sexta-feira, 5 de novembro de 2021

 “CINDERELLA”

(2021) 

 




(NÃO FOI BEM ASSIM

QUE ME CONTARAM...)

ou

(O QUE ESTÁ POR TRÁS DA FÁBULA?)

ou

(“JÁ NOS CONHECEMOS ANTES,

MAS ESTAMOS NOS VENDO,

PELA PRIMEIRA VEZ, AGORA”.)


 

 

Ainda bem! Foi parecido, mas não, exatamente, a mesma coisa. Chega de mesmice! Que bom!



        Em 2016, assisti, em São Paulo, no Teatro Alfa, a um belo musical, para todas as idades, que me deixou bastante encantado. Era “CINDERELLA”, na versão de RICHARD RODGERS e OSCAR HAMMERSTEIN II, espetáculo que mereceu, de minha parte, uma bela crítica, por todas as suas qualidades. Como só pude assistir à montagem no final de sua longa temporada, de enorme sucesso, preferi aguardar e rever o musical, aqui, no Rio de Janeiro, o que se deu, no mesmo ano, no antigo Teatro Bradesco, dentro do Shopping Village Mall, para só, então, escrever a referida crítica.



        Agora, ainda vivendo uma terrível pandemia de COVID-19, embora já num momento muito menos tenso do que quando ela começou, em março de 2020, a grande produtora RENATA BORGES, houve por bem fazer uma nova versão do musical, um pouco mais “modesta”, à qual assisti no dia 28 de outubro (2021), no Teatro Liberdade, em São Paulo, na sua última semana de temporada.



        Mesmo assim, também resolvi escrever uma crítica sobre esta nova leitura da peça, embora ela já não esteja ocupando aquele palco, mas faço-o por dois motivos. Em primeiro lugar, para ficar como registro do evento e, em segundo, porque o musical deverá estar em cartaz, no Rio de Janeiro, mais uma vez, em temporada de 12 de janeiro a 20 de fevereiro (2022) – e eu espero revê-lo, de novo – o que, modestamente, poderia ajudar na sua divulgação e servir de incentivo a que muitas pessoas compareçam, sem medo, ao Teatro Multiplan – Village Mall (o mesmo antigo Bradesco).



        É claro que não faria tanto sentido eu escrever muito diferente da crítica anterior, uma vez que o que haverá de merecer mais atenção e destaque, aqui, é o elenco, no qual as substituições forem de grande ordem. Praticamente, terei de repetir o que escrevi acerca dos outros elementos do “show”, como, por exemplo, cenários, figurinosniluminação e coreografia, já que nada, ou pouco, mudou.


Quem atender à minha recomendação, para assistir a mais um musical sob a excelente direção da dupla CHARLES MÖELLER e CLÁUDIO BOTELHO, não verá, no palco, aquela mesma historinha, contada por nossos pais, avós, bisavós... Não! Verá um magnífico espetáculo, das poucas coisas que nos dão orgulho de sermos brasileiros, principalmente nos últimos quase três anos.



            Não se sabe, exatamente, há quanto tempo a história da mocinha pobre e oprimida, órfã, humilhada e vilipendiada por uma MADRASTA, aqui chamada de MADAME, e duas irmãs postiças, e que acaba se transformando numa linda e feliz princesa, vem sendo contada às crianças do mundo inteiro, uma vez que sua origem é bastante discutível e para a qual há várias versões. A mais conhecida é a do escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada num conto italiano, popular, chamado “La Gatta Cenerentola” ("A Gata Borralheira"). A mais antiga é originária da China, por volta de 860 a.C. Existe, também, a dos Irmãos Grimm, aos quais a maioria das pessoas atribui a verdadeira “paternidade” deste conto de fadas, mas que é semelhante à de Charles Perrault. Segundo outras versões, a figura da FADA MADRINHA, na verdade, é o espírito da falecida mãe da própria protagonista, que trazia um vestido, do céu, para CINDERELLA usar no baile.



Na versão atual - o musical veio da Broadway -, a história não perdeu a sua magia, a sua ingenuidade, e continua ao alcance das crianças, entretanto, bem apropriada ao momento social por que passa o mundo inteiro, ganhou profundos e importantes toques políticos. Na verdade, as duas mensagens mais importantes que o espetáculo desfila, aos olhos de um público, que, quase sem exceções (Há sempre quem goste de discordar.) se encanta por ele, são a de que todos devemos estar atentos à pratica do bem, não economizando gestos de bondade, para com o próximo, e, também – e aí, parece-me, reside o mais importante do texto -, a de que devemos lutar, da forma que for, por um mundo mais igualitário, por uma divisão equânime dos bem materiais, visando à felicidade geral de todas as pessoas que habitam o planeta, o que pode, até, ser visto, negativamente, por alguns, como uma pregação do regime socialista, porém a proposta é, acima de tudo, de humanidade, de que devemos viver, plenamente, a democracia, aplicá-la, no dia a dia, e valorizá-la, uma vez que, nessa prática, todos saem ganhando, sem opressores e sem oprimidos. Sim, mais do um simples conto de fadas infantil (mais um), o espetáculo tem um forte cunho político-social, que é o seu grande diferencial.

   

Além de terem criado "CINDERELLA", RODGERS e HAMMERSTEIN são autores de espetáculos que determinaram os pilares dos musicais da BROADWAY, nos anos 40, como “Oklahoma” e “Carousel”. Estão entre os maiores nomes de criadores de musicais, e a trilha composta para este espetáculo é de uma beleza ímpar. Bailamos todos, internamente, e balançamos os pés, ao som de uma sucessão de lindas valsas e ritmos afins, com um recheio (de letras) poético, de nos inebriar. Valsamos, giramos, no sentido horário dos ponteiros do relógio, o qual, implacavelmente, marcará o final do sonho da jovem CINDERELLA. Ou não!!!


grandiosa montagem brasileira só pôde ser concretizada, tendo sido vista por 100.000 pessoas, na primeira temporada, em 2016, em São Paulo, graças à coragem e à determinação de RENATA BORGES e RAPHAELA CARVALHO (leia-se FÁBULA ENTRETENIMENTO), que se associaram a grandes profissionais, a fim de bancar esta superprodução, que mantém, em cena e nos bastidores, fora a equipe de produção, mais de uma centena e meia de pessoas, cada qual mais empenhada no sucesso do espetáculo. As duas sócias negociaram, diretamente, com o escritório detentor dos direitos do musical, em Nova York, para que, pela primeira vez, fora dos Estados Unidos, o espetáculo recebesse uma montagem.


O atual “revival” tem, agora, à frente, apenas RENATA BORGES, da TOUCHÉ ENTRETENIMENTO, a antiga FÁBULA ENTRETENIMENTO. Seguindo o “release”, enviado por ALAN DINIZ (Xavante Comunicação - Assessoria de Imprensa), RENATA “vem se consolidando, como uma das grandes produtoras de musicais do país: ‘Sim! Eu Aceito’ – com Diogo Vilela e Sylvia Massari; ‘Como Eliminar Seu Chefe’; além das superproduções ‘Peter Pan, O Musical’, que foi visto por mais de 200 mil pessoas, entre Rio de Janeiro e São Paulo, e ‘Madagascar, Uma Aventura Musical’, que estará encerrando sua temporada carioca no dia 28 de novembro (2021).


Mas o que houve de mudança na atual montagem? Mexeu-se – houve necessidade - em tudo aquilo que poderia tornar inviável a produção, neste momento, quando se torna, cada vez mais, difícil montar um grande musical, pois os Teatros voltaram a funcionar com limite de espectadores, caminhando, muito recentemente, para uma capacidade total. Mas isso tinha mesmo de acontecer, era imperioso, desde que o musical não perdesse em qualidade. E a “mágica” foi possível. Mesmo quem, como eu, assistiu, por duas vezes, à montagem de 2016 – e lá se vão cinco anos – não vai notar grandes discrepâncias na atual versão. Se não se pode contar, agora, or exemplo, com uma boa e grande orquestra ao vivo, fazem-se todas as gravações, com músicos de primeiríssima qualidade, conta-se com ótimos técnicos de gravação e de som, e o resultado é muito bom. Dessa forma, o elenco, afinadíssimo, em todos os sentidos, canta sobre um “playback”. E isso fica bom?! Se fica?! Sim, eu gostei muito.


Foi preciso que muita gente topasse o desafio e mergulhasse bem fundo, para que o atual resultado ganhasse o seu próprio brilho. Para isso – diz o “release”“Nesta remontagem, a TOUCHÉ ENTRETENIMENTO conta com uma equipe de craques, como JOSÉ VINÍCIUS TORO e ROBERTA JURICIC, assumindo a Direção de Produção; MAYARA ESTRELLA, como Gerência de Produção; e MAYARA SAUL, como Gerente de Projetos”. Isso, sem falar, é claro, nos artistas – TODOS - que estão em cima e fora do palco”


Além de uma história linda (e sempre o será) e cheia de mensagens sócio-políticas, para levar a reflexões, o público vê, no palco, detalhes técnicos, fantásticos, de efeitos especiais, poucas vezes vistos num musical montado no Brasil.




 

 

SINOPSE (mais do que simplificada):

 

      Contos de fadas que fizeram (muito), ainda fazem (um pouco) e não sei se farão, no futuro, gerar, nas meninas, o desejo de encontrar um “príncipe encantado” existem aos montes, entretanto nenhum deles ganhou a dimensão de “CINDERELLA” (a grafia é com dois eles – LL – por obrigação contratual), a “gata borralheira”, que se transforma em princesa, por um dia, e encontra seu grande amor, graças ao sapatinho de cristal perdido.  

  E, assim, ela e o príncipe são felizes para sempre!

       Nesta versão, muitas luzes foram jogadas sobre a temática político-social, com a qual pessoas do mundo inteiro se identificam.

 

 

 


Não sinto a menor necessidade de fazer uma SINOPSE mais extensa dessa história de amor, que todos conhecem e que ganhou uma versão musical, para a TV, em 1957, com canções de RODGERS e HAMMERSTEIN, e chegou à Broadway em 2013.







Como uma das garantias de sucesso desta montagem, entra em campo, como sempre, uma perfeita versão de CLAUDIO BOTELHO, e a direção foi confiada, a convite, a CHARLES MÖELLER, em 2016, o qual, no “release” da montagem, faz observações assaz interessantes sobre a peça, que me passaram despercebidas, confesso, porém totalmente pertinentes. Como um dos exemplos, o diretor chama a atenção para a forte presença de Shakespeare no espetáculo, quando o PRÍNCIPE, logo em sua primeira canção, coloca em dúvida se tem ou não vocação para ser rei. “Uma forte presença do ‘ser ou não ser’ do Hamlet”. Para MÖELLER“há, também, um olhar diferente para a mulher – nos anos 50 (quando foi lançado o musical), era ela a própria dona do seu lar, seu único espaço de ação. Em ‘CINDERELLA’, a protagonista entende as ideias de igualdade entre os cidadãos e as repassa para o PRÍNCIPE, enquanto dança com ele durante o baile”.



A montagem a que assisti, há uma semana, no Teatro Liberdade, é a mesma que chegará ao Rio de Janeiro, com o elenco completo, sem substituições, quero crer. O protagonismo é de FABI BANG (CINDERELLA)VANESSA COSTA assina a direção da remontagem. O espetáculo retorna em grande estilo, trazendo grandes nomes do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, como ANDRÉ LODDI (PRÍNCIPE TOPHER)GOTTSHA (MADRASTA/ MADAME)HELGA NEMETIK (MARIE / FADA MADRINHA)DIEGO MONTEZ (JEAN- MICHEL), em um elenco de mais 17 atores.



O elenco da nova montagem conta, ainda, com LUANA BICHIQUI (CHARLOTTE)THUANY PARENTE (GABRIELLE)CONRADO HELT (SEBASTIAN)FERNANDO PALAZZA (LORDE PINKLETON)PÂMELLA ROSSINI (ensemble e cover de CINDERELLA)NATHALIA SERRA (ensemble e cover de CHARLOTTE)FELIPE ASSIS BRASIL (ensemble, cover de PRÍNCIPE e cover de LORDE PINKLETON)IGOR MIRANDA (ensemble e cover de SEBASTIAN)ANA LUIZA FERREIRA (ensemble, cover de MADRASTA e cover de FADA MADRINHA)LETICIA MAMEDE (ensemble e cover de GABRIELLE)WILLIAM SANCAR (ensemble, assistente de SEBASTIAN e cover de JEAN)RAQUEL RIGA (ensemble)CARU TRUZZI (ensemble)ALBERTO GOYA (ensemble)MURILO OHL (ensemble)VICTOR VARGAS (ensemble)ALBERTO MONTEIRO (ensemble e cover de assistente de SEBASTIAN)


Transcrevendo do “release”, “A versão brasileira é repleta de momentos especiais, mas a cena de maior impacto é o momento no qual a FADA MADRINHA deixa a princesa pronta para o baile, em, literalmente, um passe de mágica. Tudo graças a efeito holográfico em 3D, usado, pela primeira vez, em cena, no Brasil. Os efeitos visuais tomam conta da peça em outros momentos, como quando a FADA MADRINHA voa e também quando monstros invadem e incendeiam a plateia.”.



“CINDERELLA, O MUSICAL” é uma realização da TOUCHÉ ENTRETENIMENTO, de RENATA BORGES, e tem direção musical de CARLOS BAUZY, figurinos da remontagem de TONINHO MIRANDA, cenografia de ROGÉRIO FALCÃO, coreografia de ALONSO BARROS, luz original de MANECO QUINDERÉ, adaptação de luz de RUSSINHO, desenho de som de GABRIEL D´ANGELO e chapelaria de DENIS LINHARESMARCELO VASQUEZ é o diretor residenteMARCELO FARIAS é o diretor musical residente.



E vamos dar início aos comentários pertinentes ao trabalho do elenco e dos artistas de criação, começando pela protagonista. Gostaria de falar sobre a atuação de FABI BANG, de quem sou fã incondicional, entretanto, no dia em que assisti ao “show”, uma grande surpresa estava reservada para mim. Não sei por qual motivo, apesar de ela estar lá presente, foi substituída por PÂMELLA ROSSINI, uma cantriz de grande potencialidade, que me encantou, e a toda a plateia, de forma arrebatadora. Já vi FABI em cena, por dezenas de vezes, e sou encantado por ela e seu trabalho, mas, humildemente, confesso que já havia visto PÂMELLA em cena, em pouquíssimos papéis de menor relevância, até acompanhar, o “reality musical ‘Cultura, O Musical’”, comandado, na TV Cultura, por Jarbas Homem de Mello. Vi todas as suas apresentações e torci muito por ela, até chegar à fase semifinal da competição, que tinha como objetivo descobrir novos talentos para os musicais. Se oportunidade eu tiver, gostaria de rever o espetáculo, na futura temporada carioca, mais duas vezes, com as duas estrelas.


 

Além de uma voz belíssima, de uma afinação perfeita, o alcance vocal de PÂMELLA é extenso e, quando canta, expõe, por completo, o seu coração e o carisma da personagem. O papel de CINDERELLA caiu-lhe como uma luva. Ela confere, à personagem, a dose certa de todas as características criadas pelos autores da história. Sabe ser frágil e ingênua, ao mesmo tem em que é determinada, quanto ao desejo de “libertar” o seu povo do jugo opressor.



Cada um de seus vários solos entra pelos nossos canais auditivos e atingem o mais profundo da nossa alma. É um deleite total. Seu trabalho corporal é fantástico; parece deslizar ou flutuar no palco. A personagem atua como uma espécie de “defensora dos fracos e oprimidos”, uma “Quixote de saias”, cuja arma é a palavra. Ela achava que todos deveriam praticar somente a bondade, a ponto de não querer participar do “jogo das humilhações”, proposto pela MADRASTA, durante o baile do PRÍNCIPE, recusando-se a humilhar esta e propondo-lhe um novo jogo, o “dos elogios e das bondades”.


Foi ela quem conduziu JEAN-MICHEL (DIEGO MONTEZ), o líder “revolucionário”, ao palácio, acompanhado da população pobre e oprimida, e fez, ao PRÍNCIPE, a revelação de que as pessoas estavam sendo expulsas de suas terras, por uma ação nefasta e cruel de SEBASTIAN (CONRADO HELT), que “mandava” no PRÍNCIPE TOPHER. Foi ela, também, quem presenteou o PRÍNCIPE com um exemplar do livro “Como Se Vive Em Outros Países”, numa atitude metafórica, abrindo-lhe os olhos para o modo errado e desumano como estava liderando os seus súditos, sem o saber, bem ao contrário da pessoa que ostenta a faixa presencial do Brasil, no momento, o qual sabe, muito bem, quão monstruoso é para os cidadãos brasileiros. É ela quem incute, no PRÍNCIPE, a ideia de democracia e de eleições democráticas e igualitárias, para a escolha do Primeiro Ministro



Quando há substituições num elenco, é inevitável fugir a comparações, entretanto isso não acontece para que, obrigatoriamente, se chegue à conclusão de que “A” faz melhor que “B”. Regra geral, são duas interpretações diferentes, que podem agradar da mesma forma, na mesma proporção. É o caso em questão.



A figura do PRÍNCIPE TOPHER é interpretada por ANDRÉ LODDI, um ator cuja trajetória, que venho acompanhando, desde o início de sua carreira, é motivo de grande alegria, para mim, por observar, a cada trabalho seu, uma evolução a olhos vistos. Já o vi outras vezes, atuando em espetáculos que não são musicais, mas acho que este é o nicho em que ele deve continuar investindo. A verdade a que me obrigo, quando escrevo sobre um espetáculo teatral, leva-me a dizer que não fiquei surpreso com a sua excelente “performance”, também, como cantor, se considerarmos que as partituras de RODGERS e HAMMERSTEIN não são fáceis de serem interpretadas. E ANDRÉ o faz de forma brilhante, em solos ou em duetos, além do trabalho de ator.



Seu personagem é cativante e desperta o carinho da plateia, por enxergar nele um ser bondoso e ingênuo, que não consegue perceber quão manipulado é por seu preceptor, o malvado, esperto, interesseiro, ganancioso e infiel SEBASTIAN, o qual, para que o rapaz não tivesse contato com moças que o desejassem como marido, tratou de “educá-lo” num colégio apenas para os do sexo masculino, e numa ilha, para que ficasse bem isolado do universo feminino.


Salvou-o o amor, o interesse pelos encantos, físicos e interiores, de CINDERELLA, que, além de tudo, foi a responsável por sua transformação. Fiquei muito feliz pelo competente trabalho do ANDRÉ. Seus duetos com PÂMELLA são um primor de interpretação. 



E o que dizer de GOTTSHA, como MADAME, a MADRASTA, ela que é figura sempre presente nos musicais dirigidos por MÖELLER e BOTELHO? Sinceramente, não sei!!! Tudo o que me vem à mente parece muito pouco, para traduzir o prazer que é vê-la em cena, num papel que exige muito de uma atriz, para que não caia num estereótipo ridículo, o que é quase um pleonasmo. Mas GOGOIA, como, carinhosamente, a chamo, com seu carisma e talento em doses excessivas, consegue fazer uma MADRASTA que cai nas graças do público, porque, ao mesmo tempo em que executa sua perversidade, ou, pelo menos, tenta, faz isso de uma forma cômica, e provoca gargalhadas, ao invés de apupos.


GOTTSHA é uma atriz indispensável a qualquer musical. Para os diretores, é certeza de acerto, e isso não é nenhuma novidade, para MÖELLER e BOTELHO. Ela tem uma presença de palco que se destaca de outras atrizes, canta muito bem, embora, neste musical, sua personagem não cante com tanta constância. É experta (Para quem não sabe, a forma em português, para o anglicismo “expert”.) em “roubar cenas”; não por “mau-caratismo”, mas, naturalmente, por sua incomensurável competência. Valoriza qualquer personagem que interpreta e não o faz por menos, na pele de MADAME, que era aliada de SEBASTIAN, nos planos para casar o PRÍNCIPE com uma de suas filhas feias. Mas o tiro saiu pela culatra.



        Quem faria melhor MARIE, a FADA MADRINHA, disfarçada de pedinte, até certo momento da peça? HELGA NEMETIK é a resposta. Como acontece, praticamente, com todos os personagens deste musical, sempre cabe, a cada um, doses de humor, mais ou menos profundo; não é diferente com a sua. E se há algo para o que HELGA está apta, em cena, é fazer rir e cantar maravilhosamente bem, como provam seus solos, aplaudidos em cena aberta. Por si, a personagem já ocupa o coração de todos, por sua bondade, sua maneira especialíssima de ver o mundo e lutar pela justiça. Isso sob a responsabilidade de HELGA se reveste de um potencial enorme. A personagem é uma das grandes surpresas da peça e sua transformação, às vistas do público, com a devida colaboração do lindo e criativo figurino, de TONINHO MIRANDA, é algo surpreendente. HELGA canta melhor a cada novo espetáculo. 



   As duas irmãs postiças de CINDERELLA também são personagens marcantes, na história original, e, nesta montagem, também, graças às atrizes escaladas para os papéis. 



THUANY PARENTE (GABRIELLE) tem uma atuação magnífica. Seu “timing” para o humor já é nosso velho conhecido de outros espetáculos, musicais ou não, se bem que seus maiores sucessos, no palco, tenham acontecido em musicais. A personagem é bem caricatural e nos reserva uma surpresa para o segundo ato, que faz toda a diferença da versão originalTHUANY me pareceu estar no seu melhor momento, como cantriz, fazendo por merecer os muitos aplausos que recebe. O velho mecanismo de tentar chegar ao humor, por meio da exploração da burrice de um(a) personagem é bastante “batido”, não resta a menor dúvida, mas, quando isso é feito por meio de um texto inteligente, dito por uma atriz competente, que descobriu uma voz engraçadíssima, para a personagem, isso funciona bastante.



    A outra irmã, CHARLOTTE, é interpretada por LUANA BICHIQUI, que também executa um ótimo trabalho, valorizado pelo fato de estar, constantemente, contracenando com GOTTSHATHUANY e BIANCA/PÂMELLA. Que responsabilidade! LUANA, porém, também compôs um excelente protótipo da irmã feia, invejosa, burra e comilona, a que não é a preferida da mãe, e também marca presença no musical



DIEGO MONTEZ (JEAN-MICHEL), outro ótimo ator de musicais, também com um longo currículo e um belíssimo trabalho com a dupla MÖELLER e BOTELHO (“O Despertar da Primavera”, uma obra-prima dentre os musicais) surge, neste espetáculo, como uma agradabilíssima surpresa, tanto como um personagem agregado à história original e de grande importância, na trama, como pela atuação do jovem e talentoso ator.



CONRADO HELT (SEBASTIAN) é outro nome de destaque, no elenco, fazendo o grande vilão da história, ele, que também traz uma larga experiência em musicais, infelizmente pouco presente em trabalhos no Rio de Janeiro. Vejo-o, sempre, quando está atuando em São Paulo e lá vou. Faz o vilão cínico, que se torna menos odiado, por isso, pela dose de humor inserida nesse cinismo. Ótimo trabalho do ator!



FERNANDO PALAZZA (LORDE PINKLETON) interpreta um personagem de pouca relevância, na Corte, porém bem levado a efeito pelo ator, que tem uma voz muito possante, capaz de emocionar muito o público, quando canta. Comigo foi assim.



Além dos acima citados, fazem parte do elenco os artistas que já foram nomeados, ao lado de seus respectivos personagens. Todos, sem exceção, cumprem, à altura, a tarefa que lhes foi confiada, o que, obviamente, seria necessário, para garantir a magia e excelência do musical.



Após os comentários sobre o elenco, passemos à FICHA TÉCNICA, para, depois, abordar o trabalho dos artistas de criação.


 


 

FICHA TÉCNICA (RESUMIDA:

 

Texto: Douglas Carter Beane

Músicas Originais: Richard Rogers

Letras Originais: Oscar Hammerstein II

Diretor Original (Broadway): Mark Brokaw

 

Direção Artística: Charles Möeller

Direção da Remontagem: Vanessa Costa

Direção Residente: Marcelo Vasquez

Versão Brasileira: Cláudio Botelho

Realização e Direção Geral: Renata Borges


Elenco e respectivos personagens: CITADOS ACIMA


Direção de Produção: Roberta Juricic

Direção de Produção: José Vinícius Toro

Direção Musical: Carlos Bauzys

Direção Musical Residente: Marcelo Farias

Coreografia: Alonso Barros

Cenografia: Rogério Falcão

Direção de Arte: Eduardo Juffer

Direção de Arte: Luiz Pimenta

Remontagem de Figurinos: Toninho Miranda (sobre originais de CAROL LOBATO)

Chapeleiro: Denis Linhares

“Design” de Luz: Maneco Quinderé

Adaptação de Luz: Russinho

“Design” de Som: Gabriel D’Angelo

Efeitos Especiais: MAZEFX (Bruno Junqueira)

Visagismo: André Gois

Gerente de Produção: Mayara Estrella

Coordenadora de Projetos: Mayara Saul

Assistente de Produção: Eurípedes Fraga

Assistente de Produção: Guilherme Malafaia

“Stage Manager”: Rafael Vasconcelos

Coprodução São Paulo: Lab Cultural

Idealização e Realização: Touché Entretenimento

Assessoria de Imprensa (Xavante Comunicação): Alan Diniz

“Marketing” Cultural: Ghéu Tibério

 

 


 


Se eu decidisse dissecar cada parcela de trabalho específico empregado na realização deste espetáculo, produziria um texto muito extenso e, consequentemente, mais cansativo, ainda, do que já o poderá ser, após o ponto final. Sendo assim, vou tentar economizar palavras, até para não repetir o óbvio.




Não há nada de novo, nenhum neologismo que possa adjetivar o trabalho de CHARLES MÖELLER, na direção do espetáculo, contando, nesta remontagem, com o dedo de VANESSA COSTA. Se algo de novo pode ser acrescentado ao resultado do trabalho da dupla M&B é que, como “magos dos musicais”, mais uma vez, eles prestaram uma inestimável contribuição à história dos musicais no Brasil. Não há pontos negativos a serem criticados neste trabalho irretocável. Mais uma vez, CLÁUDIO BOTELHO provou que raríssimas pessoas fazem versões, para o palco, como ele. Um dos maiores acertos da carreira da imbatível e incomparável dupla de diretores/criadores.



A presença do premiado maestro CARLOS BAUZYS, atualmente em estudos de aperfeiçoamento, no exterior, assinando a direção musical do espetáculo, é garantia de sucesso, principalmente quando a tarefa é executar as lindas canções de RODGERS e HAMMERSTEIN. Que delícia é ouvir o som de “CINDERELLA”!



Alguém, que é amante de musicais e sabe apreciar um bom corpo de baile em ação, já viu, alguma vez, um trabalho de coreografia que comprometesse o nome de ALONSO BARROS? Lanço o desafio, na certeza de que nenhuma resposta afirmativa surgirá. ALONSO, mais uma vez, esbanja seu talento no desenho dos movimentos, criados para serem executados por excelentes bailarinos, com destaque para as coreografias nas cenas dos bailes palacianos. 



Que bom que a cenografia ficou a cargo de outro premiado profissional, que tantos trabalhos excelentes já realizou na equipe, hoje uma “família”M&B: ROGÉRIO FALCÃO. Profissional atento aos menores detalhes, ROGÉRIO criou vários cenários, que entram e saem de cena, pelas laterais e de cima para baixo, que definem determinados espaços, menores, nas laterais, e aproveitou todo o palco, para representar o palácio real, com todas as suas exigências e requintes. O resultado disso tudo é um deslumbre. 


 

CAROL LOBATO, uma das melhores figurinistas brasileiras, a meu juízo, assinou os figurinos da versão original, os quais, agora, sofreram algumas modificações, alguns, pelas mãos de TONINHO MIRANDA e sua competente equipe. São lindos os figurinos, nesta peça, tanto os exuberantes, usados pela nobreza, quanto os simples, que vestem o núcleo pobre da trama.


Não faço ideia, em termos quantitativos, do número de peças que compõem o figurino total do espetáculo, porém, certamente, extrapola, bastante a casa de uma centena e meia, todos se destacando pela estética e muito bem confeccionados.  Atentem, especialmente, para os trajes da MADRASTA e das duas irmãs, o suprassumo do ridículo, “como pede o figurino”, e o de MARIE, que será utilizado na sua transformação em FADA MADRINHA. Fiquem bem atentos à cena, para que não percam nenhum detalhe, já que tudo acontece num átimo.



Como não poderia deixar de ser, os destaques maiores vão para os vestidos de CINDERELLA e os trajes do PRÍNCIPE TOPHER, os quais valorizam, mais ainda a beleza física do casal. Também não posso deixar de mencionar os figurinos do corpo de baile, com uma invulgar paleta de cores.



Para projetar a iluminação do espetáculo, foi convidado um dos melhores profissionais do ramo, MANECO QUINDERÉ, que utilizou todos os mais modernos recursos de luz de que dispunha, para nos brindar com um festival de cores e brilhos, e sombras, quando necessárias, para criar os diversos ambientes em que se passam as ações. A luz é exuberante e parcimoniosa nos momentos precisos, adequada às situações. Nesta versão, o trabalho de iluminação contou com uma adaptação, de RUSSINHO, que valorizou, sobremaneira, o desenho de luz.



som do espetáculo é claro, cristalino, como deve ser este elemento num musical. Quem garante essa qualidade é GABRIEL D’ANGELO.



ANDRÉ GOIS também tem sua valiosa parcela de participação, no sucesso desta produção, ao criar o visagismo do elenco.



Um dos pontos altos, para os padrões brasileiros, do musical é a utilização de efeitos especiais, que só fazem agregar valores mágicos a um espetáculo de magia. Logo na primeira cena, a luta do PRÍNCIPE TOPHER contra um gigante horrendo, projetado num telão já anuncia o que virá no decorrer do espetáculo. A cena pode assustar um pouco os pequeninos, mas é muito interessante, do ponto de vista do funcionamento como um elemento teatral. O emprego da holografia é algo que também encanta a plateia, assim como todos os outros tipos de projeções, incluindo as que são utilizadas nas cenas de transformações e nas labaredas lançadas por um dragão gigantesco, em nova luta do PRÍNCIPE herói.



Impossível deixar de falar, evidentemente, na “cereja do bolo”, que são a transformação da abóbora em luxuosa carruagem e dos trapos da pobre órfã em dois suntuosos trajes de gala. É preciso ficar atento a todos esses detalhes e tentar desvendar os truques empregados nessas cenas. Mas isso é para os mais curiosos (Vale a pena). 



            Todas as cenas são excelentes, mas duas me chamam bastante a atenção. Uma é quando, simultaneamente, observa-se a sociedade local dividida, claramente, em duas camadas: uma está atenta ao convite do PRÍNCIPE para um baile no palácio; enquanto isso, em outra parte do palco, o “povão” presta atenção à convocação de JEAN-MICHEL para manifestações a favor de melhores condições de vida e de tratamento, para os menos favorecidos. Aquela, mais para a frente do palco, bem iluminada; esta, um pouco mais ao fundo e meio, na penumbra, na “clandestinidade”.



            A outra cena, na verdade, é um interessante detalhe, que instiga a plateia, quando, ao final do primeiro ato, às doze badaladas da meia-noite, quando terminaria o encanto, tentando fugir do castelo, a heroína deixa cair o sapatinho de cristal na escadaria do palácio e – não vou roubar aos que não viram, ainda, o musical –acontece algo diferente da história original, com relação ao sapatinho. A cena encerra o primeiro ato e inicia o segundo. Sem ela, a história não tomaria o rumo que tomou.



“CINDERELA” é um espetáculo, para todas as idades, que exige ser visto pelo maior número possível de espectadores.



As pessoas precisam testemunhar este momento mágico de grande ascensão do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO e valorizar a competência e o talento da mão de obra nacional.



Tenham a certeza de que, em muitos exemplos, já não devemos nada aos grandes musicais da Broadway e de West End. E “CINDERELLA” é a maior prova disso, a julgar pela grande quantidade de prêmios que já acumulou e que, ainda, virá a ganhar, certamente.

Fiquem atentos à temporada carioca!



(FOTOS: PRISCILA PRADE

e DIVULGAÇÃO.)



E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

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