quarta-feira, 20 de novembro de 2019

VAMOS
COMPRAR
UM POETA


(UMA “ODE”
AO AMOR, À ARTE
E À CULTURA.)





DUDA MAIA, consagrada coreógrafa, diretora de movimento e diretora de TEATRO, resolveu, um dia, montar uma trilogia de peças infantojuvenis, a que deu o título de “TRILOGIA DO AMOR - Três Histórias de Amor para Crianças”, que, na verdade, agradam, em cheio, também, aos adultos, e partiu para um grande projeto, contando com seu “braço direito”, BRUNO MARIOZZ, diretor de produção.




Primeiro, veio com “A Gaiola”, um musical, baseado no livro homônimo de Adriana Falcão, um dos belos espetáculos, no gênero, a que já assisti, em toda a minha vida, e que ganhou vários prêmios e indicações a outros. Depois, “Contos Partidos de Amor”, inspirado na obra de Machado de Assis, com texto, mais “cabeça”, de Eduardo Rios. Machado não merecia coisa diferente. Outra beleza! Agora, fecha o ciclo com “VAMOS COMPRAR UM POETA”texto original de AFONSO CRUZ, com adaptação dramatúrgica de CLARICE LISSOVSKY. Nos dois últimos, a música também está presente.






            O espetáculo aqui analisado está em cartaz no Teatro II, do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) (VER SERVIÇO.). De acordo com o “release” da peça, enviado por ROBERTA MATTOSO (ROMA – COMUNICAÇÃO & IMPRENSA), “A ousada proposta (Refere-se à TRILOGIA.) tem como objetivo principal criar um diálogo entre crianças e adultos, através de histórias que tratam dos afetos humanos”. Não resta a menor dúvida de que o objetivo pretenso é totalmente alcançado. “As três peças partiram da adaptação de três obras literárias, sendo dois autores nacionais e um português.”.




            A dramaturgia, escrita por CLARICE LISSOVSKY, é uma a adaptação de um texto original, livro, do autor português AFONSO CRUZ e “narra a chegada de um POETA à casa de uma família comum. Nesse lar, moram um pai (...), uma mãe (...), uma menina (...) e um menino (seu irmão) (...). O POETA ensina os pequenos a observar borboletas, compor os próprios poemas e aprender a dar abraços. A montagem cria uma divertida reflexão sobre a nossa capacidade de invenção, fazendo um importante paralelo entre cultura e economia. É uma homenagem à cultura, em um espetáculo que mistura poesia, música e dança”.







SINOPSE:

Uma menina esperta e curiosa, MENINA (LETÍCIA MEDELLA), que gosta de entender o sentido das coisas.

Um menino, MENINO (LUAN VIEIRA), que adora fazer contas.

Um pai, que só pensa em lucrar, e uma mãe, que organiza, todos os dias, os trabalhos domésticos, ambos interpretados, em meteóricas aparições, por LUAN e LETÍCIA, respectivamente.

A história se passa num lugar (imaginário, não definido) em que, em vez de terem animais domésticos, de estimação, as famílias têm o hábito de “criar” artistas, em suas casas, tê-los perto de si.

Dessa forma, compram músicos, escritores, atores, bailarinos e outros “fazedores de arte”, inclusive poetas.

O que acontece, quando um POETA (SÉRGIO KAUFFMANN) chega, para morar com essa família?

Observar borboletas, criar poemas e aprender a dar abraços são algumas pérolas da nossa história.

Um musical infantojuvenil que ressalta a importância da cultura, dentro e fora de casa.







          Repararam, na sinopse, que os personagens em cena são anônimos, o que, muito corretamente, faz abrir um leque de reflexões e possibilidades. É um “faz-de-conta” que não nos sugere, realmente, a compra de um artista, mas que tenhamos um ou, de preferência, vários na nossa vida; no coração, principalmente. A peça prega o amor às artes, de uma forma geral, representada, no caso, pela poesia, e, como diz a última linha da sinopse, “ressalta a importância da cultura, dentro e fora da casa”. Os únicos, apenas, na história, que são citados nominalmente, mas como seres “despersonalizados”, são uma menina, de quem o irmão gosta, a BB9,2, e um amigo da MENINA, o 76C.



            É extremamente pertinente, a mensagem central do texto, num momento em que, por total infelicidade nossa, a CULTURA, no Brasil, passou a ser tão desprezada, vilipendiada, demonizada, pelos (des)governantes, nas três esferas administrativas, os quais, por questões ideológicas, políticas e religiosas – todo fundido numa palavra só: IGNORÂNCIA –, além de não incentivarem o desenvolvimento cultural do município, do estado e do país, ofendem e maltratam os artistas, em geral, principalmente “o povo do TEATRO”, numa prova cabal de que desejam manter, sob suas rédeas, um povo ignorante, formado de seres não-pensantes, para que possam se perpetuar em seus desmandos e falcatruas.


            Perdão, mas o conteúdo do desabafo supra estava me sufocando!!!


            A chegada de um POETA a uma família “convencional” representa uma porta que se abre para os sonhos, para que se possa enxergar a beleza da vida, do universo, nas coisas mais simples, e para se praticar a empatia e, acima de tudo, o amor, sentimento mais nobre entre os homens.



            O texto é lírico e divertido, ao mesmo tempo, com uma proposta que atinge os pequenos e os adultos, seus acompanhantes. Pode parecer, de início, um pouco hermético, porém isso não é verdadeiro, uma vez que as crianças, via de regra, “têm uma percepção sensorial muito mais aguçada que a do adulto”, já que este, ao longo do seu crescimento e formação, vai perdendo, aos poucos, a ingenuidade, a capacidade de sonhar, de imaginar, de sentir e valorizar o abstrato, o impalpável. Os adultos não devem, e não podem, subestimar a inteligência das crianças, como afirma a diretora, DUDA MAIA, com o que concordo plenamente, em gênero e número. E continua DUDA, dizendo que (a criança) “do seu jeito, decodifica o que lhe é mostrado e, com isso, cria um diálogo saudável e necessário com os adultos”. Com base no que, ainda, acrescenta a diretora, o projeto da TRILOGIA “(...) fomenta esse diálogo e, ao mesmo tempo, espalha histórias de amor, amizade, respeito e liberdade (...), me dá uma certeza absoluta de que a ARTE é um caminho indiscutível para uma sociedade mais justa e desenvolvida”. E quem pode dizer o contrário? A ARTE salva. E o TEATRO, mais ainda!!!



            A proposta do texto é mais que interessante e louvável, uma vez que é de bem pequeno que se deve ensinar, às crianças, o valor e a importância da ARTE e da CULTURA na formação de um indivíduo, de um cidadão. Por meio delas, aprende-se a respeitar e a valorizar o próximo, aprende-se que um povo só pode ocupar o seu espaço, na história da humanidade, se preservar e puser em prática a sua ARTE, para atingir uma CULTURA plena e soberana.



        Quem conhece o estilo de direção de DUDA MAIA, tão singular, é capaz de, mesmo sem conhecer a ficha técnica, saber que ela dirige a peça, por poder identificar certos detalhes de marcação e direção de movimento, sempre empregados e explorados, por DUDA, em suas montagens. Ela explora, ao máximo, os movimentos, o trabalho de corpo de seus atores, os quais respondem, harmoniosamente, tal como a mestra deseja.




            O trio de atores tem um desempenho muito bom, demonstrando um profundo envolvimento com o texto e sua proposta. Não cito destaques, porque cada um responde, na marca, no mesmo patamar, por seu personagem. Já um admirador do trabalho dos três, principalmente o de LUAN e LETÍCIA, os quais conheço mais de perto, por conta desta peça, só faço ampliar minha admiração por seus talentos.




        A montagem é bem simples, sem grandes parafernálias técnicas, porém o pouco que foi utilizado ganha destaque, pela criatividade, pelo bom gosto e pela funcionalidade. Há um ótimo texto, uma ótima direção e um ótimo elenco, base para qualquer sucesso, no TEATRO. Para que este ganhe relevo, entram, obviamente, outros elementos, como a cenografia, os figurinos, a iluminação e a trilha sonora, por exemplo. Nesta peça, não há grande sofisticação nem custos, a meu juízo, porém, na simplicidade, reside um teor de beleza, de singeleza, que fazem a diferença.



            A base do cenário, de um grande profissional, ANDRÉ CORTEZ, são três gangorras, as quais ora estão coladas umas às outras, ora são separadas e colocadas, pelos próprios atores, em posições diferentes. À volta delas e sobre elas, as ações acontecem, de forma bem dinâmica.



        Os figurinos, de KIKA LOPES, são bem lúdicos e coloridos, à exceção do que veste o POETA, uma roupa clara, quase branca, significando, pelo que me permito arriscar, num palpite, a pureza da poesia e dos que lidam com ela, na sua construção: os poetas.


 

            A iluminação é assinada pelo “craque” RENATO MACHADO, o qual cria momentos de sombra e/ou pouca luz, o que, paradoxalmente, chamam mais a atenção – pelo menos, para mim, assim foi – do que as cenas que recebem uma iluminação mais intensa. Um detalhe bastante interessante são os pontos de luz, em formas de pequenas luminárias, que vão surgindo, no palco, pendendo do teto, representando as estrelas que o POETA “passa a dividir com os dois irmãos”.


          Há uma ótima trilha sonora original, composta por RICCO VIANA, também autor dos arranjos. As belas e/ou divertidas letras das canções têm um profundo toque poético, ajudam a contar a história e foram escritas, a seis mãos, por CLARICE LISSOVSKY, JULIANA LINHARES e RICCO VIANA.


O desenho de som, programado e posto em prática por VITOR OSÓRIO, permite uma total e perfeita captação de tudo o que é produzido sonoramente.




Também entram na equipe desta produção, para somar, PATRÍCIA CLARKSON (identidade visual) e AGNES MOÇO (preparação vocal).



    


FICHA TÉCNICA:

Texto Original: Afonso Cruz
Adaptação Dramatúrgica: Clarice Lissovsky
Direção: Duda Maia
Diretora Assistente: Juliana Linhares

Intérpretes Criadores: Letícia Medella, Luan Vieira, Sérgio Kauffmann

Trilha Sonora Original e Arranjos: Ricco Viana
Letras das Canções: Clarice Lissovsky, Juliana Linhares e Ricco Viana
Cenário: André Cortez
Figurino: Kika Lopes
Iluminação: Renato Machado
Desenho de Som: Vitor Osório
Identidade Visual: Patrícia Clarkson
Preparação Vocal: Agnes Moço
Fotos: Renato Mangolin
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Idealização: Camaleão Produções Culturais






  

SERVIÇO:

Temporada: De 12 de outubro a 08 de dezembro de 2019.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro - Teatro II.
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Candelária – Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3808.2020.
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 11h e às 16h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) R$15,00 (meia entrada).
Capacidade: 153 lugares.
Duração: 60 minutos.
 Classificação Indicativa: Livre – Indicado para maiores de 5 anos.
Gênero: Teatro Infantojuvenil 







              Os pais, quase sempre, ficam na dúvida, quanto à escolha de um espetáculo, quando pensam em levar seus filhos ao TEATRO. Isso é mais que natural e importante, uma vez que há muitas produções, infelizmente, desprezíveis e, se a criança for apresentada a espetáculos infantojuvenis de baixa qualidade, montados sem o devido respeito que o público infantil merece, ela não há de gostar e, muito menos, vai manifestar o desejo de voltar a um Teatro. Isso é muito sério. É preciso que as crianças assistam a espetáculos de alta qualidade, para que, por meio deles, comecem a manifestar seu interesse pelo TEATRO, formando o seu público adulto, mais tarde.




          Garanto que todos haverão de se encantar com esta linda produção, vão conhecer e aprender novos valores, vão se divertir e, certamente, vão entender o que é o verdadeiro TEATRO INFANTOJUVENIL, uma porta que se abre para a formação de futuras plateias.




          Recomendo, por tudo já exposto, com bastante ênfase, este espetáculo, na certeza de que os pais ou quaisquer adultos que acompanharão as crianças, ao CCBB, também vão experimentar uma sensação de alegria e prazer.






E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!





CENSURA NUNCA MAIS!!!


 


(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)



(GALERIA PARTICULAR.)





Com a querida amiga Letícia Medella.


Com o querido amigo Luan Vieira.





























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