“DIÁRIO DE PILAR
NA AMAZÔNIA”
ou
(O TEATRO PODE SER UMA “ESCOLA”.)
ou
(PRESERVAR É PRECISO; DESMATAR NÃO É PRECISO.)
Para que serve o TEATRO?
E, em especial, o TEATRO INFANTIL?
Qual a sua função? Que papel ele pode assumir na educação dos pequenos e
na formação do caráter de futuros cidadãos? De uma forma geral, ele é visto
como mera fonte de lazer, entretanto sabemos que pode ir muito além disso,
tanto no segmento direcionado aos adultos como no que é produzido visando a
atingir o público mirim. Neste caso, tem grande importância o “combo”
divertir
e educar. Quando tenho acesso a espetáculos com esse objetivo, fico
muito feliz e vibro demais, no caso de a produção ter sido pensada com o maior
cuidado, bastante caprichada, como um espetáculo a que assisti no último
sábado, no Teatro Clara Nunes (VER SERVIÇO.): “DIÁRIO DE PILAR NA AMAZÔNIA”, idealizado por MIRIAM FREELAND, que encabeça o elenco, de sete atores, com adaptação
e direção
de SYMONE STROBEL, para a obra
original de FLAVIA LINS E SILVA.
Produzir ARTE para crianças não é tarefa das
mais fáceis. Enganam-se os que pensam ao contrário. É por isso que admiro,
substancialmente, o trabalho de FLAVIA
LINS E SILVA, escritora e roteirista,
mais conhecida, talvez, por sua
série de livros da coleção “Detetives do Prédio Azul”, adaptados,
por ela mesma, para um seriado de TV, de grande sucesso. Mas FLAVIA também criou, em 2001,
uma personagem muito interessante, PILAR, uma menina curiosa e aventureira, que adora descobrir os
mitos do mundo todo, sempre defendendo a natureza, os animais e as pessoas.
Junto com o seu mais-do-que-amigo Breno e seu gato Samba,
a garotinha embarca em sua rede mágica, para se aventurar pelo mundo. De lá
para cá, PILAR esteve presente em
seis livros de aventuras, percorrendo o planeta azul: Grécia,
Amazônia,
Egito,
Machu
Picchu, África e, mais recentemente, Índia. Que novo carimbo
será colocado no passaporte da menina?
Em 2018, a base da mesma equipe
envolvida no projeto aqui analisado encenou a peça “Diário de Pilar na Grécia”,
com grande sucesso de público e crítica, ganhando prêmios, sendo apresentada em
Portugal
e seguindo em circulação, por grandes teatros do país, até hoje. A comédia infantil conta a história de PILAR, uma menina aventureira e
curiosa, que mora com a mãe e o avô, Pedro.
Não conheceu seu pai, que, “misteriosamente”, saiu de sua vida
antes mesmo de ela nascer. Um dia, seu
avô parte para uma viagem, rumo à Grécia, e ela, morrendo de saudade,
resolve viajar também. Mas, logo depois,
recebe a notícia de que seu avô não voltará mais de lá. Inconformada e decidida, PILAR
encontra um presente deixado por ele: uma rede mágica, que pode levá-la a
qualquer lugar que desejar. Ao embarcar
para a Grécia, vive histórias incríveis, acompanhada de seu amigo Breno e de seu gatinho Samba.
Nessa
aventura, PILAR vive
grandes momentos, ao lado dos personagens da mitologia grega, como o Rei
Midas, que transforma tudo em ouro; Helena, apaixonada por
Hércules; Hércules, com sua força descomunal; Dionísio, o rei das
festas, das uvas e das colheitas; e Zeus, o deus de todos os
deuses. O espetáculo tinha tudo para se tornar um sucesso, como aconteceu,
tendo sido merecedor de muitos prêmios.
E PILAR
está de volta, em nova aventura, desta vez com muita ação e um ensinamento
fundamental, para os pequenos: a preservação da natureza,
representada pela defesa da Amazônia. “DIÁRIO
DE PILAR NA AMAZÔNIA” é uma “aula magna” de como assumir o papel
de um cidadão, em prol da coletividade.
SINOPSE:
Preocupados com o
desmatamento e a destruição da floresta, a menina Pilar (MIRIAM FREELAND), seu amigo Breno
(JORGE NEVES) e o gato Samba
se transportam para a Amazônia, onde, ao lado da indígena Maiara
(LUDIMILA D’ANGELIS), enfrentam um
perigoso grupo de madeireiros, que depreda, sem dó, a floresta, traficando madeira
rio abaixo.
Navegando pelos rios Amazonas, Solimões, Negro e Tapajós, os amigos têm encontros surpreendentes com seres encantados da floresta, como a Iara e o Curupira, os quais se tornam fortes aliados na empreitada dos meninos.
Em qualquer momento em que este espetáculo fosse encenado, eu já o consideraria “de utilidade pública”, pelo tom de denúncia e a mensagem do dever de preservação dos nossos recursos naturais. Hoje, após quatro anos de um (DES)governo criminoso, durante o qual nada se fez para defender e resguardar nossas riquezas naturais e, muito pelo contrário, tanto incentivo foi dado para que garimpeiros explorassem, da forma mais desorganizada e criminosa possível, a área da Amazônia, quando um nefasto “ministro do Meio Ambiente” tudo facilitava para que “a boiada passasse”, este texto tem muito mais a contribuir para uma conscientização acerca da necessidade urgente de dar um basta a uma exploração lesiva e desastrosa do “pulmão do planeta”, ainda que alguns estudiosos assim não considerem a vasta área de 7 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos em territórios de nove nações (Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), sendo que a maioria das florestas está contida dentro do Brasil.
O texto da peça é uma adaptação de SYMONE STROBEL, como já o fizera na primeira aventura de PILAR nos palcos. Agrada-me bastante o trabalho, contudo acredito que o prólogo, quando o personagem do Professor (SÁVIO MOLL) entra pela plateia para “fazer uma pesquisa”, interagindo com o público, poderia ser mais breve. Pareceu-me um pouco enfadonho, fugindo ao interesse da maioria dos pequenos. Pelo menos foi assim que aconteceu na sessão em que estive presente.
SYMONE também responde
pela correta direção do espetáculo, salvo o detalhe a que me referi no
parágrafo anterior, que não chega, absolutamente, a desabonar o seu trabalho,
porém creio que poderia ser repensado. De certo, aquele momento tem tudo a ver
com o desenrolar da trama, entretanto penso que uma “dosimetria” deveria ser
aplicada a ele, no sentido de encurtá-lo e fazê-lo mais dinâmico.
Seguindo o mesmo nível de qualidade de “DIÁRIO DE PILAR NA GRÉCIA”, a produção não mediu esforços para
entregar um espetáculo exuberante, digno de ser visto, de uma beleza plástica
incomensurável, reunindo alguns dos artistas de criação mais importantes e
requisitados, no momento, como é o caso de NATÁLIA
LANA, que assina uma belíssima cenografia, ressaltando aspectos da
riqueza cultural da Amazônia. O cenário é abastoso em tamanho e
cores e preenche todo o palco, com múltiplas e coloridas cordas suspensas, em
diferentes camadas, que representam a floresta e sua profundidade e diversidade,
e por onde surgem e desaparecem os personagens, ao logo da ação. Uma gigante
escavadeira, que, ao entrar, ocupa, praticamente, todo o palco, sintetiza o
poder e a gana predadora dos madeireiros clandestinos. Há, ainda, outros
elementos icônicos da região amazônica, como as coloridas e típicas redes para
deitar, que recriam o grande barco-gaiola, além de uma representação figurativa
da árvore Sumaúma (ou Samaúma), considerada a grande mãe
da floresta.
Outro grande artista que empresta seu talento a esta
montagem é JOSÉ COHEN, com seus
bonecos articulados, manipulados pelos atores, dando vida a diferentes
animais da floresta. Como bom paraense, COHEN
foi muito preciso, na tradução estilizada de seres da Floresta Amazônica, sem
dúvida, uma das belas atrações desta montagem.
LUCIANA BUARQUE e
FELIPE LOURENÇO são mais dois
artistas que “agregaram tijolinhos nesta construção”. Ela com seus figurinos
e ele assinando o desenho de luz. Todos os trajes vestidos pelo elenco estão bem
acordes com os personagens. A iluminação, de FELIPE LOURENÇO, é extremamente voltada
para o lúdico e o onírico, esplendorosa, em tons e intensidade, de acordo com as
exigências de cada cena.
Os atores se movimentam, harmoniosamente, no palco,
obedecendo a um bom trabalho de direção de movimento a cargo de PAULA ÁGUAS, que também apoia SYMONE STROBEL, na assistência de direção,
junto com PEDRO SCOVINO. Toda a
trama é embalada por uma ajustada trilha sonora e conta com a direção
musical e arranjos de MARCO DE
VITA. E, para compor o visual dos personagens, por meio de um correto visagismo,
o espetáculo conta com os préstimos de SID
ANDRADE.
No que tange ao elenco, todos se comportam com
esmero, atuando em perfeito apuro, dentro do que cada personagem tem a mostrar,
sem que nada tenha saltado aos meus olhos, em termos de interpretação, a não
ser, talvez, a maneira como uma adulta, MIRIAM
FREELAND, se coloca na pele de uma menina, com bastante naturalidade, sem
apelar para o grotesco da “imbecilização”, como estamos
acostumados a ver, muitas vezes, em atores nessa posição.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Miriam Freeland
Texto: Flávia Lins e Silva
Ilustrações: Joana Penna
Adaptação: Symone Strobel
Direção: Symone Strobel
Assistência de Direção: Paula Águas e Pedro Scovino
Elenco: Miriam Freeland, Fernando Melvin, Jorge Neves, Ludimila
D’Angelis, Márcio Mattos, Sávio Moll e Valéria Alencar
Cenário: Natália Lana
Figurino: Luciana Buarque
Iluminação: Felipe Lourenço
Direção de Movimento: Paula Águas
Direção Musical e Arranjos: Marco de Vita
Bonecos: José Cohen
Pesquisa de Trilha Incidental: Pedro Scovino
Preparação Vocal: Chiara Santoro
Visagismo: Sid Andrade
Diretor de Palco: Maycon Soares
Contrarregras: Leonardo Pacheco e Alipia Mattos
Estagiária de Produção e Contrarregra: Ianka de Oliveira
Assistente de Produção: Fernanda Janan
Direção de Produção: Tatianna Trinxet e Miriam Freeland
Coprodução: Constelar - Arte, Diversão e Cultura
Realização: Movimento Carioca Produções Artísticas
Fotos: Gal Oliveira
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella
Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 30 de setembro a 26 de novembro de 2023.
Local: Teatro Clara Nunes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 - 3º piso – Gávea – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2274-9696.
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 16h.
Valor dos Ingressos: R$90,00 e R$45,00 (meia-entrada); Ingresso Popular
(limitado): R$39,00 e R$19,80 (meia-entrada); Combo Família (4 ingressos):
R$240,00; Combo Família (3 ingressos): R$200,00; Valor diferenciado para grupos acima
de 25 pessoas: R$45,00 cada ingresso.
Classificação Etária: LIVRE (indicada para a partir de 3 anos).
DURAÇÃO: 60 minutos.
Gênero: Teatro Infantil.
Qualquer
um que assista a esta peça sairá do Teatro com a convicção de que o
espetáculo pode ser considerado uma “potencial ferramenta para a educação
ambiental das novas gerações”. E o que é melhor: por meio de “um
encontro afetivo com a riqueza e o mistério da Floresta Amazônica”,
abrangendo um público de todas as idades, trazendo canções originais,
personagens da cultura e mitologia dos povos originários e um elenco diverso,
formado por indígenas, pretos e brancos, de diferentes gerações, para exaltar,
de forma poética e lúdica, o povo, a flora e a fauna da Amazônia, como consta no “release”
que me chegou às mãos via STELLA
STEPHANY, assessoria de imprensa.
Precisamos mostrar às nossa crianças um Brasil que elas ainda não conhecem e que carecem de conhecer, um Brasil “sem maquiagem”, para que aprendam, desde cedo, a respeitar suas origens e tradições. Nesse sentido, todos os aplausos que possamos direcionar a esta belíssima produção ainda seriam poucos. Ouvi dizer, e espero que venha a ser confirmado, que MIRIAM FREELAND e seus colaboradores têm em mente levar ao palco todos os livros de FLÁVIA LINS E SILVA, sobre as aventuras da menina PILAR. Espero que isso seja verdade, uma vez que seria uma excelente iniciativa, a qual, inclusive, deveria ser encampada pelas autoridades ligadas à educação, no sentido de que essas peças pudessem atingir um número maior possível de crianças, espalhadas por todo o país.
Recomendo, de forma entusiasmada, esta produção,
para toda a família.
FOTOS: GAL OLIVEIRA
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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
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