.”, escrita por Marina Colasanti ("Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia."), cuja leitura é obrigatória, para quem sente a necessidade de tomar um novo rumo na vida, preocupando-se em ser um cidadão de verdade.



    Basta de criticar e demonizar comportamentos inaceitáveis contemporâneos, percebidos por nós, apenas, na ação alheia, quando fazemos o mesmo! É hora de expandir a consciência e a humildade, ligar o botão "mea culpa", para se reconhecer no outro e pensar em agir, concretamente, a fim de mudar e tornar o mundo melhor. Pode ser isso um pensamento utópico, mas não custa nada tentar. Sempre tentar.

 Talvez o ápice da ironia que jorra da boca da personagem Zelma esteja concentrado na frase: “Eu penso em nós, humanos, e me compadeço do diabo.". Essa avaliação, por mais cruel e, até certo ponto, devastadora, é real, se considerada a elasticidade do lado negativo do ser humano, para atingir seus desejos, no mundo de hoje.



“AS PESSOAS” não foi escrita para divertir, ainda que isso aconteça, porém sua intenção maior está numa declaração da autora/intérprete do texto, retirada do “release” que me chegou às mãos, via assessoria de imprensa da peça (ALESSANDRA COSTA – Assessoria de Imprensa e Comunicação.): “Propomos um TEATRO que, além de entretenimento, seja um provocador e inquietante estímulo à reflexão.”. Para isso, MÁRCIA SANTOS, buscou inspiração na sua própria vida, nas relações pessoais do seu cotidiano, as quais, “muitas vezes, se vêm reproduzidas em mídias e jornais diários, chamando a atenção para como a sociedade, em seu radicalismo de pequenas guerras diárias, também pode levar à destruição”. (Extraído do já referido “release”.)



Para levantar o espetáculo, MÁRCIA, sua idealizadora, se armou de uma excelente FICHA TÉCNICA, sem a qual o ótimo texto não conseguiria atingir seu objetivo. Isso está na dependência de uma ótima direção, de ROGÉRIO FANJU, o qual, ao que tudo indica, teve o bom senso de dar liberdade de criação a uma atriz que diz o que escreveu, de forma que tudo o que é ouvido ganha uma maior potência. É ótima, também, a proposta da direção de a personagem não se dirigir, diretamente, à plateia, mas falar com seres “invisíveis”, ao seu redor. De certa forma, os objetos que a cercam - dezenas de caixas – são seus “ouvintes”, “humanizadas”.



Também merece um crédito favorável a cenografia, criada por DANIEL LEÃO, que coloca a personagem “soterrada” por caixas, as quais sugerem uma atitude de mudança, ao mesmo tempo que insinuam, como consta na SINOPSE, que Zelma, enquanto fala, se ocupa da construção de uma “muralha simbólica”, na tentativa de se separar e se proteger do mundo lá fora.



Rogério Fanju

(Foto: autoria desconhecida.)


Todos os pilares de sustentação de um espetáculo teatral suportam o peso da peça, como o enigmático, para mim, e ótimo figurino, uma criação de WANDERLEIY GOMES. É um traje que foge aos padrões “convencionais” de um guarda-roupa feminino, com detalhes que devem ser bastante simbólicos, porém não consegui alcançar tais significados. Não importa. Uma interessante criação do premiado figurinista.



PAULO CESAR MEDEIROS assina mais uma de suas corretas iluminações, assim como MARCELO ALONSO NEVES está à frente da composição de uma trilha sonora original e da direção musical.

Para quem se propõe a interpretar um solo, há uma grande exigência no tocante aos elementos voz e corpo, sendo necessária a orientação de profissionais competentes, em cada segmento. A preparação vocal ficou sob a responsabilidade de JORGE MAIA, e a corporal coube a ÉDIO NUNES, ambos corretos trabalhos.



Márcia Santos 

(Foto: autoria desconhecida.)


Julgo desnecessário falar muito sobre a atuação de MÁRCIA SANTOS - o melhor é ver "in loco" -, uma atriz de grandes possibilidades, com vasta experiência sobre um palco e que transmite muita credibilidade em cada verdade que traz à tona. Por dizer o que ela própria escreveu, o público aceita, com facilidade, tudo o que é dito em cena.  

  


 

FICHA TÉCNICA: 

Idealização: Márcia Santos

Texto: Márcia Santos

Direção: Rogério Fanju

Assistência de Direção: Leandro Mello

 

Atuação: Márcia Santos

 

Cenografia: Daniel Leão

Figurino: Wanderley Gomes

Iluminação: Paulo Cesar Medeiros

Trilha Original e Direção Musical: Marcelo Alonso Neves

Preparação Vocal: Jorge Maia

Preparação Corporal: Édio Nunes

“Design” Gráfico e Arte da Janela Cenográfica: Rômulo Medeiros

Fotos: Cláudia Ribeiro 

Operação de Luz: Rafael Tutti

Operação de Som: Felipe Coquito

Produção: Márcia Santos

Produção Executiva: Leandro Mello


 


 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 24 de fevereiro a 19 de março de 2023.

Local: Teatro Laura Alvim (Casa de Cultura Laura Alvim).

Endereço: Avenida Vieira Souto, nº 176 – Ipanema – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: Sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira); R$20,00 (meia entrada); R$15,00 (lista amiga).

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 65 minutos.

Capacidade: 190 lugares.

Gênero: Monólogo Cômico-Dramático.

 

 

 


        “AS PESSOAS” é a garantia de um espetáculo didático, sem ser enfadonho, e alegre, sem fugir ao real, que nem sempre é para se rir dele. Talvez seu mérito maior esteja na facilidade como o texto chega ao público, estabelecendo-se a comunicação, via ARTE.

            Recomendo, com bastante empenho, este espetáculo.

 


FOTOS: CLÁUDIA RIBEIRO

 

 

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