MINHA
(UMA COMOVENTE
DECLARAÇÃO DE AMOR
A ALGUÉM AUSENTE.)
Gosto, realmente, não se discute. Sobre um determinado espetáculo, é possível que se ouçam alguns
comentários não muito favoráveis com relação a ele. Isso é muito natural. Às
vezes, a pessoa não se identifica com o espetáculo,
por um ou outro motivo, principalmente quando a peça é vista na estreia. Com o tempo, os necessários ajustes vão
sendo feitos, tudo vai se azeitando, com o objetivo de aparar arestas e
melhorar a montagem. Sempre, até o
que é ótimo pode ser melhorado.
Na
véspera de assistir à peça aqui
analisada, tal fato se deu comigo (duas pessoas demonstraram não ter gostado dela). Isso, confesso, criou uma expectativa “não
muito favorável”, no que concerne ao agendado espetáculo, porém não me fez desistir de cumprir um compromisso e,
acima de tudo, fazer valer a minha vontade. Eu queria, mesmo, assistir à peça. Falavam, juntos, o meu desejo
pessoal, a minha função de crítico de
TEATRO e a minha condição de jurado
de um Prêmio de Teatro (Botequim Cultural).
Na
maioria das vezes, isso funciona como um mecanismo, até, de “desafio” e
encorajamento, para mim. Quando me dizem que “não vale muito a pena assistir”, fico com mais vontade de ratificar
ou retificar o que ouvi. Não assisto aos espetáculos ou deixo de fazê-lo por
influência de comentários de terceiros –
assim todos deveriam se comportar -, mas confesso que prefiro ir ao Teatro com uma baixa expectativa, pois,
caso ela não seja ratificada, minha
alegria se torna maior.
Foi, exatamente, o que ocorreu, quando fui ao Teatro Dulcina, para ver “MINHA”, que, desde sua estreia, vem
agradando ao público que a procura (VER
SERVIÇO.).
Segundo o “release”,
enviado por LU NABUCO (ASSESSORIA EM
COMUNICAÇÃO), “a peça convida o público a reflexões sobre temas do cotidiano humano,
como solidão, inadequação social, preconceitos, casamento e a iminência da
morte. O texto, profundo e arrebatador, trata de assuntos que, muitas vezes,
não são falados, não são discutidos e não são expurgados. Mas, também, e
sobretudo, a importância do companheirismo e do amor”.
SINOPSE:
Um homem, HENRIQUE (OSVAN COSTA), casado, pai de
dois filhos, funcionário público, divide seu tempo entre o trabalho, a casa e
compromissos sociais com as visitas diárias à sua esposa, que se encontra em
estado de coma num leito de hospital, devido a uma cirurgia mal sucedida.
Numa dessas visitas, esse
marido revela-se, como, talvez, nunca houvesse feito.
Apresenta-se, assim, sem
máscaras e sem qualquer disfarce social, que até ali havia conduzido a sua
vida, travando um “diálogo” com essa mulher em coma, amor de sua vida, que, no
entanto, no estado em que se encontra não ouve, não fala, não vê e não sente.
O texto, de WILSON SAYÃO, ainda que escrito no final da década de 1990, é inédito e
atemporal. Toda a ação se desenrola num quarto de hospital e conta com algumas
inserções musicais totalmente pertinentes e de uma grande beleza.
Gosto de coisas simples, descomplicadas, que toquem o
coração logo de saída, que provoquem sentimentos, quaisquer que sejam eles. No
caso deste monólogo, tudo isso
acontece. Uma profusão de emoções mexe com o espectador, chegando a
provocar-lhe uma enorme comiseração pelo personagem HENRIQUE, um sentimento de piedade pela dor alheia, que ninguém
consegue aliviar; menos, ainda, fazer com que desapareça.
Um homem sozinho, já que, segundo ele, os filhos parecem
não se importar muito com o estado clínico da mãe; ou, talvez, já tenham se
acostumado com aquela ida sem volta, e continuam a tocar suas próprias vidas,
estas, sim, ainda “vivas”, com muito, ainda, a viver. Um homem com sua solidão, sua dor e sua desesperança.
O texto é
muito bem construído, de fácil assimilação pelo mais simples dos espectadores e
remete a fatos da época, como a morte da Princesa
Diana, em 31 de agosto de 1997,
e da Madre Teresa de Calcutá, em 5 de setembro do mesmo ano, menos de
uma semana depois, traçando um paralelo entre o aspecto humanístico das duas.
Por ser um monólogo,
o espetáculo é sempre um desafio maior, a
meu ver, para quem o dirige, uma vez
que, para cair no enfadonho, não custa muito. FÁTIMA LEITE leva o mérito de trabalhar corretamente o potencial do
ator, OSVAN COSTA, criando ótimas marcações e pausas necessárias ao
aprofundamento de cada ação, gerando um ritmo adequado ao momento. O
trabalho de direção ganhou um
suporte, com a supervisão de um
mestre: AMIR HADDAD.
OSVAN, cujo
trabalho eu não conhecia, salvo engano, e me agradou bastante, interpreta, da forma mais
correta e natural possível, o papel de um homem que, a partir de um percalço,
um imprevisto na vida, sente a sua própria escapando pelo ralo, enquanto a
mulher ainda resiste ao suspiro final. Sua impotência diante do imponderável fica bem estampada e marcada no trabalho do ator, que se doa ao personagem
e nos convence de seus sentimentos por aquele corpo inerte.
Por se tratar de um espetáculo bastante intimista, com a plateia distribuída no
palco do Teatro Dulcina (80 pessoas
apenas), os elementos técnicos
deveriam se ajustar à proposta, como ocorre, representados pela bela e aconchegante iluminação, de AURÉLIO DE SIMONI, e a fria, no bom sentido, como convinha mesmo, cenografia,
de FERNANDO MELLO DA COSTA,
contando, somente, com uma cama de hospital, coberta por um dossel, que pende
de uma altura elevada, provocando um belo efeito plástico e estético, e duas cadeiras,
colocadas uma em cada lado da cabeceira.
LILIAM BUTINI
assina um figurino adequado ao personagem: um terno, “uniforme” de um
funcionário público. Um detalhe interessante é que HENRIQUE não carrega uma maleta, uma pasta, que poderia completar o
figurino, ainda que um acessório,
mas, sim, uma mala, de onde retira objetos que usa em cena e que prefiro não
revelar, para manter a surpresa aos que ainda irão assistir à peça. É uma “mala” pesada, que ele carrega e de onde extrai memórias, simbolizadas por aqueles objetos.
TONI RODRIGUES
é o responsável pela coreografia.
Sim, não se trata de um musical,
mas, em duas cenas, o personagem dança e vale a pena guardar essa surpresa.
A mulher, em estado de coma, fica deitada, na cama
hospitalar, durante toda a peça, imóvel, evidentemente, e é com ela que o protagonista “conversa”. A diretora poderia ter optado por outra
solução, artificial, porém achou por bem colocar em cena uma atriz, CYNTHIA C., o que confere mais
realidade à ação. Trata-se, no fundo, de uma segunda personagem, sem voz, mas com vez, apesar de sua condição
vegetativa, de morta-viva.
Na
ficha técnica, consta uma rubrica
que, nesta montagem, merece bastante atenção: Consultoria, Pesquisa e Colaboração Musical:
ALESSANDRO PERSAN. Isso está ligado às belíssimas canções executadas durante a peça.
ALESSANDRO levava, para os ensaios,
o produto de uma garimpagem e o próprio autor
e a diretora foram responsáveis pela
seleção de seis delas, as quais
pontuam, brilhantemente, algumas cenas: “A Grande Ausente”, de Francis Hime e Paulo César Pinheiro, na voz do
inesquecível compositor e cantor Taiguara;
“Dio Come Ti Amo”, de Domenico Modugno; “Minha”, de Francis Hime
e Ruy Guerra, que dá titulo ao
espetáculo; “Mia” (uma versão, para
o italiano, de “Minha”); “Toque dos Degregados - Cantiga de Pedinte”
(autoria não apurada); e a belíssima “Melodia
Sentimental”, de Heitor Villa Lobos e
Dora Vasconcelos.
FICHA
TÉCNICA:
Texto:
Wilson Sayão
Direção:
Fátima Leite
Elenco:
Osvan Costa (Henrique)
Supervisão:
Amir Haddad
Iluminação:
Aurélio de Simoni
Cenografia:
Fernando Mello da Costa
Figurinos:
Liliam Butini
Coreógrafo:
Toni Rodrigues
Preparação
Vocal: Jaqueline Priston
Direção de
Produção: Rafael Fleury
Coordenação
de Projeto: Osvan Costa
Operação
de Luz: Cris Ferreira
Operação
de Som: Rafael Fleury
Iluminador
Assistente: Guiga Ensa
Contrarregra:
Thiago de Assis
Programação
Visual: Wellington Souza
Ilustração:
Gilberto Nascimento Neto
Fotografia
Still: Serginho Carvalho
Consultoria,
Pesquisa e Colaboração Musical: Alessandro Persan
Assessoria
de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Realização:
Riquixá Invenções Artísticas
SERVIÇO:
Temporada:
De 09 de junho a 08 de julho de 2018.
Local:
Teatro Dulcina - Rua Alcindo Guanabara,
17 – Cinelândia – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e
Horários: De 4ª feira a domingo, às 19h.
Horário de
Funcionamento da Bilheteria: De 4ª feira a domingo, das 14h30min às 19h.
Tel: (21)
2240-4879.
Valor dos
Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
ATENÇÃO:
Às 4ªs feira, há a promoção “quartas populares”, com ingressos a R$10,00 (preço
único).
Capacidade:
80 lugares.
Duração:
60 minutos.
Classificação
Etária: 14 anos
Gênero:
Drama.
Pincei, do texto, algumas frases e
pensamentos que julgo interessantes e muito
apropriados a reflexões:
“O AMOR É
TRISTE, POIS ADIVINHA QUE VAI ACABAR UM DIA.”
“O AMOR É
A PESSOA DE QUEM VOCÊ SE LEMBRA, QUANDO LHE É PERGUNTADO O QUE É O AMOR.”
“MERECE A
FORCA QUEM DEIXA QUALQUER PESSOA SOZINHA NUM DOMINGO.”
“AMAR É
SENTIR QUE NUNCA SE É E NEM NUNCA SE FAZ NINGUÉM FELIZ O BASTANTE.”
“MINHA” é uma bela e comovente peça, que mexe muito com o espectador sensível e atento à dor
alheia. É só deixar a empatia fluir e aplaudir bastante no final.
Recomendo o espetáculo.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE,
JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: SERGINHO CARVALHO.)
Essa peça foi uma das melhores que já assisti.vOsnar e Cynthia atual muito bem! São perfeito, mesmo sem ela falar eles se comunicam. Ela fica uma hora sem nenhuma reação, até a respiração dela o público não ver. Eles são perfeitos!
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