O PRÍNCIPE - ESTÁ
MAIS PARA “REI”
Cartaz/programa da peça
Há exatamente
500 anos, NICOLAU MAQUIAVEL, célebre
político e filósofo do Renascimento italiano, escreveu sua obra máxima – O PRÍNCIPE. Era o marco de fundação do pensamento e da política
moderna.
Para comemorar
esse quinto centenário de um dos mais importantes e emblemáticos livros da
literatura universal, HENRIQUE GUIMARÃES,
LEONA CAVALLI e ANA VITÓRIA VIEIRA MONTEIRO se uniram para dar forma à primeira
adaptação de O PRÍNCIPE para os
palcos, no Brasil, espetáculo em cartaz no Espaço SESC Copacabana (Sala
Multiuso) às 6ªs e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h, infelizmente
apenas até o dia 29 deste mês (setembro).
Excelente a
sinopse (ligeiramente adaptada) que está no programa da peça:
“O espetáculo (em forma de monólogo – grifo
meu) traz Maquiavel, refletindo sobre os princípios que norteiam seu
pragmatismo político, não idealista, mas realista. Vê-se o personagem narrando histórias de
grandes comandantes de períodos distintos da História (sob a forma de “conselhos”
– outro grifo meu), como fonte de referência e indicação para os líderes imitarem
os passos desses antigos príncipes.
Abre-se, desta maneira, uma provocação, para que a plateia se posicione
diante dos controversos conceitos maquiavélicos. A máxima de que os fins justificam os
meios torna-se uma pergunta que
Maquiavel traz, para deixar o público
fazer o juízo final. Provocando a
plateia a testar seus limites morais e éticos, a montagem expõe o líder carismático que era, no exercício retórico de sua
argumentação estrategista. Reconhecemos,
nas falas do personagem, ecos das falas de políticos atuais. Vemos o personagem elaborando o seu raciocínio
de maneira muito franca e direta, diante do público, que participa como uma assembleia,
a qual confere a oratória de um diplomata...”
Henrique e Leona durante ensaio
Li a obra, no
frescor da minha juventude, por volta dos 20 anos, na Faculdade de Letras. Adorei o livro, mas, com a ainda pouca maturidade
de então, não me foi possível captar o máximo do pensamento maquiavélico, muito
menos poderia imaginar que tal obra teria sido escrita por um visionário,
dentro de uma visão premonitória.
Maquiavel antecipou-se ao século XXI. Foi por isso que, à medida que o texto saía da
boca de Henrique, ou melhor, de Maquiavel, eu ia fazendo as associações com os
príncipes do poder de hoje e não me furtava a deixar escapar pequenos sorrisos,
que traduziam, mais ou menos, isto: “Já
vi esse filme; era preto-e-branco e eu morria no final. Não quero rever essa fita”.
Fui assistir
ao espetáculo, sem muita boa expectativa, mais “para cumprir tabela”, uma vez
que, além de respirar teatro, tenho de assistir a um número maior de espetáculos
possível, em cartaz no Rio de Janeiro, por conta de um compromisso. Confesso que não esperava ver algo tão bom,
um espetáculo que prima pela simplicidade, para atingir a magnitude de uma
produção “classe A” (Ah! Os rótulos...).
A adaptação
para a linguagem dramática, feita a quatro mãos, por Ana Vitória Vieira
Monteiro e o próprio ator, Henrique Guimarães, é excelente. A narrativa flui muito bem e é de fácil
assimilação pelo grande público. Não
deve ter sido fácil selecionar o que de mais relevante merecia ser dito no
momento atual.
Com relação ao
ator, HENRIQUE GUIMARÃES, que belíssima
surpresa! Fico muito feliz, quando
conheço o trabalho de alguém novo no mercado, mas que parece já trazer uma
grande bagagem profissional. Esse é o
Henrique. Dono de uma bela figura e de excelente
timbre de voz, além de uma perfeita dicção, ele tem um grande domínio de palco
e ocupa todos os espaços exploráveis da cena com inteligência, maestria e uma
flexibilidade, por meio de movimentos bruscos, oriundos da capoeira, que são
invejáveis. Aposto muito na carreira
desse jovem ator paulista, há pouco tempo no Rio de Janeiro. Que bom que veio! Fique para sempre, pois quero vê-lo muito
mais, atuando nos palcos cariocas.
Outra gratíssima
surpresa está na direção – a primeira – de LEONA
CAVALLI. Conheço o seu trabalho (muito
bom) como atriz, nos palcos, já que não sou muito chegado à telinha, embora
nada tenha contra os atores de novelas, mas nem sabia que ela era
diretora. Sim, ela é uma diretora de
teatro. E das boas. Tomara que invista na carreira, sem abandonar
a outra, é claro!
São satisfatórios
todos os demais elementos da montagem, como luz (Ricardo Fujii), cenário (Leona
Cavalli e Henrique Guimarães) e figurino (Mariana Baffa), entretanto, sem
desmerecer qualquer um dos profissionais que atuaram em cada um desses setores,
acho que só o ator e um espaço livre já seriam suficientes para o
desenvolvimento dessa grande montagem, que adorei ver e que recomendo, enfaticamente,
aos que gostam do bom teatro e por um preço inferior ao do cinema.
Leona Cavalli (diretora) e Henrique Guimarães (ator)
“Príncipe” creio ser pouco; este espetáculo está mais para “REI”!
Sou totalmente apaixonada por esse texto. Também o li muito novinha, na faculdade de História. Achei que tinha entendido tudo, imagina. Fiquei muito na superfície. Percebi isso anos depois, lendo-o bem mais amadurecida como pessoa e historiadora. É FANTÁSTICO! Muito coragem mexer com um texto clássico tão hermético mas tão atual. Nesses tempos conturbados que vivemos nunca foi tão contemporâneo o "X" da questão do Príncipe: os fins justificam os meios. Mas para o teatro pelo visto está mais que justificado e aprovado.
ResponderExcluirViva Maquiavel!