CAFONA
SIM,
E
DAÍ?
–
UMA HOMENAGEM
(UMA MERECIDA HOMENAGEM
A UM HOMEM
QUE RESPIRAVA TEATRO:
SERGIO BRITTO.
ou
SOMOS TODOS CAFONAS,
E DAÍ?)
Em
1997, 21 anos atrás, quando administrava o extinto Teatro Delfim, o grande ator
e diretor, SERGIO BRITTO, saudoso e inesquecível, teve a brilhante ideia de
montar um espetáculo, um misto de TEATRO
e “show”, mais isto do que aquilo,
chamado “CAFONA SIM, E DAÍ?”, que
contava com uma ficha técnica de
altíssimo nível, da qual faziam parte, dentre outros, o próprio SERGIO, na direção, que dividia com Marco
Santos, além de serem os dois autores
do texto, nomes de reconhecido talento, no TEATRO, como Claudio Botelho,
na direção musical, arranjos musicais e vocais; Marcelo Marques, na cenografia e nos figurinos; Rogério Wiltgen, na iluminação; e Cláudia Ribeiro, na coreografia.
O elenco era formado por Suely Franco, Nedira Campos, Beth Lamas,
Rogério Freitas, Antônio Carlos Feio e Eli Mendes.
Dos
números do “show”, dois eram os mais
aplaudidos: um deles, quando Rogério
cantava o clássico brega “Coração Materno”,
de Vicente Celestino, segurando o coração
da mãe, por ele extirpado, a pedido de sua amada, como prova de amor, e que
caía no chão, depois de o filho ter tropeçado, durante uma corrida, e o ator, como um ventríloquo, falava pela
mãe, ou melhor, pelo coração da mãe: “Magoou-se, pobre filho meu? / Vem
buscar-me, filho, aqui estou, / Vem buscar-me, que ainda sou teu”; o
outro era quando Suely descia à
plateia, cantando “Vingança”, de Lupiscínio Rodrigues, fingindo brigar
com um espectador: “Eu gostei tanto,
tanto, / Quando me contaram / Que te encontraram, / Chorando e bebendo, / Na
mesa de um bar.”.
Vem,
agora, um jovem, porém já consagrado dramaturgo,
DANIEL PORTO (É só se lembrar de
sucessos como “O Pastor”, “Volúpia da Cegueira”, “Acabou o Pó” e Lady Christiny”, além de dois ou três espetáculos infantojuvenis.), com uma proposta de prestar uma homenagem a SERGIO BRITTO, abrindo as
comemorações pelos seus 95 anos, se
vivo estivesse (Não digo “entre nós”,
porque isso ele sempre estará.), com um espetáculo
que não é um “remake” daquele
outro, mais algo feito nos moldes, precedido por uma boa dramaturgia, dividido em dois
atos.
Não
só é justa como bem feita a homenagem a SERGIO
BRITTO, um homem que dedicou 70 anos
de sua vida ao TEATRO, um ser que
respirava TEATRO, jogando bem em
várias posições, como ator, diretor, professor, escritor, apresentador, produtor e grande incentivador
dos jovens, sem, jamais, deixar de estar ao lado de alguns dos maiores
nomes, verdadeiros ícones, como ele, do TEATRO
BRASILEIRO, como Fernanda Montenegro,
Ítalo Rossi, e Tônia Carrero, apenas para citar alguns. SERGIO era um homem de uma cultura ímpar, dono de um grande acervo
de obras de artes, agora, generosamente, disponibilizadas, para pesquisas,
graças à sua sobrinha Marília Britto.
Com
ótima direção de ALEXANDRE LINO, parceiro de DANIEL em todas as montagens citadas acima, o espetáculo
é dividido em dois atos, a saber: no
primeiro, discute-se o “show” que uma companhia deseja montar
para homenagear BRITTO. No segundo, acontece, literalmente, o tal “show”.
Esta
análise obedecerá à divisão da peça,
em duas partes.
SINOPSE:
Um grupo de atores se
prepara para estrear “CAFONA SIM, E DAÍ”.
No primeiro ato, o público acompanha toda a preparação desta montagem
- as relações, crises e alegrias vividas nos bastidores.
O segundo ato é um metateatro,
quando o público assiste ao espetáculo
dentro do espetáculo.
No
primeiro ato, seis atores/cantores, em trajes de trabalho, usando roupas do dia a
dia, de ensaio (moletons, bermudas e camisetas), em cena, tendo como cenário, apenas, instrumentos musicais
(teclado, violão, guitarra, carrom e percussão), acompanhados de seus
respectivos executores, além de mochilas e garrafas de águas, espalhadas pelo
chão, relembram a montagem de 1997 e
discutem o repertório, atualizando-o, sempre preocupados com a possibilidade de
agradar a SERGIO (O que o SERGIO diria?), sempre se
questionando se ele aprovaria isto ou aquilo.
É
véspera da estreia do “show” e uma
mistura de insegurança e nervosismo, como de hábito, toma conta dos atores, cujo elenco é formado por ANTÔNIO CARLOS FEIO, o único a ter feito parte, atuando, da montagem original; LUCIANA
VICTOR, que, em 1997,
trabalhou como produtora;
CLÁUDIA RIBEIRO, coreógrafa
da montagem original; NÍVIA TERRA, MARCELO CAPOBIANGO, ator que, regularmente, trabalhava
com BRITTO; e FRANCISCO
SALGADO. Eles se aquecem, física e vocalmente, à medida que o público vai
entrando na Arena e se acomodando,
enquanto se dá aquele ritual de ensaio, de preparação para um espetáculo.
Ambiente de expectativa.
Basicamente,
a parte teatral se concentra neste primeiro ato, que conta com um
excelente texto, no qual o dramaturgo explora vários assuntos ligados
ao universo dos palcos, como, por
exemplo, falar das dificuldades para se montar uma peça; da insensibilidade de
determinados críticos de TEATRO,
que, simplesmente “detonam” um espetáculo, sem considerar o sacrifício por que
passam os envolvidos no projeto; do
pouco caso das “autoridades governamentais”, para com as artes, em geral, e,
principalmente, o TEATRO; do
deslumbramento de uma iniciante, aluna de TEATRO,
orgulhosa de apresentar seu primeiro trabalho profissional aos colegas de
curso; elogiam atuações de artistas, como a da grande Suely Franco, principalmente sobre sua atuação na montagem original
da peça; explora o problema de uma atriz,
mãe, que se divide, preocupada em ensaiar bem e em atender aos chamados
telefônicos de sua mãe, dando notícias do estado de saúde de seu filho,
doentinho; discutem a fuga do público dos teatros, não pelos ditos altos
preços, mostrando que um ingresso para o SESC
Copacabana equivale ao de um cinema, ou menos; criticam a política de “formação de plateia”, que não forma
coisa nenhuma e leva aos teatros,
gratuitamente, dezenas de pessoas que têm condições de pagar por suas entradas;
e por aí vai...
Em
determinado momento, abre-se um espaço para uma discussão sobre o que é ser
“brega” ou “cafona” e cantam algumas canções do gênero, para decidirem se serão,
ou não, incorporadas ao “set list”,
deixando bem claro que não se trata de um musical,
mas de um “show” com músicas bregas.
Excelente
ideia da direção é fazer o elenco sair, por duas vezes, para um
rápido lanchinho, deixando a Arena
vazia, porém não parando de contracenar, fora do espaço cênico.
Todo
o primeiro ato, de forma inteligente
e óbvia, recebe, como iluminação, do
grande profissional, que é RENATO
MACHADO, uma luz, por assim dizer, de serviço, diferente do segundo.
Durante
o ensaio, acontecem providenciais e propositais desacertos, como problemas de
som e até um refletor, que despenca e se espatifa no chão.
O
único pequeno senão que aponto, nesta encenação de um ensaio, mas que não tem
um peso significativo, são as piadas, que considero de mau gosto (não estou
falando do famigerado “politicamente correto”, que eu abomino) sobre uma antiga
cantora, Kátia, deficiente visual,
que serve de chacota, a Kátia Cega,
como a denominam. Incomodou-me um pouco, mas é como se sua deficiência se
tornasse um “sobrenome” para a cantora e compositora, e o público, na sua quase
totalidade, aprovou e deu muitas gargalhadas. Não estou julgando; apenas
exponho o meu pensamento e respeito o dos outros.
Para
finalizar o ato, após a segunda saída
dos atores, entra uma gravação com um depoimento de SÉRGIO BRITTO, um lindo
texto, de emocionar e provocar lágrimas.
Após um breve intervalo, inicia-se o
“show”, em sua estreia, nada mais
que uma sucessão de canções bastante bregas, porém de agrado do público e de
grande apelo popular, algumas com letras hilárias, cuja relação aqui está:
AS CANÇÕES DA PEÇA E SEUS RESPECTIVOS
INTÉRPRETES:
PRIMEIRO ATO (ENSAIO):
Cafona Sim, E Daí? – Claudio Botelho (compositor)
Freak Le Boom Boom – Gretchen
Conga Conga Conga – Gretchen
Meu Sangue Ferve Por Você – Sidney Magal
Primeiro Encontro – Banda Uó
Brigou Comigo – Banda Calypso
Tchau Para Você – Banda Calypso
Holiday Foi Muito – Falcão
Se Te Agarro Com Outro Te Mato – Sidney Magal
Roda – Sara Jane
Pertinho De Você – Elizângela
Doida, Desalmada E Atrevida – Ronaldo Adriano
Ex-My Love – Gaby Amarantos
Lembranças – Kátia
Quatro Semanas de Amor – Luan e Vanessa
SEGUNDO ATO (“SHOW”):
(HOMENAGEM AO PRIMEIRO
SHOW - REPRISE):
O Amor E O Poder (Como Uma Deusa) – Rosana
Quem É? – Sivinho
Não Se Vá! – Jane e Herondy
Eu Queria Dizer Que Te Amo Numa Canção – Fernando Mendes
Fogo E Paixão – Wando
(DESEJOS):
Raposa E As Uvas – Reginaldo Rossi
Regime Fechado – Simone e Simaria
Eu Sei De Cor – Marília Mendonça
(BRIGAS):
Você Não Vale Nada, Mas Eu Gosto De Você – Calcinha Preta
Te Amo De Verdade – Bonde do Brasil
Vou Rifar Meu Coração – Lindomar Castilho
Desapareça – Rodrigo José
Nem Um Toque – Rosana
Foi Assim - Wanderléa
Loucura – Cauby Peixoto
Porque Brigamos – Diana
(DOR DE COTOVELO):
Filme Triste – Trio Esperança
Vidro Fumê – Bruno e Marroni
Sonhos – Peninha
O Grande Amor Da Minha Vida – Gian e
Giovani
Negue – Maria Bethânia
(AMOR):
É O Amor – Zezé de Camargo e Luciano
Evidências – José Augusto e Xitãozinho e Xororó
Meu Coração É Brega – Veloso Dias
Durante o segundo ato, o “show”, propriamente dito, a plateia
não consegue parar de gargalhar, e cantar, por conta do insólito contido nas
letras das canções, muito bem interpretadas pelos atores/cantores, que dão ênfase a elas, teatralizando,
propositalmente, da forma mais cafona e canastrona possível, cada um dos “hits” do universo brega. Para isso,
fazem uso de caras e bocas, de um interessante trabalho de expressão corporal, a cargo de RODRIGO
SALVADORETTI, também assistente de
direção, sem falar nas coreografias
ridículas (de propósito), criadas por CLÁUDIA
RIBEIRO, todos trajando figurinos
de gosto duvidoso, para usar um eufemismo para “ridículos”, com muitos brilhos
(tudo intencionalmente, como não poderia deixar de ser), obra irretocável de KARLA DE LUCCA, a qual também assina a cenografia, que, aqui, conta com um
outro elemento do universo brega: vários globos de espelho, de tamanhos
diversos, para os “efeitos especiais”.
Se, no primeiro ato, RENATO
MACHADO conteve-se, com a luz quase de serviço, neste, ele esbanja
cores e intensidades de luz, acompanhando o clima de cada canção, o que alegra,
em muito, o ambiente e põe em evidência detalhes das letras e dos figurinos. Excelente trabalho de RENATO, mais um para o seu vasto e
premiadíssimo currículo.
Foi muito bem executada a pesquisa
musical, por LUCIANA VICTOR.
Nada melhor, para iniciar o “show”
do que “O Amor E O Poder”, mais
conhecida por “Como Uma Deusa”,
marca da quase meteórica carreira da cantora Rosana. O público acompanha, fazendo coreografias com as mãos para cima. O mesmo acontece com “Fogo e Paixão”, sucesso absoluto de Wando. Destaques, também, marcantes,
para o clássico “É O Amor”, de Zezé de Camargo e Luciano, e, acima de
todas, para “Evidências”, que leva a
plateia à loucura, num frenesi incontido. E, aqui, eu me incluo.
Não posso deixar de fazer o registro de uma belíssima interpretação,
muito merecidamente aplaudida, de “Nem
Um Toque”, outro sucesso de Rosana,
na voz da tecladista ANANDA TORRES. E, já que falei nela,
aproveito para citar os trabalhos dos outros músicos da pequena, porém eficiente, banda: JORGE LIMA (violão e direção musical) e RODRIGO
SALVADORETTI (guitarra e percussão).
FICHA TÉCNICA:
Texto: Daniel Porto
Direção: Alexandre Lino
Assistente de Direção e Preparação Corporal: Rodrigo Salvadoretti
Elenco: Antônio Carlos Feio, Luciana Victor, Cláudia
Ribeiro, Nívia Terra, Marcelo Capobiango e Francisco Salgado
Diretor Musical: Jorge Lima
Músicos: Ananda Torres, Jorge Lima e Rodrigo Salvadoretti
Pesquisa Musical: Luciana Victor
Preparação Vocal: Ananda Torres
Coreografia: Cláudia Ribeiro
Cenografia e Figurino: Karla de Lucca
Iluminação: Renato Machado
Técnico de Luz e Som: Kelson dos Santos Alvarenga
Fotografia: Janderson Pires
Programação Visual: Guilherme Lopes Moura
Produção Temporada RJ: Daniel Porto
Produtora: SBritto Assessoria Produções e Serviços
Artísticos e LUZES DA RIBALTA Produção Artística
Direção de Produção: Alexandre Lino
Idealização e Produção: Antônio Carlos Feio e Luciana
Victor
Realização: SESC Rio
SERVIÇO:
Temporada: De 10 de maio a 3 de
junho.
Local: SESC Copacabana (Arena).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160
– Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a
sábado, às 20h30min; domingo, às 19h.
Valor do Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia entrada) e
R$7,50 (associados SESC).
Horário
de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às
19h. Capacidade: 240 lugares.
Duração: 80
minutos.
Gênero: Comédia
Musical.
Classificação
Etária: 12 anos.
Segundo o “release”, enviado
por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), “O
acervo SERGIO BRITTO, composto por milhares de fotos, matérias de jornais,
programas e textos de espetáculos, foi disponibilizado através do Portal Sergio
Britto Memórias (www.sergiobritto.com). Pesquisas, nesse
acervo digital, podem ser realizadas no portal da Funarte: http://www.funarte.gov.br/sobre-o-acervo-sergio-britto-digital/.
O acervo físico encontra-se na Biblioteca do Instituto CAL de Arte e Cultura, e
contempla, entre outros, as coleções de vídeos, DVDs e livros do artista”.
“CAFONA SIM E DAÍ? UMA
HOMENAGEM”, espetáculo idealizado por ANTÔNIO CARLOS FEIO e LUCIANA VICTOR, os quais, “através
de SERGIO BRITTO, se conheceram e se casaram nos anos 1990, quando trabalhavam
na ocupação do Teatro Delfim”, nasceu “da vontade de resgatar a ideia
que motivou um dos espetáculos de maior sucesso - tanto de público quanto de
crítica - de SERGIO BRITTO, quando esteve à frente da ocupação do, hoje extinto,
Teatro Delfin, durante a década de 1990” e contou com “o apoio e acompanhamento de Marília Brito,
sobrinha de SERGIO e responsável pelo seu legado, a qual vem tocando uma
série de projetos de preservação de sua memória – documentário, portal,
exposições, livros, através da
empresa SBRITTO, criada ainda junto com o SERGIO, e detentora dos direitos do
artista”.
Quem disser que não tem uma pontinha
de breguice, de cafonice mente ou não é brasileiro. “A música brega é apenas um dos
expoentes de um processo comportamental, que estabelece tendências e dita
consumo. Temos todo um mercado que se movimenta de maneira constante e fiel. A
música, pode-se dizer, é sua maior estrela, trazendo visibilidade e
democratização. Todo brasileiro, independentemente de classe, formação, partido
ou credo, em algum momento, já se identificou com os sentimentos
exacerbados de uma canção chamada brega”.
Somos todos bregas. “CAFONA SIM, E DAÍ?”. E o espetáculo
não poderia deixar de ser finalizado pela canção “Meu Coração É Brega” (Veloso Dias), porque é mesmo.
“SOU UM HOMEM COM
CERTA INTELIGÊNCIA, ALGUM TALENTO, MAS COM UMA VOCAÇÃO ENORME PARA O TEATRO.” (SERGIO
BRITTO).
Sergio Britto.
RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, O
ESPETÁCULO!!!
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA A
DIVULGAÇÃO DO BOM TEATRO BRASILEIRO!!!
FOTOS: JANDERSON PIRES.
GALERIA PARTICULAR.
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO.)
Com Alexandre Lino (diretor) e Daniel Porto (autor).
Muito bom o espetáculo quando volta de novo assisriria todas as vezes
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