quarta-feira, 29 de junho de 2022


NINGUÉM SABE

MEU NOME”

ou

(MAS TEM

QUE SABER!!!)

ou

(BASTA DE

INVISIBILIDADE!!!)





      Sei que estou sendo repetitivo, mas sinto vontade de dizer e, então, escrevo assim mesmo, e sempre o farei: é muito bom, bom demais, quando eu vou a um Teatro, sempre, praticamente, com a melhor das expectativas, coração e cabeça abertos, com vontade de gostar do espetáculo, e ele supera as minhas perspectivas, como ocorreu no último sábado (25 de junho / 2022), depois de ter assistido a um solo, com a atriz e cantora ANA CARBATTI, “NINGÉM SABE MEU NOME”, em cartaz na Sala Multiuso do SESC Copacabana (VER SERVIÇO.)


A tradicional "rodinha".


Idem.


        Confesso que desejei assistir ao monólogo, por conta da ficha técnica, “recheada” de nomes de profissionais que eu admiro e respeito, mas não pela sinopse. E a explicação é muito simples: ainda que eu considere da maior relevância, necessidade mesmo, falar da questão do racismo, explícito ou estrutural, da segregação racial, com relação aos negros, no Brasil, para abordar a nossa realidade, já estou cansado de assistir a espetáculos de TEATRO, tratando desse tema, de qualidade duvidosa e, até certo ponto, em função da forma como o assunto é abordado, atingindo um resultado oposto ao que era esperado pelos envolvidos nos projetos. Não conseguem conquistar mais simpatizantes e companheiros de luta, para uma causa mais que justa, venha isso de que lado vier, que é lutar por algo que pode, até mesmo, parecer utópico, mas pelo que não devemos, nunca, negros, brancos, todos nós, desistir, que seria um basta total a uma “aberração”, totalmente inaceitável, o preconceito racial contra os pretos, de sangue vermelho, como o de todos os seres humanos. Acabam, sim, é nos aborrecendo - a mim, pelo menos -, perdendo a oportunidade de estimular uma resistência maior, nessa luta. Já saí bastante “incomodado”, depois de ter assistido a algumas peças. Basta dizer isso, sem dar exemplos. Não vou entrar em maiores detalhes, visto que o importante, neste momento, é jogar muitas luzes sobre este ótimo projeto, idealizado por ANA CARBATTI.




 

SINOPSE: 

IARA (ANA CARBATTI) é uma mulher preta, de meia idade, mãe de MENINO (O personagem só é citado e não assume uma identidade nominal.), uma criança preta.

Em uma conversa íntima com o público, questiona sua própria existência e sua função na sociedade, como mulher e mãe: educar seu filho, para que cresça e floresça, em sua pureza, ou despi-lo, ainda em tenra idade, de sua inocência, de modo a prepará-lo para o enfrentamento de uma sociedade que não o reconhece como igual.

Ou, ainda, se é possível fazer as duas coisas, simultaneamente.

 

 




      O tema é mais do que pertinente, oportuno, e, infelizmente, parece sê-lo cada vez mais, e sua abordagem se dá por meio de um excelente texto, da própria ANA CARBATTI, também idealizadora do projeto, costurado, com muito cuidado e delicadeza, sem pieguismo (ou pieguice, como acharem melhor), por INEZ VIANA e MÔNICA SANTANA, habilíssimas na dramaturgia, com falas que tocam, direto, o coração do espectador, sem voltas desnecessárias nem vitimização barata. Tudo o que aquela mãe fala, a sua dor e preocupação com o futuro do filho, é verdadeiro e jogado no ar, para ser captado e “digerido” por pessoas que conseguem exercitar a empatia e se despir de qualquer preconceito racial. Parece que todos os que compunham a plateia entenderam bem a mensagem que o texto nos passa e acolheram, de verdade, aquela IARA, como demonstraram na ovação, ao final do espetáculo, e nas reações que deixavam escapar, durante a encenação. Faz-se um silêncio sepulcral, para que aquela mãe, representando todas as “iaras” do mundo, especialmente as do Brasil, possa ser ouvida e respeitada. Seria bom que também aquelas pessoas não praticassem qualquer outro tipo de preconceito. Assim espero, uma vez que preconceito (PRÉ-CONCEITO) é uma das coisas mais “burras” e inadmissíveis que existem na face da Terra (QUE É REDONDA!!!).





        Não vou repetir aqui, porque não tenho acesso, com precisão, aos números que a protagonista nos mostra, acerca da grande quantidade de negros mortos pelo Estado, uma boa parte deles crianças e adolescentes, por balas “achadas”, entretanto qualquer cidadão que não seja alienado e que acompanha o noticiário de cada dia, sabe que não há nada de mentira nem exagero quanto àqueles números. Trata-se de algo, absurdo, inadmissível e abominável.




     Apropriando-me de um trecho do “release”, enviado pela assessoria de imprensa (JSPONTES ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO – JOÃO PONTES e STELLA STEPHANY), os envolvidos no projeto nos apresentam um “espetáculo solo que reflete sobre os códigos racistas tácitos da sociedade, seus impasses, impactos e possíveis propostas de reparo”. Infelizmente, sou obrigado a discordar quanto ao emprego do adjetivo “tácitos”, que significa “o que não é expresso por palavras; implícito, subentendido, subjacente, inexplícito, escondido, encoberto, secreto, oculto, ignorado, recôndito, esconso e escuso”, porque, pelo contrário, vejo e sinto, cada vez mais, escancarada a aversão contra os negros, praticada por uma grande parte da sociedade, o que leva IARA a abrir seu coração e nos contar que um de seus maiores sonhos é “ver o filho, preto, ultrapassar a marca dos 30 anos”, para o que não deixa de estar sempre alertando-o, como uma maneira de ele poder atingir, ileso, a idade adulta, com uma lista de “recomendações”, que sintetizam a angústia de milhões de mães no Brasil e no mundo: “seja educado, não use óculos escuros, não reaja pela emoção, não responda, não faça contato físico, não faça movimentos bruscos, não fale muito, não fale, lembre-se do seu objetivo: voltar pra casa em segurança, corte os cabelos, não perambule à noite, não use ‘pullover’ com capuz, deixe as mãos sempre à vista, nunca esqueça a carteira de identidade, não faça nada que leve as pessoas a terem medo de você, não corra, não grite por socorro, não grite, respeite o código tácito, fique calmo”. Toda essa sucessão de “advertências”, visando a uma sobrevivência mais longeva, como um ser humano, como outro qualquer, nesta imensa e cruel “selva de brancos”, é uma “ignomínia” sem tamanho, um incomensurável absurdo. Mas ela o faz, conscientemente, porque conhece, com sua experiência, muito maior que a do seu filho, de onze anos, o estigma do negro numa sociedade que, paradoxalmente, é formada, em sua maioria, não por brancos, mas por gente como os seus ancestrais, ou por misturas destes com o branco, e outras etnias. Na verdade, o Brasil é o primeiro país do mundo com maior população preta, fora do continente africano. Pouca gente sabe disso; eu mesmo não sabia.




        No decorrer do espetáculo, a mãe se dirige à plateia, pedindo que o público a auxilie a saber como agir, com relação ao filho, que sempre está “correndo perigo”: “Vocês acham que é muito cedo, para falar sobre isso com o meu filho? Vocês acham que é muito cedo, para falar sobre isso com o seu filho? Ainda tem alguém aqui que ache que esse papo de perseguição do segurança é coisa da minha cabeça? Que essa coisa do porteiro mandar preto para o elevador... Vocês acham que eu estou assustada demais? Vocês acham que eu estou assustando meu filho? Que eu estou tirando a inocência dele? Vocês acham que a gente só deve falar sobre isso, quando ele vier a sofrer algum tipo de discriminação? Vocês acham que estou provocando uma fera? Que ele vai se tornar um homem preto rancoroso? E que a consequência desse rancor vai ser pior do que a discriminação que venha a sofrer?”. É muita angústia para um desesperado coração de mãe. É muito sofrimento.




  Por mais séria e importante que seja a temática abordada, o texto alterna momentos de tensão com outros mais leves, até mesmo não deixando de lado o humor e a empatia, visando a uma “uma reflexão sobre como a sociedade ainda precisa compreender sua responsabilidade e agir, para reparar sua dívida histórica com a população preta” e, segundo o já citado “release”, com o que concordo, plenamente – e isso é um dos principais motivos que me levaram a gostar do espetáculo e a aplaudi-lo com todo o meu vigor -  “a peça foi concebida para dialogar com todos os públicos, e não somente com o público preto, sem panfletarismo ou tons acusatórios, mas amorosamente”, convidando, a todos, que se entendem brancos, num país mestiço, a refletir sobre o que ainda não foi feito e é preciso fazer para combater o racismo estrutural”.




   Muito me agradou a direção, a quatro mãos, de INEZ VIANA e ISABEL CAVALCANTI, pela utilização dos recursos tecnológicos, da orientação natural passada à atriz e pelo impactante final, que faz qualquer um engolir em seco e verter lágrimas. Não vou dar “spoiler”, entretanto garanto que a cena é daquelas que ficam na nossa retina, para sempre.




  Da mesma forma, não posso deixar de elogiar o trabalho de direção de movimento, desenvolvido por CÁTIA COSTA, assim como mencionar o correto cenário, de TUCA MARIANA, o figurino, de muito bom gosto, desenvolvido por FLÁVIO SOUZA, o lindo desenho de luz, assinado pela dupla LARA NEGALARA e FERNANDA MANTOVANI, e a impecável direção musical de VIDAL ASSIS.




 A propósito, são lindas e deliciosamente interpretadas, por ANA CARBATTI, as duas canções da peça, compostas (letra e música) por ASSIS VIDAL, com masterização e edição de TONINHO (Estúdio Casa com Música): “Ninguém Sabe Meu Nome” e “Oração de uma Mãe Preta”. Ambas as letras, pode-se dizer, fazem parte do texto da peça.




  É comovente a maneira como ANACARBATTI se deixa conduzir, em cena, ocupando todo o vasto espaço cênico, ainda que sozinha, preenchendo-o plenamente. Como é linda a sua voz, o seu timbre de voz, quer falando, quer cantando! Ela consegue atingir a todos – disso eu tenho certeza –, com uma interpretação bem natural, verdadeira. Ela é a porta-voz de IARA, com a maior propriedade, visto que leva, para o palco, a sua própria realidade. Percebe-se como é total a sua entrega à personagem, a qual, de vez em quando, eu confundia com a atriz, porque esse me parece ser um dos propósitos do espetáculo. Uma atriz de muitíssimas possibilidades, com um potencia de talento a esbanjar.





 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Idealização: Ana Carbatti 

Texto: Ana Carbatti 

Dramaturgia: Inez Viana e Mônica Santana

Direção: Inez Viana e Isabel Cavalcanti

Direção de Movimento: Cátia Costa

Cenário: Tuca Mariana

Figurino: Flávio Souza

Desenho de Luz: Lara Negalara e Fernanda Mantovani

Direção Musical: Vidal Assis 

Fotografia: Estúdio Códigos

Vídeo / Foto: Helena Bielinsk e Daniel Barboza

Direção de Produção: Aliny Ulbricht 

Produção Executiva: Raissa Imani 

Direção de Comunicação: Daniel Barboza 

Estágio de Produção: Karen Sofia 

Coprodução: Kawaida Cultural

Realização: Sesc Rio

Assessoria de Imprensa:  JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

 

 



Momento interatividade.


 

SERVIÇO:

Temporada: de 16 de junho a 10 de julho / 2022.

Local: SESC Copacabana (Sala Multiuso).

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2547-0156.

Dias e Horários: de 5ª feira a domingo, sempre às 18h.

Valor dos Ingressos: R$30,00 e R$15,00 (meia entrada)

Duração: 50 minutos.

Classificação Etária:12 anos.

Capacidade: 48 espectadores.

Gênero: Drama.


 






 Acho que esta crítica merece ser encerrada com um lugar destinado a reproduzir algumas palavras, de uma das diretoras, INEZ VIANA, as quais são incontestáveis, e não há volta: “Só o antirracismo conseguirá nos devolver à humanidade perdida, em mais de 300 anos de escravização. Não haverá liberdade, enquanto não houver igualdade. E a hora de ajudarmos a IARA a fazer com que seu filho ultrapasse os 30, é agora. Essa peça é uma das mais importantes que já fiz, em quase 40 anos de TEATRO. É a palavra-semente que precisa ser espalhada pelo mundo. Por isso, todos os dias, agradeço à extraordinária Ana Carbatti pelo honroso convite.”.





Desnecessário seria dizer que RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, ESTE ESPETÁCULO!!!
















Reação do público, EM TODAS AS SESSÕES.







A atriz e as diretoras.



FOTOS: HELENA BIELINSK

e

DANIEL BARBOZA 

 

 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!


















 

 























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