segunda-feira, 29 de novembro de 2021

                          “ONDE ESTÁ

LIZ DOS SANTOS?”

ou

(MENOS É MAIS.)

ou

(O PRÊMIO É

DA DRAMATURGA

E DO PÚBLICO.)

ou

QUE MAL LHE PERGUNTE:

QUEM MATOU MARIELLE?.)




 



É tão gratificante, quando a gente já vai ao Teatro com uma boa expectativa e sai dele felicíssimo, porque a peça é muitas vezes melhor do que se esperava!!! Foi o que aconteceu no último sábado (27 de novembro de 2021), no Teatro Firjan SesiRio de Janeiro. Tudo dentro da maior segurança, com relação aos cuidados com a pandemia de COVID-19. “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”. IMPERDÍVEL!!! Mais uma vez estou escrevendo sobre um espetáculo que, quando esta crítica chegar a você, que me lê, já terá encerrado sua temporada, se bem que, certamente, outras haverá. Mas há uma surpresa, ao final destes escritos. Fica, pelo menos, como registro de um dos melhores momentos do TEATRO presencial, no Rio de Janeiro, neste ano atípico, de 2021, para as atividades teatrais.






A crítica poderia terminar só no primeiro parágrafo, para eu dizer se gostei ou não da obra, mas seria apenas uma rasa opinião, diante do que é necessário que seja escrito sobre essa montagem, cujo texto, SENSACIONAL, diga-se de passagem, foi escrito por BEATRIZ MALCHER, durante a 6ª turma do Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI, com coordenação de DIOGO LIBERANO.



Antes de entrar nas considerações sobre o espetáculo, preciso falar, rapidamente, sobre esse evento promovido pelo SESI. Desde 2014, ele promove, anualmente, durante dez meses, uma Oficina de Dramaturgia, coordenada pelo dramaturgo DIOGO LIBERANO, desde 2017, com apenas quinze alunos. Antes dele, assumiram a Coordenação Marcia ZanelattoCarla Faour e Henrique Tavares. Dos textos escritos, três são selecionados, por um um júri de especialistas, os quais são publicados pela Editora Cobogó, e esse mesmo corpo de jurados elege o melhor texto, ao final da oficina, cujo “prêmio” é uma primeira montagem no Teatro Firjan Sesi, no Rio de Janeiro, com todos os custos de produção arcados pelo Sesi. A atual é a 6ª edição. Acompanho o evento desde sua primeira turma e jamais me decepcionei com os resultados, embora, evidentemente, não conheça os demais textos que participaram da seleção. E não foi diferente com “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”, uma dramaturgia excepcional, calcada num tema atualíssimo e que precisa, SIM, E MUITO, ser discutido e aprofundado.



A título de curiosidade, e para dar divulgação maior ao evento, segue a lista dos textos vencedores, desde a primeira edição, a partir de 2014: “Vende-Se Uma Geladeira Azul”, escrito por Rafael Cali; “E De Repente Uma Ossada De Baleia Emergiu Na Cidade”, escrito, em conjunto, por Andressa Hazboun, Gabriel Barros, Gabriela Giffoni, Pablo Kaschner e Pedro Leal David; “Rose”, escrito por Cecilia Ripoll“Saia”, escrito por Marcéli Torquato; “Cão Gelado”, escrito por Filipe Isensee e “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”, escrito por BEATRIZ MALCHER. Na verdade, houve uma inversão na ordem de montagem dos dois últimos textos, por razões internas.



Seguirei, para compor esta crítica, os subtítulos que dei a ela, começando pelo primeiro, que apresenta uma máxima que, quando posta em prática, muitas vezes, está corretíssima: “MENOS É MAIS”. A montagem é muito simples, “franciscana”, até certo ponto, porém, ao dispensar elementos cênicos dispendiosos e que impressionam, pela plasticidade, acerta a diretora, TATIANA TIBÚRCIO, ao concentrar sua atenção maior no texto, a pérola rara desta encenação, e na interpretação do elenco. E não era preciso mais nada mesmo. Será? Pergunto: de que vale um grande texto, se não é bem encenado? Pode impressionar numa leitura dramatizada, numa leitura de mesa, mas não sobre as tábuas. Isso é uma provocação, para adiantar o que direi, adiante, sobre a direção e o elenco da peça.



TATIANA TIBÚRCIO, além da grande atriz que é, mostrou que também tem competência para dirigir uma boa peça de TEATRO. Ela abriu mão de um cenário que impressionasse e trabalha com, apenas, um pouco menos de dez cadeiras, comuns, em cena, e, com elas, compõe os espaços de que o enredo necessita. CARLOS ALBERTO NUNES assina a direção de arte. E ficou ótimo!!! Os figurinos, também da “lavra” de NUNES, iguais para todos os personagens, uma espécie de “uniforme militar”, na cor cáqui, praticamente, iguala os seres humanos, e lhes esconde as feições, na maior parte da peça, porque todos se apresentam com um capuz, cobrindo-lhes o rosto. A maior parte do elenco assim se apresenta durante todo o espetáculo. E também ficou ótimo!!! Não há grandes efeitos de iluminação, criada por JON THOMAZ, além do estritamente necessário: nada de cores; maior ou menor potência, seguindo a intensidade de cada cena; uma luz projetada ora do fundo do palco para a frente, ora da frente para trás, ora vinda das laterais, criando efeitos simples, porém significativos. Há uma boa direção musical, sob a “batuta” de BEÀ AYÒÓLA, e algumas projeções, com destaque para uma, muito impactante, na última cena, sobre a qual não darei “spoiler”.



É TATIANA quem diz: “Trabalhamos com a cena mais crua possível, no sentido de exigir mais dos atores, sem dar a eles ‘apoios e bengalas’. Trabalhamos com o ator em sua máxima expressividade, para falar do retorno desse extremismo conservador, que a gente já experimentou em ditaduras pelo mundo. Estamos vendo isso tudo voltar, com uma carga muito assustadora”. Percebem a importância desse texto e dessa montagem? E ele ainda apresenta uma grande ironia, que é o fato de todos os personagens se reunirem, em sessões, numa certa "associação", intitulada AA (ASSASSINOS ANÔNIMOS).




Que elenco de magníficos atores! Ao receber o “release”, via RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO), salvo engano, só identifiquei os nomes de JOÃO MABIAL e o de uma excelente atriz, LUCIANA LOPES, que abusou do direito de ser excelente, na montagem de “Salina”, com o “Amok TEATRO”, no Sesc Copacabana, há seis anos, espetáculo ao qual assisti quatro vezes. E ela mostra, novamente, seu imenso talento, nesta montagem, interpretando MARIA DAS GRAÇAS, a mãe da personagem “desaparecida”. Nunca ouvira, antes, falar nos nomes dos demais do elenco, o qual, repito, é formado por ótimos atores e atrizes, com um destaque, além de LUCIANA, para o ator JULIO WENCESLAU, na interpretação do PASTOR HEDELBERTO.



Com relação ao terceiro subtítulo, “QUE MAL LHE PERGUNTE: QUEM MATOU MARIELLE?”, tenho a certeza de que não há a menor necessidade de explicar nada, além de dizer que foram os mesmos que “sumiram” com LIZ DOS SANTOS. E continuam impunes. A história se repete. E todos os dias, infelizmente.



 

 

SINOPSE:

Em uma cidade dominada por um grupo de milicianos, MARIA DAS GRAÇAS (LUCIANA LOPES) busca sua filha, LIZ, uma artista, engajada politicamente, que desapareceu, após ter sido levada a uma delegacia local.

A busca expõe uma trama de violência, que envolve o Estado, a alta burguesia agrária e a Igreja.

Paralelamente, o pastor da cidade se confronta com o seu papel ambíguo nesse cenário.

 

 


Quem escreveu o texto é uma estreante na difícil arte da dramaturgia, BEATRIZ MALCHER, crítica literária, pesquisadora e professora de literatura, que colocou, no papel, tudo aquilo que, infelizmente, vimos assistindo há alguns anos, no Brasil, principalmente nos últimos três. Mais atual não poderia ser. Basta observar algumas palavras do coordenador do projeto, DIOGO LIBERANO, extraídas, com cortes, do já referido “release”: “Os derrotados nunca puderam contar a história do mundo. A narrativa sempre coube aos vencedores, dominadores e bárbaros. Mas, mesmo nos regimes mais autoritários e violentos, as vítimas têm a oportunidade de deixar sua mensagem para as gerações futuras. É a partir dessa reflexão que se desenvolve o drama “ONDE ESTÁ LIZ DOS SANTOS?”.



E o Brasil atual continua em cena, uma vez que “o espetáculo conta uma história de perseguições, desaparecimentos e submissões, que apresenta paralelos com a realidade brasileira. A trama se desenrola em uma cidade dominada por um grupo de milicianos, onde a posse de armas está liberada.” É preciso desenhar?! MARIA DAS GRAÇAS busca sua filha, LIZ, que “desapareceu”, após ter sido levada a uma delegacia local. O Brasil é um país de muitas “maria das graças e liz”, também representadas pelo gênero masculino, ou lá o que seja. Principalmente, ou quase sempre, quando são pretos e pobres.




O realismo contido no texto vem do fato de que, para escrevê-lo, a autora partiu de muitas entrevistas que leu com/sobre pessoas que viveram ou testemunharam situações análogas às da peça, moradoras em áreas dominadas pela milícia e em um episódio que ouviu, de uma senhora, na porta do banco: ela perdera um filho, a casa e o negócio, depois que a família deixou de pagar pelos serviços cobrados pelo grupo clandestino.



São palavras da dramaturga: “Li bastante sobre milícia, nos últimos meses, para construir a trama, mas a peça parte de um ambiente dominado por esse grupo, para refletir sobre as posturas autoritárias, violentas e fascistas, que fazem parte da história do Brasil e do mundo. De tempos em tempos, essas posturas ficam mais afloradas. A narrativa também é contada a partir de obras, no estilo lambe-lambe, deixadas pela personagem-título, uma artista desaparecida que, a partir do seu trabalho, fazia denúncias políticas”. E segue a autora: “Eu queria trabalhar com indivíduos desaparecidos, mas que tivessem voz. Eu não queria fazer como o sistema e apagar essas pessoas do mapa. Decidi usar colagens, feitas por mim mesma, que são projetadas em cena, para mostrar a obra de uma artista sem recursos, que está tentando ganhar a vida em outra cidade. Colei olhos de pessoas reais, que estão mortas ou têm paradeiro desconhecido. Enquanto existir gente que se lembre dessas pessoas e que passem suas mensagens adiante, elas não estarão derrotadas. Elas ficarão de olhos abertos”, completa.



Ratifico o que disse no segundo subtítulo: “O PRÊMIO É DA DRAMATURGA E DO PÚBLICO.”. Embora seja um espetáculo muito denso, com cenas um pouco chocantes e que mexem com a nossa sensibilidade, comprimem feridas ainda não cicatrizadas, considero um “prêmio”, para quem sai de suas casas, para ir a um Teatro, em plena pandemia de COVID-19, ainda que com todos os cuidados, por parte do Teatro, ter a oportunidade de assistir a este ótimo espetáculo.

 



 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Dramaturgia: Beatriz Malcher

Direção: Tatiana Tiburcio

Assistência de Direção: Julio Wenceslau

 

ELENCO: Anderson Guimarães (Matteo “Dentinho”), Clarissa Menezes (DR. Ribeiro/Marissa), Fernanda Dias (Carla Jordão), João Mabial (Delegado Sebastião), Julio Wenceslau (Pastor Hedelberto) e Luciana Lopes (Maria das Graças)

 

Direção de Arte (Cenário e Figurino): Carlos Alberto Nunes

Iluminação: Jon Thomaz

Direção Musical: Beà Ayòóla

Costura Cênica: Katia Salles e Nilce Maldonado

Confecção de Máscara: Vanessa Dias

Operação de Som: Nádia Bittencourt

Operação de Projeção: Andressa Núbia

Fotos: Daniel Barboza e Diogo Nunes

Programação Visual: Bianca Oliveira – Estúdio da Bica

Redes Sociais: Lyana Ferraz e Gabriel Innocencio

Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)

Produção: Clarissa Menezes

Assistência de Produção: Júlia Sarraf

Coordenação do Projeto: Diogo Liberano

 

 



        Se a temporada terminou ontem, 28 de novembro de 2021, não faria sentido acrescentar, a esta crítica, o SERVIÇO, contudo aqui está a surpresa anunciada lá em cima. É que o espetáculo, que reflete sobre as relações de poder nas sociedades autoritárias, entrará em cartaz, no formato “on-line”, de 1º a 30 de dezembro / 2021, pelo YOUTUBE. O SERVIÇO abaixo refere-se a essa temporada.

 




 

SERVIÇO:

 

Temporada Virtual: de 01 a 30/12. Poderá ser acessado em qualquer dia e horário, durante esse período.

Onde Assisir: Canal do Youtube Firjan SESI (www.youtube.com/c/FirjanSesi)

Ingressos: GRATUITOS

Duração: 1h15min

Classificação Etária: 14 anos.

 

 




        Perguntem se assistirei, mais de uma vez, à versão virtual!!! Nem vou responder. Façam o mesmo e não se arrependerão!


        RECOMENDO MUITO ESTE TRABALHO!!!





Tatiana Tiburcio, a diretora.

 

 

 

FOTOS: DANIEL BARBOZA

e

DIOGO NUNES

 

 


GALERIA PARTICULAR:


Com os amigos Bruno Morais, 
Miriam e Luciana Lopes.


Com Tatiana Tiburcio





E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

“O DRAGÃO”

ou

(É OBRA-PRIMA

QUE SE DIZ, NÃO É?)

ou

(ESTE É O BRASIL

QUE QUEREMOS

E MERECEMOS:

COM MUITA

ARTE BOA.)

ou

(É TUDO TÃO PLURAL,

É TUDO TÃO SUPERLATIVO,

É TUDO TÃO ABUNDANTE,

É TUDO TÃO DESLUMBRANTE,

É TUDO TÃO...)

  

 

 

        Já experimentaram a sensação de perder o fôlego, diante de algo tão fantástico e inacreditável, dentro de um espaço destinado ao TEATRO? Eu já, algumas vezes, e a mais recente foi na noite de 08 de novembro passado, e repetida quinze dias após a primeira experiência, quando fui ao ARMAZÉM DA UTOPIA, que corresponde ao armazém 6 e algumas áreas anexas, do Porto do Rio de Janeiro, transformado em espaço para a ARTE, mais especificamente, para o TEATRO, para assistir a “O DRAGÃO”, encenado pela COMPANHIA ENSAIO ABERTO.

      Antes, porém, de iniciar a análise dessa verdadeira OBRA-PRIMA, preciso falar um pouco sobre o ARMAZÉM DA UTOPIA, de como aquela área se tornou um espaço artístico, e da COMPANHIA ENSAIO ABERTO. Para tanto, vou tomar como base dois “releases”, que me foram enviados por FLÁVIA TENÓRIO (LEAD Comunicação – Assessoria de Imprensa).



  Desativado, a partir de 2010, o armazém portuário ganhou uma nova função social, totalmente diferente do objetivo para o qual fora construído. Foi a partir de então, que a COMPANHIA ENSAIO ABERTO passou a utilizá-lo, para suas atividades de TEATRO, e ele recebeu o nome de ARMAZÉM DA UTOPIA. A COMPANHIA tinha, e tem até hoje, como princípio, “forte atuação em projetos de democratização do acesso, de inclusão social, de formação e capacitação, atendendo a todo o estado do Rio de Janeiro, fortalecendo a 'Lei Porto Cidade', a qual preconiza que o porto deve estar voltado aos interesses da cidadeAlém de local para as apresentações dos espetáculos produzidos pela COMPANHIA, o espaço também abriga os acervos de figurino, objetos de cena e cenografia de 27 espetáculos teatrais do grupo, que completa 30 anos em 2022”.

 Este ano, de 2021, apesar de tanta tristeza em que estamos mergulhados, por conta da pandemia de COVID-19, a COMPANHIA ENSAIO ABERTO tem algo muito importante para comemorar. É que, oficialmente, o ARMAZÉM DA UTOPIA se tornou Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro, título aprovado, recentemente, por unanimidade, pela Alerj, o que abrange o imóvel e todas as atividades exercidas no ARMAZÉM DA UTOPIA - armazém 6 e áreas anexas (anexo 5/6 e pátio 6/7).



 Sobre a COMPANHIA ENSAIO ABERTO, é necessário dizer que ela está às vésperas de completar 30 anos de excelentes serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO, tendo nascido no ano de 1992, “com a proposta de retomar o TEATRO épico, no Brasil, e fazer, dos palcos, uma arena de discussão da realidade, resgatando sua vocação crítica e politizada”. Fundada pelo ator e diretor LUIZ FERNANDO LOBO e pela atriz TUCA MORAES, a COMPANHIA “explora a ideia do ensaio, como experimento, e busca romper a ilusão do TEATRO, questionando e reinventando a relação palco-plateia”.

  Com quase trinta espetáculos em seu currículo, não me lembro de um – assisti a quase todos - que não me tenha agradado imensamente, assim como ao grande público e à crítica especializada: Cito alguns: “O Cemitério dos Vivos (1993), a primeira montagem da COMPANHIA, com uma segunda edição, em 1994; “A Missão”, ainda em 1993; “Cabaré Youkalt (1995); “A Mãe” e “O Noviço”, ambas em 1996; “Missa dos Quilombos”, em 2002, um acontecimento na cidade do Rio de Janeiro, que ficou mais de dez anos em cartaz e tornou-se um símbolo do trabalho do grupo; “Havana Café” (2004); “Olga Benário, Um Breve Futuro” (2006); “Sacco e Vanzetti”, em 2014, outra montagem emblemática da COMPANHIA; “Que Tempos São Esses?” (2016), uma criação a partir da obra de Bertolt Brechet; “Dez Dias Que Abalaram O Mundo” (2017); “A Mandrágora”, a última montagem da ENSAIO ABERTO, até então, em 2019, um dos maiores sucessos da temporada teatral carioca, da época.



  “O DRAGÃO” é um belo exemplo do TEATRO ÉPICO, texto do dramaturgo e escritor russo EUGÈNE SCHWARTZ, uma superultramegahipermaster” produção, envolvendo proporções e números “estratosféricos”, pouquíssimas vezes às vistas de um público de TEATRO. É sua obra mais conhecida e aplaudida no mundo ocidental. SCHWARTZ começou a escrever a peça às vésperas do início da Segunda Guerra Mundial (1941). Forçado ao exílio, o autor só retomou a escrita desse texto em 1943. No final de 1944, a peça foi encenada, em Moscou, e suspensa, CENSURADA, após a primeira apresentação. A representação só foi retomada em 1964, 20 anos depois. EUGÈNE SCHWARTZ morreu em 1958 e não teve a oportunidade de assistir sua obra no palco.

  Segundo LUIZ FERNANDO LOBO, diretor do espetáculo, “O DRAGÃO é encenado no mundo inteiro até hoje. É uma peça que, apesar de escrita em 1943, traz, de volta, as conquistas do TEATRO russo-soviético dos anos 20 e dos anos 30 e traz a mágica de volta para o TEATRO, embora essa mágica não seja uma mágica alienante. Um texto profundamente político, mas no qual a fantasia tem um papel fundamental.”.


 

 

 

SINOPSE:

Há 400 anos, uma cidade é dominada e enganada por um DRAGÃO de três cabeças.

Um conto de fadas para adultos, uma fábula, que narra a história de um povo que não conhece a verdadeira liberdade.

A montagem da COMPANHIA ENSAIO ABERTO leva à cena o encantamento e a imaginação dos contos fantásticos.

A peça conta a história do cavaleiro LANCELOT (LEONARDO HINCKEL), que se propõe a matar o DRAGÃO (LUIZ FERNANDO LOBO), no entanto, em sua busca, ele tropeça em uma comunidade, governada por uma hierarquia burocrática, usando o DRAGÃO para cobrir seu próprio uso de poder.

Esta peça, a mais “madura” das peças de SCHWARTZ, considerado um “autor para crianças”, é uma sátira política, abordando o totalitarismo em todas as formas.

O enredo é baseado na tentativa do herói, LANCELOT, de libertar as pessoas, em uma terra que sofre, sob o domínio brutal do DRAGÃO, mas seus esforços encontram resistência, já que a maioria das pessoas se acostumou com o monstro, e considerou seus métodos, embora severos, o único caminho possível; suas almas tornam-se, de certa forma, aleijadas, por causa dessa incapacidade e indisposição de resistir.

Diz o DRAGÃO, na peça: “Veja! A alma humana é muito resistente. Corte o corpo ao meio, e o homem coaxa. Mas rasgue a alma, e ela só se torna mais flexível, só isso. Não, sério! Você não poderia escolher uma melhor variedade de almas em qualquer lugar. Só na minha cidade. Almas sem mãos. Almas sem pernas. Almas mudas, almas surdas, almas acorrentadas, almas delatoras, almas condenadas.”

LANCELOT, matando o DRAGÃO, em uma luta sangrenta, não libertou o povo; tudo o que mudou foi o BURGOMESTRE (CLÁUDIO SERRA), aceitando a posição anteriormente ocupada pela fera e exigindo que ELSA (LUIZA MORAES), a mesma garota que estava destinada a ser sacrificada ao DRAGÃO, se tornasse sua esposa.

Quando LANCELOT retorna à cidade, um ano depois, percebe que sua tarefa é muito mais complexa: “Este vai ser um trabalho muito meticuloso ... Temos que matar o DRAGÃO em cada um deles.”

 

 


 


  Apontado, pelos que estudam a sua obra, como “um bom contador de histórias”, EUGENE L. SCHWARTZ sempre pediu que, em seus contos, não se procurassem subtextos e alegorias. Paradoxalmente, entretanto, o próprio afirmou – li na crítica escrita pelo amigo, Wagner Corrêa de Araújo – que “Não se conta um conto de fadas para esconder, não. Mas para revelar, para dizer, o mais alto que puder, tudo que você sente.. Não há como não enxergar ambiguidades no texto desta peça! O certo é que ele jamais poderia contar que seu pedido fosse atendido, uma vez que o texto de “O DRAGÃO” é cheio de metáforas e alegorias, recados dados nas entrelinhas, e, mesmo que alguém não assista a esta peça, por exemplo, perceberá, apenas pela SINOPSE, que essas metáforas e alegorias abundam, notará muitos pontos em comum com a nossa triste realidade brasileira de hoje e que a obra é atemporal, uma vez que opressores e oprimidos sempre existiram e, parece que não há jeito, sempre existirão, mundo afora, mais em alguns lugares que em outros.



  Farei uma pequena digressão, para relatar um fato muito marcante, para mim, porque justifica o que eu disse no parágrafo supra, ocorrido, logo no início dos anos 1970, quando eu protagonizei uma peça “infantil”, de Oscar Von Pfhul, a qual contava, no elenco, com Regina Duarte, apolítica, à época, no auge de seu sucesso na TV, e com um jovem, recém-chegado de Brasília, chamado Ney de Souza Pereira, que viria, logo depois, a estourar, no mercado artístico-fonográfico, como Ney Matogrosso. A peça chamava-se “Dom Chicote Mula Manca E Seu Fiel Companheiro Zé Chupança”, uma “paródia” do “Quixote”. O meu personagem, assim como o herói de Cervantes, era louco e se julgava um cavaleiro, “defensor dos fracos e oprimidos”, até que se propõe a ajudar um pequeno pastor de ovelhas, personagem de Regina, cujos animais que estavam sob sua guarda haviam sido roubados. Depois de muitas peripécias, o herói descobre que quem havia mandado roubar os animais era o próprio rei e segue, com uma passeata, até o palácio, para, segundo ele, “fazer justiça”. Isso, essa “justiça”, fica meio em aberto. Não se esqueçam de que os milicos estavam no poder. Aliás, na época da ditadura militar, era muito comum os autores se utilizarem das histórias infantis, para fazer seus protestos e colocação de suas verdades e reivindicações, nas entrelinhas. Pois bem, num belo dia, à saída do espetáculo, eu e Regina estávamos comprando pipocas, no pipoqueiro que fazia ponto na porta do antigo Teatro Casa Grande, quando um menininho, dos seus oito ou nove anos, acompanhado da mãe – ambos haviam assistido à peça – perguntou-lhe, bem alto: “Mãe, aquele rei é o Médici, não é?” (O ditador de plantão.) Silêncio total, depois do “Cala a boca, menino!”, saído da mãe. Ele, muito perspicaz, havia associado rei e ditador ao poder, porque, certamente, devia ouvir, em casa, comentários negativos sobre o general.



  Façamos de conta, agora, que a cidadezinha dominada e explorada pelo DRAGÃO possa ser ampliada para um país. Estaríamos longe de alguma verdade? Façamos mais de conta: que o DRAGÃO possa assumir uma forma humana, como na peça (Só na forma.), que já tivesse vestido farda, a qual jamais honrou, e se julga eleito para ser um imperador ditador, e não um presidente de uma República, que deveria viver sob a égide do estado soberano de direito, respeitando uma Constituição! Onde estaria o erro?! E o que dizer de um povo que, por tantos anos, se acostumou a ser subjugado e pensa que não tem forças para lutar contra o DRAGÃO ou que é adepto ao “ruim com ele, pior sem ele”? E não seria verdade que matar o DRAGÃO não bastaria, para livrar o povo de seu jugo? Quantos filhotes ele já gerou? TERÍAMOS QUE MATAR UM DRAGÃO POR DIA. OU POR HORA? OU POR MINUTO? OU POR SEGUNDO? A “falange” é grande!

  “Trata-se de uma peça satírica, vista como subversiva no clima político da Rússia do pós-guerra.”. Hoje, pelo menos por enquanto, podemos ter o prazer de assistir a ela, porque, talvez, uma censura explícita não fosse o melhor para “eles”. “Eles”? Sim, “eles”. Durante os “anos de chumbo”, a probabilidade de este espetáculo ter sido encenado, creio, seria muito pouca, ou nenhuma. Porque ele fala a verdade; porque ele mostra os desmandos e os abusos dos ditadores; porque ele mexe nas feridas, que “eles” preferem, e precisam, manter protegidas por um bom curativo, que as oculte...



   Creio que tudo o que deveria falar sobre a qualidade do texto já o fiz, mas é preciso, também que se faça menção a quem se dedicou à sua tradução, MARIA JULIETA DRUMMOND DE ANDRADE, de modo a manter o que penso estar contido no original e a fazê-lo fluir correntemente, sem mistérios para a compreensão da narrativa. A indicação etária é de 12 anos, porém, talvez, pudesse ser diminuída, já que “entender a história”, do ponto de vista de uma fábula, pode ser tarefa acessível a crianças acima dos 8 anos, talvez. Já as entrelinhas... Nem muitos adultos conseguem enxergar o que há nelas, infelizmente.

   Costumam dizer que um desfile de escolas de samba pode ser considerado uma “ópera ao ar livre”, que necessita de muitas pessoas gabaritadas, para garantir o sucesso do desfile. Agora, pensemos que “O DRAGÃO” é uma montagem de tão alta complexidade, sob a ótica dos elementos estruturais, que garantem um espetáculo de elevadíssimo gabarito. É um trabalho coletivo, como qualquer montagem teatral também, contudo necessita de um batalhão de competentes profissionais, para dar conta de toda a magia que ele nos proporciona; todos, porém, seguindo a batuta de um grande “maestro”, LUIZ FERNANDO LOBO, à frente da direção do espetáculo.



   Tudo, nele, é plural, superlativo, abundante, deslumbrante, que eu não me cansaria de revê-lo várias vezes. Ainda pretendo ter esse imenso prazer uma terceira vez, talvez, no último dia da temporada.

  É magistral a direção de LUIZ FERNANDO LOBO: original, inventiva e de muito bom gosto e competência, sabendo explorar, com maestria, todo o gigantesco espaço de que dispõe, para transformá-lo num espaço cênico. Só vendo, para crer! LOBO definiu, para os atores, uma linha de interpretação magnífica, focando numa proposta que, a princípio, pode parecer artificial, meio farsesca; mas não o é. É de propósito, e o resultado é excelente. Muita impostação de voz e um trabalho de projeção e postura corporal impecáveis. Para esta última parte, contou com o apoio profissional de PAULO MAZZONI, na preparação corporal de solo e aérea, e de JULIANA MEDELLA.



  Um elemento que chama muito a atenção, que me fascinou, sobremaneira, foi a direção musical, a cargo de FELIPE RADICETTI. Acho que já posso contar, aí, com os três sinais para o início da peça, feitos por fortes sons de trombetas, anunciando que algo de magnífico se aproxima. Depois, durante todo o espetáculo, as vinhetas e as canções inseridas na montagem são de mexer com o nosso coração; sons épicos, que estão totalmente acordes com a narrativa e a proposta do espetáculo. Grande trabalho! Tudo dentro do universo dos filmes épicos.

   Meu Deus! O que dizer da cenografia, idealizada e criada por um dos maiores cenógrafos deste país, J. C. SERRONI, premiadíssimo e que merecia, este ano, todos os prêmios, por seu exuberante cenário alegórico? Tudo é belo, no espetáculo, mas o cenário chama muito a nossa atenção, por suas dimensões, sua confecção, os detalhes nele contidos e pela brilhante ideia de ser construído em partes, que se juntam, como um quebra-cabeças. Algo, praticamente, indescritível. Além de ressignificar todos os espaços do ARMAZÉM 6 e arredores, já criando um clima, para o espectador, quando este adentra aquele espaço, o cenário, propriamente dito, da peça é algo que jamais conseguirei apagar da minha memória. Ele é composto por cinco grandes plataformas, como se fossem carros alegóricos, de uma escola de samba, manejados, comandados, movimentados pelos próprios atores, peças essas que se juntam, se encaixam, perfeitamente, para criar um cenário/espaço maior, como a casa do arquivista CARLOS MAGNO (GILBERTO MIRANDA) e o palácio real, por exemplo. São, triplamente, grandiosos: nas suas proporções físicas, na sua beleza e na funcionalidade. São dois, nas laterais, à frente; dois, atrás destes; e um quinto, ao fundo, que só é movimentado, aproximado-se do público, no encerramento da peça. J.C. SERRONI é um gênio, que eu já admiro, faz tempo, e que, agora, me faz seu maior fã e admirador de seu trabalho.



  E o que dizer dos figurinos, de BETH FILIPECKI e RENALDO MACHADO? Lindos e criativos! Os dois artistas utilizam-se de materiais não tão dispendiosos, porém que produzem efeitos belíssimos, sem falar no aproveitamento de sucatas, se não cometo algum engano, do uso de objetos transformados em outros, como bacias, que viram escudos, com toques de alguma customização, e, a utilização de partes de figurinos de espetáculos já montados pela COMPANHIA, creio, com as devidas modificações e acertos. Penso que foi dessa forma que se chegou ao figurino da peça, também com a criação de peças inéditas, é claro! Mas o que importa é o efeito que o conjunto da obra faz. Figurino também digno de premiações.

Aproveito o ensejo para elogiar o trabalho de EDUARDO ANDRADE / ARTE 5, pela confecção do DRAGÃO ALADO e da máscara do GATO, duas obras primorosas.


 

   CESAR DE RAMIRES assina uma iluminação que eu diria que não seria para um TEATRO convencional. O desenho de luz, que se aplica a todo o espaço do ARMAZÉM, é das coisas mais lindas e vibrantes que já vi num palco de TEATRO. Digo “de TEATRO”, porque a luz nos remonta a grandes, megas, espetáculos de bandas, em festivais de música: muita luz; uma orgia de cores; fantásticos efeitos artísticos, para os momentos de tensão; criação de sombras necessárias a algumas cenas; valorização de alguns mini espaços, dentro daquele macro espaço... Enfim, uma iluminação que nos hipnotiza e que “aquece” o espetáculo de tal forma, que é impossível não reagir, com muita admiração e êxtase, diante daquele trabalho. Seria mais um prêmio a caminho, para esta montagem.

Vou fechar os comentários técnicos, analisando o trabalho do elenco, porém, antes disso, por total e merecida justiça, sou levado a enaltecer o trabalho de produção e das dezenas de profissionais que ficam nos bastidores, suando, para que a ARTE se faça. Méritos para TUCA MORAES (Direção de Produção), CIDA DE SOUZA (Coordenação de Produção Executiva), JOB CENTER (Produção Executiva), INGRA OLIVEIRA e JOB CENTER (Assistentes de Produção), ISIS PATACHO e JOB CENTER (Produção de “Set”), fora a grande quantidade de técnicos que operam luz, som e outros equipamentos, os cenotécnicos e os muitos, mas muitos mesmo, colaboradores, que trabalham na orientação ao público, no sentido de ocupação de seus lugares e evacuação do local da peça, após seu término. É tudo feito no maior padrão de organização, respeitando-se as prioridades para crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais e/ou dificuldade de mobilização. PARABÉNS A TODOS!



   “O DRAGÃO” é um “bolo que contém mais cerejas do que massa”. Já falei de várias e preciso me dedicar ao elenco; ou melhor, ao estelar elenco, formado por grandes atores e atrizes não favorecidos pela grande mídia, porém excelentes profissionais, e admirados por uma legião de fãs, como eu, os quais estão acostumados a vê-los nas suas produções teatrais. São conhecidos do público do TEATRO e pela classe artística, mas quem não os conhece entra para o “fã-clube”, logo na primeira vez que os vê em ação. Os comentários que ouvi, na saída e dentro do VLT, na volta para casa, nas duas vezes em assisti à peça, me deixaram emocionado e orgulhoso, por conta deles. E quem são eles? Os de cá não são com o “eles” lá de cima, os “do mal”.

É um elenco muito numeroso, 20 atores, porém a grande maioria dos que estão em cena defendem pequenos papéis, sem nenhum demérito para eles. Pelo contrário, todos são importantes e perceptíveis, quando em ação, cada um cumprindo, com a maior correção, a sua parte, por menor que ela seja. Por outro lado, há um núcleo menor de atores e atrizes que assumem os principais personagens da trama. É sobre eles que dissertarei.



   O grande herói e o monstruoso vilão; o bem contra o mal: LEONARDO HINCKEL (LANCELOT) e LUIZ FERNANDO LOBO (DRAGÃO), ambos em atuações estupendas. LEONARDO encarna aquele que poderia libertar os que se recusam a conquista da liberdade. Excelente ator, já o demonstrou em muitas das produções anteriores da COMPANHIA e ratifica isso com o seu atual personagem. Além de um excelente domínio de palco, LEO vestiu não só o figurino do personagem, mas também absorveu suas características, muito próximas às de seu homônimo, da Corte do Rei Artur. Mas isso é outra história. É excelente a sua postura em cena e, apesar de ser um homem com uma compleição física “normal”, parece crescer, em dimensões, em cena. Sou um grande admirador de seu trabalho e aplaudo-o, sem a menor restrição, como LANCELOT.

  Com a mesma intensidade, dirijo meus aplausos para LUIZ FERNANDO LOBO, como ator, que encarna o DRAGÃO, quando este assume a forma humana. Não sei se estarei cometendo alguma heresia, mas comparo sua vilania à de um dos inimigos do Batman, o Coringa, pelo tom debochado como se comporta, a maior parte do tempo, garantindo-se na sua força e poder e no medo que causa à população. Ele a domina, tem consciência da sua supremacia e o personagem, pela ótima interpretação de LOBO, apesar de vilão, não consegue provocar a antipatia do público. Faz-nos rir dos absurdos que profere. Seria, talvez, mais que vilão, um anti-herói, uma espécie de “Odorico Paraguaçu gringo”. Uma cena em que o personagem nos faz rir bastante é quando ele acha que ELSA cumprirá suas ordens e matará LANCELOT, com um punhal envenenado. O DRAGÃO vibra, na expectativa de que o ato seja consumado, como uma criança torce, para que o “mocinho” derrote o “bandido”. Essa atitude mostra quão covarde era o DRAGÃO.



  TUCA MORAES, a quem já aplaudi tantas vezes, merece, agora, muito mais aplausos pela sua interpretação de GATO. Sim, há um GATO (MIMI), no enredo, que fala e tem comportamentos e sentimentos humanos, como em qualquer fábula, papel que exige muito da atriz, mas que não é problema para ela. Favorecida, talvez, por um formidável figurino e por uma linda máscara, já citada, TUCA assume posições e atitudes felinas, fruto, certamente, de muito trabalho de pesquisa e preparação física. Aliás, em termos de preparação física, todos do elenco merecem loas.

   Há um arquivista, na trama, chamado CARLOS MAGNO, papel muito bem interpretado por GILBERTO MIRANDA. O ator responde à altura, na interpretação, em todas as cenas em que o personagem é requisitado. É ele quem, talvez, melhor represente a acomodação daquele povo.



  O arquivista tem uma bela filha, a jovem ELSA (LUIZA MORAES), que fora a escolhida para ser a sacrificada do ano, pelo DRAGÃO, e a quem LANCELOT se propõe salvar, até porque, por ela, se apaixonou. Não seria, simplesmente, evitar que mais um ser humano fizesse parte da estatística com relação às vítimas fatais do monstro, mas tratava-se de sua “donzela”, o que lhe garantia maior força e coragem para enfrentar a fera, assim como Dom Quixote daria sua vida por sua amada Dulcineia. LUIZA também se comporta com destaque e correção, na personagem.

   CLAUDIO SERRA interpreta o BURGOMESTRE (Salvo engano ou “engolimento de barriga”, o personagem não é chamado por nenhum nome próprio, apenas pelo título, que equivale ao primeiro magistrado de uma pequena região. CLAUDIO e seu personagem são responsáveis por provocar muitas gargalhadas na plateia, por se tratar de um tipo meio “bobo da corte”, que, de “bobo”, não tem nada. É muito perspicaz, matreiro e extrema e propositalmente exagerado, beirando o ridículo, quando fala, incluindo modulações agudas na voz. Resumindo, um “gaiato”, um personagem para nos divertir, para fazer desopilar o fígado, muito bem interpretado pelo ator.

  O BURGOMESTRE tem um filho, HENRIQUE, que é interpretado, de forma correta, pelo ator ARUAM GALILEU.

     

 



FICHA TÉCNICA:

Autor - Eugène Schwartz

Tradução - Maria Julieta Drummond de Andrade

Direção - Luiz Fernando Lobo

Assistente de Direção - Kailani Vinicio

Direção de Produção - Tuca Moraes

Cenografia e Espaço Cênico - J.C. Serroni

Iluminação - Cesar de Ramires

Figurino - Beth Filipecki e Renaldo Machado

Direção Musical - Felipe Radicetti

Dragão Alado e Máscara Gato - Eduardo Andrade / Arte5

Coordenação de Produção Executiva - Cida De Souza

Programação Visual - Tatiana Rodrigues e Marcos Apóstolo

Preparação Corporal de Solo e Aéreo - Paulo Mazzoni

Preparação Corporal - Juliana Medella

Efeito Aéreo Dragão - Cláudio Baltar

Rigger - Carlos Eduardo Índio

Mágicas - Mágico Janjão

Aulas de Arame - Cinthia Nunes

Produção Executiva - Job Center

Assistentes de Produção - Ingra Oliveira e Job Center

Produção de "Set" - Isis Patacho e Job Center

Operação de Som - Milena Fernandes, Rafael A. Soares e Alumiando Produções

Operação de Luz - Rafael França e Alumiando Produções

Coordenação Ciência do Novo Público e Gestão De Redes Sociais - Agnes De Freitas

Ciência do Novo Público - Gilberto Miranda, Kauane Ribeiro e Milena Fernandes

Fotos: Renam Brandão

Assessoria de Imprensa: LEAD Comunicação (Flávia Tenório)

 

ELENCO E PERSONAGENS:

Luiz Fernando Lobo – Dragão

Leonardo Hinckel - Lancelot

Tuca Moraes - Gato

Gilberto Miranda – Carlos Magno

Claudio Serra - Burgomestre

Luiza Moraes - Elsa

Aruam Galileu - Henrique

Bruno Peixoto – tecelão, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Berg Farias – violinista, coro operário, cuspidor de fogo, tropa de choque e lanceiro

Farley Matos – ferreiro, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Felipe de Gois – chapeleiro, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Grégori Eckert - coro operário, tropa de choque e lanceiro

Igor Federici – jardineiro, tecelão, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Isabela Coimbra – amiga Elsa, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Kauane Ribeiro – coro operário, cuspidora de fogo, tropa de choque e lanceiro

Mateus Pitanga – sentinela trompetista, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Natália Gadiolli – tecelã, coro operário, tropa de choque e lanceiro

Natássia Vello – coro operário, tropa de choque e lanceiro

Nelson Reis - coro operário, tropa de choque e lanceiro

Rossana Russia – tecelã cantora, coro operário e tropa de choque

Tayara Maciel – amiga Elsa e coro operário

Fotos: Renam Brandão

Assessoria de Imprensa: LEAD Comunicação (Flávia Tenório)

 

 


 



 


SERVIÇO:

Temporada: De 05 de novembro até 06 de dezembro de 2021 (NÃO HAVERÁ PRORROGAÇÃO DA TEMPORADA.)

Local: Armazém da Utopia

Endereço: Armazém 6, Porto do Rio de Janeiro

Como chegar: De VLT: Parada Utopia / AquaRio

Telefone: (21) 2516-4893 / 98909-2402 (WhatsApp) 

Dias e Horários: De 6ª feira a 2ª feira, às 20h (Abertura da casa 1 hora antes do início do espetáculo.)

Classificação Indicativa: 12 anos

Capacidade: 256 lugares

Duração: 105 minutos

Ingressos disponíveis, GRATUITAMENTE, no Sympla: www.sympla.com.br/armazemdautopia

Gênero: Teatro Épico

Observação: O Armazém da Utopia oferece rampas, para acesso, e banheiro adaptado para cadeirantes, propiciando condições de acessibilidade para idosos, pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. Também conta com intérprete de libras em uma das apresentações para pessoas com deficiência auditiva e disponibilizaremos "folders" em “braile”.

 

 


 



   Existem, no texto e na encenação, propriamente dita, detalhes que não podem passar em branco, numa crítica mais profunda, como, por exemplo, a utilização de um coro operário, reafirmando a tradição do TEATRO ÉPICO e a potência histórica da luta do povo, que remete à realidade dos tempos atuais. O público se identifica bastante com o comportamento da população daquele lugarejo, em determinadas cenas, pensando nos movimentos de rua, de hoje.

   Há falas que dão margem a interpretações muito pertinentes, com relação ao Brasil de hoje. Uma delas é quando o GATO, como justificativa para o comportamento de acomodação, diz, a LANCELOT, quando este lhe pergunta se não vai responder por que os patrões não estão em casa, a qual ele adentrou, por estar escancarada: “Porque, quando a gente está num lugar quentinho e fofo, meu filho, é melhor ficar quieto e dormir.”. Essa fala será repetida, logo depois, com o acréscimo de outra: “Assim não se pensa no futuro e nas coisas tristes.”.



   Quando LANCELOT pergunta ao arquivista sobre o perigo que o DRAGÃO representa para aquele povo e como eles reagiam a isso, CARLOS MAGNO lhe responde, “como um cordeirinho”, de uma forma, bem explícita, de aceitação: “Já estamos tão acostumados... Há quatrocentos anos que ele vive conosco.”. E a quantos anos convivemos, os brasileiros, com “dragões opressores”?

  O mesmo CARLOS MAGNO, ratificando sua posição de acomodação e descrença na possibilidade de que o DRAGÃO seja vencido, e com medo de que possa haver algo pior que seu jugo, diz a LANCELOT: “Mas, pelo menos, enquanto ele estiver aqui, nenhum outro DRAGÃO se meterá conosco.”.

   Quando LANCELOT, à espera de um DRAGÃO, se vê cara a cara com um homem, um senhor – o próprio – o questiona acerca da descrição que lhe haviam feito, do monstro, e este lhe responde, em tom bem debochado: “Hoje, estou à vontade, à paisana.”. Nós também conhecemos “dragões à paisana”, bem próximos a nós.



 Quando o BURGOMESTRE pergunta a seu filho, HENRIQUE, se ele está precisando de dinheiro, que aquele poderia lhe dar, em pagamento por um “serviço de espião”, que este lhe prestara, e o filho lhe responde negativamente, o pai lhe diz: “Vamos! Não se envergonhe, estou cheio de dinheiro. Ontem, tive, de novo, um ataque de cleptomania. Vamos, aceita!”. Isso não nos lembra os “cleptomaníacos” que nos assaltam todos os dias?

   Uma passagem também bastante interessante se dá, quase no final da encenação, quando o BURGOMESTRE, que se dizia ter sido o verdadeiro matador do DRAGÃO, o que o levou a assumir o cargo de Presidente da Cidade Liberada, tenta convencer o arquivista disso e este não aceita, pois sabe que o grande herói fora LANCELOT, HENRIQUE, então, diz ao pai que a recusa de tal aceitação está ocorrendo, porque o BURGOMESTRE não havia dado a CARLOS MAGNO aquilo que lhe prometera “e tudo o que ele quer”. Assim, o BURGOMESTRE se pronuncia: “Tá certo, CARLOS MAGNO. A partir de hoje, você fica sendo meu secretário particular.”. E, ainda, propõe-lhe mais mordomias e “penduricalhos”: “Te ofereço uma residência oficial, junto ao parque. Tem 53 quartos, todos dando para o norte. E o ordenado é fabuloso. Viáticos, para ir ao escritório. E gratificação especial, para quando não quiser trabalhar. Ajuda de custo, dia sim, dia não. E dois ordenados durante as férias.”. Por acaso, alguém está fazendo uma ligação com a já nossa tão conhecida e nefasta, imoral, política do “toma lá, dá cá”?



   E essa magnífica, apoteótica e visceral montagem termina, quando LANCELOT volta, um ano depois de ter derrotado o DRAGÃO, manda prender o usurpador BURGOMESTRE e HENRIQUE, e o povo clama por restaurar a democracia ali e ouve, atentamente, um belo discurso de LANCELOT, de encorajamento e esperança por dias melhores: “NÓS VAMOS TER QUE TRABALHAR MUITO. TRABALHAR COM MUITA PACIÊNCIA. TRABALHAR BEM DEVAGAR, COMO SE ESTIVÉSSEMOS BORDANDO. NÓS TEMOS QUE RECONSTRUIR TUDO!”.

Era a catarse de que nós, público, precisávamos, naquele momento; e agora.



   Confesso que saí do “ARMAZÉM DA UTOPIA”, nas duas vezes em que assisti a “O DRAGÃO”, “nas nuvens”, “voando ao lado dele”, com o maior orgulho de ser brasileiro: por aqueles artistas e por ter a certeza de que havia assistido a um espetáculo de padrão internacional, que há de fazer muitos estrangeiros passarem a respeitar o nosso verdadeiro TEATRO.

 

 (As cinco fotos abaixo foram tiradas por GILBERTO BARTHOLO. São partes do cenário da peça.)

 













FOTOS: RENAM BRANDÃO

 

 

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