NA COXIA, COM...
...CAIO BUCKER.
Caio Bucker.
Caio Bucker.
CAIO BUCKER não precisa de apresentação, para quem
vive no universo das artes, principalmente do TEATRO, dos “shows”
e das festas em discotecas e afins, porém o grande público precisa ficar
conhecendo um pouco do trabalho e da importância desse “cara” “que engana”.
CAIO “engana”,
no melhor dos sentidos, a quem não o conhece e tem o péssimo hábito de julgar
as pessoas pela aparência física. 30 anos, aparentando menos, um rapaz
que chama a atenção, por sua beleza física, seus dois metros de altura (ou
mais), cabelos bem pretos, lisos e longos, até a metade das costas, quase
sempre contidos num coque – um tipo “exótico”, que foge aos padrões
convencionais -, esse tijucano, desde sempre, um amante da vida, com um bom
figurino e a ajuda de um maquiador e de um visagista, passaria, facilmente, por
um herói “bárbaro”, de um filme épico, de aventuras.
Ou,
também, pode levar o observador “pré-conceituoso” a pensar que pode
estar diante de um surfista, “boa vida”, “filhinho de papai”, que
vive a flertar com o sol, durante o dia, cavalgando ondas, e a namorar a lua,
ou sob ela, nas noitadas “animadas”. Alguém sem maiores preocupações, na
vida, um “menino do Rio”, adepto, “full time”, da teoria “pagodinhiana”
do “deixa a vida me levar”.
O
que muitos não sabem é que CAIO é um dos mais competentes e respeitados
profissionais do seu ofício. Sinceramente, eu nem saberia dizer, com precisão,
o que ele faz, profissionalmente, de tão eclético que é; mais fácil seria dizer
o que ele não faz, quando o assunto está ligado a um palco, a uma produção
artística.
Pronto! Uma palavra, “produção”, me fez chegar perto do que eu queria dizer sobre o CAIO. Ele é aquele que não aparece, a não ser nas plateias, mas que está por trás dos bastidores, acompanhado de alguns outros competentes profissionais, como ele, ligados à sua empresa, a “BUCKER PRODUÇÕES” – e, aí, destaco o nome de Ricardo Fernandes – para “fazer com que as coisas aconteçam”, para que tudo dê certo, quando as cortinas se abrirem.
Trabalhando
pesado, desde muito mais jovem do que é hoje, e se divertindo, também, naquilo
que faz – e isto é muito importante: trabalhar e se divertir,
simultaneamente, fazendo, de forma séria, aquilo de que se gosta -, CAIO BUCKER já atuou na linha de
frente de muitas importantes atrações artísticas e de entretenimento, jogando
em mais de uma posição, tendo começado, salvo engano, com DJ, porém,
hoje, abraça, com mais frequência e competência, as funções de produtor
- de TEATRO, “shows” e eventos culturais - e professor,
dividindo, com quem tem interesse no assunto, os caminhos e a dicas para se
tornar um bom gestor cultural.
No
meio artístico, é preciso que se estabeleça, com total transparência e sinceridade,
quem entra na nossa gaveta dos conhecidos, dos colegas e dos amigos. Por
ser um “cara” enorme, por fora (Eu, que não sou baixo, quase me sinto
um anão, perto dele. Momento descontração.), e imenso por dentro, CAIO
BUCKER ocupa um considerável espaço, na minha gaveta dos amigos, o
que, para mim, é motivo de grande alegria e orgulho.
Há,
entre nós, uma relação de grande respeito e admiração mútua, que faz com que
ele, mesmo me “contrariando”, só me trate por “mestre”. É
bastante curioso – e prato cheio, para quem acredita em vidas passadas, como eu
– a nossa relação. Sinto um prazer enorme em estar com ele, em conversar com
ele, em assistir a um espetáculo ao lado dele, e sempre percebo que é um
sentimento mútuo. Parece que nossa relação vem de vidas passadas, a julgar pelo
pouco tempo da nossa amizade, desde quando nos conhecemos e passamos a conviver,
pelos palcos e plateias da vida. É como se fôssemos amigos de infância, apesar
das quatro décadas que separam as nossas idades.
CAIO
BUCKER é uma das pessoas mais competentes, respeitosas,
sinceras, probas e generosas com as quais convivo, no dia a dia do TEATRO.
E é por isso, e por mais outros muitos motivos, que ele está aqui, atendendo ao
meu convite.
1) O TEATRO ME
REPRESENTA: CAIO, é um grande prazer conversar com você e
conhecer mais um pouco dessa sua vida de “workaholic” cultural (Isto
é um elogio.), cuja cabeça, sempre em ebulição, está pensando num projeto
novo, para “agitar as massas”. E sempre consegue. Se alguém me perguntar
quem é CAIO BUCKER, eu vou dizer que, além de meu querido amigo, é um produtor
cultural. Essas duas palavras, apenas, bastariam para identificar você,
como profissional? Agora, sou eu que pergunto: Quem é CAIO BUCKER?
CAIO BUCKER: Sim,
bastariam. Eu sou produtor cultural, sou um amante da arte e um
realizador de projetos ou, como já me chamaram, um “agitador cultural”.
Minha cabeça, inquieta, pulsa arte o tempo todo, e eu não consigo parar de
pensar e de ter ideias! (Risos).
2) OTMR:
A rubrica “produtor cultural” tem vários tentáculos e você parece
que tem mais do que oito, como os polvos, porque atua em várias áreas, em
frentes diferentes, embora eu o veja mais como um homem ligado ao TEATRO,
seja na forma de peças teatrais, seja no formato de “shows”,
passando, também, pelos “stand-up comedies”. Qual foi, ou ainda continua
sendo, a sua formação acadêmica?
CB: Eu sou
formado em Comunicação Social, com bacharelado em Cinema, pela PUC-Rio.
Fiz uma Especialização em Arte e Filosofia, também pela PUC-Rio,
e, agora, terminei o Mestrado em Filosofia da Arte, na UERJ. Ou
seja, minha pesquisa acadêmica também é em arte. Mas, sim, me considero um “homem
de TEATRO” e da música. Bem antes de entrar para a faculdade, eu já
trabalhava com ambos. Comecei a tocar violão aos 9 anos e minha primeira
experiência como DJ veio aos 15; e o primeiro curso de TEATRO
que fiz foi aos 13 anos.
3) A
palavra “GERINGONÇA” representa o que, na sua vida?
CB: Representa
o início da minha carreira. O projeto “Geringonça” foi meu
primeiro contato com o palco. Aconteceu ali o meu primeiro curso de TEATRO
e, durante os anos em que fiquei no projeto, aprendi muito. Virei mestre de
cerimônia das apresentações, que eram “shows” com bandas
independentes e artistas já do “mainstream”, esquetes teatrais,
poetas, cineastas; ou seja, era um redemoinho artístico. Lá, eu conheci muita
gente incrível, muito artista talentoso, cujos “shows” tive a
honra e a oportunidade de apresentar, como Jorge Mautner, Jards
Macalé, Rogério Skylab, Baia, Teresa
Cristina e o Zéu Britto, que, anos depois, veio trabalhar
comigo.
4) OTMR:
Como se deu a evolução e a transformação da figura do muito jovem DJ
para o profissional bem maduro e competente que você é hoje?
CB: Comecei
como DJ, aos 15 anos, tocando em festas de aniversário, em “plays”,
e em formaturas das escolas. Passei pelas matinês clássicas da época e, anos
depois, fiz minha primeira apresentação numa festa “pop”: o “Chá
da Alice”. Nessa época, virei residente da “Festa da Música
Tupiniquim”; participei do lançamento da festa e fiquei lá por um
tempo. Saí, para seguir uma carreira na noite “pop”. Virei
residente da festa “Wallpaper”, na “The Week Rio”,
e por lá fiquei durante 9 anos, além de outras festas, como a “DUO”,
na extinta “00”, na Gávea, e na “Zozô”, na Urca.
Paralelamente ao trabalho de DJ, terminei o colégio, fiz faculdade, pós,
era ator, trabalhei em produtoras, fiz cinema e televisão, tive bandas... O
trabalho de DJ sempre foi em paralelo com outros trabalhos, ajudava-me,
financeiramente, e era um escape da semana corrida, pois eu aproveitava para “curtir”.
Conheci muita gente bacana na noite: profissionais da arte, empresários e
artistas, e, com isso, o trabalho de DJ me abriu diversas portas para
meu trabalho como produtor.
5) OTMR:
Fale um pouco da sua intimidade com as “carrapetas” e nos diga que tipo
de prazer e retorno existe na função de DJ.
CB: Eu amo
música, ouço música o dia inteiro, pesquiso, gosto do “old school”
e de saber o que está na moda. A música é presente na minha vida desde que eu
nasci. Nas carrapetas, eu me divertia sempre. Estudei, para aprender as
técnicas que um DJ precisa saber: mixagens, fazer “mashups”,
efeitos... Um dos meus diferenciais era o repertório; era o “feeling”
da pista e das pessoas que ali estavam para dançar. O DJ é um músico e
as “pick-ups” são o instrumento. Tem que tocar com o coração,
sentir e colocar a emoção em música. Era incrível ver o público animado,
dançando, cantando. Essa sensação é a melhor de todas, ver que seu trabalho,
que é feito com alma, tem efeito. A missão estava cumprida. É como o ator
aplaudido em cena aberta e a plateia emocionada por uma cena.
6) OTMR:
Você já teve experiência como ator. Quanto tempo durou? Gostaria de que nos falasse
um pouco sobre isso e o que ela representou na sua vida. E por que não investiu
na carreira?
CB: Tive, e
foi incrível! Comecei a estudar TEATRO com 13 anos e o trabalho como
ator durou quase 9 anos. Meu primeiro contato com a arte foi na música,
pois, aos 9, fazia curso de violão. Mas, com 13, foi quando fui
viver no meio da “galera” mesmo, fui estudar com professores renomados,
companhias teatrais e dividir cena com atores bem mais experientes. Ali, eu vi
o que era ser ator e como seria viver de arte. Vi que seria uma carreira
difícil, cheia de incertezas e matando um leão por dia. Mas seria uma carreira
feliz. O trabalho de ator foi meu grande amadurecimento como artista e como ser
humano também. Comecei a ver o mundo de uma forma livre, já aos 13 anos,
e isso foi incrível. Senti a liberdade. O TEATRO é isso: liberdade. No
palco, eu mexia com emoções e questionamentos que nem sabia que tinha. Aos 17
anos, idealizei meu primeiro projeto; atuava e produzia. Quase dois anos depois,
estreava o projeto que considero como um dos mais marcantes que tive, que é a
peça “Garotos”. Idealizei, montei o elenco e fazia parte dele
também. Fizemos temporadas e turnês durante quatro anos. Construímos uma grande
família e, ali, com certeza, foi minha maior escola. Ali, também, eu percebi
que gostava mais de produzir e fazer a coisa acontecer do que atuar. E confesso
que sempre me achei melhor produtor que ator. (Risos.) Assim que
terminou a temporada de “Garotos”, eu estava terminando uma série
de participações num programa na TV. Aí, decidi encerrar o lado ator e focar,
totalmente, no lado produtor, idealizador e realizador. Eu continuo no palco,
continuo com frio na barriga, antes de entrar em cena, continuo ensaiando e
estudando, mas, agora, fico no “backstage”. Então, tá tudo certo.
7) OTMR: Você
também já praticou o seu lado cineasta. Como foi/foram essa(s) experiência(s)?
CB: E ainda
pratico. Formado em Cinema, durante a faculdade, comecei a trabalhar
como produtor e assistente de direção, cheguei a dirigir dois curtas e um
programa de entrevistas sobre Cinema. Depois, continuei, embora sejam
trabalhos mais pontuais e em menor quantidade, em relação aos trabalhos com TEATRO
e música, mas eu nunca parei. Em 2017, dirigi meu primeiro
longa-metragem, o documentário “Do Velho Casarão ao Congo - Uma História
de Resistência”, que fala sobre a criação da Faculdade de Direito da
UERJ e o sistema de cotas. Foi um convite feito pelos produtores e pela UERJ.
Adorei essa experiência e tenho mais dois projetos para fazer, ambos
documentários, e como diretor, mas, agora, como produtor e idealizador também.
8) OTMR: Se você tivesse de escolher alguma, das várias atividades em que se envolve, na área cultural, no momento, qual a que escolheria?
CB: Difícil
escolher uma só, porque acho que elas se complementam. Uma não atrapalha a
outra; muito pelo contrário. Penso que a multidisciplinaridade é essencial,
principalmente neste momento que vivemos. A gente “joga nas 11”, faz e
acontece. Eu costumo dizer que recebo a bola, driblo o time inteiro, vou para o
canto cruzar e corro, para cabecear. E, se tiver que defender, faço também.
Quanto mais funções tem um artista, mais completo e apto ele é. Mesmo que não
faça todas as coisas o tempo todo, elas estão sempre ligadas. Eu me inspiro
muito no Miguel Falabella, que escreve, dirige, atua, canta,
dança, produz e ainda se diverte.
9) OTMRM: Até
chegar à “BUCKER PRODUÇÕES”, foi um espinhoso caminho ou as
coisas sempre fluíram bem para você, na realização dos seus projetos?
CB:
Eu não
posso reclamar. Acho que tive sorte de conhecer pessoas incríveis. Mas tive
muitos “nãos”, na minha vida. Aprendi uma coisa com a Nany People,
anos atrás: “O não a gente já tem; vamos lutar pelo sim.”. E,
quase sempre, foi assim. Na época em que eu era muito jovem, sem experiência,
queria aprender tudo, respirar arte e ganhar o mundo. Eu era bem chato com essa
sede de viver e vencer. Mas isso me ensinou e me fez amadurecer. Conheci
profissionais que, mesmo eu sendo um moleque, abriram os braços e me acolheram,
como o ator e palhaço Jujuba, o diretor Henrique Britto
e o produtor Fábio Maleronka. Mas eu sou grato por como tudo
aconteceu e como as coisas ainda acontecem. Sempre tive garra e corri atrás dos
objetivos; e continuo sendo assim. Nunca tive patrocínio fácil. Aliás, quase
nunca tive patrocínio. Mas isso não me impediu de realizar projetos de sucesso.
Sempre me virei e busquei formas alternativas de produzir. Digo uma coisa
sempre: “O que é fácil não é foda.”.
10) OTMRM:
Na “BUCKER PRODUÇÕES”, você trabalha com uma equipe fixa ou, para cada
projeto, há a necessidade de contar com profissionais de diferentes formações e
atuações?
CB: Não tenho
equipe fixa. Tenho apenas o Ricardo Fernandes junto, em todos os
projetos. E, a partir da demanda, vamos convidando profissionais e montando
cada equipe. Claro que temos pessoas que, sempre que possível, estão com a
gente. Mas é legal, também, essa variação de profissionais, cada um com sua
estética e sua forma de trabalhar.
Ricardo Fernandes.
Ricardo Fernandes, Nany People e Caio Bucker.
11) OTMR:
Existem universidades que oferecem cursos regulares de Produção Cultural.
Você tem ideia de como esses cursos funcionam e se eles são muito procurados
por candidatos, na época dos vestibulares?
CB:
Confesso
que conheço poucas faculdades com cursos de Produção Cultural. O mais
conhecido, para mim, é o da UFF, que se estrutura em três blocos: uma
parte, com Teorias da Arte e Cultura; outra, com Fundamentos dos
Meios de Expressão; e a terceira, com Planejamento Cultural. Conheço
bastante gente que se formou lá e “curte” bastante, mas ainda acho que
não é tão procurado. Existe uma coisa de acharem que ser produtor é “loucura”,
é ser explorado e viver num estresse danado. Apenas um ponto de vista: eu
amo produzir e me divirto.
12) OTMR: Quando
a gente lê a ficha técnica de um espetáculo, costuma encontrar duas
rubricas diferentes: “diretor de produção” e “produtor
executivo”. Qual é a função de cada um na engrenagem que vai fazer a
máquina funcionar?
CB: Esses termos variam um pouco,
dependendo da área, principalmente no Cinema. No TEATRO, o diretor
de produção é o cabeça do projeto, que estrutura tudo e planeja a montagem;
o produtor executivo é quem executa. Às vezes, o produtor executivo
fica responsável pelo orçamento e pelo dinheiro do projeto; em outras
produções, há um administrador. Agora, no Cinema, é um pouco
diferente: o produtor executivo é o responsável pelo orçamento e pela
captação de recursos, pagamento dos profissionais e outras funções; o diretor
de produção administra esses recursos e atua com outros membros da equipe,
estruturando a produção, em si, do filme.
13) OTMR: A
mesma pergunta se aplica ao produtor teatral.
CB: O produtor
teatral é o realizador do espetáculo. Pensa tudo, desde o início, desde o
orçamento, contratação de equipe, pautas, captação etc., e faz a coisa
acontecer, realiza. Nos EUA, há o termo “produtor”, que é o
idealizador e realizador do projeto. É a figura que pensa, que, muitas vezes,
tem a ideia, convida a equipe e faz o projeto acontecer.
14) OTMR: Com a falta de incentivos e com os patrocínios minguando, cada vez mais, tem-se tornado muito difícil viajar com os espetáculos. Apesar disso, as suas últimas produções, graças ao grande sucesso que fizeram (Estou me referindo aos espetáculos “TsuNANY”, com Nany Pepople; “Ícaro And The Black Stars”, com Ícaro Silva; e “Delírios na Madrugada” e “Zéu Britto Sem Concerto”, com Zéu Britto.) já viajaram por boa parte do Brasil. Como é que você consegue isso?
CB: Contando sempre com parceiros e apoiadores! E, quando me refiro à parceiros/apoiadores, não é, necessariamente, com dinheiro, mas, às vezes, com ajuda para a compra de passagens, permuta em alimentação e hospedagem, promoções em veículos de comunicação, para ter uma boa divulgação etc..
15) OTMR:
Embora lhe falte tempo, eu sei que você, sempre que pode, vai ao Teatro,
para prestigiar os amigos. Dos últimos espetáculos a que assistiu, qual(quais)
aquele(s) que mais lhe chamou(ram) a atenção e qual aquele(s) que o levou(aram)
a pensar: “Eu bem que poderia ter produzido este(s) espetáculo(s)!”?
CB: Assisti a
bastante coisa boa, nos últimos tempo. Destaco “Suassuna - O Auto do Reino
do Sol”, da “Barca”; “A Vida Não É Um Musical - O
Musical”; “Imortais”, com a genial Denise Weinberg
(Assisti em São Paulo.); “O Condomínio”, com Pedroca
Monteiro e Sávio Moll; “Sonhos de uma Noite de
Verão na Bahia”, adaptação e direção de João Falcão (Assisti em Salvador.);
e “Antígona”, com a Andréa Beltrão. Agora, uma peça
que, ao vê-la, pensei: “Poderia ter produzido este espetáculo!” foi
“Edward Bond Para Tempos Conturbados”, dirigido pelo Daniel
Belmonte, com dramaturgia do André Pellegrino. É uma
linguagem com que me identifico, com ironia, um humor ácido, crítico e
político.
16) OTMR:
Eu gostaria de que você nos falasse um pouco de dois espetáculos, dois projetos
em que você esteve envolvido, profissionalmente, que muito me agradaram: “Farnesse
da Saudade”, com o querido Vandré Silveira, e “O
Julgamento de Sócrates”, com o não menos talentoso e querido Tonico
Pereira.
CB: O “Farnese” é um dos espetáculos que, quando assisti pela primeira vez, pensei: “Poderia ter produzido este espetáculo!”. E deu certo! Assisti à primeira montagem, no Teatro Sergio Porto, e, logo depois, fiquei amigo do Vandré Silveira, ator, cenógrafo e idealizador do espetáculo. Depois disso, assisti a mais três espetáculos de que ele participou e insisti, durante um tempo, para remontar o “Farnese”. Eis que ele me convidou para produzir, e fizemos uma temporada incrível, no Teatro Poeirinha. É uma peça sensível, que faz você respirar diferente, enquanto está naquela experiência.
O “...Sócrates”
foi assim: Eu queria trabalhar com o Tonico em outro projeto meu.
Mas não “rolou”. Aí, um dia, o Ivan Fernandes me contou
que tinha adaptado o texto “Apologia a Sócrates”, de Platão.
Fizemos uma leitura, com o Tonico, e ele topou fazer. Foi o seu primeiro
monólogo, em 50 anos de carreira. Aliás, foi o espetáculo que comemorou
seus 50 anos de carreira. Foi muito especial participar desse momento,
desde a criação, que rendeu duas temporadas, alguns festivais, uma turnê de
mais de um ano, e duas indicações a prêmios. O Tonico é um
artista com quem você aprende o tempo todo.
Vai, aqui, um segredo, aqui, pra vocês. Tenho projetos novos com os dois: com o Vandré e com o Tonico.
17) OTMR:
Mais uma vez, lembrando o quanto você trabalha, como produtor cultural,
sempre encontra tempo para dividir o seu conhecimento com outras pessoas, em
aulas, palestras, cursos e “workshops”. Há muita gente
interessada nessa área e qual é o retorno mais imediato que você nota, nos
alunos, fazendo esse trabalho?
CB: Eu vejo
procura, cada vez maior, nos cursos voltados para a produção. Desde que
comecei a dar aulas, queria fazer algo diferente, e, daí, surgiu o meu curso “O
Artista Gestor”, que é voltado para artistas, em geral, técnicos e, até,
para produtores que queiram aprender coisas novas, e os amantes da arte, em
geral. O objetivo é instigar o espírito empreendedor de cada um, criando seus próprios
projetos, independentemente de leis de incentivo ou editais. Eu mostro um pouco
da minha experiência, fazendo muita coisa na garra, que se tornou sucesso.
Então, dá para fazer. Não é “papo”, é real. Eu “mato a cobra e mostro
o pau.”. (Risos.) Esse curso surgiu, porque observei muitos colegas
que tinham ideias ótimas, mas não sabiam o que fazer ou, quando convidavam
alguém, para produzir, não sabiam se estavam fazendo certo, se estavam sendo
enrolados; e por aí vai... Então, eu passo um panorama geral sobre a produção
cultural, sobre ter uma ideia e transformá-la em algo vendável, sobre a
elaboração de um projeto, sobre idealizar e realizar este projeto, custe o que
custar. Eu sempre vejo a “galera” produzindo e criando durante o curso;
inclusive, esse é o objetivo. Acho que o maior reconhecimento é quando me
mandam um projeto pronto ou o convite para assistir a um “show”
ou a um espetáculo que começaram a produzir no meu curso. Aí, vejo que a missão
foi cumprida. Atualmente, o curso está disponível, em sua versão online, na Escola
Nacional das Artes (www.escolanacionaldasartes.com.br).
18) OTMR:
Pergunta de um total ignorante no assunto: Certa vez, numa mesa de bar, pude
ouvir (porque falavam muito alto) o “papo” de um produtor bem conhecido,
que conversava com um casal de atores, idem, e ele falava muito a respeito de
uma “tal” de “carta de anuência”. Entendi que era algo
relacionado à parte burocrática do trabalho dele. Fiquei curioso, mas guardei
essa curiosidade comigo até agora (Esqueci-me de recorrer ao Tio Google.
Momento descontração). Você pode nos dizer em que consiste uma “carta
de anuência”?
CB:
A “carta
de anuência” manifesta, por escrito, o interesse de determinado
profissional em participar de tal projeto. Por exemplo: Convido o Amir
Haddad, para dirigir um espetáculo. Vou colocar, na “carta”,
as informações pessoais do Amir (nome completo, RG, CPF, endereço...)
e a sua função no projeto (diretor), informações sobre o espetáculo (título,
período, local de realização), para onde está sendo submetido (se é um edital,
uma lei, uma pauta) e quem é o proponente, com as devidas informações (nome da
empresa, CNPJ...). A “carta” deve conter data e assinatura do
profissional.
19) OTMR:
De repente, veio a ordem: “Todo mundo em casa! Fechem os Teatros!
Suspendam todas e quaisquer atividades artísticas presenciais!”. Era a
tal da pandemia, que nos pegou de surpresa, virou o mundo de ponta-cabeça e,
praticamente, fez com que a Terra parasse de girar em torno de seu eixo. Nesse
momento, dia 13 de março de 2020, uma fatídica sexta-feira, 13,
exatamente, que projetos seus estavam em cartaz, e o que já estava sendo
planejado para adiante, e tiveram de ser “abortados”?
CB: Eu estava
em cartaz com o espetáculo “TsuNANY”, com a Nany People,
no Teatro PetroRio das Artes - Shopping da Gávea, desde janeiro. Devido
ao sucesso, a temporada, que iria acabar no início de fevereiro foi para o
final de março, já com a possibilidade de ser estendida a abril. Cancelado!
Estava, também, com a turnê do “show” “Zéu Britto Sem
Concerto”, com Zéu Britto e Natália Carrera.
Fizemos uma temporada em janeiro, também no Teatro PetroRio das Artes, e
começamos a turnê, pelo nordeste, com apresentações em Teresina, Fortaleza
e Salvador. Pausamos, por conta do carnaval, mas já havia diversas
cidades marcadas na agenda, retorno ao Rio, temporada de “shows”
em São Paulo. Tudo cancelado! Além disso, tínhamos sete espetáculos
para entrar em cartaz e turnê durante o ano, sendo cinco estreias e dois já
conhecidos do público: “Ícaro And The Black Stars” e “Parem
de Falar mal da Rotina”. Agora, só em 2021. Faz parte.
Segue o baile!
20) OTMR: Embora
eu ache bem interessante as “lives”, que viraram “febre”,
porque tenho aprendido bastante com algumas pessoas, confesso que já estou meio
cansado disso. Qual a sua posição sobre as “lives” e você tem
assistido e/ou participado delas?
CB:
Eu acho
que ficou um pouco cansativo, sim, mas normal. Logo no primeiro dia da
pandemia, conversando, pelo telefone, com meu amigo Ivan Mendes,
a primeira coisa que ele falou foi esta: “Todo mundo está fazendo ‘live’!”.
E já era verdade. Acho que Há muita “live” interessante, com
conteúdo, como as da Teresa Cristina; o projeto “Cultú”,
da Thay Blois; os “bate-papos” semanais, do João
Luiz Azevedo; a “Live de Quinta”, do Vandré
Silveira; o projeto de “lives” “#EmCasaComSesc”...
Eu fico com preguiça mesmo de assistir a “live” que fala a mesma
coisa sempre, ou que não tem conteúdo e fazem apenas “porque está todo mundo
fazendo”. Eu só participei de três e adorei todas: com a Estela
Albani, com o Edmundo Albrecht e com a Thay Blois,
encerrando a temporada do “Cultú”. Foram papos interessantes,
instigantes, falamos sobre produção, sobre o mundo artístico pós-pandemia,
sobre questões socioculturais... Agora, “rolou” uma coisa engraçada: certo
dia, fui chamado pra fazer uma “live”, perguntei qual era o tema,
e me disseram: “Vamos falar sobre a pandemia.”. Estou fora. É só
abrir o jornal ou ligar a TV, que já há bastante coisa sobre isso.
21) OTMR:
O que você acha de TEATRO via “streaming”, que, para mim, não
é TEATRO, apesar de eu ter assistido a algumas experiências; poucas boas. Há
projeto(s), para esse tempo, longo, que ainda teremos pela frente, de produzir
algum trabalho nesse sentido?
CB: Sim, TEATRO
é TEATRO. Isso não é TEATRO. É TEATRO “on-line”,
é TEATRO gravado, é assistir a TEATRO pelo computador, é “vídeo-teatro”;
é outra coisa. Como disse o Aderbal (Freire-Filho) pode ser uma
nova arte que vem surgindo. Mas TEATRO é ao vivo, é experiência, é olho
no olho e energia. Sou purista nesse sentido. (Complemento meu: também o
sou.) Acho válido fazer “on-line”, seja ao vivo ou gravado, a
título de uma nova experiência e de registro. Mais para o final do ano, devo
fazer alguma coisa. E, aos que estão fazendo, seja para manter a arte
viva, seja para manter o trabalho rodando ou, até, para arrecadar alguma renda,
eu acho o máximo e dou maior apoio. Assisti a algumas coisas bem interessantes
também. Evoé!
22) OTMR:
Para quando voltarmos ao normal (Detesto essa história de “novo normal”.),
ao normal mesmo, com os Teatros funcionando a toda carga, após,
evidentemente, o surgimento de uma vacina eficaz, quais são os projetos que o CAIO
BUCKER já tem na cabeça? Pode nos adiantar alguma coisa?
CB:
Tenho
algumas coisas, até porque, como falei no início, eu não consigo parar de
pensar e de ter ideias. (Risos.) Vamos estrear: o espetáculo “Mulheres
Que Nascem Com Os Filhos”, com a Samara Felippo e a Carolinie
Figueiredo, direção da Rita Elmôr; o espetáculo “A
Hora do Boi”, texto da Daniela Pereira de Carvalho,
direção do André Paes Leme, com o Vandré Silveira
no elenco; o novo solo do Tonico Pereira; um projeto novo, com o Zéu
Britto, que também vai lançar disco novo; e um infantil, que estou, há
um tempo, para montar, com texto do Ivan Fernandes.
23) OTMR:
Por fim, eu gostaria de saber o que, profissional e pessoalmente,
representam, para você, estas três pessoas: Nany People, Ícaro
Silva e Zéu Britto?
CB:
“Eita!”. Essa é para fechar com tudo. (Risos.)
Ícaro é um dos meus melhores amigos. A gente se conheceu na época
de “Garotos”, e ele foi um dos que mais me mostraram o mundo
artístico e me botou com o pé no chão. Eu era recém-chegado, e ele, embora
quase da mesma idade, já estava fazendo televisão e TEATRO. Trabalhamos
juntos, desde então, e lá se vão mais de 10 anos.
Nesse mesmo período, eu conheci a Nany
People, que considero minha madrinha na arte. Ela diz que, “comigo,
“faz qualquer coisa de olho fechado” (Eu sinto que contém ironia. Risos.).
Mas eu é que digo isso. Ela é uma força da natureza, e trabalhar com ela é
refletir a vida e a arte o tempo todo.
O Zéu, eu o
conheci durante o projeto “Geringonça”, bem no início da minha
carreira artística. Apresentei o “show” dele, declamando um de
seus poemas. Ele ficou super feliz e, desde então, passamos a nos falar. Sempre
fui muito fã dele, acompanhava seus “shows”, peças, tudo... Até
que, certo dia, assistindo a uma das peças em que ele estava em cartaz, no Rio,
chamei-o para um chope, pois queria convidá-lo para um projeto novo. Ele também
me chamou para um projeto. E, a partir daí, nos tornamos sócios do “Projeto
Zéu Britto”, passei a ser o empresário dele e produzo os seus projetos
musicais e teatrais. Zéu é pura poesia. Ele é lúdico, assim como
eu. Somos uma boa dupla.
Eu amo esses três e admiro
todos. São pessoas muito importantes na minha vida e espero estar com eles para
todo sempre.
COMPLEMENTO DA
ENTREVISTA: CAIO, resolvi fazer uma surpresa para você,
pedindo a esses três grandes e queridos amigos, também meus, que, da mesma
forma, respondessem à pergunta anterior, invertendo a situação. Eles falando
de você.
Infelizmente,
não consegui falar com o Ícaro (Acho que, por conta da pandemia,
ele entrou naquela nave espacial dele e “deu nos calos”. Esperto! Deve
estar cruzando a galáxia, porque não atendeu a nenhuma das minhas tentativas de
contato. Mas ainda está em tempo. Se, após a publicação desta entrevista, eu
conseguir me comunicar com ele, acrescento o seu depoimento, que já imagino
como seria.)
Com
a Nany e o Zéu, entretanto, eu consegui falar e eles,
gentilmente, aceitaram o meu pedido. Aqui vão os dois depoimentos (Pedi que
falassem o máximo, com o mínimo de palavras.), sendo que, da parte da Nany,
só reproduzi o “publicável”, o que ela mandou por escrito. As
mensagens de voz... “Prefiro não comentar!” (Copélia, “by” Miguel
Falabella.) (Risos.) Acrescento que também sinto, pelos três, o mesmo
que você.
NANY PEOPLE: “CAIO
“KIRIDU” BUCKER. Tive a sorte grande de conhecê-lo, ainda “querubim”,
na faculdade, fazendo um belo trabalho de pesquisa sobre o humor. Inteligente,
criativo, sagaz e trabalhador. Que presente é conviver com esse grande
homem de TEATRO que você se tornou, pupilo que amo! Você é genial!”
Nany People.
ZÉU BRITO: “O
CAIO não é só um super produtor, empenhado em renovar e realizar, todo o
tempo. Ele, para mim, é aquele amigo do colégio, que compra todas as brigas e
quer brincar de todas as brincadeiras que eu proponho. Não é lindo? Amo o
profissional e o amigo CAIO BUCKER; e quero brincar com ele para sempre.”.
Zéu Britto.
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Com Dezo Mota, Nany People e Caio Bucker.
Com Nany People e Caio Bucker.
E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER
SEGURANÇA.)!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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