domingo, 19 de outubro de 2014


AMOR E ÓDIO EM SONATA

 

 

 

 

(UMA AULA DE DELICADEZA, DE BOM GOSTO, DE COMPETÊNCIA E, SOBRETUDO, DE TEATRO.)

 

 


 

 


Amandha e Juliana Weinem.

 

 

            Quem me conhece sabe da minha preferência, na literatura, por biografias, o que pode ser uma das explicações por que gosto tanto de peças biográficas.

 

E, quando esse trabalho é feito com muito amor e competência; quando a vida do briografado merece, mesmo, ser transformada numa peça de TEATRO; quando o texto é escrito com uma qualidade superlativa; quando a direção é primorosa; quando os atores (no caso, duas excelentes atrizes) honram a divina profissão; e quando todos os demais elementos indispensáveis a uma boa montagem também respondem “Presente!”, o resultado foi o que eu vi, na última 4ª feira, 15 de outubro, o que considerei um presente, que dei a mim mesmo, por causa do Dia do Mestre.

 

AMOR E ÓDIO EM SONATA é o nome da peça que mereceu o prólogo acima.

 

 

Divulgação          

 

 

     

 

 

Tendo estreado há mais de dois anos, 2012 (em maio, se não estou enganado), e cumprido algumas temporadas, inclusive com apresentações no exterior, nunca consegui agendar uma data para assistir a essa primorosa produção, o que parece inacreditável para alguém que respira TEATRO e que vai às casas de espetáculo, praticamente, de 2ª feira a domingo.

 

Finalmente, pude conferir o que já havia ouvido das bocas de muita gente de profunda sensibilidade e que gosta de TEATRO (“quase”, para descontrair) tanto quanto eu, algumas dessas opiniões, hoje, já registradas no corpo do belíssimo programa da peça.  Nomes como os de Fernanda Montenegro, Macksen Luiz, Edwin Luisi, Clarice Niskier, Amir Haddad (supervisor de direção da peça), Lionel Fischer, Alexander Medvedovsky (diretor do jornal Voz da Rússia) e Vladimir Tolstói (trineto de Leon Tolstói e assessor de cultura do Presidente da Rússia, Vladimir Putin).  Esses são alguns dos nomes que constam no referido programa, fora dezenas de amigos (atores, diretores, produtores, críticos), que me perguntavam como eu não havia assistido, ainda, a tão linda “obra-prima”. 

 

Sim, AMOR E ÓDIO EM SONATA é uma OBRA-PRIMA.

  


 
SINOPSE:

O texto, escrito e dirigido por LEONARDO TALARICO, que também é responsável pela concepção do projeto, é baseado numa história real, qual seja a do grande escritor russo LEON TOLSTÓI (1828 / 1910) e a inspiração do texto partiu da obra “A Sonata a Kreutzer”, um curto romance de TOLSTÓI.
 
O autor da peça trata da conturbada vida social, política e conjugal do escritor russo, através da rivalidade entre sua mulher, SÔNIA (AMANDHA), com quem viveu por 48 anos e teve 13 filhos, e sua filha SASHA (JULIANA WEINEM), eleita, entre os filhos, como a “voz autorizada” do escritor, a quem, inclusive, ele fez substituir SÔNIA na função de sua secretária.
  
No palco, ambas vivem na mesma casa, “invisíveis”, em dois ambientes, com monólogos, um diálogo e uma futura partida trágica.  Até a morte de LEON, mãe e filha viveram como inimigas.
  
Por meio dos dramáticos e reais diários pessoais, escritos ao longo dos anos, apresenta-se à plateia uma história fascinante, arrebatadora e atemporal.
  
Como viveu e sofreu um dos maiores escritores da literatura universal, opinião de que compartilho, embora, na peça, ele seja apresentado como “o maior” da literatura russa, do que discordo, uma vez que considero Fiódor Dostoievski ocupante do mesmo patamar de TOLSTÓI?
 
A quem amou e por que fugiu de casa, aos 82 anos, para morrer, num cômodo simples, na estação de trem de Astapovo?
 
O que representou, na vida de TOLSTÓI, o jovem Vladimir Grigoryevich Chertkov, editor das obras do mestre, um dos seus mais fiéis discípulos e amigo “íntimo” do escritor, a quem, em testamento, TOLSTÓI, convencido pelo próprio rapaz, doou, em detrimento de sua família, os direitos de toda sua obra literária ?
 
Trata-se do mais intenso drama do consagrado escritor russo, aquele que TOLSTÓI não logrou escrever: sua própria vida.  Um casamento longo; treze filhos, traição, inimizades; uma filosofia a mudar o mundo.
  
Forte e determinada, SÔNIA lutou, incansavelmente, para reaver, após alguns anos de batalha, os direitos sobre a obra de marido, apelando para o governo russo, pois os considerava legitimamente seus, depois de uma vida dedicada a ele a ao seu trabalho, e também de seus oito filhos ainda vivos, a quem devia sustentar.
 
Desesperada com o crescente domínio de Chertkov sobre seu marido, proporcional à, cada vez maior, distância entre o casal, SÔNIA tenta se matar diversas vezes e transforma sua vida conjugal num tormento, exasperando TOLSTÓI, que, aos 82 anos, foge de casa, abandonando a esposa.  Mas, durante a viagem de trem, contrai pneumonia e acaba morrendo num pequeno e modesto cômodo da estação de trem de Astapovo.
  
Quando já está gravemente doente, SÔNIA descobre seu paradeiro e aluga um trem para levá-la ao seu encontro, mas, ao chegar, é impedida, por Chertkov e SASHA, de vê-lo em seus últimos minutos de vida.
  
Após a morte de LEON, mãe e filha, que sempre viveram como inimigas, encontram-se, pela primeira vez, unidas pela dor da perda.
 

 

 


  

 

 


 
TRAJETÓRIA DA PEÇA:
 
- Estreou, em 2012, no Teatro Solar de Botafogo.  A temporada foi um estrondoso sucesso, a ponto de ser prorrogada.
 
- Em 2013, reestreou, a convite, para uma temporada no Teatro Fashion Mall, onde foi vista pela ilustre dama do TEATRO, a insuperável Fernanda Montenegro, que teceu comentários maravilhosos sobre a obra e permaneceu, por duas horas, em uma deliciosa conversa, enaltecendo tudo quanto apreciara em cena.
 
- No mesmo ano, mais uma vez, a convite, o espetáculo transferiu-se, em uma nova temporada, para o Centro Cultural Justiça Federal.  Nesse momento, representantes do governo russo assistiram ao espetáculo e ficaram encantados, não apenas pela história encenada, inédita no mundo, mas por entenderem a direção da obra muito próxima do melhor fazer teatral russo.  
Assim, após solicitarem o material da peça, por escrito, o espetáculo foi convidado, de forma inédita, na história do TEATRO BRASILEIRO, a ser apresentada na Rússia, a convite oficial do governo russo, da família TOLSTÓI e da embaixada brasileira em Moscou.  
Então, o espetáculo foi apresentado no Teatro Meyerhold, em Moscou, em julho de 2014, e na própria casa do escritor russo LEON TOLSTÓI, em Yasnaya Polyana, na abertura do renomado V Festival Internacional Jardim dos Gênios.  
Todas as apresentações ficaram lotadas e a peça foi, por duas vezes, aplaudida em cena aberta, com longos aplausos, ao término das apresentações, gritos de “BRAVO!”, inúmeras solicitações de fotos, autógrafos e entrevistas com as atrizes e o diretor.  
Num livro, que é colocado, à saída do espetáculo, à disposição dos espectadores, para que registrem suas impressões sobre a peça, o que continua acontecendo, na temporada atual, foram registradas inúmeras manifestações de apreço.  
Para o público russo, o que lhes fora, realmente, mostrado é o que, para eles, representa o verdadeiro TEATRO.
A peça recebeu o reconhecimento público da família TOLSTÓI e da Embaixada Brasileira em Moscou, que considerou a temporada um marco para as artes cênicas no Brasil.
 

 

 

            Todos os adjetivos registrados no léxico português serão insuficientes para qualificar este espetáculo.

 

            Texto: Primoroso!

 

            Direção: Irrepreensível! Atenta a filigranas, que supervalorizam a encenação.  LEONARDO TALARICO demonstrou não só um total conhecimento da técnica de direção, como também associou a ela sua extrema sensibilidade e delicadeza.

 

 


O diretor Leonardo Talarico.

 

            Elenco: ambas as atrizes despem-se, totalmente, de suas personalidades e, ainda que o verbo não seja de agrado de muitos atores, “incorporam”, plenamente, as duas personagens, o que, de forma comovente, não permite que o espectador pisque.  Eu estava quase me descolando da poltrona e me incorporando às cenas, boca seca, olhos fixos e direcionados àquelas duas marcantes e belíssimas presenças no palco.  Muitos aplausos para AMANDA e JULIANA.

 

 


 

 

            Cenário e Figurino: Um dos maiores profissionais no ramo, recentemente, também, arriscando-se na direção, o que fez com muito brilhantismo (Casa de Cômodos), MARCELO MARQUES esbanja talento neste espetáculo.  Os dois figurinos, especialmente o de SÔNIA, são de um bom gosto e de uma beleza indescritíveis.  Este, uma verdadeira obra de arte, com detalhes em bordados e aplicações (para um leigo, como eu) de fazer o queixo cair.  Quanto ao cenário, poucas vezes vi um palco preenchido por tão poucos elementos cênicos e de tão belo visual e praticidade para o espetáculo.  Todas as paredes do palco são cercadas por delicadas cortinas em discreto tom bege, o espaço dividido em dois ambientes: uma sala da residência da família TOLSTÓI, em Yasnaia Polyana, com uma poltrona e uma pequena mesinha de serviço, além de um candelabro com uma grande vela; e o escritório do escritor, apenas com uma escrivaninha, com papéis e livos nela amontoados.  As peças são bem antigas e representam, corretamente, o estilo de época.  Atentem para os muitos detalhes de objetos de cena, verdadeiras obras de arte.

 

            Projeto de Iluminação: Um outro ponto alto do espetáculo, a cargo de LEYSA VIDAL.  Pouca luz, formando muitas sombras, cores neutras, utilização de velas, tudo para ajudar a criar o momento e destacar as ações.  Linda iluminação!

 

            Trilha Sonora: Um verdadeiro achado, assinada por LEONARDO TALARICO.  Do início ao final da peça, todos os temas musicais são de altíssimo bom gosto e sublinham, maravilhosamente, todas as cenas.

 

            Assessoria de Imprensa:  Até nesse aspecto, a produção do espetáculo acertou, por ter escolhido uma das empresas mais competentes no ramo: João Pontes e Stella Stephany (JSPontes).

 

            Design Gráfico: RENATA CIOSSANI – é belíssimo e bem completo o programa da peça.

 

            Produção: NOI TER CULTURAL.  Muito atenta.

           

Realização: OS INSUBMISSOS COMPANHIA CRÍTICA DE TEATRO: Parabéns!  Que venham novas realizações do nível desta!

 

 

 


 


 


 


 

 

AMOR E ÓDIO EM SONATA é um espetáculo que se destaca não por apenas um ou dois elementos: tudo nele é grandioso.  A peça nos dá a impressão de que, a qualquer momento, o pomo da discórdia entre mãe e filha também entrará em cena (Quem sabe?), para tomar algum partido na contenda ou para se desculpar, com relação a alguém, para esclarecer dúvidas, que se formam por conta de visões e leituras díspares da mesma realidade, por parte das duas rivais.

 

 

 

           
Para ilustrar, um pouco mais, esta resenha, vão aqui algumas frases de LEON TOLSTÓI, que se tornaram célebres:


- “A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”
 
- “Não é possível ser bom pela metade.”
 
- “Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil.”
 
- “As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.”
 
- “Os atos de uma pessoa tornam-se a sua vida, tornam-se o seu destino. Tal é a lei da nossa vida.”
 
- “Passei por muita coisa na vida e, agora, penso que encontrei o que é necessário para a felicidade.  Uma vida tranquila e isolada no campo, com a possibilidade de ser útil à gente para quem é fácil fazer o bem e que não está acostumada que o façam; depois, trabalhar em algo que se espera ter alguma utilidade; depois, descanso, natureza, livros, música, amor pelo próximo - essa é a minha ideia de felicidade.  E, depois, no topo de tudo isso, você como companheira, e filhos talvez - o que mais pode o coração de um homem desejar?"
 

 


 

 


 

 


 

 

 
FICHA TÉCNICA:

Concepção, Texto e Direção: LEONARDO TALARICO

Supervisão: AMIR HADDAD

Elenco: AMANDHA e JULIANA WEINEM

Participação Especial em “off”: LUÍS MELO

Cenografia e Figurino: MARCELO MARQUES

Projeto de Iluminação: LEYSA VIDAL

Trilha Sonora: LEONARDO TALARICOFotos: LEONARDO TALARICO

Produção: Três Ideias e Soluções Culturais

Assessoria de Imprensa: JOÃO PONTES e STELLA STEPHANYDesign Gráfico: TENATA CIOSSANI

Produção: NOI TRE CULTURAL

Realização: OS INSUBMISSOS COMPANHIA CRITICA DE TEATRO
 

 



 

 
SERVIÇO:
TEATRO DO LEBLON – Sala Marília Pêra – Rua Conde Bernadote, 26 – Leblon (RJ)

Temporada: Até  de 29 de outubro de 2014

Horário: 3ªs e 4ªs feiras, às 21h

Duração: 80 minutos

Classificação etária: 14 anos
 


 

 

 

(FOTOS: LEONARDO TALARICO)

 

 

Um comentário: