sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


A VINDA
DO MESSIAS


(UMA ETERNA ESPERA
DE QUEM NASCEU PARA ESPERAR.)






            Depois de ter assistido, no último dia da penúltima semana da temporada, que se encerra no próximo dia 24/02/2019 (VER SERVIÇO.), não poderia deixar de escrever, um pouco que fosse, sobre este espetáculo, que muito me surpreendeu. Por total falta de tempo, a extensão física desta crítica será, relativamente, curta, fugindo aos meus padrões normais de trabalho, entretanto, se interrompi uma outra, que ficará mais tempo em cartaz, para falar sobre esta, é porque o merece. Assim como o espetáculo não precisa de mais de 50 minutos para se impor como uma bela, ainda que bem modesta, produção – adoro esse tipo de peça, que gasta pouco e oferece muito –, não precisarei de muitos parágrafos para falar do meu entusiasmo pela encenação.






 




SINOPSE


Monólogo premiado, de TIMOCHENCO WEHBI, “A VINDA DO MESSIAS” enfoca a ambiguidade dos sonhos da pobre costureira ROSA APARECIDA (MARIANA CONSOLI), uma mulher solitária, vinda do interior, que, para não sucumbir à solidão e ao desespero, almeja MESSIAS, um homem e, também, metaforicamente, a divindade.

ROSA constrói a imagem de seu amante, através de fragmentos extraídos de ídolos dos meios de comunicação de massa: do rádio, do cinema e da televisão.

O sonho, a espera, a solidão e a sobrevivência formam o universo desta comovente figura feminina.

À medida que suas fantasias se deparam com a ameaça da concretude da realidade cotidiana, ROSA reinventa sua verdade e, sobre ela, sustenta sua maneira de existir. Ela é uma figura patética, tragicômica, desarmada e impotente, ante o mundo real, e, para poder existir, projeta, sobre este mundo, o seu próprio, filtrado por fantasias, devaneios e aspirações. No confronto entre estes dois universos, ROSA vê sua individualidade dilacerada. Ela sucumbe, ao empreender uma luta individual pela sobrevivência emocional.













           Quanto mais assisto a espetáculos modestos, em termos de recursos, em suas montagens, porém, levantados, com muito suor e sacrifício, por gente vocacionada para os palcos, consciente de que talento, criatividade, amor e muito trabalho suprem a falta de dinheiro, mais acredito no artista brasileiro, mais o aplaudo e mais me motivo para ir a qualquer lugar, por mais distante que seja, sob ameaça de temporal, como aconteceu no último domingo, sempre na esperança de que voltarei para casa feliz. Nem sempre isso acontece, mas, felizmente, o espetáculo “A VINDA DO MESSIAS” superou, em muito, as minhas (confesso) modestas expectativas e garantiu o meu domingo.

        O bom texto é do dramaturgo brasileiro, apesar do nome, TIMOCHENCO WEHBI, falecido em 1986, muito jovem, aos 43 anos de idade, conhecido, no meio teatral, como TIMÓ, o qual também era doutor em Sociologia. O texto aqui analisado foi o de sua estreia, como dramaturgo, em 1970, em plena ebulição da ditadura militar. Conhecia o seu conteúdo, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Autor da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT), no ano de sua primeira encenação. Conhecia-o apenas por tê-lo lido, mas nunca o vira encenado. De TIMÓ, tive a oportunidade de assistir a grandes sucessos, como “A Dama de Copas E O Rei de Cubas” (1973), um dos maiores, em que é explorado o ambiente dos cortiços paulistanos e situações imaginárias, mostrando  a conflituosa relação de duas mulheres que dividem o mesmo quarto, uma operária e uma colega, aspirante a cantora, “um pouco suspeita”, visitada, constantemente, por um viajante igualmente “estranho”; “A Perseguição” ou “O Longo Caminho Que Vai De Zero A Ene”(1974), que causou muita polêmica, quando encenada pela primeira vez, pelo fato de o autor mergulhar fundo no universo do absurdo, apresentando, ao público, duas figuras que vivem numa contenda, o tempo todo, sem, contudo, se encontrarem, uma realidade totalmente fora dos padrões, bem distante da realidade, em que o diálogo entre as duas criaturas é apenas aparente;  “Palhaços” (Assisti em 2017.), a minha preferida, que explora os bastidores de um circo em decadência, na figura de dois palhaços, um profissional” e o outro, que invade o camarim do profissional, um “palhaço da vida”, como TIMÓ dizia que somos todos; e “Morango com Chntilly” (Assisti em 2015.), peça na qual estão presentes lembranças e pinceladas autobiográficas, no dia a dia de uma família do interior, discutindo, nos planos do passado e do presente, o futuro dos filhos, com um leve toque rodriguiano.





            Mas falemos de “A VINDA DO MESSIAS”, título que nos remete a uma metáfora bastante interessante. A presença, no título, do artigo definido masculino singular “O”, em contração com a preposição “DE”, determina que o personagem aguardado é aquele que a Bíblia nos promete, em segunda visita, para nos salvar. Trata-se de Jesus retornando à Terra. Na peça, porém, essa determinação do artigo se perde e fica no plano da simbologia, uma vez que MESSIAS é, tão- somente, o homem  ideal, com o qual todas as mulheres desejariam se casar, tão sonhado, idealizado por ROSA, uma humilde costureira (MARIANA CONSOLI), porém que representa, para ela o seu Salvador, aquele único ser que conseguirá tirá-la do marasmo em que vive, ao mesmo tempo que chegará para completar a sua vida, tão vazia, carente; de tudo.



            Na peça, que explora a ambiguidade revelada nos sonhos da protagonista, ROSA nada mais aparenta desejar do que encontrar a sua cara-metade, a outra metade da laranja, mas que seja perfeita, embora passe o tempo todo dedicada às suas costuras e a construir, ou melhor, transferir a identidade de seu MESSIAS para ídolos do rádio, principalmente, além de outros meios de comunicação. Vive “encastelada”, como uma princesa aprisionada, à espera de seu Príncipe Encantado.
          Praticamente, em todas as sua obras, TIMÓ constrói personagens densos, patéticos, ao mesmo tempo que tragicômicos e construtores de um mundo particular, onírico, misturando mais sonho e menos realidade. Aqui, entra em campo a solidão, mal tão presente no mundo atual, que pode gerar, até mesmo, uma doença, ainda pouco considerada, embora gravemente séria, que é a depressão. Não é diferente com ROSA, personagem muito bem elaborada por MARIANA CONSOLI, em ótima interpretação, explorando, com naturalidade e muita expressão, os tantos momentos de delírio da melancólica costureira, que se conforma (até a página 5) com sua situação, sua desdita, enquanto não chega a ouvir o galope do cavalo branco de seu Príncipe Encantado, que ela tanto espera, numa esperança demonstrada por suas “conversas” com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, inexistente, em cena, representada, porém, por uma espectadora, escolhida pela atriz, como base para o sustento das cenas em que se dão as súplicas. Estar sozinho, sem pessoas ao redor, não significa ser solitário, obrigatoriamente, mas a personagem reúne as duas situações, ainda que viva de esperanças por dias melhores.


            Funciona muito bem a sensível direção de ISABEL CAVALCANTI, que deve ter pesquisado bastante a respeito da problemática explorada na peça, assim como, dentro da atmosfera franciscana em que o espetáculo conseguiu ser levantado, é perfeito o cenário, de TUCA BENVENUTTI, uma humilde sala-ateliê de costura, das décadas de 50 e 60; o figurino retrô, de FLÁVIO SOUZA, que serve de “embalagem” perfeita para a personagem; e a iluminação, comedida e adequada, de ANA LUZIA DE SIMONI. Um interessante destaque da peça é a trilha sonora, que é um desfile de sucessos de cantores da chamada “Época de Ouro” do rádio brasileiro, assinada por ANANDA TORRES.







FICHA TÉCNICA:

Texto: Timochenco Wehbi
Direção: Isabel Cavalcanti

Elenco: Mariana Consoli

Cenário: Tuca Benvenutti
Figurino: Flávio Souza
Iluminação: Ana Luzia De Simoni
Direção de Movimento: Viétia Zangrandi
Trilha Sonora: Ananda Torres
Design Gráfico: Marcello Queiroz
Visagismo: Diego Nardes
Fotos de Divulgação: Paula Kossatz
Direção de Produção: Caio Bucker
Produção Executiva: Kauê Gofman
Produção de Turnê: Ricardo Fernandes
Assistência de Produção: Aline Monteiro
Assessoria Jurídica: Nazário e Werneck Advogados
Assessoria de Imprensa: Dois Pontos Assessoria
Realização: Bucker Produções Artísticas, Lançamento Novo Produções e Mariana Consoli.














SERVIÇO:

Temporada: De 08 a 24 de Fevereiro de 2019.
Local: SESC TIJUCA - TEATRO 2.
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 - Tijuca - Rio de Janeiro – RJ.
Telefone: (21) 3238-2164.
Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 19h.
Funcionamento da Bilheteria: Todos os dias, das 07h às 20h30min.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira); R$15,00 (descontos previstos por Lei ou + 1kg de alimento não perecível); R$7,50 (associado SESC).
Classificação Indicativa: 12 anos.
Duração: 50 min.
Lotação: 50 lugares
Gênero: Drama



           



           Tenho a certeza de que todos os espectadores deixam o Teatro 2, do SESC Tijuca, após terem assistido a “A VINDA DO MESSIAS”, felizes e satisfeitos, porque encontraram um exemplo do que é um bom TEATRO, que distrai, sim, porém, acima de tudo, nos leva a refletir sobre muitas coisas, principalmente sobre o papel de cada um na sociedade, o que representamos, para nós mesmos e para os outros, e de que forma podemos ser felizes, sozinhos ou acompanhados, encarando a triste realidade ou criando um mundo que nos convenha, uma ilusão, que, longe de fazer mal, nos ajuda a sermos mais empáticos e, consequentemente, mais felizes.

         É o tipo de peça que, para quem vai ao TEATRO pela primeira vez, encanta e serve de estímulo para que o incipiente espectador passe a querer frequentar, com prazer e mais vezes, outras salas de espetáculo.

            RECOMENDO O MONÓLOGO e espero que o sucesso obtido nesta curta primeira temporada reverta em outras, em espaços maiores e por mais tempo em cartaz.



 




E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!




(FOTOS: PAULA KOSSATZ)







































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