“PÁ DE CAL
(RAY-LUX)”
ou
(“ACORDEI E ME OLHEI
NO ESPELHO,
AINDA A TEMPO DE VER
MEU SONHO VIRAR
PESADELO.”)
- Paulo Leminski
ou
(“O COMPORTAMENTO
É UM ESPELHO
NO QUAL TODOS
MOSTRAMOS O QUE SOMOS.”
- Alfred Montapert
ou
(“NÃO IR AO TEATRO
É COMO FAZER A ‘TOILETTE’
SEM ESPELHO.”
- Arthur Schopenhauer
Quem é
do ramo ou, simplesmente, muito fã de TEATRO sabe quem é JÔ BILAC
e o que ele representa para o TEATRO BRASILEIRO contemporâneo. Se
fizerem uma pesquisa, nos “sites” de busca, vão descobrir, por
exemplo, que o jovem dramaturgo é, salvo engano, o mais premiado no
Brasil, já tendo sido montado por grandes encenadores, como Bia Lessa, Daniela Thomas, Guilherme Leme Garcia, Hamilton Vaz Pereira, Inez Viana, Ivan Sugahara, João
Fonseca, Marco
Nanini, Monique
Gardenberg, Rodrigo Portella, por exemplo, e, agora,
por outro jovem, PAULO VERLINGS, que se apresenta mais ao público como
um ótimo ator, mas já demonstrou, anteriormente, saber dirigir TEATRO,
o que volta a fazer agora.
Vai ficar sabendo, também,
que, em 2004, com apenas 19 anos, escreveu sua primeira
dramaturgia, “Sangue Em Caixa De Areia”, pela qual já recebeu a
primeira premiação, pelo texto, embora sua primeira peça encenada,
oficialmente, só tenha ocorrido em 2006, “Bruxarias Urbanas”.
Desde lá, JÔ BILAC virou uma “máquina de escrever peças”,
imagem que poderia ser decodificada como pejorativa, ou seja, estaríamos
falando de um dramaturgo que “escreve em escala industrial”,
que visa à quantidade e não à qualidade. Ocorre que, no seu caso, a grande
profusão registrada no cômputo de suas produções escritas para os palcos
é grande em função do seu talento, que não é menor. São, ao todo, até o
presente momento, 31 textos, incluindo o mais recente, “PÁ DE CAL
(RAY-LUX)", objeto desta crítica, e o primeiro texto, que não foi
encenado; oficialmente, pelo menos. Não conheço "Sangue Em Caixa De Areia", mas gostaria de ter
acesso a ele, como curiosidade, para observar sua evolução, como dramaturgo.
Sem falar nos 6 roteiros e 11 livros publicados.
Assisti à grande maioria de seus textos encenados e tenho uma preferência especial por alguns deles, que são “Conselho de Classe”, “Savana Glacial”, “O Matador de Santas”, “Os Mamutes”, “Cucaracha” e “Infância, Tiros e Plumas”. Dois deles disputam o primeiro lugar, no meu pódio, localizado dentro do meu coração: “Conselho de Classe” e “Beije Minha Lápide”, com uma ligeira vantagem para aquele. Já afirmei, em críticas anteriores que considero os seus melhores textos. Acrescento um detalhe que observo: que poucos dramaturgos conseguem bolar títulos tão curiosos e interessantes, para suas peças, ao mesmo tempo que comerciais, como JÔ BILAC. No caso desta peça, ela apresenta um título e um subtítulo. Sobre aquele, “PÁ DE CAL” é uma expressão bem popular, conhecidíssima do grande público, que vem ligada a um verbo, formando uma frase: “Jogar uma pá de cal (sobre alguma coisa.), o que significa “dar por encerrado”, “finalizar alguma coisa”, como se faz nos sepultamentos em cova rasa. Desde criança, quando perguntava a alguém sobre o porquê daquele ritual, diziam-me que “é pro defunto feder menos”, o que me intrigava bastante. “De fato, a alcalinidade da cal virgem provoca um ambiente agressivo, que inibe a atividade biológica, a qual, normalmente, acompanha a decomposição de matéria orgânica.". (Lá fui eu pesquisar!) Na peça, “quer dizer que se fará uma última referência a um assunto não prazeroso”, o suicídio, no caso, e os dramas que ele passou a provocar. Para que o defunto possa feder menos? Com relação ao subtítulo, “RAY-LUX”, confesso que não conseguia entendê-lo, nem imaginar a que poderia se referir, até assistir ao espetáculo. Ele “se refere ao nome de uma urna funerária tão cara, que custa o preço de um automóvel”, que, no caso, é grafado “hilux”. Como está no subtítulo, fica mais “charmoso”.
O talento de JÔ BILAC é reconhecido internacionalmente, e uma prova
disso está na quantidade de palestras que já proferiu, a convite, em vários
países: no “Salão do Livro”, em Paris, França; na “Feira
do Livro”, em Frankfurt, Alemanha; na “Feira do
Livro”, em Gotemburgo, Suécia; no “Festival Ibero-Americano”,
em Bogotá, Colômbia; “Literatura e Arte”, em Bolonha,
Itália; “Dramaturgia Mundial”, Universidade de NY, EUA;
“Publicação Internacional”, em Yale, EUA; no Brasil,
destaque para “FLUP”, Museu MAR, Rio de Janeiro.
Que orgulho maior poderia ter JÔ,
depois de ter sido considerado “o dramaturgo da sua geração”, por
ninguém menos que DONA Fernanda Montenegro?
BILAC é autor de uma frase: “O TEATRO é, cada vez mais, para mim, onde
podemos rever nossa própria história e nossa condição humana. Esse paradoxo
entre vida e morte me move muito”. E por que fiz essa revelação?
Simplesmente, porque é o que se vê, em todas as suas obras, com cores mais
vivas, talvez, na peça que ora analiso. Como ninguém é gênio, ou
brilhante, o tempo todo, confesso que já saí dos Teatros, poucas vezes,
meio decepcionado com algumas de suas peças, o que é bastante natural –
é meu gosto, pessoal -, mas aplaudi a maioria; de pé, algumas delas.
Embora, um pouco abaixo, eu vá apresentar uma “SINOPSE” da peça,
incluída no “release”, que me foi enviado por NEY MOTTA
(ASSESSORIA DE IMPRENSA), julgo interessante transcrever um trecho extraído
do mesmo “release”, que vai ajudar a entender a peça, a
qual não é de tão fácil acesso, para algumas pessoas (Comentários que ouvi de algumas, à saída do Teatro 2, do CCBB - Rio de Janeiro.): “A trama de ‘PÁ DE CAL (RAY-LUX)’ parte da morte de um
personagem central, ou seja, ele está ausente. O mesmo acontece com
suas irmãs, que mandam representantes, para a reunião ‘familiar’, na qual
irá se definir o destino do pai dessa família e, também, o destino da mãe
do morto, uma ex-empregada da família, que também manda um
representante legal. O morto também é representado por uma pessoa com quem
conviveu em terras estrangeiras. Além de uma morte traumática, a peça lida
com a terceirização de responsabilidades e de como essas representatividades
interferem na boa condução das questões. Toda a ação se desenrola na casa
onde mora o patriarca, local que é foco de uma disputa pela posse,
revelando interesses divergentes entre as partes. Conflitos inesperados
emergem a partir desse encontro. Com o passar do tempo, as relações entre
pai e seus filhos – representados – se revelam, aos espectadores, cada vez
mais, límpidas e latentes.”.
SINOPSE:
A morte do caçula
de uma família partida provoca uma reunião, à qual apenas representantes
dos familiares comparecem e serão eles que decidirão o destino do
patriarca e da mãe do morto, uma ex-empregada, que também manda um
representante legal.
A terceirização das responsabilidades interfere,
drasticamente, na condução das questões dessa família.
Sem que eu considere o texto uma “obra-prima”,
acho-o bem interessante e revelador de até onde podem chegar os seres humanos,
na luta por seus interesses e na conquista de seus territórios, sem que a
empatia faça parte de seus princípios. No palco, uma “família
disfuncional”, ou seja, uma família em que os conflitos, a má
conduta e, muitas vezes, o abuso, por parte dos membros individuais, ocorrem
contínua e regularmente, fazendo com que outros membros se acomodem com tais
ações.
Segundo o diretor do espetáculo
e, também, responsável pelo argumento e sua idealização, PAULO
VERLINGS, “O espetáculo
narra uma relação ‘familiar’ por uma perspectiva diferente. Através das
representatividades, discutimos o quanto nós, hoje, na contemporaneidade,
terceirizamos nossas relações. Atravessamos questões como culpa, ausência de
diálogo e afeto, a partir de um acontecimento trágico.”.
Como pode existir, na prática, uma “família”
com tal comportamento? Ninguém assume nada, jogam, para o colo daquele que
estiver mais próximo, as culpas pela atitude de um jovem suicida e as
consequências que advirão disso. É a isso que foi chamado de “terceirização
das relações”, cada um “fechado em seu casulo”, que,
também, implica a falta de sinceridade entre os sentimentos das pessoas daquela
“família”, sem falar na tentativa de ocultar segredos.
JÔ se utiliza de
um humor bem ácido e mórbido, capaz de nos tirar de nossas zonas de conforto,
sem fazer muito esforço, mas não nos incomoda muito; muito pelo contrário, a
não ser num pequeno momento ou outro, quando nos obriga a fazer certas
reflexões, porque ele não pressiona as feridas carinhosamente; comprime-as com
robustez, provocando dores, ainda que suportáveis. Observa-se, neste texto,
que o dramaturgo não esconde que bebeu numa fonte chamada Nelson
Rodrigues.
PAULO VERLINGS faz uma excelente
direção, trabalhando, com muita competência, sobre um texto complexo,
sabendo dosar cada um detalhe nele contido, por se tratar de “um tema
delicado, mas emergencial e a favor da vida. O Brasil está na contramão da
tendência mundial, em relação aos índices de suicídios. Dados da OMS
mostram que, por aqui, as taxas de suicídio foram 7% maiores, em 2016,
último ano da pesquisa, do que em 2010. Já o índice global teve queda de
9,8%.”, segundo PAULO.
Sem poder me aprofundar, como, de hábito, faço, em
cada elemento de uma montagem teatral, unicamente por total falta de
tempo, faz-se necessário um comentário positivo ao elenco, o qual se
comporta de forma bastante positiva e quase totalmente homogênea. ISAAC BERNAT sendo ISAAC BERNAT,
um ótimo ator, mais uma vez, demonstrando seu correto trabalho de construção
de um personagem, o pai, cujo destino é alvo de discussões intrafamiliares.
CAROLINA PISMEL dispensa qualquer comentário, bastando um “está formidável,
em cena, como sempre”. Chega! Sou um grande fã de seu trabalho. E basta.
Fiquei bastante bem impressionado com a atuação de KÊNIA BÁRBARA, cujo
nome não consigo ligar à personagem de alguma peça em que tenha
atuado. Pode ser que eu esteja cometendo um grave engano, porém não me recordo
de tê-la visto, antes, sobre as tábuas. É desenvolta e fluente no francês, idioma
de que se utiliza em cena, já que sua personagem é francesa; desejo vê-la mais
vezes em cena.
Não posso deixar de dizer que, do quinteto que
forma o conjunto de atores, para a minha surpresa, considero ORLANDO CALDEIRA
o grande nome do elenco, nesta montagem. A “surpresa”
veio por conta de nunca o ter visto num papel mais importante e, em “PÁ DE
CAL”, ele apresenta suas credenciais como um excelente ator, firme,
sólido, demonstrando seu real talento, para a interpretação, até então não
revelado, por falta de oportunidades. Foi nele que me fixei, a maior parte do
tempo de duração da peça, até quando não fazia parte, diretamente, da
cena. Fiquei muito feliz com seu amadurecimento profissional. Meus aplausos
maiores foram direcionados a ORLANDO, que monopoliza a cena em dois
momentos: quando “conversa” com a concunhada francesa, sem saber
falar o idioma de Molière (É das coisas mais hilárias que já vi em
termos de comédia.) e quando, como terapeuta, conduz uma sessão de “constelação
familiar”, envolvendo os outros quatro personagens, que nada mais é que
um tipo de terapia, considerada, entretanto, uma
pseudociência, pois não existem comprovações científicas da sua eficácia e, por
isso, não é aprovada pelo Conselho Federal de Psicologia e nem pelo Conselho
Federal de Medicina. Além disso, é importante ressaltar que a “constelação
familiar” não promove a cura e não substitui a psicoterapia, feita com
psicólogos, e nem os tratamentos médicos para doenças psiquiátricas. (E lá fui
eu pesquisar de novo!) “A constelação familiar é um tipo de abordagem,
desenvolvida pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, que tem como objetivo
facilitar o entendimento de transtornos psicológicos, especialmente aqueles que
podem estar sendo estimulados pela dinâmica das relações familiares ou de
relacionamentos, através da identificação de fatores de estresse. Dessa forma,
permite ajudar a capacitar a pessoa a observar o mundo de diferentes
perspectivas.”. Alguém estava interessado nisso (Risos.)
O quinto personagem é um advogado,
interpretado pelo ator PEDRO HENRIQUE FRANÇA.
O cenário, de MINA QUENTAL;
os figurinos, de KAREN BRUSTTOLIN; a iluminação, de ANA
LUZIA MOLINARI DE SIMONI; a trilha sonora, de RODRIGO MARÇAL
e JOÃO MELLO; a direção de movimento, de TONI RODRIGUES; e
o visagismo, de RAFAEL FERNADEZ são todos elementos que se
harmonizam e colaboram para a boa sustentação da montagem.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Jô Bilac
Direção: Paulo Verlings
Diretora Assistente: Mariah Valeiras
Elenco:
Carolina Pismel, Isaac Bernat, Kênia Bárbara, Orlando Caldeira e Pedro
Henrique França
Cenário: Mina
Quental
Figurinos: Karen Brusttolin
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni
Trilha Sonora: Rodrigo Marçal e João Mello
Direção de
Movimento: Toni Rodrigues
Visagismo:
Rafael Fernandez
Assessoria de
Imprensa: Ney Motta
Programação
Visual: André Senna
Fotos: Antônio
Fernandes
Direção de Produção: Jéssica Santiago
Argumento e Idealização: Paulo Verlings
Realização: Teatro Independente e 9 Meses Produções
SERVIÇO:
Temporada: de 20 de novembro a 19 de dezembro de 2021
Local: Centro
Cultural Banco do Brasil – RJ - Teatro 2
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro
Informações: (21) 3808-2020
Dias e Horários: quintas-feiras, sextas-feiras e sábados, às 19h; domingos, às
18h.
Valor do ingresso: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia entrada)
Vendas na bilheteria do Teatro ou pelo site www.eventim.com.br
Não
recomendado para menores de 14 anos.
Capacidade de
público: 150 lugares
Duração: 70 minutos
Gênero:
Comédia Dramática (Ou seria um Drama Cômico?!)
UMA OBSERVAÇÃO MUITO IMPORTANTE: O Centro Cultural Banco do Brasil - Rio de Janeiro funciona, de
quarta a segunda-feira (Fecha às terças-feiras.), das 9h às 19h, aos
domingos, segundas e quartas-feiras; e, das 9h às 20h, às quintas e sextas-feiras
e aos sábados. A entrada do público é permitida apenas com apresentação do
comprovante de vacinação contra a COVID-19, medição de temperatura e uso de
máscaras. Não é necessária a retirada de ingresso para acessar o
prédio, uma vez que eles podem ser obtidos, previamente, no “site”
ou aplicativo Eventim ou na bilheteria do CCBB.
Esta montagem
comemora os 15 anos de fundação, em 2006, da CIA.TEATRO INDEPENDENTE,
que já nos legou bons trabalhos, como “Cachorro!”
(2007), “Rebu” (2009) e “Cucaracha”
(2012). A CIA. foi convidada, por Marco Nanini, em 2015,
para a montagem de “Beije Minha Lápide”. Fazem parte dela,
atualmente, JÔ BILAC, CAROLINA PISMEL, JÚLIA MARINI
e PAULO VERLINGS. Fez parte da fundação da CIA., também,
Vinícius Arneiro.
Além de abordar
os conflitos das relações familiares, a peça flerta, seriamente, porque
fazem parte daqueles conflitos, com temas contemporâneos, de relativa
importância, tais como os conceitos de saúde mental, masculinidade
tóxica e relações de trabalho.
Esta
montagem conta com os meus aplausos e, consequentemente, com a minha
recomendação.
FOTOS: ANTÔNIO
FERNANDES
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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