segunda-feira, 29 de novembro de 2021

                          “ONDE ESTÁ

LIZ DOS SANTOS?”

ou

(MENOS É MAIS.)

ou

(O PRÊMIO É

DA DRAMATURGA

E DO PÚBLICO.)

ou

QUE MAL LHE PERGUNTE:

QUEM MATOU MARIELLE?.)




 



É tão gratificante, quando a gente já vai ao Teatro com uma boa expectativa e sai dele felicíssimo, porque a peça é muitas vezes melhor do que se esperava!!! Foi o que aconteceu no último sábado (27 de novembro de 2021), no Teatro Firjan SesiRio de Janeiro. Tudo dentro da maior segurança, com relação aos cuidados com a pandemia de COVID-19. “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”. IMPERDÍVEL!!! Mais uma vez estou escrevendo sobre um espetáculo que, quando esta crítica chegar a você, que me lê, já terá encerrado sua temporada, se bem que, certamente, outras haverá. Mas há uma surpresa, ao final destes escritos. Fica, pelo menos, como registro de um dos melhores momentos do TEATRO presencial, no Rio de Janeiro, neste ano atípico, de 2021, para as atividades teatrais.






A crítica poderia terminar só no primeiro parágrafo, para eu dizer se gostei ou não da obra, mas seria apenas uma rasa opinião, diante do que é necessário que seja escrito sobre essa montagem, cujo texto, SENSACIONAL, diga-se de passagem, foi escrito por BEATRIZ MALCHER, durante a 6ª turma do Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI, com coordenação de DIOGO LIBERANO.



Antes de entrar nas considerações sobre o espetáculo, preciso falar, rapidamente, sobre esse evento promovido pelo SESI. Desde 2014, ele promove, anualmente, durante dez meses, uma Oficina de Dramaturgia, coordenada pelo dramaturgo DIOGO LIBERANO, desde 2017, com apenas quinze alunos. Antes dele, assumiram a Coordenação Marcia ZanelattoCarla Faour e Henrique Tavares. Dos textos escritos, três são selecionados, por um um júri de especialistas, os quais são publicados pela Editora Cobogó, e esse mesmo corpo de jurados elege o melhor texto, ao final da oficina, cujo “prêmio” é uma primeira montagem no Teatro Firjan Sesi, no Rio de Janeiro, com todos os custos de produção arcados pelo Sesi. A atual é a 6ª edição. Acompanho o evento desde sua primeira turma e jamais me decepcionei com os resultados, embora, evidentemente, não conheça os demais textos que participaram da seleção. E não foi diferente com “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”, uma dramaturgia excepcional, calcada num tema atualíssimo e que precisa, SIM, E MUITO, ser discutido e aprofundado.



A título de curiosidade, e para dar divulgação maior ao evento, segue a lista dos textos vencedores, desde a primeira edição, a partir de 2014: “Vende-Se Uma Geladeira Azul”, escrito por Rafael Cali; “E De Repente Uma Ossada De Baleia Emergiu Na Cidade”, escrito, em conjunto, por Andressa Hazboun, Gabriel Barros, Gabriela Giffoni, Pablo Kaschner e Pedro Leal David; “Rose”, escrito por Cecilia Ripoll“Saia”, escrito por Marcéli Torquato; “Cão Gelado”, escrito por Filipe Isensee e “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”, escrito por BEATRIZ MALCHER. Na verdade, houve uma inversão na ordem de montagem dos dois últimos textos, por razões internas.



Seguirei, para compor esta crítica, os subtítulos que dei a ela, começando pelo primeiro, que apresenta uma máxima que, quando posta em prática, muitas vezes, está corretíssima: “MENOS É MAIS”. A montagem é muito simples, “franciscana”, até certo ponto, porém, ao dispensar elementos cênicos dispendiosos e que impressionam, pela plasticidade, acerta a diretora, TATIANA TIBÚRCIO, ao concentrar sua atenção maior no texto, a pérola rara desta encenação, e na interpretação do elenco. E não era preciso mais nada mesmo. Será? Pergunto: de que vale um grande texto, se não é bem encenado? Pode impressionar numa leitura dramatizada, numa leitura de mesa, mas não sobre as tábuas. Isso é uma provocação, para adiantar o que direi, adiante, sobre a direção e o elenco da peça.



TATIANA TIBÚRCIO, além da grande atriz que é, mostrou que também tem competência para dirigir uma boa peça de TEATRO. Ela abriu mão de um cenário que impressionasse e trabalha com, apenas, um pouco menos de dez cadeiras, comuns, em cena, e, com elas, compõe os espaços de que o enredo necessita. CARLOS ALBERTO NUNES assina a direção de arte. E ficou ótimo!!! Os figurinos, também da “lavra” de NUNES, iguais para todos os personagens, uma espécie de “uniforme militar”, na cor cáqui, praticamente, iguala os seres humanos, e lhes esconde as feições, na maior parte da peça, porque todos se apresentam com um capuz, cobrindo-lhes o rosto. A maior parte do elenco assim se apresenta durante todo o espetáculo. E também ficou ótimo!!! Não há grandes efeitos de iluminação, criada por JON THOMAZ, além do estritamente necessário: nada de cores; maior ou menor potência, seguindo a intensidade de cada cena; uma luz projetada ora do fundo do palco para a frente, ora da frente para trás, ora vinda das laterais, criando efeitos simples, porém significativos. Há uma boa direção musical, sob a “batuta” de BEÀ AYÒÓLA, e algumas projeções, com destaque para uma, muito impactante, na última cena, sobre a qual não darei “spoiler”.



É TATIANA quem diz: “Trabalhamos com a cena mais crua possível, no sentido de exigir mais dos atores, sem dar a eles ‘apoios e bengalas’. Trabalhamos com o ator em sua máxima expressividade, para falar do retorno desse extremismo conservador, que a gente já experimentou em ditaduras pelo mundo. Estamos vendo isso tudo voltar, com uma carga muito assustadora”. Percebem a importância desse texto e dessa montagem? E ele ainda apresenta uma grande ironia, que é o fato de todos os personagens se reunirem, em sessões, numa certa "associação", intitulada AA (ASSASSINOS ANÔNIMOS).




Que elenco de magníficos atores! Ao receber o “release”, via RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO), salvo engano, só identifiquei os nomes de JOÃO MABIAL e o de uma excelente atriz, LUCIANA LOPES, que abusou do direito de ser excelente, na montagem de “Salina”, com o “Amok TEATRO”, no Sesc Copacabana, há seis anos, espetáculo ao qual assisti quatro vezes. E ela mostra, novamente, seu imenso talento, nesta montagem, interpretando MARIA DAS GRAÇAS, a mãe da personagem “desaparecida”. Nunca ouvira, antes, falar nos nomes dos demais do elenco, o qual, repito, é formado por ótimos atores e atrizes, com um destaque, além de LUCIANA, para o ator JULIO WENCESLAU, na interpretação do PASTOR HEDELBERTO.



Com relação ao terceiro subtítulo, “QUE MAL LHE PERGUNTE: QUEM MATOU MARIELLE?”, tenho a certeza de que não há a menor necessidade de explicar nada, além de dizer que foram os mesmos que “sumiram” com LIZ DOS SANTOS. E continuam impunes. A história se repete. E todos os dias, infelizmente.



 

 

SINOPSE:

Em uma cidade dominada por um grupo de milicianos, MARIA DAS GRAÇAS (LUCIANA LOPES) busca sua filha, LIZ, uma artista, engajada politicamente, que desapareceu, após ter sido levada a uma delegacia local.

A busca expõe uma trama de violência, que envolve o Estado, a alta burguesia agrária e a Igreja.

Paralelamente, o pastor da cidade se confronta com o seu papel ambíguo nesse cenário.

 

 


Quem escreveu o texto é uma estreante na difícil arte da dramaturgia, BEATRIZ MALCHER, crítica literária, pesquisadora e professora de literatura, que colocou, no papel, tudo aquilo que, infelizmente, vimos assistindo há alguns anos, no Brasil, principalmente nos últimos três. Mais atual não poderia ser. Basta observar algumas palavras do coordenador do projeto, DIOGO LIBERANO, extraídas, com cortes, do já referido “release”: “Os derrotados nunca puderam contar a história do mundo. A narrativa sempre coube aos vencedores, dominadores e bárbaros. Mas, mesmo nos regimes mais autoritários e violentos, as vítimas têm a oportunidade de deixar sua mensagem para as gerações futuras. É a partir dessa reflexão que se desenvolve o drama “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”.



E o Brasil atual continua em cena, uma vez que “o espetáculo conta uma história de perseguições, desaparecimentos e submissões, que apresenta paralelos com a realidade brasileira. A trama se desenrola em uma cidade dominada por um grupo de milicianos, onde a posse de armas está liberada.” É preciso desenhar?! MARIA DAS GRAÇAS busca sua filha, LIZ, que “desapareceu”, após ter sido levada a uma delegacia local. O Brasil é um país de muitas “maria das graças e liz”, também representadas pelo gênero masculino, ou lá o que seja. Principalmente, ou quase sempre, quando são pretos e pobres.




O realismo contido no texto vem do fato de que, para escrevê-lo, a autora partiu de muitas entrevistas que leu com/sobre pessoas que viveram ou testemunharam situações análogas às da peça, moradoras em áreas dominadas pela milícia e em um episódio que ouviu, de uma senhora, na porta do banco: ela perdera um filho, a casa e o negócio, depois que a família deixou de pagar pelos serviços cobrados pelo grupo clandestino.



São palavras da dramaturga: “Li bastante sobre milícia, nos últimos meses, para construir a trama, mas a peça parte de um ambiente dominado por esse grupo, para refletir sobre as posturas autoritárias, violentas e fascistas, que fazem parte da história do Brasil e do mundo. De tempos em tempos, essas posturas ficam mais afloradas. A narrativa também é contada a partir de obras, no estilo lambe-lambe, deixadas pela personagem-título, uma artista desaparecida que, a partir do seu trabalho, fazia denúncias políticas”. E segue a autora: “Eu queria trabalhar com indivíduos desaparecidos, mas que tivessem voz. Eu não queria fazer como o sistema e apagar essas pessoas do mapa. Decidi usar colagens, feitas por mim mesma, que são projetadas em cena, para mostrar a obra de uma artista sem recursos, que está tentando ganhar a vida em outra cidade. Colei olhos de pessoas reais, que estão mortas ou têm paradeiro desconhecido. Enquanto existir gente que se lembre dessas pessoas e que passem suas mensagens adiante, elas não estarão derrotadas. Elas ficarão de olhos abertos”, completa.



Ratifico o que disse no segundo subtítulo: “O PRÊMIO É DA DRAMATURGA E DO PÚBLICO.”. Embora seja um espetáculo muito denso, com cenas um pouco chocantes e que mexem com a nossa sensibilidade, comprimem feridas ainda não cicatrizadas, considero um “prêmio”, para quem sai de suas casas, para ir a um Teatro, em plena pandemia de COVID-19, ainda que com todos os cuidados, por parte do Teatro, ter a oportunidade de assistir a este ótimo espetáculo.

 



 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Dramaturgia: Beatriz Malcher

Direção: Tatiana Tiburcio

Assistência de Direção: Julio Wenceslau

 

ELENCO: Anderson Guimarães (Matteo “Dentinho”), Clarissa Menezes (DR. Ribeiro/Marissa), Fernanda Dias (Carla Jordão), João Mabial (Delegado Sebastião), Julio Wenceslau (Pastor Hedelberto) e Luciana Lopes (Maria das Graças)

 

Direção de Arte (Cenário e Figurino): Carlos Alberto Nunes

Iluminação: Jon Thomaz

Direção Musical: Beà Ayòóla

Costura Cênica: Katia Salles e Nilce Maldonado

Confecção de Máscara: Vanessa Dias

Operação de Som: Nádia Bittencourt

Operação de Projeção: Andressa Núbia

Fotos: Daniel Barboza e Diogo Nunes

Programação Visual: Bianca Oliveira – Estúdio da Bica

Redes Sociais: Lyana Ferraz e Gabriel Innocencio

Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)

Produção: Clarissa Menezes

Assistência de Produção: Júlia Sarraf

Coordenação do Projeto: Diogo Liberano

 

 



        Se a temporada terminou ontem, 28 de novembro de 2021, não faria sentido acrescentar, a esta crítica, o SERVIÇO, contudo aqui está a surpresa anunciada lá em cima. É que o espetáculo, que reflete sobre as relações de poder nas sociedades autoritárias, entrará em cartaz, no formato “on-line”, de 1º a 30 de dezembro / 2021, pelo YOUTUBE. O SERVIÇO abaixo refere-se a essa temporada.

 




 

SERVIÇO:

 

Temporada Virtual: de 01 a 30/12. Poderá ser acessado em qualquer dia e horário, durante esse período.

Onde Assisir: Canal do Youtube Firjan SESI (www.youtube.com/c/FirjanSesi)

Ingressos: GRATUITOS

Duração: 1h15min

Classificação Etária: 14 anos.

 

 




        Perguntem se assistirei, mais de uma vez, à versão virtual!!! Nem vou responder. Façam o mesmo e não se arrependerão!


        RECOMENDO MUITO ESTE TRABALHO!!!





Tatiana Tiburcio, a diretora.

 

 

 

FOTOS: DANIEL BARBOZA

e

DIOGO NUNES

 

 


GALERIA PARTICULAR:


Com os amigos Bruno Morais, 
Miriam e Luciana Lopes.


Com Tatiana Tiburcio





E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

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