O DESPERTAR
DA PRIMAVERA
(FALSA MORAL, OPRESSÃO,
DESAMOR E HIPOCRISIA
INSPIRAM UM
MUSICAL OBRA-PRIMA.)
Em 21 de agosto de 2009, estreava,
no Teatro Villa-Lobos, Rio de Janeiro, de saudosa lembrança,
administrado pelo Estado, palco de tantas inesquecíveis produções,
hoje, transformado num espaço abandonado pelo poder público, após dois
incêndios seguidos, suspeitos e, até hoje, não esclarecidos, um dos mais lindos
e emocionantes espetáculos teatrais, em forma de musical, a que já assisti
em toda a minha vida, uma OBRA-PRIMA: “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”, baseado na obra do alemão FRANK
WEDEKIND, um dos precursores do movimento expressionista, escrito
em 1891. O espetáculo aborda o universo de um grupo de adolescentes,
os quais vivenciam situações de descoberta pessoal, despertar sexual
e opressão, entre outras questões. A montagem daquele fantástico
texto, até então, inédito, no Brasil, na forma de musical, foi
dirigida por CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, baseada numa versão
teatral musical da Broadway, de 2006, indicada em 11 categorias,
no “Prêmio Tony”, o mais importante do Teatro americano, vencedora
de 8 estatuetas, a saber: Melhor Musical, Melhor Direção de
Musical, Melhor Ator Coadjuvante em Musical, Melhor Libreto para
um Musical, Coreografia, Orquestrações, Partitura e
Iluminação. “A produção também recebeu 4 “Drama Desk Awards”,
enquanto seu álbum de elenco original recebeu um Grammy. Além disso, o show foi
reavivado, em 2015, na Broadway, e recebeu 3 indicações ao “Tony Award”, entre
outras honrarias”. (A última informação foi extraída da Wikipédia).
“O espetáculo (a
montagem brasileira) foi considerado um fenômeno cultural, sucesso de
público e crítica, colecionou fãs e conquistou diversos prêmios. Cultuado por
um público, em sua predominância, formado por jovens e adolescentes, a maioria
indo, pela primeira, vez ao Teatro, o espetáculo marcou toda uma geração. A
comoção era tanta, que muitos voltavam, para ver a peça, duas, três, dez, até vinte
vezes, e organizavam encontros e eventos, como ‘flash mobs’”. (Embora
chegando aos 60 anos, na época, eu superei, em muito, a marca das vinte vezes,
como um daqueles jovens assistentes.)
"PERGUNTAS, SÃO TANTAS AS PERGUNTAS
E TODAS AS RESPOSTAS SÃO
QUE TUDO ESTAVA ERRADO."
Em
2009, eu escrevia, esporadicamente, sobre TEATRO e não tinha,
ainda o meu blogue. Em 2009, eu não me considerava um crítico
de TEATRO. Em 2009, eu não era jurado de dois prêmios de
TEATRO (“Prêmio Botequim Cultural e “Prêmio Brasil Musical”). Em 2009,
eu era, apenas, ator, afastado dos palcos, um amante de TEATRO, alucinado
por TEATRO, um “rato-de-TEATRO”, já que ia, quase diariamente, aos espetáculos
(Hoje, vou todos os dias.) e, com relação à primeira montagem
de “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”, durante toda a longa temporada, de 21
de agosto a 15 de novembro de 2009 (Sim! Para quem não sabe, antigamente, as
temporadas teatrais eram longas, até bem mais que esta.), assisti a TODAS as sessões das 6ªas feiras, na poltrona A 2, a maioria das vezes, como
pagante, e, de vez em quando, ainda voltava, num domingo ou outro, levando
grupos enormes de familiares, amigos, conhecidos e alunos. Tornei-me amigo de
todos do elenco, alguns mais que outros, queridos amigos, até hoje, dez
anos depois, do que muito me orgulho. Não escrevi sobre aquela montagem.
E, por tudo o que disse neste parágrafo, não poderia iniciar a análise crítica
da versão 2019, sem, antes, falar um pouco da primeira, sem, contudo, de
forma alguma, estabelecer comparações, embora saiba que isso me será
profundamente difícil e perturbador, uma vez que ouço, com frequência o CD com
a trilha sonora original da peça, com aquele elenco (O CD não sai do meu
carro.), e consigo visualizar a montagem original, da primeira à
última cena, detalhe por detalhe. Mas vou conseguir me distanciar.
"EU GRITO E ESCUTO TANTAS VOZES
NÃO POSSO MAIS OLHAR PRA MIM
E VER O QUE NÃO SOU."
A
trajetória de “O DESPERTAR DA PRIMAVERA” é marcada por muitas conturbações e datas
emblemáticas e bem representativas. Em 1891, FRANK WEDEKIND
publicou a peça, que foi, imediatamente, proibida pelas autoridades.
Apenas em 1974, o National Theatre de Londres estreia a primeira
montagem, sem cortes, na língua inglesa. Um estrondoso sucesso torna
a peça conhecida no mundo todo. O psicanalista Jacques Lacan
afirmou que “WEDEWKIND antecipa Freud”. Em 1906, houve uma
montagem, com cortes, em Berlim, censurada após apenas algumas
apresentações. Em 1999, STEVEN SATER e DUNCAN SHEIK
começaram a trabalhar no projeto de um musical sobre a peça original de WEDEKIND.
Iniciaram-se “workshops” e diversas montagens experimentais foram feitas em algumas cidades americanas. Em 2006, “O DESPERTAR DA
PRIMAVERA” estreou na Broadway, em forma de musical, tendo
recebido indicações (11) e prêmios (4) de TEATRO, o maior sucesso,
considerado “o melhor espetáculo do ano”, por vários dos mais
importantes órgão da imprensa de Nova Iorque. Em 2009, após montagens
em diversos países, sempre sob a mesma direção, o musical recebeu permissão dos autores para ser produzido, no Brasil, com novas
concepções e direção, no Teatro Villa-Lobos, Rio de Janeiro.
Em 2010, sucesso de crítica e público, depois do grande “frisson”,
causado no Rio, com indicações a prêmios e tendo vencido alguns, a montagem
de CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO fez duas temporadas em
São Paulo, repetindo o sucesso anterior. Em 2019, “O DESPERTAR DA
PRIMAVERA” retorna às mãos de CHARLES e CLAUDIO, para uma nova
e inédita montagem, no Theatro NET Rio, Rio de Janeiro, com temporada
projetada, para 2020, em São Paulo.
O trecho,
em destaque, a seguir, foi retirado do “release”, enviado por PEDRO
NEVES (FACTORIA COMUNICAÇÃO) e, por achá-lo muito relevantes, optei por
transcrevê-lo: “A peça original denunciava os preconceitos e o
conservadorismo das três principais instituições que regem a educação do homem:
a família, a igreja e a escola. É considerada um dos precursores do
expressionismo, movimento artístico que se caracterizou por uma oposição ao
naturalismo. O teatro expressionista é antirrealista, utilizando-se, quase
sempre, de uma dramaturgia combativa, com ênfase nos conflitos sociais, e de um
estilo de cenografia que optava pela fantasia, com espaços que não são mero
fundo para a ação teatral, mas interagem e atuam como um novo personagem. WEDEKIND
foi, sobretudo, um feroz inimigo da hipocrisia social e combateu dogmas da
sociedade, especialmente na sua negação dos instintos sexuais. Escreveu
espetáculos polêmicos, como ‘O Espírito da Terra’, ‘A Caixa de Pandora’, e ‘A
Morte e o Demônio’, que compunham a trilogia ‘Lulu’. Ele pagou um alto preço,
por ter coragem de desmistificar os tabus e celebrar a vida. A cultura
ocidental reverencia a morte, mas recusa o ponto de partida, que é o sexo. Ele
sabia que a informação era uma arma poderosa. A ignorância leva ao extermínio.”
(CHARLES MÖELLER).
Na
verdade, para que este texto não fique mais longo do que acabará sendo,
tocarei em alguns pontos, apenas, referentes à versão 2009. Centenas de
jovens se inscreveram para as audições, dos quais foram selecionados apenas 500,
na primeira fase de seleção. Depois de muitos filtros, chegou-se ao número de 19
jovens e talentosíssimos atores, do Rio de Janeiro, São Paulo,
Campinas, Brasília e Porto Alegre: Malu Rodrigues (Com
16 anos, teve de ser emancipada.), Pierre Baitelli, Letícia Colin, Rodrigo
Pandolfo, Thiago Amaral, Alice Motta, André Loddi, Bruno Sigrist, Danilo Timm, Davi
Guilhermme (Hoje, conhecido como Azullllllll.), Eline Porto, Estrela Blanco, Felipe
de Carolis, Julia Bernat, Laura Lobo, Lua Blanco. Mariah Viamonte, Pedro Sol e Thiago
Marinho. Quase todos, a grande maioria, faziam sua estreia nos palcos e
parecia que cada um havia vindo ao mundo com a missão de interpretar aqueles
papéis. No decorrer da temporada, Gabriel Falcão entrou no elenco,
como alternante. Todos os personagens adultos foram
brilhantemente interpretados por Débora Olivieri e Carlos Gregório.
Do elenco jovem, praticamente, todos seguiram suas carreiras e alguns
são nomes consagrados, hoje, em outras mídias também, além do TEATRO.
Na
ficha técnica, quase todos os nomes daquela montagem estão
presentes na atual. No elenco paulistano, houve apenas duas alterações e
a entrada de um outro alternante.
“A montagem brasileira de ‘O DESPERTAR DA PRIMAVERA’ conseguiu
autorização para ser a primeira ‘non-replica’ no mundo, desde a estreia na
Broadway. Isso significa que, usando o mesmo texto e canções do musical, CHARLES
MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO realizaram a primeira direção e concepção diferente
em tudo das originais. Consultados, os autores foram seduzidos pela
possibilidade de verem sua obra encenada com outra visão pelos artistas
brasileiros”. (Extraído do “release” da época.).
“Foi um fato inédito montarmos uma produção tão recente da Broadway com
a autorização para uma direção autoral. Geralmente, os espetáculos de grande
sucesso levam muitos anos para que comecem a ser ‘licenciados’ pelos autores
sem a obrigatoriedade da cópia”, revelou CLAUDIO
BOTELHO. “Tive total liberdade para a tradução dos textos e as
versões das canções, e só me interessa trabalhar assim. Só não mexi nas
partituras e nos arranjos, que considero perfeitos e que são, como sempre, a
alma e o sentido principal de um musical”, complementou.
“Eu já era muito apaixonado pela peça, antes mesmo de virar um musical.
Várias vezes, em adaptações para musicais, perde-se a força do texto, mas o
caso da ‘O DESPERTAR DA PRIMAVERA’ é uma coisa raríssima, pois o musical
consegue ser ainda mais contundente do que o original”, afirmou CHARLES.
"SOMOS SÓ NÓ DOIS, NÓ E UM SEGREDO."
A montagem de 2009 ganhou os seguintes prêmios: Qualidade
Brasil: Melhor Musical e Melhor Direção; Melhor Espetáculo
Teatral Musical; Melhor Direção Teatral Musical, para MÖELLER
& BOTELHO. Ganhou, anda, três prêmios da APTR (Associação de
Produtores de Teatro do Rio de Janeiro): Paulo César Medeiros, pela Iluminação;
Rogério Falcão, pelo cenário (ao lado de Bia Junqueira, por
“Na Solidão dos Campos de Algodão”) e Rodrigo Pandolfo, como Ator
Coadjuvante.
“O DESPERTAR...” marcou a
minha vida, como um verdadeiro “despertar” para uma nova visão de mundo.
Identifiquei-me muito com os personagens masculinos jovens. Acho que, no
fundo, de uma forma incrível, eu tinha um pouco de cada um. Sim, “É verdade
esse bilete”. Senti, na pele, na minha juventude, muito do que vi em cena e
a peça foi, para mim, uma catarse. Acho que o é, até hoje. Cada vez que
ouço o CD ou assisto a uma nova sessão do musical, aquele “VAI
SE FODER!” me torna mais leve e mais cônscio da minha missão neste mundo. “O
DESPERTAR...” me remete a décadas atrás e mexe com a minha capacidade plena
de exercitar a empatia.
“O DESPERTAR
DA PRIMAVERA
– VERSÃO
2019”
Hoje, já não faço mais, porém, por
tantas vezes, me perguntei por que este musical, baseado numa história
escrita há mais de um século (128 anos, exatamente, considerando-se 2019.)
ainda faz tanto sucesso. E a resposta é muito simples: porque ele é atualíssimo,
porque, a despeito de tantos progressos tecnológicos, surgidos a cada segundo,
a cabeça do ser humano não evoluiu na mesma proporção e velocidade, na parte humanística. Evoluiu,
sim, para criar tecnologia, que facilite a vida moderna, mas não evoluiu o
suficiente para respeitar o outro ser humano, para se colocar no lugar dele,
para aceitar as suas diferenças. O Homem, de forma geral, não está, ainda, preparado para enxergar o semelhante, como ele é, e aceitá-lo, acolhê-lo,
compreendê-lo; amá-lo, enfim. Parece-me – e podem me achar pessimista ou o que
desejarem – que o ser humano não deu certo. E, em nome de uma falsa
moral, de uma "verdade absoluta", e por meio de uma hipocrisia desmedida, as pessoas maltratam, ofendem,
humilham as outras, quando não as destroem, completamente, moral e, até mesmo,
fisicamente.
"MAMA, UM ANJO, MAMA, UM DIA,
DESCEU DAS NUVENS E ENTROU EM MIM."
A peça se dá em dois atos,
sendo que o segundo nada mais apresenta do que as consequências nefastas do que ocorre
no primeiro: a mentira, a falta de informação, a falta de empatia, a
desonestidade, a falta de respeito ao semelhante, a hipocrisia, o falso moralismo...
Em suma, não haveria a peça, se não houvesse o primeiro ato. Ele é o
deflagrador de todos os males e desgraças que acontecem no segundo, de tantas
vidas ceifadas, física e interiormente, de gente que foi destruída, em plena juventude, que só
queria ser feliz e estava em busca de verdades. E tinham, como sempre tiveram,
e continuam tendo, direito a isso. Eu nem diria que há um conflito de gerações,
na peça. Há, sim, uma total opressão, um pleno desrespeito ao
ser humano, por parte dos adultos, sobre os jovens. Não há como mensurar a hipocrisia
dos pais e dos professores daquela época (Eu disse “daquela época”?).
Infelizmente, de muitos, hoje, também, embora com a utilização de outros
métodos, que podem parecer mais leves, mais suaves, mas são tão devastadores
como os empregados na narrativa encenada, num universo luterano, de uma
rigidez brutal, passado numa Alemanha na qual qualquer pessoa sadia, mentalmente,
não desejava viver.
SINOPSE:
A história se
passa na Alemanha, no final do século XIX, e retrata uma sociedade, profunda
e exageradamente, enraizada em conceitos e moralidades patriarcais e
religiosos.
Uma sociedade doente, na verdade.
A narrativa se dá pela óptica dos jovens, que se
rebelam (Até a página 5.), diante do desabrochar da sexualidade e do fim
da inocência da infância.
O protagonista, tecnicamente falando, se bem
que, para mim, todos o são, é MELCHIOR GABOR (RAFAEL TELLES), um jovem
brilhante e rebelde, que ousa questionar os dogmas vigentes, o que o levará a
pagar bem caro por sua “ousadia e coragem”, na busca de verdades e de uma
maneira simples de ser feliz.
WENDLA BERGMAN (TABATHA ALMEIDA), a protagonista feminina, é
uma adolescente, criada por uma mãe com rígidos e estapafúrdios princípios
morais e religiosos, a qual trata a jovem como se fosse ainda criança, falando,
inclusive, em “cegonha trazendo bebês”.
Quando o jovem casal se aproxima – nada mais natural
-, surge um interesse mútuo e a explosão do desejo, da vontade de conhecer o
sexo e o amor, na sua forma mais pura.
Paralelamente à história dos dois protagonistas,
giram outras, de jovens, como o oprimido, deprimido e trágico MORITZ STIEFEL
(JOÃO FELIPE SALDANHA), o melhor amigo de MELCHIOR, a bela ILSE
(MARIA BRASIL), uma jovem errante, que, após ter sido expulsa de casa,
ousou aventurar-se pelo mundo e usufruir da liberdade, para fugir dos abusos
físicos praticados pelo próprio pai, com a conivência da mãe, como também fazia
com a outra filha, mais nova, MARTHA (BIA LOMELINO), além de aplicar-lhe
muitas surras violentas.
Comum a todos os personagens jovens, o peso da
repressão e do conservadorismo, a pressão moral e a hipocrisia,
nos mais diversos estágios da sociedade, que têm de ser enfrentados diuturnamente.
O
musical fala do universo de um grupo de adolescentes, os
quais vivenciam situações de iniciação sexual, violência doméstica,
abuso sexual, gravidez na adolescência, incesto, prostituição,
aborto indesejado, homossexualidade e opressão, tudo
mostrado em cenas fortes, de masturbação, homoafetividade,
aborto e suicídio.
Mas, a despeito de tanta devastação,
de tanto sofrimento, de tanta injustiça, de tanta violência, fica uma mensagem
de que “um novo sol” virá, trazendo um "verão vermelho", para aquecer
tantos corações gelados.
"VOCÊ ME OLHA E NÃO ME VÊ,
VOCÊ PERGUNTA, ENTÃO, POR QUÊ.
E, QUANTO MAIS PERGUNTA,
EU MENOS SEI."
Depois de assistir à peça, o
espectador sai se perguntando em que a raça (dita) humana evoluiu, o que temos
para comemorar, se, de formas diversificadas, é verdade, ainda vemos, todos os
dias, nos noticiários, histórias que nos causam a mesma comiseração que
sentimos por MELCHIOR, WENDLA, MORITZ, ILSE, MARTHA,
ERNEST e outros.
Insisto em dizer que, embora me seja
muito custoso, não intento fazer comparações entre as duas montagens do musical.
Digo “musical”, porque outras já existiram, no Brasil, na forma
de teatro convencional. Uma delas, inclusive, obteve muito sucesso, em 1979,
com um grupo de TEATRO, formado por jovens, à época, “O
Pessoal do Despertar”, do qual faziam parte, dentre outros, Miguel Falabella,
Maria Padilha, Paulo Reis, Fábio Junqueira, Clarice
Niskier, Daniel Dantas e Zezé Polessa. Foi o espetáculo de estreia do grupo
e a primeira encenação do texto no Brasil.
"EU PEÇO, SÓ PEÇO:
NÃO CALEM O QUE EU NÃO SEI GRITAR."
Em 2019, exatamente uma década após a sua estreia,
MÖELLER & BOTELHO nos oferecem um “revival” do musical,
com um elenco formado, mais uma vez, por jovens e talentosos artistas,
atores/cantores, revelados em difíceis disputas, em audições. Do elenco,
formado por 18 profissionais, apenas BEL KUTNER e AUGUSTO
ZACCHI, que fazem todos os personagens adultos, foram especialmente
convidados para os papéis. Três personagens jovens, coadjuvantes, foram
suprimidos da trama.
Quando de sua estreia, na “Meca
dos Musicais”, assim se manifestou o New York Times: “A
Broadway nunca mais pôde ser a mesma, após ‘Spring Awakening’.” (Título
original.). Um crítico do The New Yorker foi enfático, ao
escrever que “Com uma poderosa e poética inteligência, o despertar, aqui,
não é apenas o da sexualidade, mas o da narrativa musical". Não
resta a menor dúvida de que, na Broadway, como no Brasil, “O
DESPERTAR DA PRIMAVERA” representa um divisor de águas, com relação à estética
dos musicais.
"NO CHUVEIRO DO COLÉGIO,
TEM UM CARA QUE EU OLHEI.
COMO É SUJO E COMO É LINDO!
EU DETESTO O QUE EU PENSEI."
“A união do rock com um texto de 1891 foi um escândalo. É diferente de
tudo o que vinha rolando nos Estados Unidos nos últimos anos, absolutamente
vanguardista”, declarou
o diretor CLAUDIO BOTELHO, já na montagem de 2009. Na
mesma ocasião, CHARLES MÖELLER também se pronunciou: “A grande
sacada é colocar a música de hoje relacionada aos jovens daquela época. Seus
gritos e buscas permanecem os mesmos. O tempo passou, mas a essência do homem
se mantém oprimida, muitas vezes, especialmente diante da família, da Igreja e
do Estado.”.
Geralmente,
em “revivals”, os encenadores não se prendem tanto aos originais
e muita coisa muda, é sempre uma nova leitura, o que não é o caso, por
completo, nesta nova montagem de “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”.
Trata-se de uma releitura da obra, sim, sem a menor dúvida, porém, mudou pouco. O elenco, evidentemente, é a novidade maior. Não foi
acrescida ou suprimida uma vírgula, com relação ao texto, medida
acertadíssima, uma vez que ele parece estar mais atual que nunca. É forte, vibrante, agressivo e, ao mesmo tempo, suave e lírico, em determinadas
cenas, retratando, com o máximo de fidedignidade, a alma humana, com seus
anseios, seus desejos incontidos, suas idiossincrasias. Na boca de cada personagem,
estão as palavras que nos permitem conhecê-los a fundo, assim como em cada
gesto, pensamento e ação, para o que, em muito, devemos à primorosa versão
brasileira, feita por CLAUDIO BOTELHO, um experto no assunto, tanto
na parte declamada quanto nas letras das belíssimas canções, as
quais, como deve ser, em musicais, ajudam a contar a história. CLAUDIO foi de uma felicidade estupenda, neste trabalho.
"MAS NÃO DÁ PRA FUGIR
LÁ DO FUNDO DO BREU.
É TRISTE E SEM COR
E A CRIANÇA CRESCEU."
Na direção
geral, CHARLES MÖELLER, também responsável pela ótima direção de
movimento, preservou quase todas as marcações da sua montagem
original, que já eram excelentes, tendo, apenas, que se adequar à nova
concepção de cenário, o qual, embora assinado pelo mesmo cenógrafo
da versão anterior, o grande artista ROGÉRIO FALCÃO, apresenta uma nova proposta
cenográfica. Degraus, de cada lado do palco, ao fundo, que davam acesso a
uma espécie de passarela, sob a qual ficava a banda, desapareceu, dando
lugar a um palco nu, com três paredes lisas, nas quais há portas, duas em cada lateral e quatro ao fundo, que se abrem
e fecham, em movimentos deslizantes, de acordo com as cenas. Encostados às
paredes, bancos, que servem à construção de alguns espaços específicos, com uma
tumba, por exemplo. Excelente resolução. Cadeiras comuns e escolares,
além de uma escrivaninha, também fazem parte do cenário, em algumas
cenas, da forma como era antes.
"MEU VÍCIO É VOCÊ
E NÃO VAI PASSAR."
Esse novo
cenário exigiu que a iluminação, de PAULO CESAR MEDEIROS,
que também executou a mesma tarefa na montagem de 2009, tivesse
de sofrer mudanças radicais. Tão linda quanto a anterior, a atual apresenta,
como grande diferencial, o fato de muito da luz vir de dentro para fora,
ou seja, muitos elementos da iluminação estão por trás do cenário
e aquele importante elemento, numa montagem teatral, com belíssimos
matizes e variações, de acordo com a carga emocional das cenas, vaza, propositalmente,
pelas já citadas portas, quando abertas. O efeito é muito bonito, acrescido
ao que sai dos pontos de luz instalados no palco.
Completamente
diferentes dos anteriores, os figurinos levam a assinatura de MARCELO
MARQUES, que é um competente profissional e – tenho notado – vem
passando por uma excelente fase em seu ofício, ultimamente. Assinou os figurinos de 16 espetáculos neste ano. Para chegar
aos trajes vistos em cena, MARCELO mergulhou, bem fundo, numa pesquisa
de época, sobre os hábitos de se trajar dos conservadores luteranos alemães do
final do século XIX, e o resultado é deslumbrante: roupas lindas
e muito bem acabadas, com seus respectivos complementos e adereços. Como o
casal de “adultos” interpreta vários personagens, com muitas trocas de
roupa, rápidas, o figurinista teve de encontrar uma técnica de confecção
das vestimentas e soluções práticas, de modo a facilitar essas trocas, que implicam,
obviamente a mudança de personagens. Assim, utiliza uma “base”, com
pequenos detalhes, para caracterizar os pais de um ou de outro jovem, com o
acréscimo de uma ou mais peças ou a supressão de outra(s), por exemplo, o que
leva a plateia a identificá-los, a cada nova entrada em cena. Os figurinos
dos jovens, apesar de “muito pano”, deixando pouco dos corpos à mostra, a não
ser em raros momentos, dão-lhes um quê de sensualidade, que o texto
exige.
"ACREDITO, ACREDITO, ACREDITO,
EU ACREDITO QUE NÃO É PECADO.
ACREDITO, ACREDITO, ACREDITO,
EU ACREDITO NO AMOR SAGRADO."
Musical de qualidade não pode prescindir de uma boa coreografia. ALONSO BARROS, outra vez, é o responsável pelas “coreôs” da peça, mantendo quase tudo o que idealizou para a primeira montagem, que era ótimo, por sinal. Mudou um pouco, mas manteve a forma. Segundo o que me disse o consagrado e premiadíssimo coreógrafo, na primeira montagem, ele coreografou “em cima do elenco”, já que tiveram mais tempo pra a criação dos números e ele foi vendo a característica de cada pessoa. Chegaram a fazer uma semana de “workshop”, o que, agora só foi possível em dois dias, uma vez que o tempo era muito curto e ALONSO foi levado a ir adaptando o que já havia feito antes, fazendo questão de destacar a qualidade do elenco, o qual “entrou de cabeça”, o que, para ele, foi uma grata surpresa . Segue o coreógrafo: “Então, eu usei o mesmo raciocínio coreográfico, mas achei outros caminhos, outras personalidades, principalmente no número ‘Touch Me’, no qual, individualmente, achamos a estória de cada um. Foi bem gratificante. Tudo isso foi muito bom, pois saímos do ‘vamos fazer igual como antes’ e descobrimos novos caminhos e resultados.”. Todos os números de dança, apesar de eu não ser especialista no assunto, são, para mim, muito bem pensados e realizados, inseridos no contexto das cenas em que se fazem presentes.
"LÁ VOU EU COMO UM BARCO,
SEM UM RUMO E SEM FAROL."
O desenho
de som é de responsabilidade de ANDRÉ BRETAS e FELIPE MALTA,
contando com o “design” de som associado, de GABRIEL D’ANGELO e ERICK
FIRMAMENTO. Até agora, já assisti ao espetáculo duas vezes: no
dia da estreia para o público (1º) e três dias depois (4 de
novembro/2019), na sessão que chamam de “VIP”, mas que eu prefiro
denominar “para convidados”, porque não me considero “VIP”. Ou
somos todos (Ou quase todos.). No primeiro dia, fato até compreensível, mas que
não deveria ter ocorrido, notei algumas pequenas falhas na equalização, o que
já se tornou menos perceptível, quando da segunda vez em que fui ao NET Rio.
A não ser que já tenham aparado todas as pequenas arestas relativas ao som,
este carece de alguns superficiais reparos. Vou conferir isso daqui a uma
semana. Nada, porém, que comprometa a qualidade do espetáculo.
CRIS
REGIS responde
pelo visagismo e consegue um bom resultado com seu trabalho.
"VENHA... SILÊNCIO...
VEM E ME FALA...
DIZ PRA MIM...
NADA É PECADO..."
A música,
creio que 50% do sucesso do espetáculo, tem a supervisão musical
de CLAUDIO BOTELHO e a direção musical de MARCELO CASTRO,
que, praticamente, manteve todos os arranjos da versão anterior, belíssimos, tendo
feito algumas mínimas mudanças, na formação da banda (Eram dois teclados
e uma guitarra; agora, é o inverso.) e alguns ajustes de tons, o que é
totalmente compreensível, já que tinha à mão um novo elenco, novas vozes,
novos registros vocais. E o resultado é excelente, tanto nos solos,
como nas canções executadas em duetos, por grupos de atores ou por todos. E já que o assunto é música, acho pertinente relacionar as canções
que fazem parte da belíssima e inspirada trilha sonora, executada
e cantada, ao vivo, com o acompanhamento de uma banda, que fica nas
laterais superiores do balcão, deixando o palco livre para as ações, formada
por 8 exímios músicos, os quais, de forma impressionante, produzem o som
de uma orquestra: MARCELO CASTRO (regente e teclado), MÁRCIO
ROMANO (bateria e percussão), ANDRÉ BARROS / THIAGO TRAJANO (guitarra 01
e violão), ANDRÉ DANTAS (guitarra 02 e violão), KELLY
DAVIS (violino), STOYAN GOMIDE (viola), SAULO VIGNOLI (violoncelo)
e OMAR CAVALHEIRO (baixo acústico e elétrico).
NÚMEROS
MUSICAIS:
ATO I
Mamãe, Me
Explica” (“Mama, Who Bore Me”) - Wendla
“Mamãe, Me
Explica” (“Mama, Who Bore Me”) (Reprise) - Wendla e Moças
“Tudo Que É
Sagrado” (“All That's Known”) - Melchior
“Nessa Merda De
Vida” (“The Bitch Of Living”) - Moritz, Melchior e Rapazes
“Meu Vício” (“My
Junk”) - Moças e Rapazes
“Venha” (“Touch
Me”) - Rapazes e Moças
“O Corpo Quer
Falar” (“The Word Of Your Body”) - Wendla e Melchior
“Um Escuro Sem
Fim” (“The Dark I Know Well”) - Martha, Ilse, Rapazes e Moças
“A Carta” (“And
Then There Were None”) - Moritz e Rapazes
“No Fundo do
Breu” (“The Mirror-Blue Night”) - Melchior e Rapazes
“Acredito” (I
Believe) - Rapazes e Moças
ATO II
“O Corpo É O
Culpado” (“The Guilty OnesThe Guilty Ones”) - Wendla, Melchior, Rapazes e Moças
“Não Tem
Tristeza” (“Don't Do Sadness”) - Moritz
“Vento Triste”
(“Blue Wind”) - Ilse
“O Que Ficou
Pra Trás” (“Left Behind”) - Melchior, Rapazes e Moças
“Se
Fodeu!" (“Totally Fucked”) - Melchior e Elenco
“O Corpo Quer
Falar” (“The Word Of Your Body”) (Reprise) - Hanschen, Ernst, Rapazes e Moças
“Murmurar” (“Whispering”)
- Wendla
“Velhos
Conhecidos” (“Those You've Known”) - Moritz, Wendla e Melchior
“Canção De Um
Verão” (“The Song Of Purple Summer”) - Ilse e Elenco
"EU SEREI IGUAL À BORBOLETA AZUL
TÃO LEVE CONTRA O VENTO,
SEM UM NORTE OU SUL."
E passemos a comentar a atuação do elenco. Bom elenco! Muito bom o elenco! Já há algum tempo, tornou-se muito difícil e uma grande responsabilidade selecionar e escalar um elenco para musicais, em função do grande número de pessoas talentosas que se apresentam para as audições. Não foi diferente desta vez. O número de interessados em participar desta montagem superou o da anterior. A equipe de criação assistiu a centenas de vídeos, de candidatos de todas as partes do Brasil, antes da convocação dos que passariam por peneiras de furos, cada vez mais, estreitos. Filtros pós filtros, num trabalho hercúleo, para examinadores e examinados. Afinal de contas, quem não gostaria de fazer parte do elenco de “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”? Que jovem ator, em início de carreira, não sonha em pisar um palco sob o comando dos chamados “Reis dos Musicais”, com todo merecimento?
Apesar de
ser considerado um casal de protagonistas, penso que estes são um trio: MELCHIOR,
WENDLA e MORITZ. Talvez seja um ato falho meu considerar este
também como um protagonista, dada a minha paixão pelo personagem.
Talvez, até, pudéssemos dizer que só há um protagonista na trama: o ser
jovem. O jovem oprimido, humilhado, cerceado em sua liberdade de livre
pensar, perseguido e aterrorizado por dogmas, falso moralismo e muita
hipocrisia.
"EU QUERO SER FORTE,
EU VOU PRA RUA, ESPALHAR
QUE VOCÊ ME ENSINOU
COMO EU SOU LINDA.
SIM, EU SOU LINDA!"
Mas
fiquemos apenas no casal MELCHIOR (RAFAEL TELLES) e WENDLA (TABATHA
ALMEIDA). Ambos, como todos os demais do elenco jovem, apresentam,
como não poderia ser de outra forma, traços de quem ainda precisa de um amadurecimento
no palco, o que é perfeitamente compreensível, uma vez que, para a quase total
maioria deles, é a primeira vez que atuam profissionalmente, e já começam com a
responsabilidade, o grande peso de subir ao palco pelas mãos de MÖELLER
& BOTELHO, e, mais ainda, dez anos após uma montagem que se
tornou emblemática, na história do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.
De uma forma
geral, não conseguem manter o mesmo nível de atuação, durante todo o espetáculo,
alternando momentos irretocáveis com outros em que precisam de um pouquinho
mais de lapidação. Numa visão e análise geral, todos dão conta do recado,
executam, com muita dedicação e seriedade suas funções, com um destaque, que,
se eu não fizesse, não ficaria em paz com a minha consciência. Falo de JOÃO
FELIPE SALDANHA, que interpreta o desnorteado, desorientado, atormentado MORITZ
STIEFEL. Disse, no início destes escritos, que não estabeleceria
comparações com a primeira versão da peça, mas, como tenho um carinho
especial pelo personagem, tão irretocavelmente interpretado, na versão
de 2009, por Rodrigo Pandolfo, que, inclusive, foi premiado por seu
trabalho, não imaginei que alguém, um dia, pudesse interpretar o personagem
à altura, como ele ficou marcado na minha memória afetiva, E eis que surge JOÃO
FELIPE, compondo um MORITZ tão digno e perfeito quanto o do meu
querido amigo “Panda”. É muito fácil ir às lágrimas, neste espetáculo,
mas é MORITZ o responsável por provocá-las, na maioria das pessoas.
"ESCREVE AOS PAIS E DIZ, ENTÃO,
,
QUE O FILHO ENTROU NA CONTRAMÃO
E NÃO TEM MAIS VOLTA...
NÃO TEM MAIS..."
Não quero
que esta análise chegue ao elenco como uma crítica negativa. Pelo
contrário!!! Tenho certeza de que todos atuam, cantam e dançam
muito bem, e que estão apenas se iniciando numa bela carreira de atores de
musicais. Estou certo de que cada um, humilde e profissionalmente, tem
consciência de que, com o decorrer da temporada, o espetáculo vai “azeitando”
e todos superarão seus pequenos tropeços. Aliás - é minha obrigação dizer -,
não acho justo, correto nem honesto criticar um espetáculo, tendo como
base o dia da estreia. Ainda mais com tantos estreantes, neófitos. E ressalto que já notei avanços, no trabalho do elenco,
na segunda vez em que assisti à peça, apenas três dias depois da
primeira, após só duas sessões, entre uma e outra, apesar de que tinham tudo para
estar mais nervosos ainda, expondo-se para pessoas do universo teatral,
grandes intérpretes de musicais, e mais críticos, jurados de
prêmios e a imprensa. Sugiro que todos deveriam rever o espetáculo.
Só gostaria de escrever sobre “O DESPERTAR...” após a terceira vez em
que assistirei a ele, de hoje a uma semana, mas confesso que não aguentava mais
de vontade de dividir, com quem me lê, a enorme alegria de poder voltar dez
anos no tempo.
"ALGUÉM DECIFRA UM SONHO?
VEM ME ACORDAR,
PRA SOFRER OUTRA VEZ."
Daqui a uma década, quando for montada uma nova versão de “O DESPERTAR DA PRIMAVERA”
(Quem sabe? Queiram os DEUSES DO TEATRO!!!)), aqueles “meninos”
e “meninas” já terão alcançado (Torcerei muito para isso.) o patamar de
uma Malu Rodrigues, de um Pierre Baitelli, de um Rodrigo
Pandolfo, de uma Letícia Collin, de um Felipe de Carolis, de
um André Loddi, de um Thiago Marinho e tantos outros, que
começaram, também, a grande maioria, em seu primeiro trabalho profissional e
com a mesma responsabilidade diante da qual o atual elenco se encontra
agora. Ninguém nasce sabendo e o importante é aproveitar as oportunidades com
que a vida nos presenteia.
Parabéns,
meninos!!! Sigam em frente, que o futuro é de vocês!!! Este é só o primeiro de
muitos outros desafios e sucessos que lhes hão de vir!!!
BEL
KUTNER e AUGUSTO
ZACCHI, já com grande experiência nos palcos e carreiras consolidadas, vitoriosas, se
saem muito bem, em todos os personagens adultos que representam.
"MAS JÁ PASSOU, E JÁ PASSOU,
COMO A SOMBRA QUE SUMIU
ATRÁS DO MURO."
Por
oportuno, aqui escrevo algumas poucas palavras sobre as características dos personagens:
MELCHIOR
GABOR = RAFAEL TELLES: Determinado,
bonito e carismático. Sabe muito mais que os outros, devido ao seu hábito de
ler livros, o que é um “perigo” e o torna um “subversivo”, um corruptor, aos
olhos dos adultos opressores.
WENDLA
BERGMAN = TABATHA ALMEIDA: Uma amiga de infância dos garotos e que se apaixona por MELCHIOR.
É colocada dentro de uma redoma de vidro, pela mãe, que não lhe ensina “as
coisas da vida”, nem como uma criança é gerada, apesar de já estar se tornando
uma “mocinha”, com seios em formação.
MORITZ
STIEFEL = JOÃO FELIPE SALDANHA: Inseguro, melhor amigo de MELCHIOR,
obcecado por sexo. Vive tendo sonhos com mulheres, que lhe tiram seu sono, e
não consegue se concentrar nas aulas. Sua fragilidade emocional é comovente e o
leva a um destino trágico, sob o peso de uma brutal opressão.
ILSE =
MARIA BRASIL: Outra
amiga de infância do grupo, a qual foge de um lar de abuso sexual, por parte do
próprio pai, com a conivência da mãe, alcólatra, para se tornar uma boêmia; uma prostituta, aos olhos de algumas
pessoas, mas não para os amigos.
HANSCHEN
= THIAGO FRANZÉ: Um
colega de sala dos garotos. É bem-humorado, porém bastante arrogante, cínico,
tirando partido de seus dotes físicos. Um perfeccionista ímpar, que, facilmente,
seduz e manipula o pobre ERNST.
ERNST =
DIEGO MARTINS: Um
colega de sala dos garotos. Extremamente ingênuo e romântico, apaixona-se por HANSCHEN,
por quem é desdenhado e iludido.
GEORG =
LEONARDO ROCHA: Outro
colega de sala, que vive fantasiando situações eróticas com sua professora de
piano, “peituda”.
MARTHA =
BIA LOMELINO: Uma das
amigas de WENDLA. Irmã de ILSE, ela também é abusada, sexualmente,
e, violenta e constantemente, espancada, pelo pai, também com a conivência da mãe, mas
não consegue encontrar coragem para fugir daquele inferno.
OTTO =
GABRIEL LARA: Outro colega
de sala, que sonha (e deseja), incestuosamente, com sua mãe, na cama.
THEA =
GIOVANNA RANGEL: Melhor
amiga de WENDLA, é uma garota que tenta esconder seus sentimentos
sexuais debaixo do tapete, para satisfazer os adultos.
ANNA =
CAROL PITA: Melhor
amiga de MARTHA, que não consegue se conformar com a situação da moça e
acha que o pai da pobre jovem deveria ser denunciado, que alguma coisa deveria ser
feita para livrá-la daqueles maus tratos.
RUPPERT =
DAVI PITHON: Colega de
turma dos rapazes.
DIETER =
VICTOR LEAL: Idem.
EMMA =
DANIELE THOMASELLI: Amiga
das moças.
MANU =
GABI CAMISOTTI: Idem.
Os
adultos são representados por BEL KUTNER (mãe de WENDLA – um exemplo
de intolerância, falso moralismo e hipocrisia; FANNY GABOR, mãe de MELCHIOR
- bastante compreensiva com o filho; mãe de ILSE e MARTHA - uma
desequilibrada emocional ou uma sádica, depravada e amoral, totalmente
submissão ao sadismo do marido; FRAULEIN GROSSENBUSTENHALTER - professora
de piano de GEORG; e Professora - uma espécie de assistente do
diretor, no colégio em que os rapazes estudam; uma total subserviente) e AUGUSTO
ZACCHI (HERR GABOR, pai de MELCHIOR – dá liberdade, à sua
mulher, para deixar o filho viver a vida como bem entender, mas é quem o manda
para o reformatório, no final; HERR STIEFEL, pai de MORITZ - tem
altas expectativas em relação ao seu filho, mas não lhe dá a devida atenção e é
extremamente rigoroso na sua educação; O médico (ir)responsável pelo
aborto em WENDLA, levada ao “carniceiro” pela própria mãe: Diretor, no colégio
em que os rapazes estudam – extremamente rigoroso, desonesto, corrupto e
ardiloso, procurando um meio de reprovar MORITZ e fazê-lo abandonar o colégio,
“para não corromper os colegas”. O Diretor e a Professora odiavam
MORITZ e endeusavam MELCHIOR, no início, porém, depois da
desgraça acontecida com aquele, ambos passam a enxergar este como uma espécie de “demônio”
e também querem vê-lo expulso do colégio.).
"PRIMAVERA...
QUANTO TEMPO FAZ?
QUANTO TEMPO ATRÁS!
TODAS AS MANHÃS, SIM,
QUANDO O SOL BRILHOU
SOBRE OS LIVROS SOLTOS
NO CHÃO."
Para que um espetáculo como este
possa acontecer, dezenas de pessoas dão o seu suor, nos bastidores, técnicos e
gente como BEATRIZ BRAGA, na direção de produção; LUCIANA
CONDE, na produção executiva; TINA SALLES, na coordenação artística;
e CARLA REIS, na coordenação de produção, por exemplo.
"SE FODEU, RAPAZ, E NÃO TEM PERDÃO,
E NÃO TEM MAIS PORTA PRA FUGIR.
JÁ SE FODEU E ELES VÃO TENTAR
TE ESFOLAR E TE CUSPIR."
FICHA TÉCNICA:
Um espetáculo
de CHARLES MÖELLER & CLAUDIO BOTELHO
Baseado na
obra de Frank Wedekind
Texto e Letras:
Steven Sater
Música: Duncan
Sheik
Direção:
Charles Möeller
Diretora Assistente: Juliana Rolim
Versão
Brasileira: Claudio Botelho
Elenco:
Bel Kutner
(Mulheres Adultas), Augusto Zacchi (Homens Adultos), Rafael Telles (Melchior),
Tabatha Almeida (Wendla), João Felipe Saldanha (Moritz), Maria Brasil (Ilse),
Bia Lomelino (Martha), Carol Pita (Anna), Daniele Thomaselli (Emma), Davi
Pithon (Rupert), Diego Martins (Ernst), Gabriel Lara (Otto), Gabi Camisotti
(Manu), Giovanna Rangel (Thea), Leonardo Rocha (Georg), Sara Chaves (Inga),
Thiago Franzé (Hanschen) e Victor Leal (Dieter).
Direção
Musical: Marcelo Castro
Supervisão
Musical: Claudio Botelho
Cenário:
Rogério Falcão
Figurinos:
Marcelo Marques
Iluminação:
Paulo César Medeiros
Coreografia:
Alonso Barros
Direção de
Movimento: Charles Möeller
Design de Som:
André Bretas e Felipe Malta
Visagismo:
Cris Regis
Fotos: Dan
Coelho e Roberto Schwenck
Produção
Executiva: Luciana Conde
Direção de
Produção: Beatriz Braga
Coordenação
Artística: Tina Salles
Coordenação de
Produção: Carla Reis
Assessoria de
Comunicação: Pedro Neves (Factoria Comunicação)
Realização:
M&B PRODUÇÕES
"O MEL ESTÁ EM MIM.
EU SOU O NÉCTAR DO JARDIM.
VEM DESCOBRIR ENTRE OS LÁBIOS MEUS.
SEU CORPO QUER PROVAR,
É SÓ SENTIR."
SERVIÇO:
Temporada RJ:
De 01 de novembro a 22 de dezembro de 2019.
Local: Theatro
Net Rio.
Endereço: Rua
Siqueira Campos, 143, Shopping Cidade Copacabana, 2º piso – Copacabana (ao lado
da estação Siqueira Campos, do Metrô.).
Dias e Horários:
6ª feira, às 20h; sábado e domingo, às 19h.
Valor dos
ingressos: Plateia; 6ª feira = R$130,00; sábado e domingo = R$150,00 – Balcão 1
= 6ª feira = R$70,00; sábado e domingo = R$80,00 – Balcão 2 = Todos os dias =
R$50,00.
Vendas na
Bilheteria do Theatro ou pela internet – sympla.com.br ou pelo aplicativo
Sympla.
Horário de
Funcionamento da Bilheteria: De 2ª feira a domingo (inclusive nos feriados),
das 10h às 22h.
Telefone: (21)
2147-8060.
Pagamento em
espécie ou com cartões de crédito ou débito, Vale Cultura (bandeiras Alelo
& Ticket). Não é aceito pagamento em cheque.
Duração: 120
minutos.
Classificação Indicativa:
16 anos.
Gênero:
Musical.
Temporada SP: Será
realizada em 2020. Data e local serão divulgados em breve.
Redes sociais:
Instagram: @musical.despertar e Facebook: /musical.despertar
"EIS AQUI SEUS VELHOS CONHECIDOS,
COM VOCÊ, ETERNAMENTE UNIDOS."
“A peça discorre sobre vários temas, mas é, fundamentalmente, sobre o
sexo. O adolescente é um mundo secreto e este espetáculo oferece uma
possibilidade de espiarmos esse mundo pelo buraco da fechadura.”. São palavras do diretor,
CHARLES MÖELLER, com as quais concordo plenamente. Os espectadores somos
uma espécie de “voyeurs” privilegiados.
"TUDO O QUE ELE QUIS
FICOU PRA TRÁS.
TUDO O QUE A MÃE SONHOU
NÃO SONHA MAIS.
E O QUE O PAI NÃO FEZ,
PORQUE SÓ GUARDOU..."
Com este espetáculo,
indiscutivelmente imperdível, que eu não me canso de recomendar e que existe
para ser visto mais de uma vez, a dupla CHARLES MÖELLER & CLAUDIO
BOTELHO, a mais importante referência do TEATRO MUSICAL no Brasil,
aclamada pela crítica e reconhecida pelo grande público, parceria, iniciada em 1997,
responsável por mais de 40 espetáculos, apresentados nas principais
capitais brasileiras e também no exterior, colecionadores de indicações e
prêmios, só faz engrossar e enriquecer o seu vasto currículo de sucessos,
dentre os quais podem ser citados “A Noviça Rebelde”, “Pippin”, “Cole Porter –
Ele Nunca Disse Que Me Amava”, “Se Meu Apartamento Falasse”, “Rocky Horror Show”,
“O que Terá Acontecido A Baby Jane?”, “Kiss Me Kate – O Beijo Da Megera”, “Nine
– Um Musical Felliniano”, “Os Saltimbancos Trapalhões”. “Todos Os Musicais De
Chico Buarque Em 90 minutos”, “Como Vencer Na Vida Sem Fazer Força”, “O Mágico De Oz”, “Milton Nascimento, Nada Será Como Antes”, “Um Violinista No Telhado”, “Hair”, “Beatles Num Céu De Diamantes”, “As Bruxas De Eastwick”, "Gypsy – O Musical”, “Avenida Q”, “7 – O Musical”, “Ópera Do Malandro” e muitos
outros espetáculos.
"E, AGORA, O TEMPO NOS DIZ
QUE VAI BRILHAR UM NOVO SOL
E UM VERÃO VERMELHO
VAI TOMAR NOSSO QUINTAL."
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
CENSURA NUNCA
MAIS!!!
Foto do elenco atual com alguns componentes do elenco de 2009,
no dia da sessão para convidados.
(FOTOS: DAN COELHO
e
ROBERTO
SCHWENCK.)
GALERIA
PARTICULAR
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO,
REGINA CAVALCANTI
e RUBENS PIRES.)
Com Regina Cavalcanti e Tina Salles.
Com Regina Cavalcanti e Charles Möeller.
Com Regina Cavalcanti e Augusto Zacchi.
Com Regina Cavalcanti e João Felipe Saldanha.
Isto tem ocorrido em todas as sessões.
Com os queridos Rodrigo Pandolfo e João Felipe Saldanha.
Duas gerações de Mortiz Stiefel.
Com os queridos Pierre Baitelli e Rafael Telles.
Duas gerações de Melchior Gabor.
Com as queridas Malu Rodrigues e Tabatha Almeida.
Duas gerações de Wendla Bergman.
Com a querida amiga Bel Kutner.
Excelente obra!
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