A IRA
DE
NARCISO
(“É QUE NARCISO ACHA FEIO
O QUE NÃO É ESPELHO”.
Da
mitologia grega, o nome de NARCISO
parece dos que mais próximos estão do povo e da nossa contemporaneidade, e sua
história é, por demais, conhecida e passada de geração a geração. Ele era filho do deus do rio Cefiso e da ninfa Liríope
e representa um forte símbolo da vaidade e do orgulho, sendo um dos personagens
mitológicos que sempre foi, e ainda o é, muito citado nas áreas da psicologia,
filosofia, letras de música, artes plásticas e literatura.
“Reza a lenda que”, no dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias previu que NARCISO teria vida longa, desde que jamais contemplasse a própria figura. NARCISO era um rapaz plenamente dotado de beleza. Cresceu e se transformou num jovem bonito, que despertava amor tanto em homens quanto em mulheres, mas era muito orgulhoso e tinha uma arrogância, que ninguém conseguia quebrar. Até as ninfas se apaixonaram por ele, incluindo uma chamada Eco, que o amava incondicionalmente, mas o rapaz a menosprezava. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa Némesis, aqui como um aspecto de Afrodite, o condenou a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo numa lagoa. Encantado pela sua própria beleza, NARCISO deitou-se no banco do rio e definhou, olhando-se na água e se embelezando. Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa flor, o narciso.
“Reza a lenda que”, no dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias previu que NARCISO teria vida longa, desde que jamais contemplasse a própria figura. NARCISO era um rapaz plenamente dotado de beleza. Cresceu e se transformou num jovem bonito, que despertava amor tanto em homens quanto em mulheres, mas era muito orgulhoso e tinha uma arrogância, que ninguém conseguia quebrar. Até as ninfas se apaixonaram por ele, incluindo uma chamada Eco, que o amava incondicionalmente, mas o rapaz a menosprezava. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa Némesis, aqui como um aspecto de Afrodite, o condenou a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo numa lagoa. Encantado pela sua própria beleza, NARCISO deitou-se no banco do rio e definhou, olhando-se na água e se embelezando. Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa flor, o narciso.
Há, ainda, outra versão, que dá conta
de que NARCISO se apaixonara por sua
irmã gêmea, e não por si mesmo, e que a imagem que ele vira, refletida na
água, era a dela e não a sua própria, já que, além de parecidíssimos, ambos se
vestiam de forma igual.
Em função do mito de NARCISO, surgiu,
no léxico português, o substantivo “narcisismo”,
significando o amor, a paixão pela
própria imagem, e o adjetivo “narcisista”,
indicando aquele(a) que é muito
voltado(a) para si mesmo, para a própria imagem. Acima de tudo, vaidoso(a). “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. (Caetano Veloso).
SINOPSE:
O solo é uma “autoficção” do dramaturgo uruguaio, radicado em Paris, SERGIO BLANCO, um
monólogo, em primeira pessoa, que
conta a passagem do autor por Ljubljana, capital da Eslovênia, onde fora dar uma
palestra sobre o famoso Mito de NARCISO.
O drama se passa em um
quarto de hotel, o de número 228,
onde o autor está hospedado, durante os últimos preparativos para a conferência, enquanto descreve os vários encontros,
alguns bem íntimos, com um jovem esloveno, de nome Igor, que acabara de conhecer, por um aplicativo de encontros e
relacionamentos.
A partir
da descoberta de uma mancha de sangue no carpete do referido quarto de hotel, o
relato da viagem profissional e dos encontros amorosos dá lugar a uma intriga policial, com um final trágico, na medida em
que o personagem tenta, com a ajuda, a distância, de um amigo, desvendar o
mistério que envolve a citada mancha de sangue e outras, que vai descobrindo
aos poucos, enquanto dura sua estada na cidade.
Alternando, sutilmente, narração, palestra e confissão, "A IRA DE NARCISO" é uma jornada arriscada, que conduz o
espectador em um labirinto do eu, da linguagem e do tempo.
Um texto autoficional é aquele em que se amalgamam personagem,
autor e narrador, na mesma proposta ficcional, muito mais própria
da literatura convencional do que da dramática. Pode-se dizer que é uma
raridade, no TEATRO. É preciso que o espectador esteja bem atento à
“representação”, para discernir onde pode traçar a fronteira entre o que é e o
que não é, o real e a ficção. Isso torna o espetáculo, de certa forma, se não
houver uma concentração total do espectador, difícil de ser entendido.
No Rio de Janeiro, é a primeira temporada
do solo (promete, e merece, outras),
que já cumpriu uma, longa e vitoriosa, grande sucesso de público e de crítica,
na capital paulista, pela qual GILBERTO GAWRONSKI
está indicado ao “Prêmio Shell de Teatro
– 2018”, na categoria de Melhor Ator, além de ter sido um dos
maiores sucesso no último Festival de
Teatro de Curitiba, dos mais importantes do Brasil, se não for o maior de todos, no qual, também, se destacou
como uma das grandes atrações, grande sucesso, em todos os níveis. O espetáculo também concorre, no “Prêmio Aplauso Brasil”, em três
categorias: Melhor Ator, Melhor Espetáculo de Produção Independente
e Melhor Arquitetura Cênica. Em São Paulo, a peça percorreu algumas cidades do interior e encerrou o ano de 2018, abrindo o Festival de Teatro da Amazônia.
A montagem foi idealizada por CELSO
CURI, também tradutor do original
e produtor, que comprou os direitos
de exibição da peça, no Brasil, logo após ter ficado encantado
com a versão a que assistiu, no Uruguai,
dirigida pelo próprio autor, SERGIO BLANCO, que também assina o texto de “Tebas Land”, grande sensação da temporada carioca de TEATRO de 2018, ainda em cartaz. Afirmo que ambos os textos se equivalem, em incomensurável qualidade, ainda que tratando
de temas bem diferentes.
Na visão da diretora, YARA DE NOVAES, a peça é “como um portal de reflexão sobre o artista
contemporâneo, em embate consigo mesmo, com sua criação, o mundo das coisas
e a natureza”. Acrescenta que “o
texto reflete sobre o efeito hipnótico que a nossa
imagem exerce sobre nós e como essa autocontemplação pode ameaçar a nossa vida”.
Um
dos mais importantes dramaturgos latino-americanos contemporâneos, uruguaio, de nascimento, porém morando
em Paris, desde 1998, SERGIO BLANCO
também já assinou muitas grandes direções,
com algumas premiações nessa área. Por seus temas universais e atemporais, BLANCO
consegue atingir o sucesso em qualquer canto do mundo e suas peças são representadas nos mais
diversos idiomas; e o mais importante de tudo: aclamadas, pelo público e pela
crítica, e premiadas. Nos últimos anos, seu TEATRO vem sendo representado na França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália, Grécia, Suíça, Luxemburgo, Estados Unidos,
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México e Peru. Isso diz tudo a respeito desse
grande artista, que, ainda por cima,
também é ator.
A arquitetura textual que BLANCO utiliza, nesta peça, é, por demais, interessante, ao
mesclar realidade com ficção, utilizando-se de “flash-backs” e alguns solilóquios,
instigando o público a estar atento ao que ele mesmo diz não ser um “monólogo”, e sim, um “relato”, cheio de suspense e doses de
terror, ainda que brando, não chocante, excluindo-se a parte final da peça. Na verdade, o foco maior do texto recai sobre um estudo do homem
contemporâneo e sua habilidade de conviver com sua própria existência e seu
domínio sobre o que lhe está à volta, na luta pela sobrevivência, candidato a
resistente ao caos em que estamos mergulhados.
Não tenho o
objetivo e, menos ainda, a pretensão de escrever acerca desta OBRA-PRIMA sob o ponto de vista de um
aprofundamento filosófico, até porque me falta muita base para isso. Volto o
meu foco mais para a parte técnica do
espetáculo, que julgo ser a função primeira de um crítico de TEATRO. Arrisco-me, todavia, a dizer que, antes de tudo,
vejo o texto e sua montagem, principalmente no Brasil, como um ato de muita
coragem e resistência, do que estamos tão necessitados.
SERGIO BLANCO, nesta dramaturgia, está alicerçado em
interessantes metáforas e citações artísticas, que valorizam a sua escrita,
como, por exemplo, o fato de um homem estar à cata de um seu semelhante, a
ponto de convidar um desconhecido, à procura de sexo, para a intimidade do seu
quarto, um ser do mesmo gênero, como, talvez, numa tentativa de encontrar uma
resposta para a sua própria existência. O como se ver no outro igual e, ao
mesmo tempo, diferente. Um ser que lhe proporciona uma troca de prazeres
carnais e lhe estimula o sentimento narcisista, em que predomina a “certeza” de
uma superioridade, em relação ao, outro. Não falta, no texto, a marca do grande poeta
francês pós-romântico e precursor do surrealismo Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, com sua consagrada citação, que subverte a gramática, mas contém uma
essência muito forte e significativa, o “Je EST un autre”, que pode
sugerir “a ideia do EU separada do
nosso eu interior”, em vez de “Je SUIS um autre”, enxergando-se
mais no outro do que em si mesmo. E,
ainda, podem ser contabilizadas outras referências culturais, como a do filósofo
e pensador alemão Martin Heidegger e seu questionamento metafísico,
e seu contemporâneo, o, também, filósofo,
francês, Gilles Deleuze.
Falar da direção do espetáculo
significa dar mil gritos de “BRAVO!”, para o trabalho de YARA DE
NOVAES. Embora seja um texto difícil de ser assimilado, YARA
consegue torná-lo mais acessível, ao grande público, fazendo uso de pinceladas
de humor irônico e ácido. Ela didatiza o texto, procura variar bastante
as marcações e explorar os meandros do “relato”, contando, obviamente,
com o imenso talento de ator, que GILBERTO GAWRONSKI traz consigo. YARA
optou por uma participação total da plateia, com a quebra da quarta parede e
outras ideias geniais, como a de expor a nudez do personagem, como forma de
mostrar seu comportamento narcisista, sem nenhum pudor. Ela sabe valorizar os
momentos de plena narrativa com os de “ira” do personagem, quando
este se volta contra todas as mazelas que incomodam e estão diminuindo e destruindo
o ser humano, sem que alguém se dê conta disso e contra tais absurdos se rebela.
Como ele; na teoria, pelo menos. Trabalho magnífico!!!
Não
sei que adjetivo poderia encontrar para definir GILBERTO GAWRONSKI, nesta sua irretocável
atuação, ele que é, sem a menor dúvida, um dos melhores atores brasileiros, que sempre
estará presente numa lista de “tops”.
GILBERTO é grandioso em todos os
trabalhos que faz, seja na comédia,
seja, com maior destaque, no drama.
Acompanho sua carreira, desde seus primórdios, e, quando o vi, atuando em outro
monólogo, “Ato de Comunhão”, em 2011, numa interpretação tão visceral quanto a que estamos analisando,
achei que, ali, ele havia atingido o seu ponto máximo de exploração de um
talento incrível, para atuar. Estava quase enganado, visto que ele volta a brilhar,
da mesma forma, no projeto “A IRA DE NARCISO”. O ator disse, numa entrevista, que tenta,
sempre, “estabelecer um contato individual
com todos os espectadores”. Sim, ele o faz, também, agora, antes de a peça começar, recebendo os
espectadores, conversando com os amigos e conhecidos e, no dia em que assisti ao
solo, até dançou, com uma produtora, Maria Siman, antes do terceiro sinal. “A
verdade não está nos fatos que são narrados, mas no ato de narrá-los. A
história não se dá pelo papel que interpreto, mas pelo que estou relatando”,
diz ele, com relação à peça em tela.
Não há uma cena, apenas, em que GILBERTO
não se destaque. Durante 100 minutos,
todos os focos são para ele. BRAVÍSSIMO!!!
Além de grande ator, GAWRONSKI é um artista versátil, pois
também é diretor, com muitos sucessos
em seu currículo, vencedor de muitos prêmios, como ator e diretor, até como
cenógrafo. Já se apresentou e
conseguiu prêmios, também, no exterior.
Justificando
a sua classificação como um dos melhores
cenógrafos brasileiros, ANDRÉ CORTEZ
concebeu um cenário muitíssimo
interessante e “misterioso”, que vai se revelando aos poucos. Vão surgindo
agradáveis surpresas e entende-se o porquê de cada peça em cena. Além de uma
mesa, que não se mantém durante todo o espetáculo, com os cavaletes que a
sustentam retirados de cena e seu tampo colocado no chão (Decodifiquei isso como
o lago em que NARCISO se viu
refletido. Se for uma “viagem”, de minha parte, puxem-me para baixo, por
favor, numa aterrissagem "forçada", porque adoro flutuar nessas conjecturas.). O
grande destaque do cenário vai para as caixas pretas, apoiadas em tripés, das
quais saem parte da iluminação do espetáculo e dentro das quais observam-se
miniaturas, mostradas ao público, quando elas são giradas, mudando as suas
faces, em relação à plateia. Em algumas, uma dessas faces é um espelho,
elemento que não poderia faltar nesta concepção cenográfica e que também está
presente, em dois pontos da parede do fundo.
Importantíssima,
para o aspecto estético do espetáculo é a iluminação, de WAGNER ANTÔNIO, que
resulta num belo trabalho, reunindo o belo, o prático e o providencial.
FÁBIO NAMATAME ocupou-se do
figurino, discreto e muito bem talhado, assim como DR. MORRIS soube encontrar
as canções e os sons incidentais que combinassem com a proposta da direção.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Sergio Blanco
Idealização e Tradução: Celso Curi
Direção: Yara de Novaes
Assistente de Direção: Murillo Basso
Ator: Gilberto Gawronski
Ator Assistente: Renato Krueger
Cenografia: André Cortez
Figurino: Fábio Namatame
Iluminação: Wagner Antônio
Direção Musical: Dr. Morris
Fotos: Marcelo Almeida, Otávio Dantas e Celso Curi
Assistente de Produção:
Carla Gobi
Produtor Executivo: Pedro de Freitas - Périplo Produções
Produtor Executivo (RJ): Wagner Uchoa
Direção de Produção: Celso Curi e Wesley Kawaai
Produtores Associados: Parnaxx, GPS Produções Artisticas,
OFF Produções Culturais
SERVIÇO:
Temporada: De 09 de janeiro a 20 de fevereiro de 2019.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro – RJ.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: 3ªs e 4ªs feiras, às 21h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 100 minutos.
Classificação Etária: 18 anos.
Gênero: Drama.
“A IRA DE NARCISO”
faz parte do pacote das grandes montagens que, felizmente, abriram o ano teatral de 2019, no
Rio de Janeiro, e já está sendo um grande sucesso, de público e de crítica,
ainda que recém-estreada. Os comentários que ouvi e as conversas que mantive
com alguns amigos, à saída da sessão a que assisti, comprovam que a peça chegará, ao final do ano, como detentora de muitas indicações a prêmios. Na minha concepção, pelo menos.
Vida
longa a esta OBRA-PRIMA!!!
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
(FOTOS: MARCELO ALMEIDA,
OTÁVIO
DANTAS e
CELSO CURI.)
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