segunda-feira, 16 de junho de 2014


QUALQUER GATO VIRA-LATA TEM UMA VIDA SEXUAL MAIS SADIA QUE A NOSSA

 

 

 

(“COISA BOA DURA – O GATO ESTÁ MIANDO HÁ 14 ANOS.”  -  BIBI FERREIRA)
 

 

 


 

           

 

Para se atribuir um bom título a uma obra artística, seja ela de que tipo for, há dois grandes princípios, que aprendi e repasso aos meus alunos de redação.  O primeiro é de que ele deve ser curto, abrangente e, de preferência, não conter verbo.  O segundo é de que possa despertar o interesse do receptor pela obra, para o que deve ser bem original e “vendável”, comercial, no sentido de fazer com que o seu possível “consumidor” tenha o desejo de conhecer a obra, na íntegra e a fundo.

 

É óbvio que esses dois “preceitos” são mais aplicáveis a uma produção literária, porém funcionam muito bem num quadro, num filme, numa peça de teatro...

 

Alguém se interessaria por sair de casa, para ir a um teatro, com o objetivo explícito de ver uma peça com o título de QUALQUER GATO VIRA-LATA TEM UMA VIDA SEXUAL MAIS SADIA QUE A NOSSA?  Provavelmente, não; mas as pessoas vão, porque a melhor propaganda é o “boca a boa” e funciona muito, quando o espetáculo teatral vale a pena ser visto, como é o caso deste.

 

 


Victor Frade e Monique Alfradique.
 

 

Marcos Nauer e Monique Alfradique.

 

 

 

O título desse texto, de JUCA DE OLIVEIRA, um dos maiores atores, ainda vivos, do Brasil, não estaria seguindo a primeira “regra”, pois, além de muito longo, é, na verdade, uma frase, uma afirmação frasal, contendo verbo.  Seria reprovado, se desse título a uma redação escolar, por exemplo.  Tudo bem!  Por outro lado, não se pode negar que o seu autor abusou da criatividade e do poder de despertar o interesse dos espectadores, pelo inusitado de seu teor.

 

JUCA é autor de grandes outros sucessos, de público e de crítica, como Meno Male e Caixa Dois, por exemplo, entretanto seu nome logo leva as pessoas a ligá-lo a “O GATO VIRA-LATA”, ou, mais simplesmente ainda, “O GATO”, título a que foi reduzido o original.

 

 

 

Marcos Nauer e Victor Frade.

 

Cena da peça "Qualquer gato vira-lata tem uma vida sexual mais sadia que a nossa", no Teatro Vanucci, o Rio
Victor Frade, Marcos Nauer e Monique Alfradique.

 

 

A peça foi encenada, pela primeira vez, há cerca de quinze anos e, de lá para cá, já recebeu bem mais que uma dezena de montagens, com os elencos mais variados, e até já foi adaptada para o cinema.  Assisti a duas ou três montagens anteriores, até ter visto, há quase duas semanas, a que está em cartaz no Teatro Vannucci, (Shopping da Gávea), depois de já ter cumprido temporada no 2º andar do mesmo Shopping, em outro teatro, em horário alternativo, numa espécie de balão de ensaio.  A experiência deu certo e o espetáculo foi para o chamado “horário nobre”, um andar acima.

 

 


Monique Alfradique.

 

 


Monique Alfradique.

 

 

 
SINOPSE: A peça conta a história dos encontros e desencontros da jovem TATI com o namorado, “riquinho e mimado”, MARCELO.  Depois de mais uma briga do casal, ela se refugia no auditório da faculdade, para chorar, e não se dá conta de que está no meio da palestra de um professor de Biologia, sobre o evolucionismo de Darwin.  Ele defende uma tese polêmica sobre a harmonia entre as conquistas amorosas dos humanos e as atitudes dos animais.  Para o espanto da moça, o jovem cientista, CONRADO, elucida o porquê das desventuras amorosas das pessoas e afirma que as leis da natureza estão sendo infringidas.  Extasiada com a revelação, a moça convence o professor de que ela é sua tese e recorre à sua ajuda na reconquista do ex-namorado.  Relutante a princípio, o professor aceita a proposta e passa a analisar os erros que ela comete e sugere soluções.  No começo, a experiência acaba dando certo, mas, à medida que os dias passam, aluna e professor começam a vivenciar um “novo momento” e surge um cheiro de romance no ar.  MARCELO apaixona-se, de verdade, por TATI, mas CONRADO apaixona-se por ela também.  Lá vem o tal do triângulo amoroso.  Daí...
 

 

Sobre o texto, diz seu autor, JUCA DE OLIVEIRA, no programa da peça:

 

 
“A ideia da peça nasceu da observação do comportamento amoroso dos jovens, a partir da convivência com minha filha e suas amigas.  Por que a vida afetiva dos moços e moças é tão cheia de conflitos?  Dominamos complicadas técnicas psicológicas no trabalho, na escola, na política, e não sabemos como conservar um namorado, sem enormes sofrimentos morais.  Depois de tentar, sem resultados, passar a ela (a filha) algumas dicas que me pareciam óbvias – como atender o telefone, que vestido não usar, por que não aceitar o convite em cima da hora, por que não atacar com fúria – resolvi escrever uma peça sobre isso.  A resposta não estava na psicologia social, mas na psicologia evolucionista.  Para ser mais claro, estava em Darwin, na sua evolução das espécies.  O GATO VIRA-LATA ensina às mulheres como conquistar o parceiro ao longo das gerações.  E ensina ao homem o que fazer para a preservação da espécie humana.”
 

 

A atual encenação traz, no elenco, por ordem alfabética, MARCOS NADER (MARCELO), MONIQUE ALFRADIQUE (TATI) e VICTOR FRADE (CONRADO), ainda sob a direção de uma dama do TEATRO, BIBI FERREIRA, que o dirige desde a primeira montagem, em 1998, em São Paulo, no teatro que leva seu nome.

  

Vamos a uma modesta análise de parte da ficha técnica:

 

TEXTO – JUCA DE OLIVEIRA: Muito bom.  Bem escrito, abordando uma temática “complicada”, a partir de um “experimento científico”.  É de fácil assimilação e aceitação por parte do público.  Os diálogos são bem curtos e ágeis, à exceção de algumas falas do professor, na dissertação de sua tese, mas numa linguagem bastante compreensível, o que facilita muito a direção a encontrar um bom ritmo para a peça.

 

DIREÇÃO: BIBI FERREIRA: Dispensa comentários.  BIBI não assinaria nada que pudesse macular sua vitoriosa trajetória, de décadas, no palco.  O grau de talento da excepcional atriz pode ser encontrado, também, na sua porção diretora.

 

ELENCO: Bom, afinadíssimo, merecendo algumas observações individuais:

 

MARCOS NAUER: Conhecia muito pouco do seu trabalho.  Observando seu currículo, constatei que só tive a oportunidade de vê-lo em Projeto Kafka, Sub-Werther, O Pequenino Grão de Areia (lindo e premiado espetáculo infantil) e Ninguém Mais Vai Ser Bonzinho.  Assisti a todos esses espetáculos, mas confesso que não me lembro de detalhes de suas atuações nessas peças.  Era como se o estivesse vendo atuar pela primeira vez, em “O GATO”.  As características de seu personagem tinham tudo para que o ator pudesse cair num estereótipo, de “marrentão”, meio “pitbull”, por exemplo, que, certamente, me irritaria bastante, e ao público todo, acredito, nos primeiros dez minutos de representação.  Ocorre, porém, que MARCOS compôs um personagem o mais próximo possível do que deve ter sido idealizado pelo autor do texto.  É engraçado, sem ser ridículo; vazio, intelectualmente, sem ser vulgar; ganha, de cara, a cumplicidade da plateia.  Gostei muito do seu trabalho.

 


 

 

MONIQUE ALFRADIQUE: Acredite quem quiser, mas adoro praticar “mea culpa”, publicamente, quando me deixo levar pela estupidez do “pré-conceito”.  A não ser, esporadicamente, pela TV, não havia visto, em TEATRO, o trabalho da atriz.  Conhecendo-a por fotos (linda, por sinal) e sabedor de que iniciara sua carreira como “paquita”, minha fragilidade humana tratou logo de imaginar que deveria ser um fiasco a atuação da moça (Deve ser mais um rostinho bonito da TV e que pensa que é atriz.).  Que bom que eu estava errado!  E, aqui, me penitencio, considerando que não é nada fácil fazer comédia e MONIQUE revelou, para mim, nesta peça, conhecer o ofício e, principalmente, dominar uma das partes mais complicadas para aquele que pretende fazer rir, que é o famoso “timing da comédia”.  Faz um bom trabalho, o que me motiva a assistir a novas peças de cujos elencos ela faça parte.

 

 


 

 

VICTOR FRADE: Muito bom ator.  Também não tenho grandes recordações das poucas vezes que o vi atuando, mas, como o que interessa, neste momento, é seu trabalho nesta peça, só posso dizer que muito me agradou.  Completamente oposto ao personagem de MARCOS, o CONRADO, de VICTOR, provoca humor de outra forma, mais comedida; a graça sai dele mais pelo texto que pelas ações.  Assumindo uma postura solene, que tem a ver com sua posição de cientista, vai desfilando frases relacionadas à sua teoria, que parecem despropositadas e, em algumas vezes, até ridículas.  Mas tudo pela ciência.  Ótimo trabalho!

 

 


 

 

 

DIRETORES ASSISTENTES: RAFAELA AMADO e ANDRÉ GAROLLI.

 

CENOGRAFIA ORIGINAL: RENATO SCRIPILIT: Não me recordo dela.

 

CENOGRAFIA ATUALIZADA: NATÁLIA LANA: Muito interessante, com alguns detalhes de objetos de cena que chamam a atenção.

 

 

Aspecto do cenário.

 

 

IMAGEM DO CENÁRIO: BÁRBARA LANA.

 

FOTOS DO CENÁRIO: MARCELO FONSECA.

 

FIGURINO: BRUNO PERLATTO: “looks” modernos e adequados aos personagens e a cada situação.

 

ILUMINAÇÃO: DANIELA SANCHEZ: Boa.

 

TRILHA SONORA: VICENTE COELHO: Interessante.

 

PRODUÇÃO GERAL: JULIANA REDER E FREDERICO REDER.

 

REALIZAÇÃO: BRAINSTORM ENTRETENIMENTO.

 

 

Uma comédia interessante, produzida e encenada com bastante carinho e respeito ao público. 

Recomendo o espetáculo como um saudável entretenimento.  Mas que ninguém vá lá com o objetivo de aprender, como numa cartilha, as regras para conquistar e manter seu amor.

 

A peça está em cartaz no Teatro Vannucci (3º piso do Shopping da Gávea), nos seguintes dias e horários: de 5ª a sábado, às 21h30min, e, aos domingos, às 20h30min.  Até o dia 27 de julho.

  

 

 

(FOTOS: PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO e PÁGINA DA PEÇA NO FACEBOOK.)
 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário