A HORA
E VEZ
(UMA AULA DE
INTERPRETAÇÃO,
PARA O TEXTO DE UM
GÊNIO.)
De
estilos completamente diferentes e opostos, porém com igual dose de genialidade,
amo, venero, idolatro MACHADO DE ASSIS e JOÃO GUIMARÃES ROSA, nossos
maiores escritores brasileiros, de todos os tempos, na minha avaliação,
pareando com os mais consagrados escritores universais. Não é ufanismo;
é a constatação de uma realidade.
Comecei,
muito jovenzinho, a admirar os dois, ainda na adolescência, o que era “incompreensível”,
para os da minha idade e os adultos. Sim, para eles, eu era “o maluco”, o
“alienado”; nos dias atuais, o “fora da caixinha”, o "lesado", que trocava a pelada, no
campinho de várzea, por um mergulho nos livros de ambos. Hoje, com um olhar de
fora, distante no tempo, como observador, entendo por que era assim considerado
e não guardo mágoa de ninguém, muito menos me arrependo de ter me apaixonado
pelos dois grandes mestres da nossa literatura. Muito pelo contrário.
Com eles, aprendi a amar e a respeitar a língua portuguesa, em níveis
diferentes, a ponto de, paralelamente à atividade teatral, como ator,
ter concluído o curso de Letras, na UFRJ, e ter atuado, como professor
de língua portuguesa e respectivas literaturas, em todos os níveis, do
primeiro grau à universidade, por 47 anos, do que muito me orgulho.
Ainda
no último ano do antigo curso clássico, atual nível médio, em 1968,
gozando dos meus 18 anos, fui o segundo colocado num concurso nacional
sobre a vida e a obra de GUIMARÃES ROSA, cujo prêmio me foi entregue por
sua filha, Vilma Guimarães Rosa, também escritora: a obra completa de
seu pai e mais o seu próprio livro “Em Memória de João Guimarães Rosa”,
“troféus” que guardo, até hoje, como uma inestimável relíquia.
Duas
coisas me chamavam mais a atenção em ambos, Machado e ROSA (Este grafado em maiúsculas apenas pelo fato de ter relação com o solo aqui tratado.): a linguagem,
magnífica e totalmente diversa e original, uma da outra, e, da mesma forma,
formidáveis, e a fértil galeria de personagens. Não vou, porém, falar
sobre isso, em detalhes, e focarei, apenas, o espetáculo aqui analisado,
“A HORA E VEZ”, baseado na obra “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”,
de GUIMARÃES ROSA (Cordisburgo, 1908 – Rio de Janeiro, 1967), que
faz parte do livro de contos “Sagarana”, publicado em 1946.
Além
do gênio da pena, que foi, nos contos, nos romances e nas novelas
(Gênero literário; não as de TV.) ROSA ainda exerceu a
nobre atividade de médico.
Como ocorre no texto em que está calçada a dramaturgia da peça,
suas “estórias” – termo (neologismo) cunhado por ROSA,
significando uma “narrativa”, para diferençar de “história”, vocábulo
que, dependendo de sua vontade, ficaria restrito ao sentido de uma “ciência”,
como “História do TEATRO”, por exemplo, mas que acabou não caindo no
gosto popular -, quase todas, acontecem no chamado sertão brasileiro,
e sua marca primeira, e principal, concentra-se nas inovações de linguagem,
marcada pela influência de falares populares e regionais, os quais, somados à sua
erudição, formam uma porta para a criação de de um sem-número de novos
vocábulos – neologismos -, a partir de arcaísmos e palavras populares,
invenções e intervenções semânticas e sintáticas, fruto de sua observação,
quando clinicou, como médico voluntário da Força Pública, atual Polícia
Militar, pelos interiores do Brasil, notadamente o de Minas Gerais.
Em
“Sagarana” e, por extensão, em “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”,
ROSA mescla o real, o imaginário e o
lendário. Pode-se dizer que se trata de um livro, ao mesmo
tempo, regionalista universalista, uma vez que suas histórias, seus “causos”,
localizam-se no sertão de Minas Gerais, no entanto num contexto de questões
existenciais universais. Isso foi totalmente respeitado, em “A HORA E
VEZ”, na adaptação de RUI RICARDO DIAZ, que também vive o protagonista,
NHÔ AUGUSTO, neste solo, também dando vida a outros personagens
do conto.
Acho curioso,
interessante e oportuno fazer uma alusão à etimologia da palavra “Sagarana”,
pelo fato de ela ter uma ligação muito direta com o que se vê no palco, nesta montagem.
“Saga” é um radical de origem germânica, que significa “canto heroico”,
“lenda”; e “rana” é palavra de origem tupi, significando “que
exprime semelhança”. Destarte, numa formação híbrida, “Sagarana” significa
algo como “próximo ou semelhante a uma saga”. Vendo a peça,
estamos assistindo, indubitavelmente, ao desenrolar de uma saga, no sentidos denotativo e conotativo da palavra.
Sempre mantendo sua marca principal e quase
inimitável, GUIMARÃES ROSA, uma “fábrica de vocábulos”,
cria neologismos, em “Sagarana”,
utilizando-se de palavras formadas pelos processos de derivações, prefixal,
sufixal e parassintética, além de outros, como a abreviação e a composição,
por aglutinação e justaposição. Ele “brinca” de construir palavras, um
“arquiteto do léxico”, com uma facilidade tal, que ganhou grande destaque e
reconhecimento, internacional, por tal prática. A obra, como todas de sua
lavra, é repleta de neologismos, que se sobressaem em composições
e derivações novas, além “de novos tipos de construção frasal”,
ditos "neologismos sintáticos”, na visão do grande gramático,
filólogo e mestre de todos nós, Joaquim Mattoso Câmara. O próprio GUIMARÃES
ROSA disse que “as palavras têm canto e plumagem”. Por tal
motivo, cada uma delas leva a significados diversos, ainda que essa diversidade
possa ser muito sutil e só apreendida em um exercício de interpretação. (Com um
pouco de apoio na Wikipédia, incluindo adaptações, supressões e acréscimos.).
É interessantíssmo, neste solo, em que
RUI RICARDO DIAZ se manteve fidelíssimo ao texto e ao estilo
rosiano, como o público consegue decodificar a quase totalidade dos neologismos
e, dessa forma, acompanhar a narrativa da saga do protagonista, muito
disso em função do contexto e da magnífica interpretação do
ator.
O espetáculo
chegou ao Rio de Janeiro, via CIA. DO SOPRO, de São Paulo,
que eu, infelizmente, ainda não conhecia - e prometo nunca mais deixar de
assistir a um de seus trabalhos -, para uma corajosa, arrojada mesmo, ocupação,
no Teatro Poeirinha, de terça-feira a domingo, com dois espetáculos, solos: este, em tela, e “Como Todos os Atos Humanos”, ao qual ainda
assistirei (VER SERVIÇO.).
“A HORA E VEZ” já vem percorrendo uma longa estrada, desde 2014, tendo sido
considerada, por uma das mais conceituadas revistas brasileiras, na sua sessão
cultural, como “uma das dez melhores peças em cartaz, em 2014, 2015
e 2016”. Realizou várias temporadas em São Paulo. É o que se
pode chamar e aquele “trunfo” da companhia, a “carta tirada da manga”, o
espetáculo atemporal, que agrada muito, tanto ao público como à crítica,
que é para ser montado sempre, porque jamais faltará plateia para ele.
SINOPSE:
Depois de cair numa emboscada, liderada
pelo Major Consilva Quim Recadeiro, seu arqui-inimigo, NHÔ AUGUSTO,
AUGUSTO ESTEVES (MATRAGA), nome de pia, é dado como morto.
Socorrido por um casal, consegue
sobreviver.
Quando se recupera, vai viver longe do Murici
e decide dedicar sua vida ao trabalho, à penitência e à oração.
Depois de anos de reclusão, no povoado
do Tombador, decide partir.
O destino leva-o ao Arraial do
Rala-Coco, onde o reencontro com o amigo e poderoso cangaceiro, Seu Joãozinho
Bem-Bem, provoca nova reviravolta em sua vida.
Ampliando a sinopse, AUGUSTO MATRAGA, NHÔ AUGUSTO, “homem duro, doido e sem detença”, é um violento fazendeiro, homem cruel, o qual, além
de traído pela esposa, Dinóra (A grafia original, acentuada, não
se justifica, uma vez que vocábulos paroxítonos terminados em “-A” não são
acentuados. E quem há de discutir com GUIMARÃES ROSA?) foi emboscado
por seus inimigos e dado como morto, tendo sido, porém, salvo, por um casal de
negros, Mãe Quitéria e Pai Serapião, os quais, além de cuidarem
dele, salvando-lhe a vida, ensinaram-lhe a moral cristã, e NHÔ AUGUSTO tomou o caminho da religiosidade. Depois, acabou
conhecendo Seu Joãozinho Bem-Bem, cangaceiro, que o fez viver um conflito
interno, instigando os instintos violentos de sua personalidade. MATRAGA
passou, então, a viver um drama de identidade, oscilando entre seu temperamento
agressivo e o misticismo, que não conseguia mais abandonar.
Expandindo um pouco mais o enredo, NHÔ AUGUSTO era um homem marcado pela violência,
pela vingança e pela realidade dura do sertão de Minas
Gerais, o que, de certa forma, “justifica”, ou melhor, explica o seu
rude temperamento, de quem arrumava (e vivia à procura de) confusão por onde
passava, espalhando violência e medo. Era muito temido por todos. Casado com Dona Dionóra, o casal tinha uma filha, chamada Mimita. Para,
ainda, levar o leitor a tentar entender as ações do protagonista, acho
considerável saber que NHÔ AUGUSTO perdeu a mãe ainda criança, teve um
pai “problemático” e foi criado pela avó, mulher extremamente religiosa, a qual
se realizaria se visse o neto ordenado padre.
Nosso “herói” também vivia na dependência de
dois perigosos vícios: o jogo e os “rabos de saia”, os quais foram
corroendo seu patrimônio. Esbanjador e sem se importar com - ou por não saber
administrar - os muitos bens materiais de que era proprietário, NHÔ AUGUSTO foi,
paulatinamente, perdendo a fortuna, herdada do pai, ficou em péssima situação
financeira, a ponto de deixar de pagar aos seus muitos capangas. Estes, percebendo,
claramente, a ruína do patrão, decidiram “pular do barco”, antes da consumação
do “naufrágio”, e bandearam-se para o lado de seu pior inimigo, o Major Consilva
Quim Recadeiro.
Como uma desgraça nunca vem desacompanhada, sua
mulher, farta das traições e não suportando mais os maus tratos do “marido” e
“pai” ausente, abandonou-o, fugindo com Ovídio Moura, o qual era
perdidamente apaixonado por ela, levando consigo a filha, Mimita, ainda
criança.
Além de brutalmente espancado, pelos capangas do Major
Consilva, a ponto de ter sido considerado morto, NHÔ AUGUSTO ainda
sofreu uma humilhação maior, a de ser queimado, nas nádegas, com ferro quente,
usado para marcar gado, com o sinal de posse e domínio de seu maior inimigo (“Porque
gado a gente marca, / Tange, ferra, engorda e mata, / Mas, com gente é
diferente.” – “Disparada” – Geraldo Vandré e Théo de Barros.).
Ocorre que, por um “milagre”, graças a uma de suas
“sete vidas”, o “gato” sobreviveu, foi encontrado, quase morto mesmo, por Mãe
Quitéria e Pai Serapião, um casal de negros, os quais trataram dele
e o iniciaram num processo de “recuperação”; “regeneração” seria o termo
mais apropriado, contando, para isso, com o concurso de um padre, que
passou a ser uma figura muito importante, na vida de AUGUSTO (Até a
página 5.). O religioso pregava, ao novo “crente”, a importância da fé, da
reza, da caridade e do trabalho duro, impelindo-o a “deixar a vida passada para trás e
a construir uma nova, plena de arrependimento, devoção, penitência e trabalho
árduo”, a que NHÔ AUGUSTO não se negou, tomado de gratidão, pela
acolhida do casal, e por temor a Deus. Uma frase, dita por esse padre,
marcou-o profundamente. Dela, ele jamais se esqueceu e o acompanhou, até o fim
de sua jornada: “Cada um tem a sua hora e
a sua vez: você há de ter a sua.”.
Um dia, quase seis anos depois de ter
conhecido, de perto, a morte, por espancamento, porém, já totalmente
restabelecido, curado de corpo e alma (Desta também? Será?), decidiu partir, de
madrugada, em direção à única propriedade que ainda lhe restara, com um só objetivo: o de, lá, procurar viver sob uma nova “identidade”, pacífica, com o
passado “enterrado”. O “pecado” que ficasse fora do seu alcance. Não mais
fumava nem bebia; mulheres não mais lhe interessavam. Nunca mais voltou a
provocar arengas ou a se meter nelas. Um “imaculado”, livre das tentações e dos
crimes pretéritos. Lá chegando, encontrou-se com Tião, um parente
afastado, que o reconheceu e lhe reportou que Dona Dionóra continuava
vivendo, em total felicidade, com Ovídio Moura, com planos, inclusive,
de se casarem, uma vez que, depois de tanto tempo sem notícias do marido,
considerava-se viúva, desimpedida, portanto, para um novo matrimônio, sem o
perigo de vir a ser considerada bígama. Diga-se, de passagem, que, para se
casar com AUGUSTO, o homem que, depois, viria a desprezá-la, Dona
Dinóra havia rompido com toda a sua família, que era contra a união, da
qual, uma vez consumida, ela se arrependeu. Mas, aí, já era tarde. Ou não. Acrescentou,
ainda, com relação a Mimita, que a filha, negligenciada pelo pai, desde
que viera à luz, ainda uma adolescente, enganada por um caixeiro viajante, caíra
na vida; prostituíra-se.
NHÔ AUGUSTO, ainda que se
sentindo mal, com aquelas revelações, culpando-se por tais desditas, sabia, no
fundo, que tudo havia sido obra do destino, que era uma “provação” e que não
dependia dele evitá-las, prosseguindo na sua intenção de viver a vida “como
Deus gosta”, até a chegada de um certo Seu Joãozinho Bem-Bem,
cangaceiro terrível e temido, acompanhado de seu bando. Por “respeito” (Leia-se
“medo”, creio eu.) ao forasteiro, AUGUSTO hospedou a todos, agregando-os,
tratando-os com a maior fidalguia, além de ter criado, com o grupo, um laço de
estima e amizade, chegando a ser convidado, por seu líder, a fazer parte da quadrilha, não aceitando, porém, o “honroso” convite, pela convicção de que sua
vida seria dedicada, exclusivamente, à prática do bem.
O bando tomou seu rumo e NHÔ AUGUSTO seguiu, a muito custo, na
sua pacata vidinha, ainda que, no fundo, invejasse a lida do pessoal do bando, “porque não tinham que pensar na salvação da alma e
podiam andar, no mundo, sem vergonha”. Um dia, um bom tempo depois, quis o destino que o protagonista
reencontrasse Seu Joãozinho Bem-Bem, no Arraial do Rala-Coco. Lá
estavam eles, com o propósito de executar a família inteira de um assassino
fugido, do que NHÔ AUGUSTO discordou completamente, entrando em conflito
com o carniceiro jagunço. Um dos sentenciados implorava pela vida, clamando por Deus, cena que, por
piedade, levou NHÔ AUGUSTO a intervir, pela não execução, alegando que “pedido
em nome de Nosso Senhor e da Virgem tinha que ser respeitado”. Isso
mexeu com Seu Joãozinho, o qual, por gratidão e amizade, se sentia
ligado ao amigo e, por respeito, não sabia o que fazer. O bando, porém, pensava
diferente e partiu em ataque a AUGUSTO, no que acabou sendo seguido por
seu líder. Essa desavença fez despertar, em AUGUSTO, o seu já
conhecido, e adormecido, instinto perverso e de matador. Houve muita discussão
e NHÔ acabou por se desentender, severamente, com o bando, matando os
capangas e o próprio Seu Joãozinho. Durante a peleja, NHÔ AUGUSTO revelou-se a pessoa que sempre foi. Na briga, o NHÔ
AUGUSTO “do mal” ressurgiu e matou a todos, sem exceção.
Por uma questão de não dar “spoiler”
e aguçar a curiosidade de quem me lê, omito, propositalmente, o final da
história. Será que os ensinamentos do padre foram totalmente esquecidos,
ou em parte e temporariamente, e NHÔ AUGUSTO voltou a ser o valentão,
cruel, opressor, criador de casos, ávido de brigas e confusões, temido e
odiado, às escondidas, por todos? Vá conferir!
Antes de passar aos comentários sobre a montagem
da CIA. DO SOPRO, acho oportuno (Penso que ROSA ficaria feliz, se
pudesse ler o que vou escrever agora. Momento pretensão, cabotinismo,
embora só esteja ampliando o que encontrei numa pesquisa.) falar sobre a etimologia
do nome do protagonista, dado seu papel na história: AUGUSTO MATRAGA.
“AUGUSTO” é um
adjetivo, substantivado, que significa “majestoso”, “imponente”,
“grandioso”, “venerável”, “magnífico”, “superior”, “epopeico”,
“fabuloso”, “gigantesco”, “heroico” e mais de uma dezena
de outros sinônimos, todos revestidos de um sentido de superlatividade.
Já o apelido, MATRAGA, carrega, em sua forma estrutural, uma conotação
pejorativa (má + traga, de tragar ou do verbo trazer = "o que traz o mal").
Quando li algo sobre isso, a princípio, julguei ser uma “viagem”, da parte de
quem chegou a tal conclusão; depois, com o pensamento voltado para ROSA,
enxerguei tal possibilidade e ratifico o raciocínio.
Não costumo iniciar as minhas análises
técnico-críticas pelo elenco, entretanto sinto-me entusiasmado a
fazê-lo pelo que me impressionou o trabalho de interpretação do ator; um
grande ator, aliás. O espetáculo, a despeito da maravilha do
texto, é, sim, a montagem, um modelo de TEATRO de ator, significando
que o que mais sobressai, do trabalho em conjunto, o mais importante de
tudo, é a atuação de RUI RICARDO DIAZ, quer na pele do protagonista,
quer representando qualquer um dos vários personagens coadjuvantes que fazem
parte do universo matraguiano. É impressionante, digna de destaque, a
facilidade como, apenas com dois recursos – corpo e voz – o ator
se transforma radicalmente, passa de um personagem a outro, por vezes,
bem diferentes, como quem se propõem a, simplesmente, colocar apenas um pingo,
um pontinho, a caneta, numa folha de papel em branco. Que belo trabalho de
corpo e voz, a serviço da composição de vários personagens!!! E tudo isso
vindo acompanhando de um texto que, se, para a maioria das pessoas, já é
de difícil compreensão, imaginem para decorá-lo e torná-lo o mais claro
possível para o público!!!
Não é, absolutamente, minha intenção deixar de valorizar o trabalho de ANTÔNIO JANUZELLI, cuja proposta de direção
me pareceu bem correta e apropriada ao texto, de não complicar, não
inventar firulas e, somente, partir para algo simples, bem minimalista,
dando corda ao ator, para que este definisse o tom da representação. Se
eu estiver enganado, peço que me perdoe o diretor, mas foi a impressão
com a qual fiquei, o que, de modo algum, faz por desmerecer o seu empenho nesta encenação.
Por mais que eu procurasse, não vi, na ficha
técnica, o nome de alguém responsável pelo cenário da peça
(Tenho um palpite de que tenha sido criado pelo diretor do espetáculo.), elemento, de certa forma, totalmente desnecessário, suprido pelo texto e
pela interpretação. Mas ele existe, na forma de uma mesa tosca e um
banquinho idem, ao fundo, no canto esquerdo do palco, com um abajur de pé, ao
lado. Sobre a mesa, apenas um livro.
ANTÔNIO JANUZELLI faz dobradinha, se não for, também, o cenógrafo, assinando a direção e o figurino, este traduzido em trajes bem
básicos: uma calça e uma camisa de mangas compridas, em tons pastéis, de marrom
e cinza, de linho, quero crer, valorizando os elementos da terra.
A luz, de OSWALDO GAZOTTI,
em pouca intensidade e pequenas variações, contribui muito para criar uma
ambientação de mistério, trabalho excelente com a criação de sombras, mais do
que com a preocupação de iluminar, propriamente, o espaço cênico. Um
belo trabalho, que enriquece o conjunto!
Outros profissionais também contribuíram,
construtivamente, para o resultado final desta montagem, como JOAQUIM
DIAS DA SILVA, na pesquisa de vocabulário regional, importantíssimo,
e LUÍS LOUIS, com o “Estudo de Teatro Físico”, que, salvo engano,
me levou a ser entendido como preparação corporal ou direção de
movimento; algo do gênero. Ou não?
FICHA TÉCNICA:
A partir do conto “A Hora e a Vez de
Augusto Matraga”, de João Guimarães Rosa
Adaptação: Rui Ricardo Diaz
Direção: Antônio Januzelli
Assistência de Direção: Fani Feldman
Atuação: Rui Ricardo Diaz
Cenário: (Nome não divulgado.)
Figurino: Antônio Januzelli
Iluminação: Osvaldo Gazotti
Estudo de Teatro Físico: Luís Louis
Fotos: Bob Sousa
Arte Gráfica: Ideografia Soluções
Gráficas
Produção: Fani Feldman – QUINCAS
Idealização: Cia. do Sopro / © Agnes
Guimarães Rosa do Amaral, Vilma Guimarães Rosa e Nonada Cultural Ltda.
Assessoria de Imprensa RJ: JSPontes
Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 28 de fevereiro a 12 de
abril de 2020.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João
Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro – RJ.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado,
às 21h; domingo, às 19h.
Valor dos ingressos: R$60,00 e
R$30,00.
Capacidade: 60 lugares.
Duração: 55 minutos.
Classificação Etária: 16 anos.
Gênero: Drama.
Dois fatores me
chamaram muito a atenção, nesta montagem. Um deles é o contraste, a distância que
há entre a opulência, no sentido daquilo que é rico, magnífico, em qualidade,
de um texto, que não foi escrito para ser representado, dramaticamente,
e a frugalidade, a temperança como foi levado à cena. O outro e, sem dúvida, aquele
que mais me leva a recomendar o espetáculo, é a atuação de RUI RICARDO
DIAZ, ator bissexto, nos palcos cariocas, mais presente, para nós,
na TV e no cinema.
GUIMARÃES ROSA, para mim, e para
muita gente, não é nenhuma novidade. Eu já conhecia o texto que veria
representado e isso, por si, já me fazia feliz, por mais um contato com a obra,
porém ver um ator pleno, representando da forma mais visceral possível, não
é evento para todos os dias.
Creio
que, com suas próprias palavras, retiradas do “release” da peça,
que me foi enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), RUI
justifique, talvez, a qualidade do seu trabalho: “GUIMARÃES captou, como
ninguém, toda a lógica comportamental e prosódica do homem dos interiores do
país. Poder interpretar um dos personagens mais icônicos da nossa literatura é,
para mim, mineiro de nascença, migrante, como tantos, a possibilidade de um
reencontro com minha origem, minha gênese: o sertão brasileiro.”.
Tão
logo o espetáculo volte ao cartaz, passado este terrível e sombrio
momento que estamos vivendo, de quarentena compulsória, por conta de uma
pandemia (COVID-19), vá, logo, ao Teatro Poeirinha, para conferir
se procede todo este meu entusiasmo. Tenho certeza de que irão concordar comigo.
(FOTOS BOB SOUSA.)
(GALERIA PARTICULAR:
FOTOS JOÃO PEDRO BARTHOLO.)
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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