ORIGINAL OU GENÉRICO?
(SE FIZEREM EFEITO, APROVADOS OS DOIS.)
Muitas
pessoas vão ao TEATRO e saem de lá
frustradas, porque o/a ator/atriz protagonista não atuou exatamente naquela
sessão. Em seu lugar, por um motivo
qualquer, trabalhou o/a “sub” (redução de "substituto"), como é chamado o artista que substitui outro em
algum espetáculo.
Poucas
vezes passei por essa experiência, desagradável, certamente, porque destrói uma
expectativa, mas que não deve servir de motivo para que a pessoa se arrependa
de ter ido ao TEATRO, a não ser que
a substituição seja desastrosa, o que absolutamente, NÃO é o caso aqui tratado.
Nas poucas
vezes em que isso ocorreu comigo, se o
espetáculo me agradou, procurei reassistir a ele, com o/a titular do papel. Mas sem me preocupar com comparações.
Essa
prática da substituição de alguém em cena tem-se tornado, de certa forma, um
pouco mais frequente, nos últimos tempos, principalmente porque muitos atores
têm compromissos com a televisão, que lhe garante maiores condições de
sobrevivência do que o TEATRO, ou em
dias em que há duas sessões, mais em musicais, em função da maior exigência da
voz do/a artista.
Recentemente,
esse fato ocorreu comigo, quando fui ver, pela terceira vez, o espetáculo CAZUZA – PRO DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL.
Nas duas
primeiras vezes, o protagonista foi vivido pelo ator EMÍLIO DANTAS, o “CAZUZA
ressuscitado”, no entendimento de muitos espectadores. Sim, naquele palco, durante quase três horas,
CAZUZA “vive”, na pele do EMÍLIO.
Fantástica atuação!
Escolhido pelo
diretor, JOÃO FONSECA, para
representar o personagem, o rapaz se dedicou a um trabalho de pesquisa e de
construção do personagem poucas vezes visto nessa profissão. E o resultado está lá, aplaudidíssimo, de 5ª
a domingo, no palco do Theatro NET RIO. Tem-se a perfeita impressão de que se está diante
do cantor e compositor precocemente desaparecido.
É um trabalho
emocionante e inesquecível. Que
bom! Que talento tem esse rapaz! Como é bom ver o EMÍLIO em cena!
Na
terceira vez em que assisti ao espetáculo, há duas semanas, já fui, sabendo que
o CAZUZA da vez seria o ator OSMAR SILVEIRA, o sub do EMÍLIO.
Emílio Dantas - titular do papel
Osmar Silveira - o sub do Emílio
Em lá chegando,
vi que a substituição estava anunciada em pequenos cartazes, na bilheteria e na
porta do teatro. A frustração, para
alguns, já ali começava.
Ouvi algumas
reclamações, do tipo “Se eu soubesse, não
teria vindo”, “Não era com esse aí
que eu queria ver” e, até mesmo, um desagradável “Gosto de originais; não de genéricos”.
Aquilo me
incomodou. Incomodaram-me os
comentários, em voz alta (poderiam ter ficado apenas nos limites do sentimento,
não precisando chegar à expressão verbalizada).
Incomodou-me também o fato de uma pessoa ficar, sim, aborrecida com o
desabar do seu sonho, do seu desejo, da sua expectativa, embora nem sempre haja
como se avisar ao público, com a devida antecedência, a substituição, a não ser
que já esteja acertado isso em determinadas sessões fixas, como a primeira
sessão de 5ª feira ou a segunda sessão do sábado, por exemplo.
A
mim, em nada alterou a vontade de estar ali, até porque, como já disse, eu
sabia, previamente, da substituição e desejava mesmo ver outro CAZUZA; ou melhor, outra interpretação do CAZUZA.
E
o que vi? Um espetáculo lindo,
emocionante, também inesquecível, como das vezes anteriores.
Gostei bastante do trabalho do OSMAR
e já tive a oportunidade de dizer isso a ele e ao diretor da peça. Não há o menor sentido comparar o seu trabalho
com o do EMÍLIO ou com o de qualquer
outro ator que, porventura, viesse a fazer o CAZUZA. São leituras
diferentes, são emoções diferentes, são sensibilidades diferentes, são momentos
diferentes, são vivências diferentes. São dois atores (bons) e cantores (idem),
interpretando um mesmo personagem. São,
portanto, duas diferentes representações do CAZUZA, ambas excelentes.
O EMÍLIO, evidentemente, por ter sido
escolhido o titular do papel, fez um trabalho muito mais profundo de
pesquisa, de observação, para a construir o personagem, já que fora contratado
para tal fim, do que o OSMAR. Isso, obviamente, leva a uma aproximação maior
entre o ator e o personagem, em termos detalhistas de comportamento, de
prosódia, de posturas, a uma, talvez, identidade mais profunda com o personagem
a ser representado. Isso, porém, não
inferioriza, em nada, o trabalho do outro ator, do "sub", no caso, o OSMAR.
Senti que,
além daquilo que o OSMAR achou
necessário para compor o “seu” CAZUZA,
não houve, de sua parte, nenhuma preocupação em “fazer como o EMÍLIO”. Isso
é ótimo! Revela uma grande personalidade profissional. EMÍLIO tem o CAZUZA dele e o OSMAR, o
seu. Acho isso muito bom, fantástico!
Gostei
muito do trabalho do OSMAR, apesar
de o EMÍLIO me emocionar um pouco
mais. São dois CAZUZAs completamente diferentes, mas não de menor qualidade este
ou aquele.
Curiosamente, na saída, enquanto
aguardava amigos do elenco, para cumprimentá-los, ouvi alguns comentários
comparativos sobre o trabalho dos dois.
Marcou-me um casal, que já havia assistido ao espetáculo com o EMÍLIO.
Dizia o homem que não gostara da atuação do OSMAR, preferindo a do EMÍLIO,
sob a “justificativa” de que este “tinha
mais a cara do Cazuza, se parecia mais com ele”. Discordava a mulher, dizendo que sua preferência
recaía sobre o OSMAR, porque “ele não imitava o CAZUZA, como o outro”.
Durma-se com
um barulho desses. Houve quem passasse,
dizendo: “Nem quero ver com o outro
cara; adorei esse que fez hoje”.
O Barão Vermelho na ficção
Acho que não
dá para se comparar aquilo que não deve (ou não foi feito para) ser comparado. CAZUZA foi, e é, único. O personagem
CAZUZA, do musical, brilhantemente escrito por ALOÍSIO DE ABREU, dirigido por JOÃO
FONSECA e com um elenco ótimo, até o momento, é interpretado por dois
bons atores/cantores. O resto é perda
de tempo. Discussão que não leva a
nada.
Quer saber de
uma coisa? Se já assistiu ao musical com
um, confira também o trabalho do outro.
Se viu com o outro, volte para ver como o "um".
Mas sem comparações. Só muda a embalagem; o princípio ativo é o
mesmo. Ambos vão curar suas dores e
feridas. Ambos são um bálsamo, para o
corpo e, principalmente, para a alma.
Parabéns, EMÍLIO! Parabéns, OSMAR!
EM TEMPO: Ontem, revi ELIS, A MUSICAL, outra obra-prima dos musicais brasileiros. Só vi, até agora, com a fantástica LAILA GARIN. E ainda quero ver mais e mais. Mas não vou deixar de assistir com a sua "sub", LÍLIAN MENEZES. Quem já viu gostou. Vou conferir. Depois, eu conto.
(Fotos de divulgação do espetáculo e dos atores)
Já vi o Emílio atuando como Cazuza e gostei muito. Mas estou com uma vontade enorme de ver o Osmar no papel principal. Pude conferir aos videos e fiquei apaixonada!
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