sexta-feira, 27 de dezembro de 2013


ORIGINAL OU GENÉRICO?    

(SE FIZEREM EFEITO, APROVADOS OS DOIS.)

 


            Muitas pessoas vão ao TEATRO e saem de lá frustradas, porque o/a ator/atriz protagonista não atuou exatamente naquela sessão.  Em seu lugar, por um motivo qualquer, trabalhou o/a “sub” (redução de "substituto"), como é chamado o artista que substitui outro em algum espetáculo.

            Poucas vezes passei por essa experiência, desagradável, certamente, porque destrói uma expectativa, mas que não deve servir de motivo para que a pessoa se arrependa de ter ido ao TEATRO, a não ser que a substituição seja desastrosa, o que absolutamente, NÃO é o caso aqui tratado. 

Nas poucas vezes em que isso ocorreu comigo, se o espetáculo me agradou, procurei reassistir a ele, com o/a titular do papel.  Mas sem me preocupar com comparações.

            Essa prática da substituição de alguém em cena tem-se tornado, de certa forma, um pouco mais frequente, nos últimos tempos, principalmente porque muitos atores têm compromissos com a televisão, que lhe garante maiores condições de sobrevivência do que o TEATRO, ou em dias em que há duas sessões, mais em musicais, em função da maior exigência da voz do/a artista.

            Recentemente, esse fato ocorreu comigo, quando fui ver, pela terceira vez, o espetáculo CAZUZA – PRO DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL. 

Nas duas primeiras vezes, o protagonista foi vivido pelo ator EMÍLIO DANTAS, o “CAZUZA ressuscitado”, no entendimento de muitos espectadores.  Sim, naquele palco, durante quase três horas, CAZUZA “vive”, na pele do EMÍLIO.  Fantástica atuação! 

Escolhido pelo diretor, JOÃO FONSECA, para representar o personagem, o rapaz se dedicou a um trabalho de pesquisa e de construção do personagem poucas vezes visto nessa profissão.  E o resultado está lá, aplaudidíssimo, de 5ª a domingo, no palco do Theatro NET RIO.  Tem-se a perfeita impressão de que se está diante do cantor e compositor precocemente desaparecido. 

É um trabalho emocionante e inesquecível.  Que bom!  Que talento tem esse rapaz!  Como é bom ver o EMÍLIO em cena!

            Na terceira vez em que assisti ao espetáculo, há duas semanas, já fui, sabendo que o CAZUZA da vez seria o ator OSMAR SILVEIRA, o sub do EMÍLIO. 

Emílio Dantas - titular do papel
 
Osmar Silveira - o sub do Emílio
 
Em lá chegando, vi que a substituição estava anunciada em pequenos cartazes, na bilheteria e na porta do teatro.  A frustração, para alguns, já ali começava. 

Ouvi algumas reclamações, do tipo “Se eu soubesse, não teria vindo”, “Não era com esse aí que eu queria ver” e, até mesmo, um desagradável “Gosto de originais; não de genéricos”. 

Aquilo me incomodou.  Incomodaram-me os comentários, em voz alta (poderiam ter ficado apenas nos limites do sentimento, não precisando chegar à expressão verbalizada).  Incomodou-me também o fato de uma pessoa ficar, sim, aborrecida com o desabar do seu sonho, do seu desejo, da sua expectativa, embora nem sempre haja como se avisar ao público, com a devida antecedência, a substituição, a não ser que já esteja acertado isso em determinadas sessões fixas, como a primeira sessão de 5ª feira ou a segunda sessão do sábado, por exemplo.

            A mim, em nada alterou a vontade de estar ali, até porque, como já disse, eu sabia, previamente, da substituição e desejava mesmo ver outro CAZUZA; ou melhor, outra interpretação do CAZUZA.

            E o que vi?  Um espetáculo lindo, emocionante, também inesquecível, como das vezes anteriores.

            Gostei bastante do trabalho do OSMAR e já tive a oportunidade de dizer isso a ele e ao diretor da peça.  Não há o menor sentido comparar o seu trabalho com o do EMÍLIO ou com o de qualquer outro ator que, porventura, viesse a fazer o CAZUZA.  São leituras diferentes, são emoções diferentes, são sensibilidades diferentes, são momentos diferentes, são vivências diferentes.  São dois atores (bons) e cantores (idem), interpretando um mesmo personagem.  São, portanto, duas diferentes representações do CAZUZA, ambas excelentes.

O EMÍLIO, evidentemente, por ter sido escolhido o titular do papel, fez um trabalho muito mais profundo de pesquisa, de observação, para a construir o personagem, já que fora contratado para tal fim, do que o OSMAR.  Isso, obviamente, leva a uma aproximação maior entre o ator e o personagem, em termos detalhistas de comportamento, de prosódia, de posturas, a uma, talvez, identidade mais profunda com o personagem a ser representado.  Isso, porém, não inferioriza, em nada, o trabalho do outro ator, do "sub", no caso, o OSMAR.

Senti que, além daquilo que o OSMAR achou necessário para compor o “seu” CAZUZA, não houve, de sua parte, nenhuma preocupação em “fazer como o EMÍLIO”.  Isso é ótimo!  Revela uma grande personalidade profissional.  EMÍLIO tem o CAZUZA dele e o OSMAR, o seu.  Acho isso muito bom, fantástico!

            Gostei muito do trabalho do OSMAR, apesar de o EMÍLIO me emocionar um pouco mais.  São dois CAZUZAs completamente diferentes, mas não de menor qualidade este ou aquele.

Curiosamente, na saída, enquanto aguardava amigos do elenco, para cumprimentá-los, ouvi alguns comentários comparativos sobre o trabalho dos dois.  Marcou-me um casal, que já havia assistido ao espetáculo com o EMÍLIO.  Dizia o homem que não gostara da atuação do OSMAR, preferindo a do EMÍLIO, sob a “justificativa” de que este “tinha mais a cara do Cazuza, se parecia mais com ele”.  Discordava a mulher, dizendo que sua preferência recaía sobre o OSMAR, porque “ele não imitava o CAZUZA, como o outro”. 

Durma-se com um barulho desses.  Houve quem passasse, dizendo: “Nem quero ver com o outro cara; adorei esse que fez hoje”.

O Barão Vermelho na ficção
 
Acho que não dá para se comparar aquilo que não deve (ou não foi feito para) ser comparado. CAZUZA foi, e é, único.  O personagem CAZUZA, do musical, brilhantemente escrito por ALOÍSIO DE ABREU, dirigido por JOÃO FONSECA e com um elenco ótimo, até o momento, é interpretado por dois bons  atores/cantores.  O resto é perda de tempo.  Discussão que não leva a nada. 

Quer saber de uma coisa?  Se já assistiu ao musical com um, confira também o trabalho do outro.  Se viu com o outro, volte para ver como o "um". 

Mas sem comparações.  Só muda a embalagem; o princípio ativo é o mesmo.  Ambos vão curar suas dores e feridas.  Ambos são um bálsamo, para o corpo e, principalmente, para a alma.

Parabéns, EMÍLIO!  Parabéns, OSMAR!

 
           EM TEMPO: Ontem, revi ELIS, A MUSICAL, outra obra-prima dos musicais brasileiros.  Só vi, até agora, com a fantástica LAILA GARIN.  E ainda quero ver mais e mais.  Mas não vou deixar de assistir com a sua "sub", LÍLIAN MENEZES.  Quem já viu gostou.  Vou conferir.  Depois, eu conto.
 
 
 
(Fotos de divulgação do espetáculo e dos atores)

Um comentário:

  1. Já vi o Emílio atuando como Cazuza e gostei muito. Mas estou com uma vontade enorme de ver o Osmar no papel principal. Pude conferir aos videos e fiquei apaixonada!

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