sábado, 30 de abril de 2022

 “MEU CORAÇÃO

(OU DE CARINHO

E DE SEXO)”

ou

(“MEU CORAÇÃO, 

NÃO SEI POR QUÊ,

BATE FELIZ 

QUANDO TE VÊ”.)




    Quantas coisas a gente não repete, na fala ou na escrita, no decorrer das nossas vidas? Eu, por exemplo, estou sempre dando por mim a repetir quão é agradável ir a um Teatro com uma expectativa “X” e sair dele com ela multiplicada. E quanto maior for(em) o(s) algarismo(s) “multiplicador(es)”, melhor será o “produto”. E, ontem, 29 de abril de 2022, isso, mais uma vez, aconteceu, depois de eu ter assistido à peça “MEU CORAÇÃO (OU DE CARINHO E DE SEXO)”, na reabertura da Sala Baden Powell, em Copacabana, Rio de Janeiro.



        Antes de iniciar uma crítica sobre o espetáculo, que bem a merece, preciso dizer, com toda a sinceridade, confesso, que igual, ou maior, expectativa eu tinha de ver a “nova” Sala, anunciada, reformada, durante o longo tempo em que ficou fechada, por conta da pandemia de COVID-19. E, se, por um lado, a peça superou as minhas expectativas, a frustração tomou conta de mim, quando adentrei aquele espaço e vi que pouquíssima coisa mudou. A Sala Baden Powell faz parte da cadeia de equipamentos administrados pelo município do Rio de Janeiro, que tem dinheiro para muitas “fanfarrices” do alcaide, menos para a CULTURA. E, quando sobra algum, é mal empregado. Fizeram, naquele espaço cultural, uma pequena “maquiagem”, para que ele pudesse voltar a funcionar, e deixaram-no, um pouquinho mais, com “cara de Teatro”, visto que antes, até 1994, ali funcionava o Cine Ricamar, que foi um dos mais charmosos “cinemas de rua” da cidade, fechado em 1994, só voltando a abrir as suas portas seis anos depois, no ano 2000, para servir como um Teatro. “Para servir como”, mas não foi preparado para ser um. Ouvi dizer que a reforma, que incluía até a troca das poltronas, havia acontecido recentemente, durante a pandemia, como já falei, mas isso, na verdade, não ocorreu. É um Teatro, com uma “carinha de Teatro”, ao qual faltam muitos recursos básicos, para que seja considerado um local destinado a espetáculos teatrais.



       O que escrevi, no parágrafo anterior, só faz valorizar, ainda mais, a montagem teatral a que assisti ontem, porque é preciso muita garra, muito amor à ARTE, para se fazer TEATRO ali. De boa qualidade, então, é um grande desafio! E todos os envolvidos no projeto aqui avaliado, e os funcionários da casa merecem todo o meu respeito, por enfrentar e superar as muitas dificuldades – porque facilidades, para a CULTURA, não interessam muito aos governos, ou (DES)governos, nas três esferas – e nos proporcionar um ótimo espetáculo, “bem franciscano”, sim, “a perder de vista”, porém de ótima qualidade.



       Para não me furtar a oportunidade e ratificar o início desta crítica, lá estou eu a dizer (Estou começando a achar que gosto mais do falar dos portugueses, que quase não usam o gerúndio; praticamente não o fazem nunca, preferindo o verbo no infinitivo, precedido da preposição “A”. Momento descontração.) que o tripé que sustenta qualquer espetáculo teatral é formado por um bom texto, uma boa direção e um bom elenco, sem desmerecer o trabalho de todos os artistas de criação (cenário, figurino, iluminação...).



          Dois elementos do referido tripé estão, aqui, representados por uma mesma pessoa: JOÃO CÍCERO. Seu texto é ótimo e sua direção idem. O terceiro, o elenco, é formado por um casal de jovens atores, completamente desconhecidos por mim, até então, mas que me verão em todas as plateias de peças em que estiverem tuando, daqui por diante: CARLOS MARINHO e PAULA FURTADO. Um não é mais importante que o outro; os nomes aparecem em obediência à ordem alfabética, ou por acaso.

 




SINOPSE:

No espetáculo, WANDA (PAULA FURTADO) e CLAUDEMIR (CARLOS MARINHO) mantêm uma relação clandestina e compartilham momentos afetuosos, violentos e confusos, ao longo da vida.

É a história de um amor que explode, amadurece e hesita, frente aos desafios para alcançar sua plenitude.

Diferentemente das peças de amor tradicionais, que priorizam histórias das classes sociais altas, a peça lança o olhar para personagens economicamente desfavorecidos.

A partir de espaços sociais empobrecidos e pouco romantizados, o texto trata de questões universais do amor.

 




       Voltando ao mote do “tripé” e da “franciscanidade” desta montagem, já que há uma estreita relação entre os dois aspectos, para provar minha tese, vou começar pena cenografia, que, na ficha técnica, aparece com a rubrica direção de arte, a cargo de JOÃO DALLA, que penso, também, agasalhar os figurinos. O cenário é bastante “pobre”, em termos de elementos cenográficos, mas totalmente servindo de uma “boa moldura” para a montagem. Os personagens são pobres e moram em favelas. Das pouquíssimas peças da cenografia, fazem parte, por exemplo, duas cadeiras, bem simples. Se, por um ato de “demência”, por uma “sandice” do cenógrafo, fosses feitas de ouro maciço e, sob os refletores, reluzissem, acho que o público não notaria, porque o “tripé” se sobrepõe a tudo. Igualmente pobres e simples são os figurinos, seguindo, perfeitamente, as necessidades impostas pelo texto, pela história. Dão a impressão de serem peças do acervo pessoal dos atores. Ambos, cenário e figurinos estão totalmente inseridos no contexto.



        A peça conta com uma iluminação que também funciona bem, idealizada por RAFAEL SIEG. É correta, entretanto, talvez, RAFAEL, com a sua competência, que conheço bem, até pudesse “brincar” um pouco mais com a luz, se o Teatro lhe oferecesse melhores equipamentos técnicos para tal. A iluminação também funciona bem.



           É bem possível que o grande público não preste tanta atenção a um elemento que me agradou profundamente, o qual entra nos momentos certos e da melhor forma possível, que é a excelente trilha sonora, assinada por MÁRCIO PIZZI. De primeiríssima qualidade.



        Um pouco sobre o texto, inédito e que reflete sobre os limites éticos do amor, a partir do desejo e das confusões afetivas que envolvem as relações humanas, extraído do “release”, que me chegou, duplamente, às mãos, via JÚNIA AZEVEDO (ESCRITA COMUNICAÇÃO) e GABRIEL GARCIA, um dos produtores da peça, ao lado de JOÃO CÍCERO (O espetáculo não conta com patrocínios e foi feito “na raça”, com recursos dos dois.): A obra acompanha momentos significativos da relação de um casal de amantes, ao longo dos anos, num embate entre o real e o idealizado, entre o desejo e o medo, abordando temas como preconceito, violência e solidão.”. O texto é o primeiro de uma trilogia sobre amores obsessivos, livremente inspirada na letra da canção “Carinhoso”, de JOÃO DE BARRO (BRAGUINHA), planejada para ser encenada ainda este ano, se depender da vontade dos produtores, contando com a luxuosa ajuda dos DEUSES DO TEATRO, da qual ainda fazem parte “Meus Olhos (Ou Leituras Pornográficas)” e “Lábios Meus (Ou O Leito De Amor E Morte)”. “Em cada uma delas, uma relação amorosa obsessiva é discutida. Há, também, uma ligação do amor com uma doença corporal (no coração, nos olhos e nos lábios). As três peças constroem uma reflexão sobre limites éticos do amor em relações humanas e sociais da contemporaneidade.” – são palavras do autor do texto.



      Nesta peça, JOÃO CÍCERO, dramaturgo, diretor, historiador e crítico de TEATRO, um artista premiado, nos apresenta uma dramaturgia muito bem estruturada, em que mistura diálogos a narrativas, quebrando a quarta parede e convidando o público a entrar, com os personagens, na história e a dividir os dramas e os conflitos com os dois, utilizando uma linguagem simples, porém não vulgar, o que outro autor poderia ter feito, já que WANDA e CLAUDEMIR moram na periferia. Mas não existe, no meio desse universo, quem fale naturalmente, de forma correta, e que tenha pretensões a estudos mais adiantados, a uma ascendência acadêmica? É claro que sim! E assim é o casal. Muito bom o texto!



        Para representar os personagens, JOÃO CÍCERO convidou dois ex-alunos seus, da CAL” (Casa de Artes de Laranjeiras), CARLOS MARINHO e PAULA FURTADO; e acertou em cheio. Ambos, aos quais já teci elogios, lá em cima, são iniciantes, como profissionais, e já começam pisando bem forte o palco e dizendo: “Este espaço me pertence!”.



  Este é o segundo trabalho profissional de CARLOS. O primeiro foi numa montagem recente, durante a pandemia, de “O Doente Imaginário”, à qual, infelizmente não assisti – não conhecia, portanto, seu trabalho -, porque me recuso a ir àquele Teatro, enquanto não for erradicada, de vez (Olha o pleonasmo aí, gente!), esta praga de COVID, por não me sentir confortável naquele compacto espaço. Lamento, profundamente, não ter aplaudido o rapaz antes, pois, segundo me informaram, depois da sessão de ontem, ele, lá, também se saiu muitíssimo bem.


(Foto: Autor desconhecido.)

PAULA também ainda tem pouca experiência profissional, porém já fez alguns trabalhos, em Brasília (Ela é de lá.), motivo pelo qual também não conhecia o seu rendimento, como atriz, ótimo, repito. PAULA, assim como CARLOS, vão da comédia ao drama com muita facilidade, demonstrando competência profissional, sem falar no grande entrosamento que há entre ambos, em cena, embora nunca tivessem contracenado antes. Na verdade, segundo CARLOS (Conversei com ambos e com JOÃO CÍCERO, após a sessão), os dois só se conheceram no dia da primeira leitura. Isso acontece raramente, um “casamento artístico”, na base do “amor à primeira leitura”. Já disse, pessoalmente, aos dois, e, agora, aos que me leem, que ambos são excelentes atores e tudo indica que têm duas brilhantes carreiras pela frente, atuando juntos ou separados.


(Foto: Autor desconhecido.)



FICHA TÉCNICA:


Texto: João Cícero

Direção: João Cícero


Elenco: Carlos Marinho e Paula Furtado


Direção de Arte: João Dalla
Iluminação: Rafael Sieg
Operação de Luz: Sandro Demarco
Trilha Sonora: Márcio Pizzi
Fotos: Sabrina Paz
Assessoria de Imprensa: Júnia Azevedo (Escrita Comunicação)
Produção: João Cícero e Gabriel Garcia
Apoio: Cantina Donanna, Rua Gastro Bar, Casa do Sardo e Teto Bar e Cozinha

 

 

 






SERVIÇO:

Temporada: de 08 de abril a 1o de maio de 2022.
Local: Sala Municipal Baden Powell.

Endereço: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, nº 360 – Copacabana – Rio de Janeiro.

Dias e Horário: sextas-feiras e sábados, às 19h30; domingos, às 18h.
Valor do Ingresso: R$30,00 inteira. Meia entrada para estudantes e maiores de 60 anos.
Vendas na bilheteria do Teatro.
Classificação Etária: 16 anos
Duração: 75 minutos
Instagram: espetaculomeucoracao

Gênero: Comédia Dramático-Romântica.

 

 


        Dormi muito feliz, ontem, e acordei, hoje, bem cedinho, para escrever esta crítica, a fim de que ela ficasse pronta, para ser publicada ainda hoje, dia 30 de abril de 2022, com o objetivo de poder ajudar na divulgação do espetáculo. Espero tê-los convencido de que que vale muito a pena assistir a esta peça. De onde, talvez, muita gente pouco espere, VEM MUITO.

Recomendo-a com muito empenho.

ANSIOSO POR COMPLETAR A TRILOGIA!!!

       

 



FOTOS: SABRINA PAZ

 

 

GALERIA PARTICULAR:

(FOTO: SANDRA NEY)



(Com Carlos Marinho, Wagner Corrêa de Araújo 
e Paula Furtado.
Foto: Sandra Ney.)


E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!

































































quarta-feira, 27 de abril de 2022

 

“PROCURO O HOMEM

DA MINHA VIDA,

MARIDO JÁ TIVE.”

ou

(UMA CAÇADA

QUASE IMPOSSÍVEL.)

ou

(UMA COMÉDIA QUE

HONRA

O GÊNERO TEATRAL.)







     Quando alguém se propõe a sair do conforto de sua casa, enfrentar um trânsito “louco”, como o do Rio de Janeiro, em plena noite de desfile de escolas de samba, num “carnaval fake”, de abril, pode fazê-lo com vários propósitos, interesses e expectativas. Fiz isso no dia 22 de abril de 2022, para assistir a uma peça, em cartaz do Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.) Era uma COMÉDIA, gênero pelo qual já declarei, tantas vezes, minha total simpatia, desde que ela seja boa, o que implica ter um texto engraçado e inteligente, contar com um elenco de pessoas que saibam fazer rir, uma direção afinada e outros fatores, no caso, menos importantes, porém não desprezíveis. Mas é que o tripé de sustentação, para que uma COMÉDIA possa “funcionar”, se resume nos três elementos acima destacados.




        Quando me convidam para assistir a uma COMÉDIA, é para me fazer rir; caso contrário, não só saio do Teatro maldizendo a hora em que aceitei o convite, lamentando o meu tempo perdido e jurando, a mim mesmo, que vou pensar se aceitarei, ou não, um próximo, para ver uma COMÉDIA encenada. Isso já me aconteceu tantas vezes, e eu não me emendo, não cumpro o juramento. Estou sempre em dívida comigo mesmo, que é a pior delas. De vez em quando, “entro em cada fria”, que me faz ter pena de mim mesmo: “Chorei, chorei, até ficar com dó de mim.” (Chico Buarque de Holanda).



 Mas, para compensar, e me deixar muito feliz, também acontece, com menos frequência, infelizmente, de eu deixar o Teatro ainda rindo, sozinho, passando pelo “louco do riso frouxo”, até chegar a casa, e, mais raramente, preciso “massagear as bochechas”, que chegam a doer, de tanto que eu ri. Já cheguei, sem exagero, ao “desespero” de querer gritar, para quem estava no palco: “Para, pelo amor de Deus, que eu não aguento mais de rir e vou ter de dar uma saidinha estratégica, para aliviar a bexiga!”. Sim, isso é verdade. Sem fazer nenhum esforço de memória, posso citar, como um exemplo, as duas vezes em que assisti a “Teatro Para Quem Não Gosta”, com os impagáveis queridos amigos Marcelo Médici e Ricardo Rathsam.




 Mas falemos da peça sobre a qual me propus a fazer comentários críticos. Fui já sabendo que se tratava de uma COMÉDIA e que eu queria me divertir muito naquela noite. Estava, sem a menor chance de errar, indo ao lugar certo, porque já havia lido o “release”, que JULYANA CALDAS (JC ASSESSORIA DE IMPRENSA) me havia enviado, conferido o elenco, formado por gente que sabe o que faz num palco, havia gostado da proposta e da SINOPSE.. Achei, portanto, que poderia render um espetáculo que valeria a pena conferir. E adorei o título: “PROCURO O HOMEM DA MINHA VIDA, MARIDO JÁ TIVE” (“Busco Al Hombre De Mi Vida, Marido Ya Tuve.”) Os títulos devem ser curtos, porém precisam conter algo “que venda” o produto. O da peça aqui analisada é bem longo, mas funciona muito. De imediato, faz-nos rir e aguça a nossa curiosidade. Nele, está contida, de forma bem inteligente, uma boa piada; piadas “burras” e mal ditas me irritam num grau...



         A peça chegou ao Rio de Janeiro com um bom histórico e foi baseada num livro que se tornou um “best seller” (mais de duzentos mil exemplares vendido no mundo). Fora do Brasil, ela, cujo original foi escrito, em 2001, por uma mulher, a escritora argentina, DANIELA DI SEGNI, já foi encenada em vários países, como Argentina, Chile, Uruguai, México, Portugal, Estados Unidos, Porto Rico e República Dominicana, depois de ter recebido as devidas adaptações para os palcos. Além disso, a montagem a que assisti vem de uma vitoriosa carreira, em São Paulo, onde estava sendo apresentada, com casas lotadas, sucesso de público e de crítica, inclusive com sessões extras, no Teatro J. Safra. E já tem uma longa agenda a cumprir, quando terminar a temporada em curso.

 


 


SINOPSE:

A peça é uma COMÉDIA, que fala sobre encontros e, principalmente, desencontros amorosos de mulheres na faixa dos 50 anos, que já passaram por, pelo menos, um casamento.

A história se desdobra a partir de um divertido “papo”, regado a muito vinho, entre três amigas, que refletem sobre suas vidas, indo do sonho com a entidade “homem ideal” à descoberta do prazer de encontrar a si mesmas.

A adaptação trouxe as questões do livro atualizadas aos dias de hoje, pois as mulheres mudaram muito... e para melhor!

O relato, ágil e divertido, cheio de observações agudas, mostra, com clareza, a trama de uma sociedade que rompeu com quase todos os paradigmas, mas que, ainda, não se dispôs a juntar os pedaços.

O que acontece depois de um divórcio?

Como se diferencia um homem casado de um solteiro?

Essas são algumas das perguntas com as quais muitas mulheres, a partir de suas próprias vivências, identificam-se.

       


        Seria inviável a combinação “marido = homem perfeito”, se é que existe “homem perfeito”, ou “mulher perfeita”? É claro que isso pode existir, aos olhos de algumas pessoas. Da mesma forma, qualquer bom dramaturgo poderia, a “título de vingança” (momento descontração) escrever uma peça em que a figura mulher perfeita” fosse procurada por um homem, com uma lanterna na mão, pelo fato de ele já ter tido a sua “esposa”.  É lógico que todas as situações abordadas na COMÉDIA não podem ser atribuídas – falo dos defeitos dos ex-maridos das três amigas -, de uma forma geral, a todos os homens, porém fazem parte de um consciente coletivo feminino, assim como os homens também têm o seu, em relação às mulheres.   



  A peça tem vários pontos positivos, que, facilmente, saltam aos olhos, e, se há os negativos – e podem até existir -, estes estão muito bem “camuflados”, porque os meus “olhos de lince” não conseguiram perceber.



       O primeiro a ser comentado é a estrutura do texto. Não conheço como o livro é dividido, mas a peça está fragmentada em quadros, independentes, cada um mais hilário que o outro. Há cenas de solo, ou quase isso, e outras em que o elenco atua em partes ou o quarteto, formado por LEONA CAVALI, TOTIA MEIRELES, GRACE GIANOUKAS e MAURÍCIO MACHADO. CLAUDIA VALLI é a responsável pela versão brasileira. CLAUDIA, como em todos os outros lugares em que a peça foi apresentada, teve que trazer, para os dias de hoje, as questões do livro, uma vez que “as mulheres mudaram muito... e para melhor!”. Era preciso, também como deve ter acontecido nos outros lugares, dar um toque local aos conflitos, assim como escolher uma linguagem que fosse familiar aos espectadores. Muito bom trabalho de adaptação! Ótima dramaturgia!



  Outro ponto positivo está concentrado na direção da peça, conduzida por EDUARDO FIGUEIREDO, experto em dirigir esse gênero teatral. EDUARDO assina uma direção muito dinâmica, com ótimas marcações e segurando as rédeas, para que o engraçado não se transforme em ridículo nem deixando de valorizar as melhores piadas e críticas do texto. Falei em “críticas”, porque, por mais que a peça não tenha maiores pretensões, além de fazer divertir, o que já é ótimo, uma “COMÉDIA para a pós-pandemia”, QUE AINDA NÃO ACABOU – QUE ISSO FIQUE BEM CLARO -, todos sabemos que “todo humor é crítico”, que, por trás de cada fala ou ação que provoca o riso, há uma reflexão a ser feita, a começar por esta: “Estou rindo de quê? Por quê? "Porque não sou o foco da piada, ou da crítica” é a resposta. “Não sou eu quem está sendo exposto ao ridículo e ao julgamento alheio”. “E eu não gostaria de que rissem, se fosse eu o motivo da piada, ou da crítica”. E isso, no mínimo, pode acionar o gatilho da empatia.



  A COMÉDIA chega até nós com uma certa, digamos, “defasagem de tempo”, visto ter sido escrita há 21 anos, mas o tema é universal e vem se tornando, infelizmente, a cada dia, mais atemporal. Isso, aplicado ao Brasil, ganha um certo relevo, já que, desafortunadamente, seguindo o péssimo e inadmissível exemplo de alguém que ocupa o cargo de mandatário de uma nação, sem a menor condição para exercê-lo, vivemos num país em que a misoginia cresce a olhos vistos, uma sociedade em que o “poder do falo” sempre se sobrepõe às mulheres, as quais, felizmente, estão “acordando” e “metendo o pé na porta”, ainda que, por enquanto, de uma forma parcimoniosa. Mas já é um bom início, que conta, totalmente, com a minha adesão, representando os homens que respeitam e valorizam as mulheres, as quais se apresentam, na peça, como seres independentes, pensantes, atuantes e “poderosas”, a fim de viver o melhor que a vida nos reserva. Essa reação é mais que necessária, já que vivemos num país onde a criminalidade contra a mulher é cruel e absurda, o que se agravou bastante durante a pandemia de COVID -19, QUE NÃO ACABOU AINDA!!! Que isso fique bem claro!!! (Repito mesmo!!!)



  E, antes que alguém já possa estar pensando que verá, no palco, uma batalha travada entre machos e fêmeas, já vou adiantando que não se trata disso. As três “balzaquianas” não se colocam contra os homens; não são misândricas; cada uma “desfia o seu rosário”, aparentemente, de uma forma geral, mas, na verdade, aplicando seus reclamos aos respectivos ex-maridos. Transcrevo uma declaração interessante de LEONA CAVALI, com o que concordo plenamente: “Além de engraçada, a peça traz uma crítica e uma reflexão de que a mulher, enquanto ser humano potente, é capaz de se autotransformar.”.




   Já tendo expressado minha opinião sobre o texto e a direção, volto meus holofotes para o afinado elenco, que concentra três atrizes e um ator de grande versatilidade, num palco, todos num ótimo momento profissional, assumindo vários personagens e nos surpreendendo, a cada um novo que nos é apresentado.



     Obedecendo à ordem alfabética e, como “cavalheiro”, vou iniciar meus comentários pelas “meninas”, por GRACE GIANOUKAS, que, apesar de, por ser uma grande atriz, também ter a capacidade de fazer papéis dramáticos, parece que nasceu para a COMÉDIA, para nos fazer rir, o que, para ela, tudo nos leva a crer que seja uma tarefa bem fácil, que a atriz faz bem naturalmente, a julgar pelo conjunto de recursos que reúne, como máscaras faciais, pequenos trejeitos e uma excelente exploração da voz. Seus silêncios são tão engraçados quanto o que ela diz. Não sei se por conta de tê-la conhecido, há cerca de vinte anos, atuando na indelével e adorável “Terça Insana”, um espetáculo em que vários atores apresentavam esquetes-solos, e pelo fato de, muito recentemente, ter assistido a um monólogo, feito por ela, que vem apresentando, às terças-feiras, em outro Teatro, comemorando 40 anos de profissão, sempre prefiro vê-la nos solos. Nessa peça, o elenco me fez dar boas gargalhadas. Sua “princesa da Disney” é extremamente hilária.





    LEONA CAVALI interpreta seis personagens diferentes e é difícil dizer em qual delas a atriz se supera, mas acho que a empregada doméstica que interpreta numa deerminada cena tem a minha preferência, ainda que todas as outras também me tenham agradado bastante. Se um espectador adentrasse, atrasado (PÉSSIMO ESPECTADOR!!!), o Teatro, na hora dessa cena, não seria capaz de reconhecer a atriz atuando, em função de seu visagismo, que inclui uma prótese dentária, sua postura corporal, mudança de voz e de estilo de linguagem. Das três atrizes, foi a que mais me surpreendeu, uma vez que ali estava outra LEONA, não a que, até então, “eu conhecia”, mais próxima a papéis sérios, dramáticos. Pensar em LEONA CAVALI me faz, imediatamente, voltar ao ano de 2014, quando a conheci, no Teatro Raul Cortês, em São Paulo, “reencarnando” (Atores, em geral, detestam que se falem de suas atuações, usando esse verbo.) uma Frida Khalo memorável, em todos os sentidos, num papel denso, trágico e lindo. Frida Khalo, a pintora, é uma das “mulheres da minha vida”, e LEONA/FRIDA foi incorporada à minha lista.




  Se GRACE parece ter sido escalada para o time da COMÉDIA e LEONA, para o do DRAMA, TOTIA MEIRELES, por quem nutro uma grande admiração, como atriz e pessoa, tem vaga garantida em qualquer escalação e ora joga num “time”, ora “defende” o outro. TOTIA transita, muito bem, nos dois e, principalmente, nos musicais, a minha grande paixão, no baú onde estão guardados todos os gêneros dramáticos. Excelente atriz, ou melhor, “cantriz”, TOTIA também não deixa escapar nada que possa enriquecer cada uma das personagens que interpreta na peça, a qual lhe dá a oportunidade de mostrar quão versátil ela é, quando pisa as tábuas.




    E, já que falei em “versatilidade”, faltou, para encerrar os comentários sobre o elenco, discorrer sobre MAURÍCIO MACHADO, o homem que “tem de dar conta de três mulheres em cena”. A função dele é, sem qualquer demérito, a de um “escada”, para cada uma das atrizes, só que um “escada” de luxo, da maior importância, que enriquece todas as cenas em que entra, já que, a cada sua nova aparição, vem assumindo um personagem totalmente diferente do anterior e muito engraçados, todos eles. Tais interpretações exigem, do ator, muito talento e criatividade, além de um trabalho para encontrar posturas e vozes diferentes, para cada um deles, nove, ao todo.




   Para terminar os comentários sobre a ficha técnica da peça, merecem destaque os ótimos cenários e figurinos, de KLEBER MONTANHEIRO, que utilizou pouco dinheiro e muita criatividade, com uma proposta, combinada, evidentemente, com a direção, de muitas entradas e saídas de elementos cenográficos em cena, uma movimentação frenética, que ajuda a dar ritmo à encenação. Além disso, GUGA STROETER e MATIAS CAPOVILLA assinam a direção musical, onde incluo uma deliciosa e muito bem selecionada trilha sonora; e destaco, também, o nome de DICKO LORENZO, responsável por transformar atores em personagens, com seu excelente trabalho de visagismo.



   Mas não falei, ainda, e, se me esquecesse dele, seria um erro imperdoável, de uma figura muito importante, nesta montagem, sem a qual não consigo ver o espetáculo na minha frente. Sério! Falo de GABRIEL MOREIRA, um multi-instrumentista, que toca ao vivo, durante todo o espetáculo, inclusive fazendo a sua abertura. É um “apêndice”, indispensável, do elenco.


(Gabriel Moreira. Foto: Autor desconhecido.)


 


FICHA TÉCNICA:

Livre adaptação da obra de Daniela Di Segni

Dramaturgia: Claudia Valli

Direção: Eduardo Figueiredo

Assistência de Direção: Alex Bartelli

 

Elenco (por ordem alfabética): Grace Gianoukas, Leona Cavali, Maurício Machado e Totia Meireles

Música ao Vivo: Gabriel Moreira

 

Cenário: Kleber Montanheiro

Figurinos: Kleber Montanheiro

“Light design”: Ricardo Fujii

“Sound Design”: André Omote

Direção Musical e Trilha Original: Guga Stroeter e Matias Capovilla

Visagismo: Dicko Lorenzo

Coreografia: Janaina Marlene

Preparação Vocal: Roberto Anzai

Fotografia e Programação Visual: Priscila Prade e Murilo Lima

Fotos de Cena: Malu Vieira

Produção Executiva: Paulo Travassos

Assistente de produção: Jorge Alves

Administração: Paulo Paixão

Assessoria de Imprensa: Julyana Caldas (JC Assessoria de Imprensa)

Realização e Produção: Manhas & Manias Projetos Culturais

 

 

 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: de 01 de abril a 08 de maio de 2022.

Local: Teatro das Artes.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 – Gávea - Rio de Janeiro (Shopping da Gávea - 2º Piso).

Dias e Horários: sexta-feira e sábado, às 21h; domingo, às 20h. 

Valor dos Ingressos: sexta-feira: R$90,00 (inteira) e R$45,00 (meia entrada); sábado: R$100,00 (inteira) e R$50,00 (meia entrada); domingo: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia-entrada)

Horário de funcionamento da bilheteria: de segunda-feira a domingo, das 15h às 20h. Após às 20h, apenas para peças do dia.

Vendas “on-line”https://divertix.com.br

Aceita os cartões de débito e crédito. Não aceita cheques. 

Telefone da bilheteria: (21)2540-6004.

Recomendação Etária: 12 anos.

Duração: 1h15min.

Gênero: COMÉDIA.

 

 



        Recomendo, com bastante ênfase, esta deliciosa COMÉDIA, que é um espetáculo voltado para mulheres e para homens também. E atinge pessoas de qualquer idade, além de ser um convite, para que cada um aceite a sugestão de olhar para o seu interior e não ter pudor de rir de si mesmo, quando se identificar com os personagens.

 

 

 



FOTOS: PRISCILA PRADE,


MURILO LIMA

e

MALU VIEIRA.

 

 

GALERIA PARTICULAR:


Com Grace Gianoukas.


Com Leona Cavali.


Com Maurício Machado.


Com Totia Meireles.


Com Paulo Paixão.

 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!