terça-feira, 26 de novembro de 2019


RELÂMPAGO
CIFRADO

(CURIOSO TÍTULO;
INTERESSANTE, PORÉM.
ou
QUANDO TEXTO E ATUAÇÃO
QUASE SE BASTAM.)





              O tempo anda bem escasso, para escrever minhas críticas, entretanto, quando gosto de um espetáculo, tento, ao máximo, dar um jeitinho de escrever sobre a peça, nem que seja só um pouco, a fim de que fique registrado o prazer de ter assistido a ela, como é o caso de “RELÂMPAGO CIFRADO, em cartaz no Teatro petra Gold (VER SERVIÇO.).









SINOPSE:

A ação se passa no consultório da MÉDICA A (ANA BEATRIZ NOGUEIRA), profissional reconhecida e respeitada em seu meio, ligada aos valores humanos da medicina e de forte senso ético.

Ela recebe a visita da jovem e talentosa MÉDICA B (ALINNE MORAES), ambiciosa e um tanto cheia de si, que vai em busca de uma carta de recomendação, para ser aceita em uma especialização muito almejada, em Harvard.

A MÉDICA A não recebe a MÉDICA B com simpatia.

Os encontros demoram a ser marcados e são bem difíceis e tumultuados, quando acontecem.

As duas têm visões muito diferentes da profissão, e a discussão ética vai se agravando, até que a revelação de um acontecimento passado muda o rumo da história de ambas.








            GUSTAVO PINHEIRO, autor do texto, não precisou de mais de 60 minutos, para nos contar uma ótima história cheia de mistérios, a qual reserva, ao público, uma grande surpresa, no seu desfecho, um final daqueles que, com o decorrer da trama, as pessoas imaginam que seja um – várias ilações -, entretanto penso que ninguém consegue chegar à surpresa dos minutos finais da peça.

            As duas médicas são de personalidades bem fortes e ambas desejam, incessantemente, se manter incólumes e sair vitoriosas do já referido embate. Para isso, como armas mais poderosas, utilizam a palavra e a ironia, parecendo tripudiar uma sobre a outra, até mesmo a MÉDICA B (ALINE MORAES), que depende tanto, que precisa muito, da aquiescência da MÉDICA A (ANA BEATRIZ NOGUEIRA), embora o procedimento, a atitude de superioridade e, até certo ponto, desdém, de uma em relação à outra, parta mais desta. Tudo o que pode parecer estranho, no relacionamento “belicoso” entre as duas é explicado, quase ao apagar das luzes e o fechamento da cortina.





            Ao receber o convite para assistir à peça, fiquei bastante intrigado acerca do título. E estou até agora. O que significaria, ou poderia ser, um “RELÂMPAGO CIFRADO”? De posse do programa da peça, antes do início do espetáculo, fiquei sabendo que o referido título fora extraído de um trecho do poema “Amor e Seu Tempo”, do livro “As Impurezas do Branco”, de Carlos Drummond de Andrade: “É isto, amor: o ganho não previsto, / O prêmio subterrâneo e coruscante, / Leitura de relâmpago cifrado, / Que, decifrado, nada mais existe.”. Mesmo considerando o contexto, de onde retirei a quadra, não consegui entender. Confesso – e isso pode, e deve, ser uma limitação minha – que não consegui, ainda, compreender, a ligação entre o título e o teor da peça, o que, para o que o espetáculo representou, para mim, pouco importa, uma vez que o que vale é a sua excelente qualidade, quer pelo texto – o enredo, a trama -, quer pela direção, quer pela atuação das duas atrizes que compõem o elenco.





“A peça propõe um jogo delicado, em que o público constrói a história, no mesmo ritmo das duas personagens. É uma peça sobre o tempo, a memória e a empatia.”, afirma o autor, GUSTAVO PINHEIRO. É no detalhe, que também faz parte do “release” da peça, “o público constrói a história, no mesmo ritmo das duas personagens” que reside um dos granes trunfos do espetáculo, se não for o maior de todos, uma vez que, ligados ao palco, transferindo-se para junto das duas atrizes, numa sugerida, implicitamente, e aceita, proposta de intimidade, de aproximação palco/plateia, os espectadores vão imaginando o que possa estar por trás daqueles diálogos, os quais se repetem, em conversas em dias distintos, acabando por se ver diante de um final surpreendente. Gosto muito dessa proposta de texto.





“O que você faria se descobrisse que sua vida foi inventada? Num tempo em que as “fake news” dominam o mundo, o que é verdade e o que é mentira sobre cada um de nós?”. A temática não poderia ser mais atual e instigante. A pergunta, que está no “release” da peça, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO – ASSESSORIA DE IMPRENSA), foi o ponto de partida para que GUSTAVO PINHEIRO bolasse uma história tão interessante, capaz de prender, totalmente, a atenção do público, da primeira à última cena, com diálogos, estes sim, um pouco “cifrados” (Quero me referir a uma linguagem quase cifrada, “sugestiva”, que permite assegurar um segredo.), não, porém, herméticos, cheios de mistério e instigação ao público, um verdadeiro desafio para o espectador, que, ansioso, não vê a hora do desfecho de uma disputa, torcendo por um “final feliz”, representado pela aquiescência de uma das personagens, aceitando escrever uma carta de recomendação para a outra. Tão simples! Não lhes parece? Mas será que é isso mesmo o que vai acontecer? Talvez, sim; talvez, não. Mas algo muito surpreendente, e mais importante, destaca-se sobre essa questão e nos reserva o autor do texto.





            Quem "inventou" a nossa vida? E como é possível "reinventá-la"?  Quem, de nós, tem consciência plena de quem é ou do que é? Quantos podem ter a certeza de que suas vidas não passam de um blefe, de um enredo fictício? E quem exercita, de verdade, a empatia? Quem consegue, inclusive, atingir o altruísmo?

  No já citado “release” da peça, um dos seus diretores, LEONARDO NETTO, faz referência ao fato de a dramaturgia de “RELÂMPAGO CIFRADO” ser considerada uma “peça de ator”, o que vale dizer, no “jargão profissional”, que é uma “obra que tem sua força calcada na construção de seus personagens e na interpretação que os atores farão desses personagens (...)”. Isso, continua ele, acontece “A tal ponto, que se, hipoteticamente, todos os elementos cênicos utilizados, para a finalização do espetáculo, tais como cenografia, figurinos, iluminação, trilha sonora, fossem suprimidos, o espectador continuaria sendo tocado da mesma forma.”. Não vejo por que não concordar com LEONARDO, já que a força dramática de cada uma das duas personagens, assim como a psique, conotação moderna de mente ou ego, de cada uma delas, é extremamente exacerbada, o que leva as duas atrizes a dar tudo de si - o que pode parecer fácil, mas não o é - na composição das MÉDICAS A e B.





Com relação ao trabalho de ANA BEATRIZ NOGUEIRA e ALINE MORAES, só posso dizer que ambas se saem muito bem, em cena, traçando, com perfeição, por meio de pessoais entonações, gestos, olhares e pequenos detalhes, na máscara facial, a personalidade de cada uma das representadas. Vejo-as num equivalente nível de interpretação, o que me leva a fazer um comentário a mais. São duas atrizes bem diferentes, em suas trajetórias profissionais, no que diz respeito aos veículos em que exploram sua arte e seu talento. ANA, apesar de larga experiência na TV e no cinema, é uma atriz de TEATRO, de longa data, sempre com atuações em papéis marcantes. Atualmente, no mesmo Teatro Petra Gold, aos sábados e domingos, às 17h, faz “dobradinha” com um ótimo monólogo, “Um Dia a Menos”, adaptada do conto homônimo de Clarice Lispector, também com direção de LEONARDO NETTO. Isso lhe confere muita segurança em cena.







ALINE, por questões que desconheço, e que não vêm ao caso, dedicou-se mais à TV, mídia em que acumula mais de uma dezena de novelas e o mesmo número em participações em séries, minisséries e outros programas, e ao cinema, tendo atuado, também, em mais de uma dezena de filmes. Por esse motivo, sua presença se tornou rara, nos palcos, limitando-se, até o atual trabalho, a apenas duas peças, às quais assisti. Sua estreia, no TEATRO, aconteceu com “Dhrama - O Incrível Diálogo entre Krishna e Arjuna”, em 2007, com direção de João Falcão, na qual interpretava, num gesto de profunda coragem, para uma incipiente atriz de TEATRO, nada menos que o deus hindu Krishna, no Espaço SESC Copacabana. A outra incursão se deu em 2012, na peça “Dorotéia”, um clássico de Nélson Rodrigues, no Teatro Poeira, na qual interpretava a protagonista, sob direção de João Fonseca. Já no trabalho de estreia, revelou que também entendia bastante de “pisar nas tábuas”, o que ratificou na segunda e, agora, reforça isso, na peça em tela.







Um “passarinho”, muito próximo à atriz e envolvido na montagem, me confidenciou algo, e eu, que não jurei guardar segredo, agora, não em tom de “fofoca” (Risos.), reporto-me àquela revelação. É a de que ALINE ainda se sente insegura, no palco, sempre querendo saber, ao final de cada sessão, como foi a sua atuação do dia, o que, a meu juízo e no de várias pessoas com as quais conversei, após a sessão a que assisti, gente de TEATRO e outras pessoas, apenas espectadores, não deveria ser motivo de preocupação, uma vez que, como já disse, acima, seu trabalho é muito bom, parecendo já ser uma grande “habituée” dos palcos. Com a maior sinceridade, pois não teria motivo para mentir ou falar bem, só para agradar, é o meu pensamento, a minha avaliação. O tomar conhecimento desse detalhe só fez com que eu ampliasse a minha admiração pela profissional. Essa sua atitude, desnecessária, por outro lado, é digna de louvor, pois é sinal de uma preocupação em melhorar – e isso é muito salutar e digno, uma prova de respeito ao público.







A direção da peça é feita a quatro mãos, por LEONARDO NETTO e CLARISSE DERZIÉ LUZ, ambos atores, ótimos, por sinal, os quais, por esse motivo, já levam alguma vantagem em relação a quem não o é. Não sei o que pensam os outros, mas é uma teoria minha, que defendo até hoje. Um bom diretor de TEATRO, via de regra, não necessariamente, é um ator, e, quase sempre, bom. Ambos demonstram ter mergulhado, profundamente, nas intenções do autor e, contando com o talento das duas atrizes, chegaram a uma perfeita construção das duas personagens, ambas fixadas em seus objetivos e pensamentos, num trabalho que vai sendo conduzido para a “explosão final”, sem deixar pistas para o espectador descobrir até onde leva a estrada.





Já mostrei, nesta crítica - e volto a reproduzi-lo - um pensamento de LEONARDO NETTO, quanto ao fato de “RELÂMPAGO CIFRADO” ser uma “peça de ator”: “A tal ponto, que se, hipoteticamente, todos os elementos cênicos utilizados, para a finalização do espetáculo, tais como cenografia, figurinos, iluminação, trilha sonora, fossem suprimidos, o espectador continuaria sendo tocado da mesma forma.”. E ele continuou: “O embate entre duas médicas, de gerações diferentes, que ocorre no consultório de uma delas, pode prescindir de tudo, menos das atuações de ANA BEATRIZ NOGUEIRA e ALINE MORAES. São elas que vão mobilizar o espectador, utilizando, para isso, as palavras escritas por GUSTAVO PINHEIRO. Tudo mais é secundário e estará a serviço das duas, para ajudá-las nessa tarefa primordial.”. Também já disse eu que concordo com o diretor, entretanto não posso negar que, aqui, os citados elementos cênicos agregam valores positivos à montagem, principalmente dois. Um deles seria o simples e interessante cenário, de ANDRÉ SANCHES, muito original e sugestivo, com relação ao teor da peça, reproduzindo o consultório da MÉDICA A, modernamente decorado e no qual se veem várias ampulhetas, de diversos tamanhos, que ela ganha de presente de seus clientes, algumas estilizadas, servindo de apoio a mesas e bancos. Esses objetos têm um significado muito importante na peça. O outro seria a trilha sonora original, especialmente composta por LEILA PINHEIRO, que são inserções de suaves melodias, ao piano, intercalando os encontros entre as duas personagens, sugerindo a passagem do tempo.

Mas não podem ser desprezados os figurinos, de CARLA GARAN e o desenho de luz, de AURÉLIO DE SIMONI.







FICHA TÉCNICA:

Texto: Gustavo Pinheiro
Direção: Leonardo Netto e Clarisse Derzié Luz

Elenco: Ana Beatriz Nogueira e Aline Moraes

Cenário: André Sanches
Figurinos: Carla Garan
Desenho de Luz: Aurélio de Simoni
Trilha Sonora Original: Leila Pinheiro
“Design” Gráfico: Roberta de Freitas
Mídias Sociais: Rafael Teixeira
Fotos Estúdio: Lúcio Luna
Fotos de Cena: Guga Melgar
Elaboração de Projeto: Maria Inês Vale
Produção: Ana Beatriz Nogueira e Maria Inês Vale
Idealização: Ana Beatriz Nogueira e Thiago Franco
Realização: Trocadilhos 1000 Produções Artísticas
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany










SERVIÇO:

Temporada: De 08 de novembro a 22 de dezembro de 2019.
Local: Teatro Petra Gold / Sala Marília Pêra.
Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon – Rio de Janeiro.
Tel: (21) 2529-7700.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Valor dos Ingressos: 6ª feira = R$70,00; sábado e domingo = R$80,00 (Meia entrada, para quem, legalmente, faz jus ao benefício.).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Diariamente, das 14h às 20h.
Vendas pela internet: www.sympla.com.br
Capacidade: 411 espectadores.
Duração: 60 minutos.
Classificação Indicativa: 14 anos.
Gênero: Drama.








"RELÂMPAGO CIFRADO" é um espetáculo que gratifica o espectador, por meio de um belo trabalho de interpretação, calcado num texto que pode ser apontado como um dos melhores do consagrado dramaturgo GUSTAVO PINHEIRO e, também, dos que mais se destacaram, até o presente momento, na programação teatral carioca, em 2019, motivos mais que suficientes para que a peça seja, por mim, recomendada, com muita ênfase.





E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!



CENSURA NUNCA MAIS!!!






(FOTOS: LÚCIO LUNA - estúdio -
e
GUGA MELGAR - de cena.)















           































































segunda-feira, 25 de novembro de 2019


AQUILO
QUE ACONTECE
ENTRE NASCER
E MORRER

(QUANDO SE CELEBRA A VIDA,
FALANDO-SE DA MORTE.)






            Gosto de solos. Gosto de solos bem feitos. Gosto de solos que me fazem deixar o Teatro feliz, recompensado. Gosto de FABRICIO MOSER. Comecei a gostar dele, depois de ter assistido a um outro solo seu, “Laura”, em agosto de 2018, um espetáculo comovente, tanto quanto o que está servindo de inspiração e motivo para esta crítica, “AQUILO QUE ACONTECE ENTRE NASCER E MORRER”, em cartaz na Casa Quintal de Artes Cênicas (VER SERVIÇO).

            Logo que saí, no ano passado (2108), de um espaço alternativo, ligado à Sala Baden Powell, no Rio de Janeiro (Copacabana), depois de ter assistido a “Laura”, caminhei até a estação mais próxima do metrô (Cardeal Arcoverde), peguei o meu carro, estacionado no final da linha do metrô (Jardim Oceânico) e dirigi, por uns 20 minutos, até a minha casa, no Recreio dos Bandeirantes, sem conseguir pensar em outra coisa, que não fosse aquela peça, não vendo a hora de escrever sobre ela. Chegando a casa, comecei a escrever, compulsivamente, sobre “LAURA”, o que não é um hábito. Por mais que um espetáculo tenha me agradado, só escrevo sobre ele no dia seguinte. O que aconteceu naquela noite posso contar nos dedos de uma as mãos, e vai sobrar dedo.  Mas o fato é que fiquei muito bem impressionado com tudo: texto, direção, interpretação, elementos cênicos... Assim também me senti, ontem, 24 de novembro de 2019, depois de ter assistido ao monólogo aqui analisado, embora pensasse, até mesmo, em que, infelizmente, não encontraria tempo para escrever sobre ele. Hoje, pus-me a continuar o que eu já vinha fazendo, mas não deixava de pensar no solo de ontem. De repente, decidi parar tudo e iniciar esta crítica.




            A vida, pessoal, de FABRICIO foi marcada, ou melhor, é, e, indelevelmente, o será, por momentos trágicos, de perdas irreparáveis e de formas tão doídas, o que, paradoxalmente, ou, talvez, como um instrumento de fuga, ou de autoterapia, para afastar seus fantasmas, move o ator/dramaturgo/diretor a montar seus espetáculos, pelo menos, os dois aqui citados anteriormente. Em “Laura”, prestava ele uma linda e comovente homenagem à sua avó, cujo nome serve de título à peça, morta, a tiros, numa tarde, em 1982, no meio de uma rua, em Cruz Alta, interior do Rio Grande do Sul, por um desafeto amoroso, de apelido Candoca, o qual, em seguida, se suicidou. Não há uma precisão quanto à idade de Laura, quando do crime, oscilando entre 56 e 66 anos. Talvez, por ter sido registrada incorretamente, o que, até hoje, é comum, no interior. Ela estava fazendo algo de que muito gostava: dançava num baile para a terceira idade. FABRICIO, seu neto, nascido em 1981, em Dourados, Mato Grosso do Sul, tinha nove meses, na época da tragédia, e não pôde conviver com a avó materna. O trauma, ocasionado pela forma como Laura morreu, provocou o seu afastamento do convívio familiar, sobre a sua história de vida. Estabeleceu-se um vazio existencial e só ficaram raras lembranças do seu passado. Um "apagão" inconsciente. (Será?). Ninguém falava dela. Fora enterrada totalmente, o corpo e tudo o que pudesse lembrá-la. FABRICIO mora no Rio de Janeiro, desde 2009. Após a morte dos seus pais, em um acidente trágico , de carro, em 2014, decidiu criar a peça autobiográfica, para homenagear a falecida, ao mesmo tempo que isso poderia servir para um mergulho no seu passado, que o levasse a se autoconhecer melhor, utilizando as suas descobertas, em pesquisas, que foram da reunião de fotos e documentos até entrevistas com familiares, amigos e conhecidos de LAURA, que testemunharam o crime ou estiveram próximos a ele. (Muito do que você está lendo, neste parágrafo, está na crítica que escrevi sobre "Laura".).




            Agora, tomando por base o citado acidente de carro, em 2014, mencionado no parágrafo anterior, FABRÍCIO volta a se envolver numa espécie de catarse, criando este espetáculo, “Dando continuidade às pesquisas que mesclam arte com vivências pessoais (...)”, de acordo com o “release”, enviado por BRUNO MORAIS (MARROM GLACÊ – ASSESSORIA DE IMPRENSA) Trata-se de um “espetáculo de autoficção, documental e autobiográfico”, uma montagem muito interessante, uma proposta diferente, que foge aos padrões “normais” de TEATRO convencional e que merece ser vista pelo maior número possível de pessoas, ainda que, de cada sessão, só possam participar 40 pessoas, em função das pequenas dimensões do espaço em que a peça vem sendo encenada, com muito sucesso e casa lotada, um salão do andar superior da Casa Quintal de Artes Cênicas. Acho ótima a proposta e muito bem desenvolvida, contando, sempre, com a participação do público, sem o que não poderá existir a peça, participação esta que pode gerar um bom rendimento ou não, a cada apresentação, dependendo da plateia. Mas acho que nunca será ruim, porque FABRICIO sabe ser o maestro, na regência do espetáculo. Na sessão a que assisti à peça, o resultado foi excelente, porque o público embarcou, de cabeça, na proposta, e o resultado foi o melhor possível, uma vez que as dores e sofrimentos dos assistentes são divididos entre todos, e o vital sentimento de empatia, para o - e pelo - ser humano, é totalmente exposto e explorado ao máximo.

 




SINOPSE:
Diante da vida, como lidar com a morte?
Diante da morte, como lidar com a vida?
“Nascer” e “morrer”, como verbos que delimitam o que entendemos por vida, viver como uma sucessão de nascimentos e mortes – e o TEATRO como uma centelha de vida, que nasce e morre diante dos nossos olhos.
Enxergando o coração da experiência teatral na vida do artista, a peça, documental e autobiográfica, toma, como parâmetros dramáticos, os verbos “nascer” e “morrer” e coloca, no horizonte da criação artística, as vozes do passado, do presente e do futuro, os documentos e a memória do ator e do público.
Mais que um ator, no fundo, um homem convida o público a celebrar a vida, a partir de tantas dores e perdas, causadas por mortes trágicas em sua existência, que não é diferente da de todos; ou quase todos.


 


Não sabemos lidar com as perdas, menos ainda com a morte. Não estamos preparados para ela. A morte, para nós, principalmente quando nos tira da convivência um ente querido, familiar ou amigo, será sempre uma bomba de efeito destruidor, que deixa marcas para o resto da vida; quando não acelera a nossa própria. “Diante da vida, como lidar com a morte? Diante da morte, como lidar com a vida?”

Como eu “Laura”, FABRICIO MOSER partiu de uma experiência duplamente trágica e dos questionamentos advindos dela, sobre o valor da vida, o significado da morte, o quão estamos vivos por um fio, o quanto dependemos que ele não se rompa, o que ganhamos ou perdemos com cada uma delas – vida e morte – e, dessas questões, desenvolveu este novo, e excelente, trabalho cênico. Extraído do “release”, já citado: “Enxergando o coração da experiência teatral na vida do artista, o projeto autobiográfico toma, como parâmetros dramáticos, os verbos ‘nascer’ e ‘morrer’ e busca a encenação de si, sob o olhar do outro, e dos outros, sob o olhar sobre si. Desse modo, coloca, no horizonte da criação artística, as vozes do passado, do presente e do futuro, os documentos e a memória do ator, dos colaboradores e do público".




Diz FABRICIO: “O desafio de abordar dramas íntimos surgiu em ‘DUO Sobre Desvios’ (2012) – a este, infelizmente, eu não assisti - e se intensificou em ‘Laura’ (2015), quando parti em busca da história da minha avó materna, assassinada em 1982. A morte dos meus pais, durante o processo criativo da segunda peça, em 2014, e a necessidade de renascer, de alguma forma, depois disso tudo, foram sinais para continuar minha pesquisa autobiográfica e documental no TEATRO”. Os dois primeiros trabalhos, aqui citados pelo ator, chegaram a ser apresentados em Portugal e na Espanha.

Não só a concepção, como também a estrutura deste solo, seguem o modelo de “Laura” e o de “DUO Sobre Desvios”, com a utilização de muitas e diferentes linguagens, apelos sensoriais diversos, um tom “artesanal” e contando com a colaboração de artistas de diversas áreas.






Se prestarem atenção à ficha técnica do espetáculo, mais abaixo apresentada, perceberão a falta de citação dos nomes de profissionais que assinaram o cenário, o figurino, a iluminação, a direção do movimento, por exemplo, e outros elementos técnicos, necessários a uma montagem teatral. Entenderão o porquê agora, quando passo a transcrever o que me respondeu FABRICIO, quando lhe perguntei o que ele queria dizer, na citada ficha técnica, com “Colaboração Artística”, seguida de seis nomes: CASSIANA LIMA CARDOSO, GABRIEL MORAIS, GABRIELA LÍRIO, RICARDO MARTINS, SILVANA ROCCO e TATO TEIXEIRA. Resposta dele: “Como no ‘Laura’, neste processo, eu convidei seis artistas, de diferentes áreas - do TEATRO, da dança, das artes visuais, a colaborarem no processo. Então, esses seis colaboradores participaram, sem hierarquia ou especificidade, vindo aos ensaios e fazendo provocações, para ajudar a orientar a criação. Eles também podem ser entendidos como parte da direção. Gosto de ter esse olhar de fora, para ampliar a experiência coletiva da proposta. Eles trouxeram propostas, durante a criação, ou observaram o material que eu oferecia, traçando caminhos, fazendo sugestões, apontando problemas.”. Seria, portanto, contando com a generosidade de FABRICIO, um trabalho que partiu de uma ideia e de uma criação coletiva.






Transcrevo, porque gosto dela, a afirmação do ator, com a qual também faço coro: “Acredito num TEATRO que se caracterize pelo desejo de transformar vivências pessoais em experiências coletivas de aprendizado. Elas podem ser trágicas, cômicas, sublimes, delirantes ou até cruéis. (...) Talvez, de alguma forma, realizando as apresentações públicas, ocorra comigo um processo de cura ou catarse, mas as três peças não nasceram desse desejo. E, se há cura ou catarse, ela não é só minha; é também do público”.

A participação da plateia, a qual é recebida, com muito carinho e respeito, pelo ator, uma pessoa que transborda afetividade, além de talento profissional, é fundamental nesta peça, tecnicamente, um monólogo, mas que, também, não poderia ser assim considerada, pela participação efetiva do público, com o qual o ator interage, mais do que representa, da primeira à ultima cena, com um final muito surpreendente, lindo e delicioso, denotativa e conotativamente falando, sobre o qual não me cabe dizer nada, para não dar “spoiler” e roubar, aos que ainda vão assistir ao espetáculo, a surpresa e o imenso prazer que tive. Foi uma experiência difícil se ser descrita em palavras.




Ainda extraído do “release”: “Se ‘morrer’ e ‘nascer’ são os verbos que delimitam aquilo que entendemos por vida, o TEATRO pode ser compreendido como um grande ritual de passagem, em que viver pode ser um limite.”. Concordo plenamente, e acrescento: um grande ritual de passagem.






FICHA TÉCNICA:

Criação, Direção e Atuação: Fabrício Moser

Colaboração Artística: Cassiana Lima Cardoso, Gabriel Morais, Gabriela Lírio, Ricardo Martins, Silvana Rocco e Tato Teixeira
Programação Visual: Davi Palmeira
Fotos: Ricardo Martins e Pedro Bonfim Leal
Consultoria Audiovisual: André Boneco
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê – Gisele Machado & Bruno Morais
Produção: Fabrício Moser e Gabriel Morais










SERVIÇO:

Temporada: De 09 de novembro a 15 de dezembro de 2019.
Local: Casa Quintal de Artes Cênicas.
Endereço: Rua Sílvio Romero, 36 – Lapa – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 20h.  
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada)
Classificação Etária: 16 anos.
Duração: 60 minutos.
Capacidade: 40 pessoas.
Gênero: Autoficção







Para mim, não chegaram, com o encerramento da peça, as respostas exatas para estas duas perguntas: “Diante da vida, como lidar com a morte? Diante da morte, como lidar com a vida”. Por outro lado, com muito mais valor e importância, ficaram a provocação e o desafio, para continuar a perseguição às respostas para elas, as quais, com quase totalíssima certeza (O pleonasmo é proposital.), jamais encontrarei. Mas o importante é continuar tentando, e aprendendo, e vivendo, e sonhando, e aproveitando cada fração de segundo, enquanto estamos respirado, uma vez que “A Vida è Bela” e devemos seguir a máxima “Carpe Diem!”.

Não deixem de participar, mais do que assistir, a este ótimo espetáculo, uma experiência boa, muito boa, pela qual todos deveriam passar. Recomendo, em especial, aos meus queridos amigos e leitores, com os quais tenho um enorme prazer em dividir as coisas boas a que tenho acesso.


 


E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!





CENSURA NUNCA MAIS!!!



(FOTOS: RICARDO MARTINS
e
PEDRO BONFIM LEAL.)



(GALERIA PARTICULAR.)