“TUDO”
ou
(UM “NADA”
COM TOTAL
SENTIDO.)
Sempre
vou ao TEATRO com o propósito e o desejo de gostar e ter o prazer de
escrever, depois, sobre o espetáculo a que assisti. Se gostei,
escrevo; se não gostei, ignoro e lamento o tempo perdido. Há espetáculos
que, logo nas primeiras cenas, já me fazem acender a luz verde; em
outros, a vermelha, e, nesses casos, eu rezo para que o tempo passe mais
rápido, o que só piora o meu humor: trava-se um embate entre o tempo
cronológico e o tempo psicológico. Mas os sinais luminosos, do trânsito,
apresentam, além dessas duas cores, o amarelo. Quando é essa a que
acende (ATENÇÃO!), começa a bater uma agonia e uma preocupação. O que é
isso? O que virá por aí? Como vai acabar essa encenação? Esse barco vai “navegar
por um mar de almirante” e “atracar”, suavemente, num
cais seguro, ou vai “enfrentar um mar super encapelado” e acabar se
chocando contra um ancoradouro, se tiver a sorte de não “naufragar”,
antes disso?
Fui
assistir, na última 5ª feira (16 de junho de 2022), ao Teatro
Firjan Sesi Centro, para a estreia de uma peça escrita por
alguém que eu não conhecia, dirigida por um excelente ator e diretor, GUILHERME
WEBER, e interpretada por um quinteto formado por atores e atrizes
de primeira grandeza do TEATRO BRASILEIRO: CLÁUDIO MENDES, DANI
BARROS, JÚLIA LEMMERTZ, MÁRCIO VITO e VLADIMIR BRICHTA
(em ordem alfabética.).
Terceiro
sinal. Começou o espetáculo e. logo nos primeiros momentos, acendeu,
para mim, a luz amarela, sinal de que a minha atenção deveria ser dobrada,
para não cometer equívocos e injustiças na avaliação da montagem. Pelo diretor e o elenco, eu me
sentia seguro, certo de que assistiria a um ótimo espetáculo. A
incógnita era o dramaturgo argentino, RAFAEL SPREGELBURD, de 52 anos, de quem eu
nada conhecia e sobre o qual só havia ouvido falar, muito “en passant”.
“Mea culpa”, ignorância despropositada. Bastava uma consulta à “internet”,
“ter dado um Google”, o que, normalmente, tenho o hábito de
fazer, quando não conheço alguém da ficha técnica, porém só o fiz antes
de escrever esta crítica, para saber que se trata de um respeitado nome
do TEATRO, do cinema e da televisão do país “hermano”, com
uma vasta produção, como ator, dramaturgo, diretor e professor
de dramaturgia. Com espetáculos encenados em várias partes do mundo
e detentor de muitos prêmios, em TEATRO, cinema e TV, suas obras foram
traduzidas para o inglês, o alemão, o francês, o italiano,
o português, o polonês, o tcheco, o russo, o grego,
o eslovaco, o catalão, o holandês, o croata, o turco
e o sueco, tendo sido publicado na Argentina, no México,
na Venezuela, na França, na Itália, na Alemanha e
na República Checa. Não é pouca coisa o rapaz; biscoito fino.
A minha inquietação
durou quase o tempo todo da encenação. Muita coisa “estranha”,
e o “diferente” quase sempre assusta um pouco, entretanto eu
sentia que o prato positivo da balança começava a pesar cada vez mais. Não
estávamos, eu e toda a lotação do Teatro Firjan Sesi Centro,
diante de um TEATRO “convencional”. Era muita informação meio
confusa, todavia era eu quem deveria se adequar ao que estava sendo feito no
palco, e não o inverso. Ou, pelo menos, procurar fazê-lo. E foi o que fiz.
SINOPSE:
Três fábulas morais
(“como as de Esopo, mas sem animais”) compõem o
espetáculo “TUDO”.
As fábulas levadas à cena
investigam o indivíduo, em confronto com o poder, a partir de
três perguntas.
A primeira (“POR
QUE TODO ESTADO VIRA BUROCRACIA?”) apresenta um grupo de funcionários, vivendo
suas rotinas, em uma repartição pública, quando começam a questionar
valores impostos e alguns comportamentos absurdos.
A segunda (“POR
QUE TODA ARTE VIRA NEGÓCIO?”) mostra os convidados de um jantar de Natal, que
dão início à ceia somente após uma contundente
discussão sobre valores absolutos e particulares do pós-modernismo.
A terceira (“POR
QUE TODA RELIGIÃO VIRA SUPERSTIÇÃO?”) traz um casal e seu filho recém-nascido,
que fica doente, em uma noite de tempestade.
As cenas,
aqui, se apresentam como perguntas sobre a transformação ideológica que
qualquer sociedade passa.
Ao tentar construir respostas, os personagens e os espectadores se deparam com temas como o absurdo das regras que definem um determinado grupo social, a dissolução das palavras e seus significados, a ausência de Deus e a inexorável presença da morte.
Falarei pouco, em quantidade, e procurarei ser maior, em qualidade. Os diálogos e todas as situações não flertam, mas, sim, assumem um relacionamento profundo e explícito com o implícito que caracteriza o surrealismo, no qual tudo pode significar nada e nada pode ser tudo. Também sentimos, no ar, um "cheirinho" de TEATRO do Absurdo. Na primeira fábula, por exemplo, contamos com a possibilidade de, a partir de um determinado momento, os cinco funcionários daquela repartção passarem a "bufar", trocando as palavras por "grunhidos" e "bramidos", como fazem os "rinoceroentes", de Ionesco. Na segunda, também, de repente, Becket poderia, de surpresa, adentrar aquela sala de jantar, como "penetra", trazendo consigo o tão esperado Godot, a quem, finalmente, conheceríamos. Não há limites para a compreensão de cada espectador, que precisa se manter muito atento ao texto e se mostrar permeável a tudo o que é dito ou sugerido, quer por palavras, quer pelo trabalho de corpo dos atores e suas máscaras faciais. As entonações também são muito importantes, na peça, tão bem conduzida, pela direção “intrépida” de GUI WEBER, para quem SPREGELBURD “é uma das vozes mais originais da dramaturgia contemporânea, atento às questões latino-americanas, mas com olhar profundamente universal e humano”, no que, a partir, apenas, do texto que vi encenado, sou levado a concordar com ele, com relação ao final de seu pensamento. Para o diretor, “TUDO” “É uma comédia apresentada em ritmo de farsa.”.
Dos artistas de criação, digo que todos contribuíram,
com o melhor de seus trabalhos, para o excelente resultado final desta
montagem, e quaisquer dos adjetivos positivos poderiam ser aplicados a
todos: DINA SALEM LEVY, responsável pela cenografia; RENATO
MACHADO, que assinou o projeto de iluminação; KIKA LOPES, que
criou os figurinos; TONI RODRIGUES, preparador corporal; RODRIGO
APOLINÁRIO, que compôs uma trilha sonora original; BRANCO
FERREIRA, pelo desenho de som; e todos os demais “operários das
tábuas”, que emprestaram seu talento e profissionalismo, para a
concretização do projeto. Não farei nenhum comentário particular sobre eles,
fazendo uma exceção única, com respeito a TONI RODRIGUES, que executou uma preparação
corporal das melhores do que venho tomando conhecimento nos últimos tempos.
Com o empenho pessoal de cada um do quinteto de intérpretes, o
resultado, em cena, é o melhor possível.
Voltando para casa, cheguei à conclusão de que,
ainda que considere importantíssimas as mãos de todos os que “bateram a
massa daquele bolo”, a “sua cereja” é uma só: o elenco.
O espetáculo parece ter sido feito para os atores. É para que um elenco
possa brilhar. E brilho é o que não falta naquele palco. Em qualquer das três
fábulas, todos executam um trabalho magnífico, entretanto – pensei muito
se deveria escrever o que se vai ler adiante, mas tomei coragem, na certeza de
que nenhum dos demais do elenco ficará melindrado com o que eu vou dizer -,
parafraseando o “Poetinha”: Os outros quatro atores que me
perdoem, mas DANI BARROS é fundamental!!!
Todos merecem elogios, todos merecem muitos aplausos,
porém o que DANI faz em cena é de tirar o fôlego. Tive de me conter,
algumas vezes, para não a aplaudir, em cena aberta, porque poderia atrapalhar o
ritmo e o andamento do espetáculo. Embora seu nome e seu trabalho sejam
bem reconhecidos por quem entende de TEATRO (E ela leva esse talento,
também, para o telão e a telinha.), acho que as pessoas ainda não acordaram
para o potencial artístico de DANI BARROS, tanto no drama como na
COMÉDIA.
Quando disse que se trata de uma peça “para
os atores”, é porque o texto e a direção permitem que
cada um, em seus momentos, protagonize a cena, mesmo quando os cinco
estão juntos, atuando.
Não consta, na ficha técnica, o nome de quem
fez a tradução do texto e uma possível adaptação, para que,
embora seja um tema universal, algumas situações atinjam, mais de perto,
o público brasileiro, peculiar em seu comportamento, mas creio que esse trabalho
também tenha sido executado por GUI WEBER.
FICHA TÉCNICA:
Direção:
Guilherme Weber
Diretora-Assistente:
Verônica Prates
Assistente de
Direção: Adassa Martins
Elenco: Júlia
Lemmertz, Dani Barros, Vladimir Brichta, Cláudio Mendes e Márcio Vito
Cenografia:
Dina Salem Levy
Assistente de
Cenografia: Gabriel Garcia
Figurino: Kika
Lopes
Assistente de
Figurino: Maria Vilhena
Iluminação: Renato
Machado
Assistente de
Iluminação: Sarah Salgado
Preparador Corporal:
Toni Rodrigues
Trilha Sonora
Composta: Rodrigo Apolinário
Desenho de
Som: Branco Ferreira
Aderecista:
Antônio Lima
Cenotécnico:
André Salles
Diretores de
Palco: Gérson Porto e Iuri Wander
Contraregra:
Nivaldo Vieira
Operadores de
Luz: Ricardo Vivian e Sarah Salgado
Camareira:
Conceição Telles
Costureira:
Fátima Félix
Alfaiate:
Renato Nascimento
Projeto
Gráfico: Pat Cividanes
Fotografia; Flávia Canavarro
Assessoria de Imprensa: Vanessa Cardoso e Pedro Neves (Factoria Comunicação)
Assessoria
Contábil: M. Tavares
Elaboração de Prestação de Contas: Janaína Santos (Marejá Gestão Cultural)
Produção e
Realização: Quintal Produções
Direção Geral
de Produção: Verônica Prates
Coordenação Artística:
Valencia Losada
Produtor Executivo:
Thiago Miyamoto
SERVIÇO:
Temporada: de 16
de junho a 17 de julho de 2022.
Local: Teatro
Firjan Sesi Centro.
Endereço: Avenida
Graça Aranha, nº 01 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e
Horários: quintas e sextas-feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.
Ingressos à
venda pela plataforma Sympla e na bilheteria do Teatro.
Valores do
Ingressos: R$40,00 (inteira) – R$20,00 (meia entrada).
Desconto de 20% para funcionários da
Eletrobras.
Classificação
Etária: 14 anos.
Duração: 90
minutos.
Patrocínio: Eletrobras.
Apoio
cultural: Firjan Sesi.
Gênero:
Comédia dramática.
Valeu
muito a pena encarar um dia frio de feriado, e me arriscar, até certo ponto, no
Centro, deserto, de uma cidade que já viveu o “status” de capital
de um país e que foi transformada em “capital do caos”, para me
deliciar com uma excelente montagem de TEATRO, uma COMÉDIA farsesca,
que EU RECOMENDO COM O MAIOR EMPENHO.
FOTOS:
FLÁVIA CANAVARRO
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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TEXTO,
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