sábado, 23 de novembro de 2013


“CAZUZA, PRO DIA NASCER FELIZ – O MUSICAL”   -   MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM”, MAS VERDADES VERDADEIRAS ME INTERESSAM MUITO MAIS.

 
 
Elenco.
 
Algumas vezes, sentei-me ao computador, para escrever minhas impressões sobre o espetáculo CAZUZA - PRO DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL, e, em todas, fracassei, porque não sabia nem por onde começar. 

Decidi, então, rever o espetáculo e anotar todos os detalhes que me chamaram a atenção nele, já que, na primeira vez, não me contive, mergulhei profundamente na emoção e, a partir dos dez ou quinze minutos após o início da peça, já estava chorando, muito comovido, o que continuou ocorrendo durante todo o espetáculo, incluindo o intervalo. 

Saí do teatro totalmente impactado com o que vi, dirigi meu carro, no longo percurso de Copacabana ao Recreio dos Bandeirantes, chorando, a cada cena que me vinha à cabeça, e só consegui me livrar de litros de adrenalina e pegar no sono após as cinco horas da manhã. 

Posteriormente, soube, por parte de alguns atores do elenco, que eles também, depois de cada sessão, só conseguem relaxar e adormecer  passado um bom tempo, até que consigam se livrar do peso emocional de seus personagens e da carga emotiva do espetáculo, no todo.

            É preciso – mais do que isto, que fique bem claro – dizer que tudo o que aqui vai escrito é a mais pura verdade, já que não sou EXAGERADO, mas tenho, sim, um coração do tamanho do mundo, para acomodar toda a emoção que a noite do sábado, 26 de outubro (vai ficar, para sempre, na minha memória afetiva) me reservou.
 
Cazuza descontraído   /  Cazuza e Lucinha.


            Sempre fui totalmente apaixonado pelo talento de CAZUZA, sem a menor preocupação com sua vida particular (“EU NÃO POSSO FAZER MAL NENHUM A NÃO SER A MIM MESMO” - Cazuza) e dele guardo algumas boas e marcantes lembranças, desde sua adolescência, e uma em especial, num dos últimos “shows”, que prefiro me reservar o direito de não compartilhar com ninguém, experiência que jamais esquecerei, quando ele me dedicou uma especial atenção, após eu ter sofrido um grave acidente na minha vida.   

A pessoa sai de casa, para assistir a CAZUZA - PRO DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL, pensando que vai se emocionar muito, diante da história de um genial poeta, que teve um final tão trágico, comovendo toda uma nação, e pensa: sou capaz de chorar.

O espetáculo começa e, logo nas primeiras cenas, os espectadores não resistem a tanta emoção e começam a ser ouvidas as primeiras fungadas,  Os lencinhos das senhoras começam a entrar em cena.  E os “lenções” dos homens também - porque homem que é homem não tem vergonha de chorar - começam a ser utilizados.  E vão sendo encharcados até o final do espetáculo.  Pessoas de todas as idades, incluindo gente muito jovem, nascida após a morte do cantor, choram juntas. 

É lindo ver que ninguém se preocupa com o pudor, com a vergonha de chorar em público (os homens) nem com a maquiagem (as mulheres) e se permite desidratar-se. 

Mas não é um choro de tristeza.  Não.  Sim.  É de tristeza, sim, mas de uma tristeza diferente.  Não é porque CAZUZA morreu, até porque gênios são eternos.  É uma tristeza pela interrupção de uma carreira de sucesso, por se saber que ele poderia ter composto mais tantas outras lindas canções, com letras verdadeiras, críticas, cáusticas, denunciadoras, libertadoras...

Uma tristeza por tanto sofrimento por que passou o próprio CAJU, apelido dele, LUCINHA e JOÃO ARAÚJO, seus pais, os amigos mais chegados, seus amores, seu público, nós, eu.  Uma tristeza, por saber que nos falta mais uma voz, neste momento tão nebuloso e de trevas por que passa o Brasil (“BRASIL, MOSTRA A TUA CARA!” - Cazuza), no campo político e ético, para protestar e zombar “dessa gente careta e covarde”; corrupta, burra, do mal.
 
Pose para o programa da peça
 
Se CAZUZA e Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, aqui estivessem, vivos, entre nós, o que não falariam ou escreveriam sobre a violência policial, os escândalos políticos, as trapaças e as tramas governamentais na calada da noite?

CAZUZA, embora eu entenda, muito bem, o que quiseste dizer na letra de MAL NENHUM, vou discordar de ti, meu querido e inesquecível ídolo (eu nunca te quis santo, mas sempre vou te querer ídolo).  Fizeste, sim, um mal enorme a todos os que amavam o teu talento e que não gostariam de que a tua inesgotável fonte criativa secasse nunca.

O espetáculo tinha tudo para ser piegas, para pegar a plateia pela apelação, pela comoção, por meio da piedade, um dos mais horríveis sentimentos inventados pela humanidade.  Ao contrário, a despeito de tanto sofrimento, de tanta emoção, trata-se de um espetáculo “pra cima”, para o que muito colabora a cena final, em que o protagonista recebe os aplausos, envolto na mesma bandeira brasileira na qual o personagem havia cuspido, durante um dos últimos “shows”, senão o último, no saudoso Canecão, sem que se note, na cena da peça, um tom ufanista, como interpretou o cantor, no “show”, o que o levou a tomar aquela discutida e reprovada atitude, na ocasião, mas sim uma demonstração de respeito ao povo brasileiro, numa espécie de “estamos juntos”.  É aplaudidíssimo.  Todo o elenco é ovacionado, de pé.

 
Cazuza e Ezequiel Neves.
 
Alguns dos vários momentos e detalhes que me marcaram no espetáculo, em ordem cronológica:

1)      A canção EXAGERADO, sendo interpretada por CAZUZA e LUCINHA: uma ótima ideia da direção e muito interessante a divisão dos versos que cada personagem canta.

2)      São de excelente qualidade e efeito plástico, para um musical, os muitos videografismos, de Bárbara Lana, projetados durante todo o espetáculo.

3)      É hilária a cena em que CAZUZA subverte a ordem, quando resolve fazer parte de um espetáculo teatral, satirizando o clássico A NOVIÇA REBELDE.

4)      A cena em que CAZUZA, DÉ PALMEIRA, baixista do Barão Vermelho, e BEBEL GILBERTO compõem, juntos, descontraidamente, a bela canção PRECISO DIZER QUE TE AMO é magnífica.  Os atores se comportam com uma naturalidade tão grande, que dá a impressão de que aquilo está acontecendo, de verdade, naquele momento, pela primeira vez.

5)      A interpretação de DOWN EM MIM revela um dos melhores momentos de EMÍLIO DANTAS como cantor/intérprete.  É de arrepiar.  Bloqueou a minha respiração.

6)      O final do primeiro ato, quando todo o elenco está em cena, cantando a belíssima canção MAIS FELIZ, também de CAZUZA, e BEBEL, numa espécie de despedida de CAZUZA, quando este vai tentar tratamento médico, para a aids, em Boston, é muito comovente, pela combinação da beleza da letra e da melodia com a encenação dessa “despedida”.  Quase tive de apelar para uma boia, para não afundar num mar de lágrimas.  Curioso é que quase todas as pessoas pensam que tal canção foi composta por Adriana Calcanhoto, pelo fato de ter sido sucesso na voz desta.

7)      A coreografia que abre o segundo ato, numa cena que se passa num hospital de Boston, é uma das melhores do espetáculo; muito criativa e leve, a despeito da situação.
 
Todo o elenco em cena.
 
8)      Gostei muito da inserção de um texto, por parte do autor da peça, na cena em que CAZUZA interpreta o clássico IDEOLOGIA, por meio do qual ele, paradoxalmente, renega as drogas, exaltado a ideologia dos jovens que se dedicam a lutar por ideais políticos.  Pode parecer meio estranho tal discurso vir de uma pessoa como ele, mas é extremamente válido e pode funcionar como subtexto, como um alerta e uma mensagem de “não às drogas”.  Cada um interprete como desejar.

9)      Outro momento inesquecível da peça é a cena em que CAZUZA, LUCINHA e JOÃO interpretam outro ícone do repertório do cantor, CODINOME BEIJA-FLOR, dele e de Reinaldo Arias.  A canção entra na cena por um pedido de CAZUZA, no leito do hospital, para que sua mãe, que ele considerava a melhor cantora viva (a melhor morta seria Dalva de Oliveira) a cantasse.  Em certo trecho, pede que ela imite Dalva.  É linda a cena.

10)  Bastante forte é a cena em que, para protestar contra o preconceito das pessoas em relação à sua doença, acerca da qual pouco se sabia à época, CAZUZA interpreta, magistralmente, BLUES DA PIEDADE.  A coreografia feita para este número também é das melhores da peça.

11)  Um belo destaque é a luz, predominantemente verde e amarela, na cena em que é cantada a canção BRASIL, uma das letras mais cáusticas e agressivas do poeta.

12)  A cena em que o personagem ZECA CAMARGO entrevista CAZUZA e este revela estar sofrendo com a aids é uma das mais lindas e comoventes da peça, quando, desafiado por CAZUZA  a beber  vinho em seu copo, como prova de não ter qualquer preconceito contra a doença, o jornalista, que, então, trabalhava para um jornal paulista, hoje apresentador de TV, pessoa bem informada, o faz, provocando, na plateia, um silêncio profundo, acompanhado por aplausos, quando o ator  que interpreta ZECA sai de cena.

13)  Percebe-se uma total cumplicidade do público com a ira de CAZUZA e sua família, quando a revista VEJA, num comportamento de imprensa marrom, faz uma matéria de capa com o cantor, já em avançado estado de debilidade, tratando-o como se já houvesse morrido.  Foi, à época, um escândalo jornalístico, que fez valer, à revista semanal, toneladas de críticas de desaprovação pela atitude antiética daquele órgão de imprensa.

 
Rumo a Boston.

ALOÍSIO DE ABREU foi felicíssimo ao escrever o texto da peça, baseado, principalmente, no livro SÓ AS MÃES SÃO FELIZES, um depoimento de LUCINHA ARAÚJO à escritora Regina Echeveria (já li duas vezes e meia e ainda vou ler novamente). 

ALOÍSIO tentou, e conseguiu, mostrar a verdadeira personalidade do artista, seu lado doce e seu avesso irreverente e debochado, bem como soube iluminar cada um dos mais importantes momentos e detalhes da conturbada e curta vida de CAZUZA. 

Sem que menos se espere, até nos momentos mais dolorosos de sua vida, surge um CAZUZA, cujo nome de batismo era Agenor – nada combinando com o próprio - com uma frase engraçada, picante, às vezes, um deboche, tentando descontrair o ambiente. 

Os diálogos são ágeis, entremeados por algumas das melhores canções que saíram daquela usina de criatividade, embora, em alguns momentos, existam pequenas narrações de alguns personagens, para costurar as cenas, principalmente do ponto de vista cronológico.  Muito bem escolhido o repertório e os momentos em que as canções melhor se encaixam.

 
Ezequiel Neves tenta convencer João Araújo e Guto Graça Mello a gravar o BARÃO VERMELHO.

A direção de JOÃO FONSECA, a meu juízo, é a melhor de todos os musicais por ele dirigidos.  JOÃO também é uma fábrica de sucessos.  Quase tudo, praticamente tudo, o que ele assina é bem recebido pelo público e pela crítica.  É um dos meus diretores preferidos.  Na assistência da direção, contou com o trabalho de PAULA SANDRONI, PHILIPE CARNEIRO, CRIS FRAGA e REINER TENENTE, este na preparação de atores.

Muito boa a direção musical e vocal, a cargo de DANIEL ROCHA, que também acumula a função de regente da banda, da qual fazem parte músicos de excelente qualidade, como MARCELO FARIAS (teclado 01 e regente substituto), EVELINE GARCIA (teclado 02), BERNARDO RAMOS (guitarra 01), o próprio DANIEL ROCHA (guitarra 02), RAUL D’OLIVEIRA (baixo) e RAFAEL MAIA (bateria), todos com experiência em musicais.  Poucos músicos, porém produzem um som de primeira qualidade, passando a ideia de que, por trás daquele telão, existem mais músicos, acompanhando os artistas.

 
ELENCO:

EMÍLIO DANTAS (CAZUZA):  Um fenômeno!  Um gênio, à altura da genialidade de CAZUZA.  De formação musical, como cantor e compositor, foi descoberto, para a arte de representar, por Oswaldo Montenegro e passou a se dedicar à interpretação, tendo atuado em produções dramáticas da TV.  Não sei se esse rapaz tinha (porque hoje, certamente, já tem) noção do quanto ele é um excelente ator.  Seu trabalho de construção do personagem é irretocável. 

Quando digo que se trata de um fenômeno, baseio-me em alguns detalhes, tais como o fato de ele não ter a menor semelhança física com o personagem (é até mais alto), mas, assimilou todos os trejeitos e a postura cênica do cantor, além da voz, quando fala e quando canta, muito bem, por sinal. 

Com o passar do tempo, o espectador é até capaz de ir “vendo” o rosto do ator se transformar no do próprio personagem.  Por várias vezes, fechei os olhos e “vi” e ouvi CAZUZA.  Na primeira vez em que assisti à peça, numa cena em que desce à plateia, cantando MAL NENHUM, EMÍLIO se colocou a menos de um metro da minha poltrona.  Foi só fechar os olhos, com as lágrimas escorrendo pelo rosto, para sentir a presença de CAZUZA, “vivo”, entre nós. 

Tenho certeza de que, depois de ROCK IN RIO, O MUSICAL, também dirigido por JOÃO FONSECA, é a partir de agora, neste CAZUZA, que EMÍLIO passou a fazer parte do primeiro time de atores/cantores dos musicais brasileiros.  Que venham muitos outros!

Após cada sessão do inesquecível espetáculo JUDY GARLAND - ALÉM DO ARCO-ÍRIS, da imbatível dupla Charles Möller & Cláudio Botelho, ao qual assisti várias vezes, era comum ouvir as pessoas dizerem (também a mídia o fazia) que a sensacional atriz Cláudia Netto havia “incorporado” o espírito da diva americana, o que causava um certo incômodo à Cláudia, nas entrevistas concedidas, quando reclamava dessa afirmação. 

Concordo, plenamente, com ela, uma vez que, mesmo que fosse médium, o ator ou a atriz não é “cavalo” para receber entidades, muito menos os espíritos de grandes estrelas falecidas.  TEATRO não é terreiro nem centro espírita.  Se Cláudia era Judy, em cena, assim como EMÍLIO DANTAS é CAZUZA, “vivíssimo da silva”, iluminando o palco do Teatro NET Rio, aquilo é fruto de muito trabalho da direção, do visagista, dos preparadores, corporal e vocal, e, acima de tudo, do talento e da disciplina do artista, que dedica horas, dias inteiros, madrugadas a uma pesquisa sobre o personagem, seja ele quem for, a ser representado, “imitado”. 

O ator representa, “vive” um personagem; não o incorpora espiritualmente.  São leituras, vídeos de “shows” e entrevistas, filmes, muito exercício, até se atingir, se possível, a perfeição.  Assim como a Judy, de Cláudia, é PERFEITO o CAZUZA de EMÍLIO.

 
Cazuza, o original.
 
Cazuza, a representação.
 

SUSANA RIBEIRO (LUCINHA ARAÚJO):  Também excelente diretora de TEATRO, SUSANA é um dos principais trunfos do espetáculo.  Muito segura no papel, principalmente sabendo dosar a emoção que tem de passar ao público, sem cair na pieguice.  Excelente e comovente trabalho!

 
Susana Ribeiro e Emílio Dantas.

YASMIN GOMLEVSKY (BEBEL GILBERTO):  Protagonista em ROCK IN RIO, O MUSICAL, aqui, ela tem uma participação menor, quantitativamente falando, mas de excelente qualidade.  Além de boa atriz, YASMIN canta e tem uma bela presença em cena. 

THIAGO MACHADO (FREJAT):  Já tem grande experiência em musicais e se comporta muito bem em cena, no papel de uma pessoa que foi muito importante na vida profissional de CAZUZA.  A cena em que ele se reconcilia com o amigo, após seis meses de rompimento da amizade, é muito bonita e os dois atingem uma bela cumplicidade em cena.

MARCELO VÁRZEA (JOÃO ARAÚJO):  Embora tenha experiência em musicais, conheço mais os trabalhos do ator em outros tipos de espetáculo, no TEATRO “tradicional”.  Uma agradabilíssima surpresa, na pele do pai do cantor.  Ótimo trabalho.

 
O Barão em ação.
 
Mais Barão.

ANDRÉ DIAS (EZEQUIEL NEVES):  O grande incentivador de CAZUZA e um das pessoas mais influentes na sua carreira profissional.  ANDRÉ já tem uma larga experiência em musicais e, mais uma vez, mostra todo o seu talento de intérprete, cantor e bailarino em musicais.  Impressionam a mobilidade e a leveza do ator em cena.  À primeira vista, pode parecer meio caricata a construção do seu personagem, como tive a oportunidade de ouvir da boca de duas pessoas, quando da segunda vez em que assisti à peça, há dois dias, entretanto, para quem, como eu, conheceu o ZECA, como era tratado entre os amigos, era aquilo mesmo.  Acho até que o “exagero” inato de CAZUZA pode ter sido fomentado pelo de EZEQUIEL, que era "louco", “irresponsável”, afetado, mas de um faro desenvolvidíssimo para descobrir talentos, como o Barão Vermelho e Cazuza, em sua carreira solo.  Mais um ótimo trabalho do ANDRÉ.

FABIANO MEDEIROS (NEY MATOGROSSO / GUTO GRAÇA MELLO):  Como NEY MATOGROSSO, com quem CAZUZA teve um romance, após o rompimento do qual, teve, no “performer”, um dos melhores amigos, FABIANO brilha.  Grande interpretação.

BRUNO NARCHI (SERGINHO MACIEL):  O grande amor da vida de CAZUZA, seu namorado, pode-se dizer, até o fim de sua vida.  Também com experiência em musicais, BRUNO desempenha satisfatoriamente seu personagem.

BRUNO SIGRIST (GUTO GOFFI, baterista do Barão Vermelho, e DR. SHELDON WOLF):  BRUNO, que se iniciou nos musicais pelas mãos de Charles Möller e Cláudio Botelho, no magnífico e inesquecível O DESPERTAR DA PRIMAVERA, tem uma bela atuação neste musical.

BRUNO FRAGA (MAURÍCIO BARROS, tecladista do Barão Vermelho):  Apesar de sua pouca experiência em musicais, comporta-se como um veterano.  Boa atuação.

 
Doidões e suas caretas.

SHEILA MATOS (TEREZA, empregada da casa de CAZUZA / ENFERMEIRA / SUB DE LUCINHA ARAÚJO):  Atriz, cantora e bailarina, seu currículo é extenso, sendo a maioria de seus trabalhos em musicais.  Veterana e experiente nessa área, Sheila empresta seu talento, mais uma vez, a um espetáculo deste tipo.

JULIANE BODINI (YARA NEIVA / VIZINHA / MÉDICA / FEIA / SUB DE BEBEL GILBERTO):  Experiente em musicais, também marca sua presença no elenco de CAZUZA.  É uma daquelas a quem chamamos “cantriz”, e das boas.

SAULO SEGRETO (DÉ PALMEIRA, baixista do Barão Vermelho):  Muito bom em cena, apesar de ser um estreante em musicais.  Marcou presença, território conquistado.  Agora, é só dar prosseguimento a outros trabalhos nesta modalidade de TEATRO.

DEZO MOTA (CAETANO VELOSO / LEO NETTO).  Sua “praia” é a música, já tendo gravado um CD, e, agora, atuando neste musical, sua participação é excelente, principalmente quando interpreta Caetano Veloso.  Não creio que tenha havido uma intenção de imitar perfeitamente o cantor, mas este ator/cantor, também baiano, diverte bastante a plateia em sua caracterização.  Bom trabalho.

OSCAR FABIÃO: (ZECA CAMARGO / TRAFICANTE / REPÓRTER / SWING MASCULINO).  Tem discreta, porém boa, interpretação em todos os papéis que representa.

OSMAR SILVEIRA: (ARAPUàSUB DE CAZUZA).  Comporta-se com correção em cena, e tem a difícil missão de substituir EMÍLIO DANTAS, no papel de CAZUZA, o que já ocorreu há uma semana. 

 
Outra vez, Barão.
 
Só dá Barão.

Além desses papéis, todos os atores, à exceção de EMÍLIO, SUSANA e MARCELO, interpretam diversos personagens coadjuvantes e participam de quase todas as coreografias.

Na FICHA TÉCNICA, que é muito extensa, já que são necessários muitos profissionais competentes, para pôr em cena um espetáculo da envergadura de CAZUZA, além dos nomes já citados, os destaques vão para:

CARLOS BAUZYS: supervisão musical.  Nada que desabone seu trabalho.

FELIPE HABIB: preparador vocal.  Bom trabalho.

ALEX NEORAL: coreografias.  Boas, com alguns destaques, já citados. 

NELLO MARRESE: cenário.  Plataformas em níveis diferentes, bem utilizadas nas coreografias e para dar destaque a algumas cenas, servindo para marcar diferentes ambientes.

CAROL LOBATO: figurinos.  Bons.  Interessante é a transição dos figurinos de CAZUZA, do primeiro para o segundo ato.  Durante aquele, quando a doença ainda não se manifestara (só vai acontecer no final do ato), os trajes são bem coloridos, alegres, descontraídos, "descolados", justos ao corpo do ator.  No segundo ato, quando a aids já é manifesta e a degradação, física e psicológica, se faz notar, a figurinista, creio que em trabalho conjunto com a visagista, reserva ao personagem roupas em tons escuros e largas, sempre com mangas compridas, para dar a impressão de abatimento.  É chocante a imagem do personagem, em estado quase terminal, entrando em cena, numa cadeira de rodas, trajando uma calça bem larga e uma camisa de manga comprida, de gola rolê, preta, alguns números acima do manequim de EMÍLIO DANTAS, o que, associado a uma maquiagem e a uma peruca de cabelos ralos, dá a sensação de que o ator emagreceu uns trinta quilos, no mínimo, de um ato para o outro.  Belo truque de caracterização (visagismo).

JULIANA MENDES: visagismo.  Formidável, como já foi comentado acima.

DANIELA SANCHEZ E LUIZ PAULO NENEN: desenho de luz.  Bom, sem destaques especiais.

GABRIEL D’ANGELO: design de som.  Idem.

 
O Barão Vermelho da ficção.

A produção é de SANDRO CHAIM, conhecido por várias investidas de sucesso na área dos musicais.

Terminado o espetáculo, no sábado da semana de estreia, nem que me fosse permitido, já que haveria uma segunda sessão, eu teria condições de cumprimentar alguns amigos do elenco, em respeito ao descanso, mais que merecido, de cerca de meia hora, para o início de uma segunda sessão, o que me fez recordar uma época em que fazíamos nove sessões por semana, de 3ª a domingo, sendo duas na 5ª, no sábado e no domingo.

 
 
"Brasil, mostra a tua cara!" (agradecimentos).
 
Agradecimentos: ovação e delírio da plateia.

Os dois aspectos negativos que observei, nas duas vezes em que fui assistir a este grandioso espetáculo, não dizem respeito à encenação, em si, mas à falta de um “folder”, com a ficha técnica do espetáculo, já que nem todos adquirem o belíssimo programa da peça (R$25,00), e a falta de lugares para as pessoas idosas e portadoras de necessidades especiais se acomodarem no belíssimo e aconchegante melhor “foyer” dos teatros cariocas, antes da abertura da plateia.  O teatro retirou as poltronas que decoravam o local, para dar lugar a uma bela exposição sobre CAZUZA.  Mas creio que não seria necessário remover todos os assentos.  Fica aí uma dica para Frederico Reder e demais pessoas da administração do teatro.

Escrevi tudo isto, ouvindo CAZUZA e sentindo que o o poeta está vivo, com seus moinhos de vento, a impulsionar a grande roda da história, e que o poeta não morreu; foi ao inferno e voltou.  Conheceu os jardins do Éden e nos contou...”

 
Versos de Cazuza, grafados em placas, disponíveis para que os espectadores façam suas fotos, segurando-as.

 
SERVIÇO: 5ªs e 6ªs feiras, às 21h; sábados, às 18h e às 21h30min; aos domingos, às 20h, no Teatro NET Rio, até o dia 22 de dezembro.


Camisetas de Cazuza, da coleção particular de Lucinha Araújo, expostas no "foyer" do teatro. 
 

Pôster de Cazuza, da coleção particular de Lucinha Araújo, exposto no "foyer" do teatro.
 

Mergulhando no universo de Cazuza.

(Fotos da produção/divulgação do espetáculo, de Marisa Sá e de outras fontes desconhecidas, garimpadas na Internet.)

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ZÉ TRINDADE – A ÚLTIMA CHANCHADA   -   HOMENAGEM A UM PEQUENO GRANDE COMEDIANTE e UMA VIAGEM AO MEU PASSADO.

 
 

            Desde que soube que um espetáculo que contaria a vida de ZÉ TRINDADE estava sendo produzido, comecei a me interessar pela peça e logo me veio à cabeça que ator interpretaria o personagem do grande humorista Mílton da Silva Bittencourt, já que seu “physique du rôle” não é facilmente encontrado entre nossos atores.  E teria de ser alguém com muito talento, à altura do .  Não conseguia me lembrar de ninguém, até ser noticiado que o papel seria vivido por nada mais, nada menos que PAULO MATHIAS JR.  A partir daí, aumentou minha ansiedade por assistir à peça.

"Cara de um, focinho do outro." (bordão popular)
 
            Além da vontade de ver o PAULO/ZÉ, um outro grande desejo de conferir essa homenagem a ZÉ TRINDADE me movia, um motivo sentimental: ZÉ TRINDADE marcou muito a minha infância e o início da minha adolescência, nos grandes humorísticos da extinta Rádio Mayrink Veiga, onde tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, levado por meu velho e saudoso pai, com quem o artista viveu uma breve amizade, por conta das nossas idas àquela emissora, para assistir, ao vivo, aos programas humorísticos da época.  A Mayrink Veiga era uma estação de rádio simpática a Jango, e papai idem.  O “seu Oswaldo” conhecia várias pessoas da emissora, a qual fez parte da chamada Cadeia da Legalidade, uma rede nacional de estações de rádio, criada e comandada por Leonel Brizola, “para defender a democracia”.  Não por acaso, foi fechada, logo após o golpe militar de 1964, tendo sido muitos da sua direção e do seu “cast” presos e bem punidos, durante o período da ditadura militar.  Papai ia a reuniões e aos programas da emissora e me carregava com ele.  Grandes e belas recordações!  Por conta disso, lá, conhecemos ZÉ TRINDADE e outros grandes comediantes da época, com Matinhos, Antônio Carlos, Alegria, Tutuca...  ZÉ TRINDADE, porém, era o que mais se destacava, era o “Tarcísio Meira baiano”.
 
"Mulheres, cheguei!"

 

            Mas deixemos de digressões e saudosismos e falemos do espetáculo.  Como se diz, entre a gente de TEATRO, “curti” muito a peça, tanto que a recomendo a quem gosta de comédias leves e de espetáculos sem sofisticação.

            O texto, de ARTUR XEXÉO é simples, porém fiel aos fatos que marcaram a vida de ZÉ TRINDADE, desde seu nascimento até sua morte, cobrindo e explorando bem, tanto seus conflitos familiares como sua trajetória no rádio, no cinema, onde marcou mais a sua presença, e suas, quase bissextas, aparições na TV, por desejo próprio.

            XEXÉO optou, metalinguisticamente, por fazer iniciar sua história com ZÉ TRINDADE já morto, no Paraíso, ocupando uma determinada nuvem, a dos comediantes, já que aquele espaço havia sido dividido em “nuvens”, que reunissem falecidos com características afins.  Na nuvem que lhe coube, o nosso personagem vivia uma implicância constante com o “vizinho”, Charles Chaplin (não o personagem Carlitos), a quem julgava muito “chato”, por suas frases “filosóficas” e seus ensinamentos “caretas”.

            Um belo dia, , que desencarnara em 1990, recebe a chegada de DERCY GONÇALVES (ALICE BORGES), e os dois passam a aprontar no Paraíso, tendo a ideia fixa de ser transferido para uma outra nuvem.  Apelam, então, para São Genésio, padroeiro dos atores e de outros profissionais semelhantes a estes, que o envia à Terra, com a missão de convencer um jovem dramaturgo (RODRIGO NOGUEIRA), que já estava contratado para escrever uma peça sobre um grande artista, de que valeria a pena escrever um texto sobre a vido do consagrado humorista.
 
Zé Trindade e Dercy Gonçalves, "aprontando" no Paraíso.

            Após muitos percalços, ele consegue concluir, satisfatoriamente, a sua missão e retorna ao Paraíso, ganhando, como recompensa, uma transferência para a nuvem onde estava Cleusa, sua inseparável companheira de décadas de casamento, sempre reverenciada, com muito carinho, pelo personagem, ao longo do texto.

            Como se vê, não se trata de nenhum roteiro sofisticado, mas é, sim, um texto leve, sem grandes pretensões, bastante simples, porém bem construído e que presta uma bela e merecidíssima homenagem ao grande ator cômico, que tantas alegrias deu ao povo brasileiro, sempre na pele de um malandro mulherengo, provocando o nosso riso, com seus conhecidos bordões: O NEGÓCIO É PERGUNTAR PELA MARIA!;   MULHERES, CHEGUEI!;   COMO DISSE?  COMO DISSE?  COMO DISSE?;   O MEU NEGÓCIO É MULHER!;   COITADOS, ELES NÃO SABEM DE NADA!;   É LAMENTÁVEL!;   COMIGO É NO JILÓ! (seguia-se uma hilária soletração do vocábulo, que não tinha nada a ver com o próprio).  Além disso, eram bastante divertidos, do mesmo modo, uns sons que ele fazia com os lábios e sua postura, ajudada pela baixíssima estatura e pelo excesso de peso, concentrado, digamos assim, na região abdominal.  tirava muito partido de sua “geografia corporal”, outro termo que ele costumava usar.  Dei uma sonora gargalhada quando o personagem, dentro do texto de XEXÉO, diz, em certo trecho, uma piada que sempre acho muita engraçada e que me faz lembrar a primeira vez em que vi , ao vivo, a menos de cinco metros de mim, ainda adolescente, dizer: “MULHER É UM NEGÓCIO TÃO BOM, QUE, SE A GENTE JOGAR PAR CIMA, NÃO IMPORTA SE VAI DAR CARA OU COROA!”

            PAULO MATHIAS JR, um dos melhores atores de sua geração, interpreta, de forma magnífica, fantástica, ZÉ TRINDADE.  Merece a admiração e o respeito do espectador que entende de TEATRO a sua belíssima composição e interpretação do personagem, não só na arquitetura postural como na voz e nos trejeitos do consagrado cômico.  Deve ter dedicado muito tempo a essa observação.  Um belo trabalho de ator.  Não posso me valer de outro adjetivo para classificar sua atuação cênica: PERFEITO!
 
Quem é quem?
 

A ideia de reunir, no Paraíso, e DERCY GONÇALVES, eles, que não se “bicavam” muito, é genial.  Uma atriz para representar DERCY, tirante Fafy Siqueira, não deve ter sido tarefa fácil para o diretor, JOÃO FONSECA, o qual, muito acertadamente, conferiu a ALICE BORGES tal função.  Ela é uma atriz de grandes possibilidades cômicas, traz o humor nas veias e se dá muito bem com papéis de personagens escrachadas, já o tendo demonstrado em inúmeras outras peças.  Mas interpretar DERCY é um grande desafio, do qual ALICE sabe muito bem dar conta, e é responsável por ótimos momentos de humor na peça.  A maior prova de que se sai muito bem no papel foi dada, segundo consta, por um testemunho e um comentário positivo da própria filha de DERCY, após ter assistido ao espetáculo.  PAULINHO e ALICE formam, em cena, uma bela dupla de atores.

Completam o elenco, RODRIGO NOGUEIRA, HELGA NEMECZYK, RODRIGO FAGUNDES, ALEXANDRE PINHEIRO, NÊGA e LUÍSA VIOTTI, todos bastante competentes em seus papéis, alguns se desdobrando em mais de um.

Em cena, já que se trata de um musical, apenas dois músicos: MIG MARTINS e LUCAS LOUREIRO.  O suficiente para a proposta do musical.

Embora escrita por AUTUR XEXÉO, para chegar ao formato final, o texto contou com a pesquisa de HELENA CARONE.

A direção, mais uma competente, é de JOÃO FONSECA, o qual, sabendo que estava se envolvendo numa modesta produção, sem grandes bandas em cena, sem cenários “brodwaydianos”, sem figurinos de luxo etc., soube dar ao espetáculo um toque de simplicidade das chanchadas que consagraram ZÉ TRINDADE.  Bom trabalho! 

Na sua assistência e na direção de movimento, o diretor contou com o trabalho de RAFAELA AMADO, que vem se destacando nessa área e também em direções próprias.

A direção musical é do excelente instrumentista JOÃO BITTENCOURT, que se ateve ao mais simples e trivial trabalho, mas não menos interessante e correto, como o texto pede.

O cenário, de TECA FICHINSKI, também simples, apresenta pinturas do que seria o Paraíso, e também são utilizados alguns modestos móveis em cena, que entram e são retirados, de acordo com mudança de ambientação.

Os figurinos foram idealizados pela ESPETACULAR PRODUÇÕES E ARTES (NEY MADEIRA, DANI VIDAL e PATI FAEDO).

A iluminação cabe a DANI SANCHEZ.

O visagismo, elemento muito importante neste espetáculo, foi feito por WASHINGTON LIMA.  A caracterização de ZÉ TRINDADE é perfeita.

Há, ainda, em vídeo, uma participação de FRANÇOISE FORTON e FERNANDO CARUSO.

A idealização do espetáculo é de EDUARDO BARATA.
 
Paulo Mathias Jr. canta, dança e representa.
 
Para um país de memória curtíssima, quase que apenas instantânea, ZÉ TRINDADE – A ÚLTIMA CHANCHADA serve para acariciar a abrandar a memória daqueles que têm saudade de um humor ingênuo, nem um pouco apelativo, e para mostrar a quem nunca ouviu falar do a grandeza do talento desse grande artista.

Como diz o diretor do espetáculo, no programa da peça, quem sabe por quanto tempo, ainda, as pessoas vão se recordar dos grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO, como Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Rubens Corrêa “e outros monstros sagrados”, assim como muita gente não se lembra mais, hoje, dos grandes ídolos das chancadas, como Oscarito, Grande Otelo, Violeta Ferraz, Ankito, Zezé Macedo, Sônia Mamede, estas duas, felizmente, resgatadas, pelo mesmo projeto que envolve ZÉ TRINDADE, por iniciativa do produtor EDUARDO BARATA, em dois espetáculos biográficos, A VINGANÇA DO ESPELHO, texto de Flávio Marinho, e A GAROTA DO BIQUÍNI VERMELHO, texto de Artur Xexéo, respectivamente? 

Que venham outros!  Por que não fazer um espetáculo, reunindo todos os grandes comediantes do rádio?  Uma reunião deles, “post-mortem”?  Podem, e devem, pôr em prática a ideia, XEXÉO e BARATA!

Parabéns a todos os envolvidos no projeto e obrigado por me trazer à memória os prazeres com que ZÉ TRINDADE povoou a minha infância/adolescência.

        
Helga Nemeczyk e Artur Xexéo, em noite de estreia.
   
           Alice Borges e seu pai, Antônio Pedro Borges, em noite de estreia.
 
 
SERVIÇO: A peça fica em cartaz no Centro Cultural dos Correios até o dia 1º de dezembro, de 5ª a domingo, sempre às 19h.
Paulo Mathias Jr., mas pode me chamar de Zé Trindade.



Alice Borges, Dercy Gonçalves, nas horas vagas.
 
 
 
 
(Fotos da produção/divulgação e de Marisa Sá)

 

 

 


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