terça-feira, 17 de setembro de 2013


O PRÍNCIPE   -  ESTÁ MAIS PARA “REI”

Cartaz/programa da peça
 
Há exatamente 500 anos, NICOLAU MAQUIAVEL, célebre político e filósofo do Renascimento italiano, escreveu sua obra máxima – O PRÍNCIPE.  Era o marco de fundação do pensamento e da política moderna.

Para comemorar esse quinto centenário de um dos mais importantes e emblemáticos livros da literatura universal, HENRIQUE GUIMARÃES, LEONA CAVALLI e ANA VITÓRIA VIEIRA MONTEIRO se uniram para dar forma à primeira adaptação de O PRÍNCIPE para os palcos, no Brasil, espetáculo em cartaz no Espaço SESC Copacabana (Sala Multiuso) às 6ªs e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h, infelizmente apenas até o dia 29 deste mês (setembro).

Excelente a sinopse (ligeiramente adaptada) que está no programa da peça:

“O espetáculo (em forma de monólogo – grifo meu) traz Maquiavel, refletindo sobre os princípios que norteiam seu pragmatismo político, não idealista, mas realista.  Vê-se o personagem narrando histórias de grandes comandantes de períodos distintos da História (sob a forma de “conselhos” – outro grifo meu), como fonte de referência e indicação para os líderes imitarem os passos desses antigos príncipes.  Abre-se, desta maneira, uma provocação, para que a plateia se posicione diante dos controversos conceitos maquiavélicos.  A máxima de que os fins justificam os meios torna-se uma  pergunta que Maquiavel traz, para deixar o público  fazer o juízo final.  Provocando a plateia a testar seus limites morais e éticos, a montagem expõe o líder carismático  que era, no exercício retórico de sua argumentação estrategista.  Reconhecemos, nas falas do personagem, ecos das falas de políticos atuais.  Vemos o personagem elaborando o seu raciocínio de maneira muito franca e direta, diante do público, que participa como uma assembleia, a qual confere a oratória de um diplomata...” 

 
Henrique e Leona durante ensaio

Li a obra, no frescor da minha juventude, por volta dos 20 anos, na Faculdade de Letras.  Adorei o livro, mas, com a ainda pouca maturidade de então, não me foi possível captar o máximo do pensamento maquiavélico, muito menos poderia imaginar que tal obra teria sido escrita por um visionário, dentro de uma visão premonitória.  Maquiavel antecipou-se ao século XXI.  Foi por isso que, à medida que o texto saía da boca de Henrique, ou melhor, de Maquiavel, eu ia fazendo as associações com os príncipes do poder de hoje e não me furtava a deixar escapar pequenos sorrisos, que traduziam, mais ou menos, isto: “Já vi esse filme; era preto-e-branco e eu morria no final.  Não quero rever essa fita”.

Fui assistir ao espetáculo, sem muita boa expectativa, mais “para cumprir tabela”, uma vez que, além de respirar teatro, tenho de assistir a um número maior de espetáculos possível, em cartaz no Rio de Janeiro, por conta de  um compromisso.  Confesso que não esperava ver algo tão bom, um espetáculo que prima pela simplicidade, para atingir a magnitude de uma produção “classe A” (Ah!  Os rótulos...).

A adaptação para a linguagem dramática, feita a quatro mãos, por Ana Vitória Vieira Monteiro e o próprio ator, Henrique Guimarães, é excelente.  A narrativa flui muito bem e é de fácil assimilação pelo grande público.  Não deve ter sido fácil selecionar o que de mais relevante merecia ser dito no momento atual.

Com relação ao ator, HENRIQUE GUIMARÃES, que belíssima surpresa!  Fico muito feliz, quando conheço o trabalho de alguém novo no mercado, mas que parece já trazer uma grande bagagem profissional.  Esse é o Henrique.  Dono de uma bela figura e de excelente timbre de voz, além de uma perfeita dicção, ele tem um grande domínio de palco e ocupa todos os espaços exploráveis da cena com inteligência, maestria e uma flexibilidade, por meio de movimentos bruscos, oriundos da capoeira, que são invejáveis.  Aposto muito na carreira desse jovem ator paulista, há pouco tempo no Rio de Janeiro.  Que bom que veio!  Fique para sempre, pois quero vê-lo muito mais, atuando nos palcos cariocas.


Henrique Guimarães (guardem este nome) 

Outra gratíssima surpresa está na direção – a primeira – de LEONA CAVALLI.  Conheço o seu trabalho (muito bom) como atriz, nos palcos, já que não sou muito chegado à telinha, embora nada tenha contra os atores de novelas, mas nem sabia que ela era diretora.  Sim, ela é uma diretora de teatro.  E das boas.  Tomara que invista na carreira, sem abandonar a outra, é claro!

São satisfatórios todos os demais elementos da montagem, como luz (Ricardo Fujii), cenário (Leona Cavalli e Henrique Guimarães) e figurino (Mariana Baffa), entretanto, sem desmerecer qualquer um dos profissionais que atuaram em cada um desses setores, acho que só o ator e um espaço livre já seriam suficientes para o desenvolvimento dessa grande montagem, que adorei ver e que recomendo, enfaticamente, aos que gostam do bom teatro e por um preço inferior ao do cinema.

 
Leona Cavalli (diretora) e Henrique Guimarães (ator)
 
“Príncipe” creio ser pouco; este espetáculo está mais para “REI”!

 

 

Um comentário:

  1. Sou totalmente apaixonada por esse texto. Também o li muito novinha, na faculdade de História. Achei que tinha entendido tudo, imagina. Fiquei muito na superfície. Percebi isso anos depois, lendo-o bem mais amadurecida como pessoa e historiadora. É FANTÁSTICO! Muito coragem mexer com um texto clássico tão hermético mas tão atual. Nesses tempos conturbados que vivemos nunca foi tão contemporâneo o "X" da questão do Príncipe: os fins justificam os meios. Mas para o teatro pelo visto está mais que justificado e aprovado.
    Viva Maquiavel!

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