UM
ENSAIO SOBRE AMARO
(UM
PROCESSO,
AINDA
EM CONSTRUÇÃO,
QUE
CONSIDERO PRONTO.
ou
“MINHA
MELANCOLIA
ME FAZ COMPANHIA”.)
Começar a semana, numa segunda-feira, assistindo a “UM
ENSAIO PARA AMARO”, no CCBB (Rio de Janeiro) – Teatro II, com EDUARDO RIOS, é um bom presságio, sinal de que a semana teatral
promete grandes surpresas e emoções.
Assim, iniciei uma postagem, numa rede social, tão logo cheguei a casa, depois
de ter assistido ao espetáculo, motivo desta modesta crítica.
SINOPSE:
“UM ENSAIO SOBRE AMARO” é um ensaio sobre a tristeza, que se
desenvolve no exato instante em que um ator, que nega os seus próprios
sentimentos, se vê obrigado a reensaiar o seu personagem mais triste: AMARO.
O ator e o personagem
entram, juntos, em cena, para travar um embate entre a melancolia e a euforia,
a lealdade e o desapego, a aceitação e a necessidade de mudar.
O ator, EDUARDO RIOS, usa,
como recursos principais, um forte trabalho físico e um dinâmico tempo cômico
para, sozinho, dar vida a um inquieto e filosófico dilema entre as facetas que
habitam um mesmo ser.
Brincando entre linguagens
teatrais extremas, o espetáculo aposta na mescla entre dança, teatro de
máscaras, manipulação de objetos, música e ilusionismo, para convidar o público
a uma conversa com a tristeza em tempos em que ela não é mais ouvida.
Por mais paradoxal que possa parecer, existe beleza na tristeza. Mais que isso, poesia. É possível que se construa uma ode à tristeza, explorando caminhos nunca, antes, percorridos,
quando ela é o tema. É o que nos provam YAEL
KARAVAN e EDUARDO RIOS, criadores e idealizadores do projeto.
Ela também dirige o espetáculo,
enquanto ele se doa, por inteiro, na representação
de dois personagens, que se fundem num só: um ator (ZACK) e AMARO, um
de seus personagens.
Com relação ao processo de construção
da montagem, considerado, pela produção
e pelo ator, “ainda em processo”, embora eu já o considere pronto, diz EDUARDO: “‘UM ENSAIO SOBRE AMARO é
um espetáculo solo que construí a partir de um encontro com a artista YAEL
KARAVAN, no Rio de Janeiro. Nós já nos conhecíamos e a convidei para explorar
um tema que já perdurava em minha cabeça havia três anos: a tristeza. Nessa
época, eu ainda não imaginava que, desse encontro, nasceria um espetáculo. Mas
eu sentia uma necessidade grande de me aprofundar mais no universo do teatro
físico, que sempre foi a base da minha formação artística. Levei alguns
materiais, que eu havia colecionado em torno do tema, como músicas, cores,
roupas, imagens, textos, arquivos familiares e uma máscara, que eu tinha
confeccionado, sob a orientação do Grupo Moiatará, a qual veio a se tornar um
ponto chave da criação e da peça. Após uma semana, percebemos que já
tínhamos o esboço de um espetáculo, mas, devido aos limites da distância física
(YAEL mora em Brighton, na Inglaterra), foi necessário aguardar dois anos, até
que eu pudesse reencontrá-la, para criar a peça em mais duas semanas”.
E continua: “O tema da tristeza começou a nascer, em mim,
em 2011, enquanto eu estudava TEATRO, em Londres, e caminhava, pelas ruas,
tentando compreender aquela melancolia que se instalava em mim, de uma maneira
nunca, antes, sentida. Com o passar do tempo, fui me habituando a ela e, mais
do que isso, comecei a me encantar por ela. A melancolia se mostrou uma grande
companheira, que me tornava criativo, reflexivo e mais conhecedor de mim mesmo.
Numa sociedade em que a tristeza é abominada, decidi adotá-la e torná-la tema
do meu espetáculo solo. Busquei referências da minha própria vida, como o meu
próprio avô, Amaro Edno Rios, que carregava um divertido e sarcástico ar
melancólico em seu semblante. E, então, criei dois personagens: ZACK, baseado
no meu lado que não aceitava a tristeza, e AMARO, baseado na tristeza que me
estagnava. O encontro entre os dois personagens me permite chegar, durante o
espetáculo, no EDUARDO que sou hoje: o que aceita a tristeza e dialoga com ela,
para entender mais sobre si mesmo sem se estagnar”.
Depois dessas belíssimas palavras do
ator/criador, qualquer pessoa, com o
mínimo de sensibilidade e paixão pelo TEATRO,
certamente, sentirá vontade de correr ao Teatro
II, do Centro Cultural Banco do
Brasil (Rio de Janeiro), para ser apresentado a essa obra-prima de uma arte multifacetada, mais do que,
somente, TEATRO.
Aqui estão palavras da diretora
da peça, material, como o anterior, retirado do “release”, que me chegou às mãos, via assessoria de imprensa (LUCIANA DUQUE): “Quando EDUARDO me convidou para
dirigir o seu solo, ele me mostrou uma bela máscara, que tinha feito.
Conhecendo-o bastante, eu não poderia imaginá-lo por trás de uma máscara o
espetáculo inteiro. Então, começamos a pesquisar várias maneiras de criar a
peça, aproveitando seus diversos talentos. Isso se deu por meio de trabalhos
com teatro físico, comédia, música e objetos. O resultado foi um leque de
ferramentas, composto, de maneira única, para os múltiplos talentos de EDUARDO.
Foi um prazer descobrirmos, juntos, esse material e um desafio trazer à tona
todos esses elementos no que veio a se tornar uma história muito especial,
feita por um completo arco-íris de cores e emoções”.
Então? Cresceu a vontade de assistir
ao espetáculo, não é? Não se permita, portanto, perdê-lo!
É um pouco difícil analisar o espetáculo,
tecnicamente falando, porque o que rola de emoção, da primeira à ultima cena,
roubou-me um pouco do referencial crítico, porém, em compensação, me fez
embarcar numa linda viagem, tendo a tristeza como companheira de assento.
O texto, propriamente, verbal,
que pouco aparece em cena, não exerce grande influência no monólogo. O que o
seu conteúdo desperta e se amplia é o que há de mais importante nesta montagem.
Uma frase do personagem ator, ZACK, dita, ao telefone, repetidas
vezes, mudando, apenas, o adjetivo final, cada vez mais “bombástico” - "Gerald,
eu tenho um novo personagem pra você. Ele é SENSACIONAL!" – é responsável por todo um texto acessório, não-verbal. Ela representa a tentativa de não
aceitação da tristeza, personificada em AMARO,
personagem do qual ZACK deseja se
afastar definitivamente, mas se vê obrigado a fazê-lo, mais uma vez, por
dinheiro, ou seja, para garantir, por meio de um trabalho, a sua subsistência, na
condição de pessoa. Trata-se daquela condição em que muitos artistas se veem,
durante sua trajetória profissional, vendo-se obrigados a aceitar trabalhos que
não lhes satisfazem. Aliás, isso ocorre em qualquer atividade profissional. Só
que, aqui, metaforicamente, o não querer representar AMARO significa não querer mais ser triste.
São várias
as tentativas, todas infrutíferas, de “enterrar” AMARO, até o ponto de ZACK
aceitar a tristeza – mais que isso, a melancolia – como companheira, convivendo
com ela, numa zona de conforto, que nos contagia.
A atuação de EDUARDO RIOS é algo comovente. Não se pode chamá-lo, apenas, de ator, porque ele é um artista completo, com um total controle
do corpo (até o ato de se vestir, em cena, é coreografado) e das expressões
faciais, da mesma forma como canta bem e dança com muito desembaraço e
flexibilidade. Revelou-se, também, pelo menos para mim, um grande mímico e
ilusionista. Sem falar nas suas qualidades como multimusicista e no seu imenso
carisma. E ele não precisou de alguém para lhe indicar uma direção de movimento; o próprio se dirigiu.
O que se vê em cena é fruto de muito
tempo de pesquisa e dedicação a uma ideia, a um projeto que, por mais simples e
“despretensioso” que possa parecer, requer talento de dois grandes artistas: EDUARDO RIOS e YAEL KARAVAN, esta com um trabalho muito feliz de direção.
A simplicidade do cenário, ainda que criativo, que o ator altera, durante a peça, cuja
autoria não aparece na ficha técnica,
mas, talvez, possa ser atribuída a JÚLIA
FONTES, a qual, lá, está como responsável pela direção de arte, ganha relevo, quando bem iluminado pelo desenho de luz de RODRIGO MACIEL, que cria alguns lindos efeitos de sombra.
Embora, também, não conste, na ficha técnica, o nome de um(a) responsável
pelo figurino, totalmente em
conformidade com o espetáculo, soube que sua concepção (?) coube a NATASCHA
FALCÃO, que consta, na ficha,
como responsável pela assistência artística.
A máscara do personagem AMARO é uma obra de arte, confeccionada por EDUARDO RIOS, sob a supervisão do GRUPO MOITARÁ. Quanta expressividade! Esta, associada aos gestos com a cabeça e ao
comportamento corporal do ator, fala mais do que qualquer palavra.
Há, ainda, no espetáculo, uma bela trilha sonora, que conduz as cenas,
mormente naquilo que podemos chamar de segundo momento da peça, quando o silêncio
das palavras é quase total, cedendo lugar à representação gestual. Embora também
não esteja presente na ficha técnica,
tudo indica que seja da responsabilidade e criação do próprio EDUARDO RIOS. Tem a sua marca.
FICHA TÉCNICA:
Criação: Eduardo Rios e Yael Karavan
Direção: Yael Karavan
Atuação: Eduardo Rios
Direção de Arte: Júlia Fontes
Iluminação: Rodrigo Maciel
Adereços: Alexandre Guimarães
Assistência Artística: Natascha Falcão
Máscara: Grupo Moitará e Eduardo Rios
Diretor Assistente: Thomás Aquino
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Assessoria de Imprensa:
Luciana Duque
SERVIÇO:
Temporada: De 24 de outubro a 21 de novembro de 2016.
Local: CCBB RJ – Teatro II
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro
Tel: (21) 3808-2020
Dias e Horários: 2ªs e 4ªs feiras, às 19:30h
Valor do Ingresso: R$20,00 (inteira); R$10,00 (clientes e
funcionários do BB, estudantes e maiores de 60 anos)
Horário de Funcionamento da Bilheteria: de 4ª a 2ª feira, das 9h às 21h
Duração: 50min
Capacidade: 155 lugares
Classificação Indicativa: 12 anos
Acesso para portadores de necessidades especiais.
O espetáculo é fascinante, e nem os que já conhecem o excelente
trabalho de EDUARDO RIOS fazem ideia
da grandiosidade desta sua experiência num espetáculo-solo.
Trabalho
lindo e emocionante, indescritível, que eu recomendo, às segundas e
quartas-feiras, às 19h30min, somente até o dia 21 de novembro.
SURPREENDENTE
e IMPERDÍVEL!!!
(FOTOS:
ANA CARVALHO)
(Galeria particular: Eu e Eduardo Rios - foto: Luciana Duque.)
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