quarta-feira, 20 de novembro de 2013


VÊNUS EM VISOM   -   QUEM PODE PODE; QUEM NÃO PODE...
 
 
            Estreou, recentemente, e ficará em cartaz até o dia 22 de dezembro, no Teatro do Leblon – Sala Marília Pêra, encerrando a temporada teatral deste ano, a peça VÊNUS EM VISOM, texto de DAVID IVES, com tradução de DANIELE ÁVILA SMALL, dirigida por HECTOR BABENCO, protagonizada por BÁRBARA PAES e PIERRE BAITELLI.

Pierre Baitelli e Bárbara Paes

 
Pura sedução

            Esta peça foi um recente grande sucesso na Broadway, tendo recebido indicações de melhor espetáculo e de melhor atriz, para o TONY 2012, o maior prêmio de TEATRO norte-americano, sendo que NINA ARIANDA acabou ficando com a premiação de melhor atriz.
 
Tão grande foi o sucesso do espetáculo na Broadway, que o consagrado cineasta ROMAN POLANSKI tratou de dar-lhe uma visão cinematográfica, que acabou indicada para a Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 2013.
 
Chegando, assim, já consagrada ao Brasil, HECTOR BABENCO, que tanto brilha no cinema, onde atua com mais frequência, como no TEATRO, não perdeu tempo e resolveu assinar uma montagem brasileira, para isso contando com o talento de BÁRBARA PAES e do não menos talentoso jovem ator PIERRE BAITELLI.
 
O excelente resultado pode ser conferido no palco, num espetáculo em que BÁRBARA brilha, da primeira à última cena, numa interpretação desafiadora e emocionante.  Dá gosto ver um trabalho tão forte de uma atriz que vem se firmando, a cada dia, na galeria das grandes atrizes brasileiras.
Mais sedução
 
O mesmo pode ser dito com relação ao trabalho de PIERRE, que, desde que surgiu, para ao grande público, em O DESPERTAR DA PRIMAVERA, inesquecível sucesso da dupla Möller & Botelho, começou a se destacar, na televisão, no cinema e, principalmente, no TEATRO, como ótimas atuações, principalmente em HEDWIG E O CENTÍMETRO ENFURECIDO e O DIÁRIO DE ANNE FRANK.
 
BÁRBARA interpreta uma “uma talentosa jovem atriz, determinada a protagonizar uma nova peça, baseada num clássico, ‘Vênus em Visom’, de Leopold Von Sacher-Masoch.  Seu teste para o diretor e adaptador do espetáculo, se torna um eletrizante jogo, que ultrapassa o limite entre fantasia e realidade, sedução e poder.”  Sua obstinação pelo papel lava o jovem diretor, magnificamente interpretado por PIERRE, às raias da loucura, já que ela consegue dominá-lo, a tal ponto de fazer com que ele, que não é ator, aceite (ou se conforme em) fazer, com ela, a leitura do texto da peça, como teste para ela ganhar ao papel.  Tanto como a atriz aspirante a um papel como a personagem que interpreta, metalinguisticamente, dentro da peça, BÁRBARA arrebata a plateia e mostra um dos melhores trabalhos de interpretação que tive a oportunidade de testemunhar este ano.  A personagem para cujo papel a jovem atriz faz teste, é uma dominatrix e faz uso de fetiches de dominação, que começam como um jogo de sedução inocente e descambam para a humilhação da condição masculina, durante e após uma eterna peleja entre os sexos.  Serve para lavar a alma, tanto de homens quanto de mulheres, principalmente destas.

 
O sedutor, agora, é ele.

Erotismo e sedução
 
Pierre demonstra muita segurança em seu trabalho e, como, na minha modesta opinião, é no TEATRO que o ator consegue, de verdade, mostrar seu potencial de representação, sou levado a dizer que, a despeito dos poucos anos de experiência profissional, ele já pode ser considerado um dos melhores atores da sua geração, muito pródiga, diga-se de passagem, o que, para nós, amantes dessa arte, é um excelente sinal e prova de que a renovação tem de estar presente e atuante em qualquer setor da vida e das artes.
 
Muito boa a direção de HECTOR, conseguindo, muito bem, levar os atores a fazer a transição necessária entre as cenas da peça e da peça dentro da peça.  Ele consegue abstrair-se da linguagem do cinema, quando dirige TEATRO, entretanto, notam-se, em algumas cenas, traços de um dedo do cineasta na batuta do diretor, o que acaba sendo muito bom.  É a segunda vez que HECTOR dirige BÁRBARA.  A primeira foi no monólogo HELL, grande sucesso de público e de crítica à época.
 
Ótimos são a cenografia de BIA JUNQUEIRA, a iluminação de PAULO CÉSAR MEDEIROS e os figurinos de ANTÔNIO MEDEIROS.

 
Irresistível sedutora

A sonoplastia e sonorização de ANDREA ZANI são importantíssimas na encenação, conjugadas com os truques de luz, para sugerir o temporal que se abate lá fora, como que para sublinhar o “temporal” que se passa em cena.
 
O espetáculo é muito desgastante, tanto com relação ao aspecto físico quanto ao emocional.  Para resistir a tanto desgaste, principalmente o físico, indispensáveis são a direção de movimento, da competentíssima SUELI GUERRA, e a preparação vocal, a cargo de ROSE GONÇALVES.

 
Dominação dele
 
Dominação dela

Muito interessante, também, é o visagismo de LU MORAES.

De acordo com a visão do diretor, a sinopse da peça pode ser assim descrita: “Uma farsante tosca e vulgar chega, ensopada, a um teste de atriz, em que um diretor, em fim de jornada, será seduzido e abusado (atropelado), sem piedade, por esta Vênus em Visão”.

Em função da metalinguagem explorada, abundantemente, na peça, é necessário que o espectador não pisque e fique muito atento a tudo, para pode mergulhar no universo criado pelo autor do texto, a fim de que seja envolvido em uma viagem que somente o TEATRO, em sua plenitude, pode proporcionar.

            Quem sai vencedor de tão conturbada contenda é o que menos interessa.  O importante é que quem sai ganhando mesmo é o público, que teve a primazia de assistir a um espetáculo muito bem produzido, em todos os sentidos.

 
Aplausos (mais que merecidos)

 
Bárbara Paes e Hector Babenco
 
Bárbara me seduziu.

Pierre também.
 

(Fotos da divulgação/produção e de Marisa Sá)

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