sábado, 18 de junho de 2022

                                    “TUDO”

ou

(UM “NADA”

COM TOTAL

SENTIDO.)


 


Sempre vou ao TEATRO com o propósito e o desejo de gostar e ter o prazer de escrever, depois, sobre o espetáculo a que assisti. Se gostei, escrevo; se não gostei, ignoro e lamento o tempo perdido. Há espetáculos que, logo nas primeiras cenas, já me fazem acender a luz verde; em outros, a vermelha, e, nesses casos, eu rezo para que o tempo passe mais rápido, o que só piora o meu humor: trava-se um embate entre o tempo cronológico e o tempo psicológico. Mas os sinais luminosos, do trânsito, apresentam, além dessas duas cores, o amarelo. Quando é essa a que acende (ATENÇÃO!), começa a bater uma agonia e uma preocupação. O que é isso? O que virá por aí? Como vai acabar essa encenação? Esse barco vai “navegar por um mar de almirante” e “atracar”, suavemente, num cais seguro, ou vai “enfrentar um mar super encapelado” e acabar se chocando contra um ancoradouro, se tiver a sorte de não “naufragar”, antes disso?

Fui assistir, na última 5ª feira (16 de junho de 2022), ao Teatro Firjan Sesi Centro, para a estreia de uma peça escrita por alguém que eu não conhecia, dirigida por um excelente ator e diretor, GUILHERME WEBER, e interpretada por um quinteto formado por atores e atrizes de primeira grandeza do TEATRO BRASILEIRO: CLÁUDIO MENDES, DANI BARROS, JÚLIA LEMMERTZ, MÁRCIO VITO e VLADIMIR BRICHTA (em ordem alfabética.).



 Terceiro sinal. Começou o espetáculo e. logo nos primeiros momentos, acendeu, para mim, a luz amarela, sinal de que a minha atenção deveria ser dobrada, para não cometer equívocos e injustiças na avaliação da montagem. Pelo diretor e o elenco, eu me sentia seguro, certo de que assistiria a um ótimo espetáculo. A incógnita era o dramaturgo argentino, RAFAEL SPREGELBURD, de 52 anos, de quem eu nada conhecia e sobre o qual só havia ouvido falar, muito “en passant”. “Mea culpa”, ignorância despropositada. Bastava uma consulta à “internet”, “ter dado um Google”, o que, normalmente, tenho o hábito de fazer, quando não conheço alguém da ficha técnica, porém só o fiz antes de escrever esta crítica, para saber que se trata de um respeitado nome do TEATRO, do cinema e da televisão do país “hermano”, com uma vasta produção, como ator, dramaturgo, diretor e professor de dramaturgia. Com espetáculos encenados em várias partes do mundo e detentor de muitos prêmios, em TEATRO, cinema e TV, suas obras foram traduzidas para o inglês, o alemão, o francês, o italiano, o português, o polonês, o tcheco, o russo, o grego, o eslovaco, o catalão, o holandês, o croata, o turco e o sueco, tendo sido publicado na Argentina, no México, na Venezuela, na França, na Itália, na Alemanha e na República Checa. Não é pouca coisa o rapaz; biscoito fino.



 A minha inquietação durou quase o tempo todo da encenação. Muita coisa “estranha”, e o “diferente” quase sempre assusta um pouco, entretanto eu sentia que o prato positivo da balança começava a pesar cada vez mais. Não estávamos, eu e toda a lotação do Teatro Firjan Sesi Centro, diante de um TEATRO “convencional”. Era muita informação meio confusa, todavia era eu quem deveria se adequar ao que estava sendo feito no palco, e não o inverso. Ou, pelo menos, procurar fazê-lo. E foi o que fiz.



 

SINOPSE:

Três fábulas morais (“como as de Esopo, mas sem animais”) compõem o espetáculo “TUDO”.

As fábulas levadas à cena investigam o indivíduo, em confronto com o poder, a partir de três perguntas.

A primeira (“POR QUE TODO ESTADO VIRA BUROCRACIA?”) apresenta um grupo de funcionários, vivendo suas rotinas, em uma repartição pública, quando começam a questionar valores impostos e alguns comportamentos absurdos.

A segunda (“POR QUE TODA ARTE VIRA NEGÓCIO?”) mostra os convidados de um jantar de Natal, que dão início à ceia somente após uma contundente discussão sobre valores absolutos e particulares do pós-modernismo.

A terceira (“POR QUE TODA RELIGIÃO VIRA SUPERSTIÇÃO?”) traz um casal e seu filho recém-nascido, que fica doente, em uma noite de tempestade.

As cenas, aqui, se apresentam como perguntas sobre a transformação ideológica que qualquer sociedade passa.

Ao tentar construir respostas, os personagens e os espectadores se deparam com temas como o absurdo das regras que definem um determinado grupo social, a dissolução das palavras e seus significados, a ausência de Deus e a inexorável presença da morte.

 


 Falarei pouco, em quantidade, e procurarei ser maior, em qualidade. Os diálogos e todas as situações não flertam, mas, sim, assumem um relacionamento profundo e explícito com o implícito que caracteriza o surrealismo, no qual tudo pode significar nada e nada pode ser tudo. Também sentimos, no ar, um "cheirinho" de TEATRO do Absurdo. Na primeira fábula, por exemplo, contamos com a possibilidade de, a partir de um determinado momento, os cinco funcionários daquela repartção passarem a "bufar", trocando as palavras por "grunhidos" e "bramidos", como fazem os "rinoceroentes", de Ionesco. Na segunda, também, de repente, Becket poderia, de surpresa, adentrar aquela sala de jantar, como "penetra", trazendo consigo o tão esperado Godot, a quem, finalmente, conheceríamos. Não há limites para a compreensão de cada espectador, que precisa se manter muito atento ao texto e se mostrar permeável a tudo o que é dito ou sugerido, quer por palavras, quer pelo trabalho de corpo dos atores e suas máscaras faciais. As entonações também são muito importantes, na peça, tão bem conduzida, pela direção “intrépida” de GUI WEBER, para quem SPREGELBURD é uma das vozes mais originais da dramaturgia contemporânea, atento às questões latino-americanas, mas com olhar profundamente universal e humano”, no que, a partir, apenas, do texto que vi encenado, sou levado a concordar com ele, com relação ao final de seu pensamento. Para o diretor, “TUDO” “É uma comédia apresentada em ritmo de farsa.”.



 Dos artistas de criação, digo que todos contribuíram, com o melhor de seus trabalhos, para o excelente resultado final desta montagem, e quaisquer dos adjetivos positivos poderiam ser aplicados a todos: DINA SALEM LEVY, responsável pela cenografia; RENATO MACHADO, que assinou o projeto de iluminação; KIKA LOPES, que criou os figurinos; TONI RODRIGUES, preparador corporal; RODRIGO APOLINÁRIO, que compôs uma trilha sonora original; BRANCO FERREIRA, pelo desenho de som; e todos os demais “operários das tábuas”, que emprestaram seu talento e profissionalismo, para a concretização do projeto. Não farei nenhum comentário particular sobre eles, fazendo uma exceção única, com respeito a TONI RODRIGUES, que executou uma preparação corporal das melhores do que venho tomando conhecimento nos últimos tempos. Com o empenho pessoal de cada um do quinteto de intérpretes, o resultado, em cena, é o melhor possível.



 Voltando para casa, cheguei à conclusão de que, ainda que considere importantíssimas as mãos de todos os que “bateram a massa daquele bolo”, a “sua cereja” é uma só: o elenco. O espetáculo parece ter sido feito para os atores. É para que um elenco possa brilhar. E brilho é o que não falta naquele palco. Em qualquer das três fábulas, todos executam um trabalho magnífico, entretanto – pensei muito se deveria escrever o que se vai ler adiante, mas tomei coragem, na certeza de que nenhum dos demais do elenco ficará melindrado com o que eu vou dizer -, parafraseando o “Poetinha”: Os outros quatro atores que me perdoem, mas DANI BARROS é fundamental!!!

 Todos merecem elogios, todos merecem muitos aplausos, porém o que DANI faz em cena é de tirar o fôlego. Tive de me conter, algumas vezes, para não a aplaudir, em cena aberta, porque poderia atrapalhar o ritmo e o andamento do espetáculo. Embora seu nome e seu trabalho sejam bem reconhecidos por quem entende de TEATRO (E ela leva esse talento, também, para o telão e a telinha.), acho que as pessoas ainda não acordaram para o potencial artístico de DANI BARROS, tanto no drama como na COMÉDIA.



 Quando disse que se trata de uma peça “para os atores”, é porque o texto e a direção permitem que cada um, em seus momentos, protagonize a cena, mesmo quando os cinco estão juntos, atuando.

 Não consta, na ficha técnica, o nome de quem fez a tradução do texto e uma possível adaptação, para que, embora seja um tema universal, algumas situações atinjam, mais de perto, o público brasileiro, peculiar em seu comportamento, mas creio que esse trabalho também tenha sido executado por GUI WEBER.

 




FICHA TÉCNICA:

De: Rafael Spregelburd 

Direção: Guilherme Weber

Diretora-Assistente: Verônica Prates

Assistente de Direção: Adassa Martins

 

Elenco: Júlia Lemmertz, Dani Barros, Vladimir Brichta, Cláudio Mendes e Márcio Vito

 

Cenografia: Dina Salem Levy

Assistente de Cenografia: Gabriel Garcia

Figurino: Kika Lopes

Assistente de Figurino: Maria Vilhena

Iluminação: Renato Machado

Assistente de Iluminação: Sarah Salgado

Preparador Corporal: Toni Rodrigues

Trilha Sonora Composta: Rodrigo Apolinário

Desenho de Som: Branco Ferreira

Aderecista: Antônio Lima

Cenotécnico: André Salles

Diretores de Palco: Gérson Porto e Iuri Wander

Contraregra: Nivaldo Vieira

Operadores de Luz: Ricardo Vivian e Sarah Salgado

Camareira: Conceição Telles

Costureira: Fátima Félix

Alfaiate: Renato Nascimento

Projeto Gráfico: Pat Cividanes

Fotografia; Flávia Canavarro

Assessoria de Imprensa: Vanessa Cardoso e Pedro Neves (Factoria Comunicação)

Assessoria Contábil: M. Tavares

Elaboração de Prestação de Contas: Janaína Santos (Marejá Gestão Cultural)

Produção e Realização: Quintal Produções

Direção Geral de Produção: Verônica Prates

Coordenação Artística: Valencia Losada

Produtor Executivo: Thiago Miyamoto

 

 




SERVIÇO:

Temporada: de 16 de junho a 17 de julho de 2022.

Local: Teatro Firjan Sesi Centro.

Endereço: Avenida Graça Aranha, nº 01 – Centro – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: quintas e sextas-feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.

Ingressos à venda pela plataforma Sympla e na bilheteria do Teatro.

Valores do Ingressos: R$40,00 (inteira) – R$20,00 (meia entrada).

Desconto de 20% para funcionários da Eletrobras.

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 90 minutos.

Patrocínio: Eletrobras.

Apoio cultural: Firjan Sesi.

Gênero: Comédia dramática.

 

 


        Valeu muito a pena encarar um dia frio de feriado, e me arriscar, até certo ponto, no Centro, deserto, de uma cidade que já viveu o “status” de capital de um país e que foi transformada em “capital do caos”, para me deliciar com uma excelente montagem de TEATRO, uma COMÉDIA farsesca, que EU RECOMENDO COM O MAIOR EMPENHO.

 

FOTOS: FLÁVIA CANAVARRO

 


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