O LADO B
(UM RICO TRABALHO COLETIVO.
ou
UMA AULA DE UM EXCELENTE
TEATRO CONTEMPORÂNEO,
“NÃO-CABEÇA”, GRAÇAS A
DEUS.!!!)
Uma das coisas que mais me dão prazer e alegria, no TEATRO, como já disse, várias vezes, é quando um espetáculo supera, e muito, as minhas expectativas. E, a
cada vez que isso acontece, mais aumenta a minha paixão por essa arte milenar.
No último domingo, 13 de janeiro
(2019), mais uma vez, para fechar a minha excelente semana teatral com chave de ouro, isso aconteceu, quando me propus
a assistir a uma peça, na Sala Eletroacústica da Cidade das Artes: “O LADO B”, com texto
de GUSTAVO DAMASCENO, direção
de MARCÉU PIERROTI e um elenco
de cinco grandes atores: FLÁVIA PUCCI, CHARLES ASEVEDO, CIRO SALES, PAULA MORENO e JOELSON MEDEIROS. (VER SERVIÇO.)
A peça, de idealização, concepção e
encenação arrojadas, porém ao
alcance de qualquer espectador de inteligência normal e de bom gosto, “mergulha nas sombras dos indivíduos
contemporâneos, com projeções ao vivo, karaokê em cena e cenário articulado, a
quarta criação do grupo ÁGUA BENTA CIA DE CRIAÇÃO”, de acordo com o detalhado
“release”, escrito por CIRO SALES, e que me chegou às mãos por
intermédio de CHARLES ASEVEDO, um
dos fundadores da Companhia, ao lado
de FLÁVIA PUCCI, JOELSON MEDEIROS e PAULA MORENO.
O alvo do grupo, já,
claramente, demonstrado nos três trabalhos anteriores (“Antiga”, “Uma Noite Sem o
Aspirador de Pó” e “Olho de Vidro”),
é “pesquisar
o comportamento de homens e mulheres,
nas sociedades contemporâneas (...) o grupo se debruça sobre as contradições
que permeiam a vida e o cotidiano dos seres humanos.”. Desde sua
formação, vem investigando o indivíduo, suas ações, pensamentos e paradoxos.
Segundo FLÁVIA PUCCI, “A vida em sociedade pode ser
dividida em dois pilares: aquilo que mostramos ao outro e o que escolhemos não
mostrar. Em cada história de ‘O LADO B’, exploramos toda a potencialidade
humana, desde os comportamentos corriqueiros até os segredos mais sombrios da
mente."
O público entra em
contato com “personagens ambíguos, atormentados e vulneráveis - como, afinal, somos
todos nós. No enredo de "O LADO B", entretanto, eles estão frente a
situações-limite, que exigem escolhas radicais e podem mudar os rumos de suas
vidas. E é justamente isso o que prende o espectador ao longo das quatro
histórias que compõem a peça” (prossegue o “release”), com duração de
quase duas horas, as quais
passam sem a gente sentir e deixam vontade de “quero mais”.
"Corpos
anestesiados pelos abusos externos e pela autocrítica diária vão implodir ou
explodir em algum momento. Esses personagens estão buscando uma saída para suas
dores, mas que, agora, - por as terem sufocado durante muito tempo - pode vir
descontroladamente", comenta o diretor, “que buscou humanizar os dramas de cada
personagem e escolheu estéticas bem diferentes para abordar cada trama.”.
O processo de criação do espetáculo, até
chegar à forma definitiva, servida ao público, em bandeja de ouro, foi muito
interessante, demorado e enriquecedor, para todos os envolvidos no projeto. Primeiro,
“Através
de improvisações e composições coletivas, os atores criaram, em quase um ano de
árduo trabalho, um repertório de cenas curtas, que foi o material de base,
utilizado pelo dramaturgo, para criar a estrutura do espetáculo, dividido em
quatro atos (sem intervalos, acrescento eu), cada um contando uma história
diferente.”.
SINOPSE:
REGINA
(FLÁVIA PUCCI) é uma mulher sufocada pela rotina.
ANA
(PAULA MORENO) é uma mulher solitária, viciada em sexo.
JONAS
(CHARLES ASEVEDO) é um marido fiel, que se encanta por JAQUELINE, o lado mulher do “cross-dresser” ROBERTO (CIRO SALES).
MARCO
(JOELSON MEDEIROS) é um homem inconformado com o fim de seu relacionamento.
As vidas dos cinco se entrelaçam, seus
conflitos pulam o muro da casa do vizinho, invadem-na e todos eles nos revelam um pouco de
quem somos, sem poupar aquele lado que não gostamos de revelar; menos ainda ,de
reconhecer: o nosso LADO B.
O elenco é magnífico, em atuações impecáveis, sob a fantástica direção de MARCÉU
PIERROTI, neste seu segundo brilhante trabalho com a batuta de diretor nas mãos. Quem viu “Moléstia", no ano passado, seu trabalho de estreia como encenador, e se
encantou com o que viu (motivos não faltavam), como eu, não imagina o quanto de acertos existe nesta
sua segunda assinatura, muitas vezes superior à de estreia, que já era
excelente.
Há uma grande
cumplicidade, um perfeito e harmonioso entrosamento entre os cinco atores e um nivelamento, nas atuações,
que não me permite destacar um ou outro nome. Todos brilham nos seus momentos de maior destaque na trama. Os personagens exigem muito dos atores, para que ganhem vida, e todos estão inteiros, sem sobrar nem faltar nada nos seus estereótipos.
Quanto à direção, a despeito do ótimo texto, da irrepreensível interpretação do quinteto de atores e dos demais elementos que dão suporte a esta corretíssima
montagem, penso que seja a direção
o que mais contribui, para que o espetáculo agrade tanto e mexa com o público,
cada um espectador se identificando, ainda que "a contragosto", com este ou
aquele comportamento dos personagens.
É magnífico o inventivo trabalho do
diretor, que criou soluções nem tão complicadas, porém complexas e
inteligentes, para contar as histórias, utilizando recursos tecnológicos, sem
nenhuma parafernália, bem dosados e, melhor ainda, aproveitados.
MARCÉU foi convidado a se incorporar ao
grupo já depois de bastante tempo do início do projeto e do processo, o que, a meu juízo, valoriza, mais ainda, o seu trabalho,
no qual ele imprime uma pesquisa das
linguagens cênica e cinematográfica, iniciada durante a sua graduação, em direção teatral, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), e aprofundada em seu já citado primeiro trabalho de direção, "Moléstia", em 2018. Há interessantes projeções de imagens de vídeo, captadas por uma câmera, acoplada à cabeça do personagem/operador da vez.
Percebe-se, nítida e
facilmente, no decorrer da peça, que
se trata de um trabalho, realmente, coletivo. O TEATRO é uma arte feita em
conjunto, em comunhão de ideias e propósitos, o que, às vezes,
infelizmente, não é bem posto em prática. Não é o caso aqui, porque a encenação mostra ter havido um
entrosamento total do diretor com a
responsável pela cenografia, assinada
pela premiada cenógrafa CARLA BERRI,
“que
propõe, para esse trabalho, uma cenografia modular, em cabines articuladas, que
os atores manipulam e modificam, de acordo com o avançar da história”. São
painéis articulados, de ferro, vazados, com persianas agregadas, os quais
assumem diversas e curiosas formas, além de duas cadeiras e uma mesinha de serviço, também de ferro.
Colaboradora antiga
da companhia, merece destaque o
trabalho da atriz e artista plástica MAUREEN MIRANDA, que assina os figurinos,
a qual, em consonância com a proposta da direção,
“reforça,
com suas criações, as diferenças estéticas entre os atos da peça. Na primeira
trama, toques de realismo fantástico e referências a histórias em quadrinhos.
Na história seguinte, linguagem cinematográfica e tons mais realistas. ‘Exagero
é a palavra de ordem das peças que compõem o terceiro bloco de ‘O LADO B",
brinca a figurinista, que explora todas as possibilidades do universo de JONAS
e ROBERTO. Já para a narrativa final, ela adotou uma estética mais seca, que
beira o estilo militar.”.
LUAN DE ALMEIDA também “trocou muita
figurinha” com o diretor, até chegar
a uma iluminação indispensável e indicada para aquela narrativa teatral, num trabalho merecedor de muitos elogios.
Quem, também, se
destaca, na sua parte, é TONI RODRIGUES,
com seu trabalho de direção de movimento,
excelente, por sinal.
Para ajudar a criar o clima para as cenas, entra a boa trilha sonora, criada por LEONARDO NETTO.
Para ajudar a criar o clima para as cenas, entra a boa trilha sonora, criada por LEONARDO NETTO.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Gustavo Damasceno
Direção: Marcéu Pierrotti
Assistência de Direção: Filipe Leon
Elenco: Joelson Medeiros, Flávia Pucci, Charles Asevedo, Paula Moreno e
Ciro Sales
Cenografia: Carla Berri
Figurino: Maureen Miranda
Trilha Sonora: Leonardo Netto
Direção de Movimento: Toni Rodrigues
Iluminação: Luan de Almeida
Fotografia: Nanah Garcia
Criação Gráfica: Otimistas
Produção: Made In Lu Criação e Arte Ltda
Direção de Produção: Joelson Medeiros
Produção e Realização: Água Benta Cia de Criação
SERVIÇO:
Temporada: De 11 de janeiro a 17 de fevereiro de 2019.
Local: Fundação Cidade das Artes - Sala Eletroacústica.
Endereço: Avenida das Américas 5300, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro / RJ.
(Além de ampla área de estacionamento, há uma passagem particular, do Terminal
Alvorada – BRT – para o complexo da Cidade das Artes.).
Dias e Horários: 6ªs feiras e sábados, às 20h; domingos, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada) - Os
ingressos são vendidos pelo site ingresso rápido (Preços especiais para grupos
organizados, entrando em contato prévio com a produção.).
Duração: 100 minutos.
Indicação Etária: 16 anos.
Gênero: Drama.
“O LADO B” é um trabalho dificílimo,
para diretor e atores, do qual o sexteto conseguiu dar conta, à altura de ser
considerado um ÓTIMO ESPETÁCULO,
daqueles IMPERDÍVEIS, que, com total certeza, vão marcar
a temporada teatral de 2019, ainda
engatinhando.
Por favor, deixem de lado esse negócio, essa bobagem, de achar que a Barra da Tijuca fica em outro país e não
percam, de modo algum, este, que é um espetáculo que merece ser visto, por sua
extrema qualidade!!!
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
(FOTOS: NANAH
GARCIA.)
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