“O PROFETA”
ou
(O QUE O MUNDO
PRECISA OUVIR
AGORA.)
Num determinado
momento, no Brasil, um livro “ficou na moda”. Era “O
Profeta”, publicado, pela primeira vez, nos Estados Unidos, há 100
anos, escrito por Khalil Gibran, um ensaísta, prosador, poeta, conferencista e pintor, de origem libanesa, também considerado
um filósofo, embora ele
rejeitasse esse título. Seus livros e escritos, de simples beleza e
espiritualidade, são reconhecidos e admirados para além do mundo árabe. Não sei
a que, ou a quem, atribuir o fato de um livro “ficar na moda”. Creio
que a mídia, por qualquer motivo, foi parte importante, para levar as pessoas a
um desfile, em lugares públicos, com um exemplar do livro embaixo do braço, da
mesma forma como, em outro momento, o “must” era carregar consigo uma
unidade de “O Capital”, de Karl Marx. Todos queriam demonstrar
estar “na crista da onda”, em termos de leitura “obrigatória”. Li este,
aos 19
anos e aquele já na casa dos 20. O primeiro, motivado pelo
movimento estudantil – Eu cursava Letras, à época, na Universidade
Federal do Rio de Janeiro; todo mundo exibia o seu “O Capital”. O segundo,
mais por curiosidade, uma vez que sua temática não era tanto de meu interesse
naquele tempo. Quanto a “O Capital”, li e gostei, embora
muita coisa tivesse ficado meio “nublada”, na minha mente. Já “O
Profeta” foi uma grande surpresa, para mim, porque me chegou numa hora
em que eu estava precisando muito ler e aprender sobre a importância e necessidade de
alguns valores inerentes ao Homem, como o amor, a dor, a amizade, a família,
os filhos,
a beleza,
a natureza,
a religião,
a alegria,
a tristeza,
a morte, a dádiva, o prazer, o trabalho
e muito mais, por exemplo.
Fiquei fascinado pelo livro e me lembro de ter presenteado muitos amigos com um
de seus exemplares, que logo se tornou um “best seller”, entre nós.
O profeta All
Mustafa (SAMI BORDOKAN) está
prestes a embarcar em um navio, para retornar à sua terra natal, após um ciclo
de doze anos no exílio, na cidade de Orfhalese.
No dia da partida, antes da chegada
iminente de seu navio, os habitantes da pequena cidade pedem a ele que lhes
fale sobre as questões fundamentais da condição humana.
Assim, o profeta responde
com reflexões, que, na sua aparente simplicidade, revelam uma
compreensão profunda da vida e do processo de existir.
O livro, realmente, é um primor. Uma OBRA-PRIMA, assim como a peça baseada nele. Cada
ideia se reveste de uma imagem e se transforma em parábola, criando uma
atmosfera de enlevo e encantamento, marcada pela melodia das frases. Khalil
Gibran nos convida a nos tornarmos
pessoas verdadeiras. Essa atmosfera está presente nesta montagem, fruto de um
trabalho conjugado de LÚCIA HELENA
GALVÃO, autora do texto, LUIZ
ANTÔNIO ROCHA, diretor da peça, e SAMI
BORDOKAN, ator que interpreta o Profeta.
Khalil Gibran, cujo nome original é Gibran Khalil Gibran (em árabe: جبران خليل جبران بن ميکائيل بن سعد.), viveu e trabalhou,
a maior parte de sua vida, nos Estados Unidos e teve uma vida
breve, de apenas 48 anos, o suficiente para nos legar uma profícua obra, acentuada
e artisticamente marcada pelo misticismo oriental. Seus livros, escritos
em inglês e árabe,
expressam as inclinações religiosas e místicas do autor, sendo “O
Profeta” sua produção mais conhecida, um dos livros mais vendidos de
todos os tempos – o segundo mais vendido, depois da “Bíblia Sagrada” -, tendo
sido traduzido em mais de 100 idiomas. A mensagem central da obra, totalmente transposta para o palco, continua
a tocar corações através de gerações, contando a história da jornada turbulenta
e incerta do Homem pela vida.
O
espetáculo é um solo musical, que desembarcou no Rio de Janeiro, depois de
ter sido aclamado pelo público e pela crítica das cidades de São Paulo,
Belo
Horizonte, Belém e Fortaleza. E já está com uma agenda
lotada até o primeiro semestre de 2024. É extremamente positiva esta
montagem, que nos mostra que “a cultura amplia nosso entendimento da vida
e do mundo e nos aproxima das pessoas com um espírito de respeito,
solidariedade e compreensão, com a finalidade de alcançar valores éticos,
morais e permanentes que reforcem a dignidade humana”, como está no “release”
que recebi de ALESSANDRA COSTA (Assessoria
de Imprensa). Destarte, surgiu o projeto de encenar uma peça de TEATRO que se constituísse numa busca
para melhorar o mundo e o ser humano, por meio do TEATRO e da filosofia, baseado na obra
homônima de Khalil Gibran.
Muito
acertadamente, LÚCIA HELENA GALVÃO,
a dramaturga, diz que “O profeta está
enraizado na própria experiência do autor, como um imigrante, e serve de
inspiração para qualquer um que se sinta à deriva, em um mundo em fluxo. A
vida e os pensamentos de Khalil Gibran se entrelaçam com as nossas vidas e
compõem parte importante do que somos”. Visto por esse prisma,
só posso dizer que, no momento em que estamos, sim, “à deriva, em um mundo em fluxo”,
quando a estupidez humana se materializa, na forma de uma guerra cruel e
desumana (Todas o são, na verdade.), a Humanidade precisava assistir a
este espetáculo; o Oriente Médio, principalmente.
A estrutura
dramatúrgica da peça obedece a uma sequência – não me lembro de que seja a do
livro – de reflexões sobre temas variados, cada uma delas intercalada por uma linda
canção árabe, interpretada pelo mesmo ator, SAMI BORDOKAN, o qual também se faz acompanhar, em todos esses
números, tocando um instrumento de cordas de origem árabe, um alaúde. Já
aproveito, aqui, para enaltecer o trabalho de WILLIAN BORDOKAN, seu
irmão, um magistral músico, que acompanha o ator, tocando variados instrumentos
musicais, alguns meio exóticos. Além disso, em determinadas canções, ou trechos
delas, WILLIAN faz uma espécie de segunda voz, e o conjunto disso soa
como a melodia de anjos aos nossos ouvidos.
Todos os
meus mais efusivos aplausos são, agora, dirigidos a SAMI BORDOKAN, um músico e cantor libanês – O “release” não o apresenta
como ator,
mas ele o é. E dos bons! -, que nos brinda e encanta, paulatinamente, com suas
palavras, ditas num ritmo lento, suave, para que cada sílaba seja saboreada
pelo espectador. Extraído do já citado “release”: “SAMI é pesquisador de música
árabe clássica e folclórica e faz releituras de temas tradicionais num trabalho
de resgate de peças ancestrais. Seu estilo de tocar o alaúde e de
cantar é único, reunindo influências diversas, desde a música clássica
árabe, o canto bizantino, o Sufismo, o flamenco e
a música popular brasileira”. SAMI
é um ARTISTA,
com todas as maiúsculas. Espero que cada um que me honra com sua leitura não
perca tempo e corra ao “Teatro Fashion Mall”, onde o
espetáculo está em cartaz (VER SERVIÇO.), a fim de constatar a
veracidade de minhas palavras. Fiquei com a impressão de estar ouvindo o
verdadeiro “Profeta”, ainda que ficcional.
Assina a direção
do espetáculo LUIZ ANTÔNIO ROCHA,
que, a meu juízo, ainda não teve o reconhecimento de que é merecedor, embora seja
um profissional de elevado talento, com “muitos anos de janela”, premiado e
com um considerável currículo, que reúne sucessos de público e bilheteria, como,
entre outros, “Uma Loira na Lua”; Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”; “Brimas”;
“Paulo
Freire, o Andarilho da Utopia”; e “Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”,
este com excelente texto da mesma dramaturga de “O PROFETA”. ROCHA
também é produtor de seus próprios trabalhos em TEATRO, quase todos montados sem patrocínio, e um conceituado diretor
de “casting”
para o cinema e a TV.
Vez por outra,
deparava-me com dois termos considerados sinônimos, mas que podem confundir algumas
pessoas, até mesmo a mim, quando escrevia minhas críticas. Qual seria a
diferença entre “direção” e “encenação”, se é que existe? “Diretor”
e “encenador”
querem dizer a mesma coisa? Antes de uma recente pesquisa que fiz, ainda que
rasa, eu achava que “encenador” pertencia à mesma área semântica de “diretor”,
porém soava como mais pompa, o que me levava a usar o termo quando um trabalho
de direção era tão excepcional, que colocava o “encenador” num patamar
mais elevado, no meu pódio. Depois da referida pesquisa, aprendi que a “direção teatral” seria o ato e/ou o efeito
resultante do trabalho teatral dos
coordenadores do espetáculo cênico num “movimento criativo” de transpor
à cena uma peça de TEATRO,
enquanto a “encenação” seria o resultado desse mesmo “gesto
teatral”. É bem possível que a origem de tal confusão esteja no fato
de, em inglês, existir um só vocábulo – “director” – correspondente a “diretor”
e “encenador”,
em português. Assim, podemos chegar a uma conclusão: Mais
do que um simples responsável pela manutenção da unidade do espetáculo, o encenador
(ou diretor) é, antes de tudo, um “criador”. Voltando ao princípio que me direcionava a distinguir
um “diretor”
de um “encenador”, não titubeio, ao rotular LUIZ ANTÔNIO ROCHA como um grande “encenador”, como
demonstra, mais uma vez, neste espetáculo, com uma proposta bem simples, porém
assaz acertada.
A impecável direção musical da peça, um elemento
da maior importância, nesta “encenação”, é assinada, a quatro mãos, por SAMI e WILLIAN
BORDOKAN, dois irmãos que dominam a arte de cantar
e tocar a música árabe, não tanto conhecida e aceita, no mundo ocidental, porém
de rara beleza. Há um diálogo muito harmonioso, doce, delicado e delicioso de
ser ouvido entre aos dois e a música árabe.
Plasticamente falando, “O PROFETA” é um espetáculo lindo. Tanto o cenário quanto o figurino
foram idealizados e criados pelo artista plástico uruguaio EDUARDO ALBINI. Aquele se resume a seis tapadeiras verticais, que
servem de tela para lindas projeções, e dois banquinhos, sobre os quais repousam
um tipo de pandeiro, usado no decorrer da peça, e uma garrafa de água. Os
instrumentos musicais, habilmente tocados por WILLIAN BORDOKAN, ficam numa das laterais do palco. No chão, há um
tecido displicentemente espalhado, que me passou a sensação de representar
ondas do mar. Talvez seja mais uma das minhas “viagens”. O figurino
não poderia ser outro: vestes típicas árabes, belíssimas.
RICARDO
FUGGI, que também assinou o “desenho de luz” de “Helena
Blavatsky, a Voz do Silêncio”, do mesmo diretor, trabalho que mereceu meu comentário,
quando de minha crítica à peça, de que era a luz mais bonita a que tive acesso
neste ano, repete a dobradinha com LUIZ
ANTÔNIO ROCHA, criando outra iluminação digna dos maiores elogios.
A direção orientou o ator a dizer seu texto de forma bem
pausada, leve, suave, totalmente em consonância com o personagem e o conteúdo
de suas falas. A isso, juntou-se o importante trabalho de preparação corporal e direção
de movimento, a cargo de HANNA
PEREZ, a qual também prestou assistência de direção a LUIZ ANTÔNIO ROCHA. SAMI se movimenta pouco, em cena, e sempre com movimentos quase
coreografados, dando a impressão, em alguns momentos de que estava a levitar.
Texto: Lúcia
Helena Galvão
Encenação:
Luiz Antônio Rocha
Assistência
de Direção: Hanna Perez
Direção Musical:
Sami Bordokan e William Bordokan
Interpretação:
Sami Bordokan
Participação Especial:
William Bordokan
Cenário e
Figurinos: Eduardo Albini
Projeto de
Luz: Ricardo Fujii
Vídeo “Mapping”: Júlio Mauro / Cine Mauro
Preparação Corporal
e Direção de Movimento: Hanna Perez
Montagem e
Operação de Luz: Rodrigo de Lelis
Adereços e
Efeitos: Nilton Araújo
Fotos:
Andreia Machado, Kee Leekyung e Marlon Mikon
Parceria:
Nova Acrópole Brasil
Produção:
Espaço Cênico Produções Artísticas
Temporada: De 13 a 29 de outubro de 2023.
Local: Teatro Fashion Mall.
Endereço: Estrada da Gávea, nº 899, loja 2134 – São
Conrado – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ªs feiras, às 21h;
sábados, às 20h; e domingos, às 17h.
Com
exceção dos dias 21, às 17h, e 22, às 16h.
Valor dos Ingressos: R$100,00
e R$50,00 (meia entrada) - disponíveis na plataforma Sympla.
Duração: 80 minutos.
Indicação Etária: Livre.
Gênero: Monólogo.
Para o diretor “O Profeta é uma história de rara beleza. A força de suas parábolas, a poética musicalidade, a profundeza de seus conceitos são um bálsamo nos dias de hoje. É uma história sobre o amor, que nos mostra uma nova fé no homem, uma nova fé na vida e nos faz redescobrir o papel do coração.”. Nos dias de hoje, isso “cai como uma luva”.
Em doze ensaios poéticos (doze
temas), baseados na obra de Gibran, a história desafia o vazio
e descortina a beleza das ideias sobre o que ocorre
entre o nascimento e a morte. Temas profundos e atemporais são abordados
com a ternura e a sabedoria que vêm do Oriente. “Numa atmosfera de enlevo e
encantamento a peça é um convite para sermos dignos da vida e a viver ao nível
do que há de mais elevado em nós”. Desnecessário é dizer que RECOMENDO O ESPETÁCULO, COM O MAIOR
EMPENHO.
FOTOS: ANDREIA MACHADO,
KEE LEEKYUNG
e
MARLON MIKON
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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JUNTOS, POSSAAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO
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