“A FABULOSA FÁBRICA
DE MÚSICA
– O MUSICAL”
ou
(TEATRO PARA MIÚDOS COM “CHEIRINHO DE BROADWAY”.)
Com muita tristeza, não posso deixar de dizer que o panorama
teatral brasileiro voltado para os nichos infantil e infantojuvenil, de uma
forma geral, é consideravelmente ruim, deixa muito a desejar, de sorte que,
quando me deparo com uma obra que respeita os pequenos espectadores, que serão
a plateia do futuro, produzida com o maior esmero e bom gosto, como se fosse
voltada para o público adulto, não vejo a hora de registrar logo minhas
considerações sobre este ou aquele espetáculo, como faço agora, tecendo
comentários sobre uma montagem belíssima e irretocável, em cartaz no Teatro
das Artes, dentro do Shopping da Gávea, em sessões
duplas, aos sábados, e uma aos domingos: “A
FABULOSA FÁBRICA DE MÚSICA – O MUSICAL”, com texto de ADALBERTO NETO, dirigida por ROBERTO
BOMTEMPO, trazendo um excelente elenco, formado por atores adultos,
crianças e adolescentes.
Sou um inveterado amante de todas as ARTES, mas duas ocupam um
maior espaço no meu coração: o TEATRO,
disparadamente a primeira delas, e a música, as quais vêm, cada vez mais,
se amalgamando, dialogando, entre si, em um só espetáculo, o TEATRO MUSICAL. Via de regra, porém,
muitas produções preenchem os palcos – falo dos cariocas, mas não é diferente
em outras praças do Brasil – com propostas de TEATRO
infantil ou infantojuvenil, as quais, ao contrário de atrair público e
despertar o seu interesse, mais o afastam, já que os pequenos espectadores
passam a ter uma ideia distorcida do que seja TEATRO, o bom TEATRO. Só posso concluir que essas produções “capengas”
só fazem prestar um grande desserviço à nobre causa de formar plateias para o
futuro.
Ao contrário disso, “A FABULOSA FÁBRICA DE MÚSICA – O MUSICAL” é um acerto total, por conta
de reunir, num palco, tudo o que pode desaguar num excelente espetáculo
teatral, especialmente voltado para os pequenos: uma ótima e criativa história;
uma direção
corretíssima; um elenco fabuloso; cenários,
figurinos
e iluminação
a serviço de um deleite para os olhos, com relação aos elementos plásticos da
montagem; e muita música boa.
SINOPSE:
Já pensou num mundo sem música?
É o que acontece, quando uma caixinha de música,
que esconde um poder mágico, se quebra, no Colégio Beethoven.
A partir daí, qualquer música só pode ser executada
e ouvida num único lugar encantado e secreto, habitado por Melodia (VITÓRIA RODRIGUES),
Ritmo
(RODRIGO FERNANDO) e Harmonia
(CAROL DONATO), os três elementos da
música.
Com a quebra da caixinha, os três ganham vida
humana e precisam se unir, para que o objeto seja restaurado.
Mas precisam da ajuda dos responsáveis pelo
incidente, as crianças Flora (MANU ESTEVÃO) Mike (ENZO PACÍFICO / PIETRO CHEUEN) e Luna (ESTHER SAMUEL / BRUNA
NEGENDANK).
E do próprio Beethoven (DU HERRERA) habitante deste lugar mágico, que reúne todos em torno
desta missão.
O grande compositor, usando seu próprio exemplo, mostra a cada um a importância de reconhecer sua potência única e ir em busca dos seus sonhos.
Atendendo
a um convite de STELLA STEPHANY, assessoria
de imprensa, assisti, no último sábado, na primeira sessão - um novo
horário oferecido ao público, das 14h -, ao espetáculo “A FABULOSA FÁBRICA DE MÚSICA – O MUSICAL” e
deixei o Teatro das Artes em total “estado de graça”, pelo que acabara
de assistir e por ver a multidão que se aglomerava, à porta do Teatro,
aguardando a sessão das 16h. Lotação esgotada; ou quase.
Para
não receber, injustamente, o “selo” de “exagerado”, ou alguma
coisa parecida e pior, vejo-me na obrigação de explicar o sentido do subtítulo
desta crítica: “TEATRO PARA MIÚDOS COM ‘CHEIRINHO DE
BROADWAY’”. Um musical da Broadway é sempre montado visando à
perfeição ou à aproximação máxima dela. Na produção aqui analisada, guardadas as devidas proporções, não é
diferente. Na “Meca dos musicais”, chamam a atenção a cenografia, os figurinos,
a iluminação,
as canções,
a coreografia
e, evidentemente, a interpretação dos atores / cantores / bailarinos. Estão achando
que aqui é diferente? Exatamente a mesma coisa. A produção
do espetáculo não poupou esforços para oferecer o melhor possível, e o
resultado é surpreendente.
Não
basta que a o argumento, o enredo, seja bom; é preciso que a
trama seja muito bem contada, por meio de uma dramaturgia contagiante, que
prenda a atenção dos espectadores. Nesse sentido, aplaudo, vigorosamente, ADALBERTO NETO, pela excelente ideia e,
mais ainda, por tê-la colocado no papel de forma tão brilhante. O autor do
texto soube dosar, com perfeição, cenas de tensão, surpresas, beleza e bom
humor. Além disso, ADALBERTO encontrou
um caminho certeiro, objetivo e descomplicado para abordar temas polêmicos e da
maior importância, como a problemática que envolve a separação dos pais; o ciúme e o sentimento de desprezo e abandono de um filho, com a chegada de um irmãozinho; a
questão da adoção, ou alguma coisa parecida; e, talvez, o mais delicado de todos: a abordagem da relação homoafetividade, tudo apresentado em pinceladas discretas
e delicadas. O dramaturgo, segundo suas próprias palavras (Adaptei do “release”.), dentro
de uma história lúdica, fala sobre os sonhos que não envelhecem, mostra que não
existe criança incapaz e que um lar em desarmonia reflete, diretamente, no
desenvolvimento da criança. Destarte, além de ser um espetáculo bonito, lúdico
e divertido, acaba sendo educativo para as crianças.
ROBERTO BOMTEMPO,
que, além de ótimo ator, já tem uma boa experiência na direção deste tipo de
espetáculo, executa seu trabalho com muita correção, atento a todos os detalhes
que, reunidos, garantem a qualidade de uma peça de TEATRO. Com uma bela “partitura” à sua mão, uma FICHA TÉCNICA de competentes
profissionais e muita criatividade, bom gosto e senso estético apurado, BOMTEMPO faz uma ótima "regência", garantindo mais um tento de
sucesso no seu currículo.
Porção
imprescindível num espetáculo deste gênero, a música ganha total
protagonismo nesta encenação. Considero excelente a ideia de utilizar trechos
das composições mais expressivas de Ludwig van Beethoven, compositor alemão, “considerado
um dos pilares da música ocidental, pelo incontestável desenvolvimento, tanto da
linguagem como do conteúdo musical demonstrado nas suas obras, permanecendo
como um dos compositores mais respeitados e mais influentes de todos os tempos”, com letras especialmente criadas para o espetáculo.
Ainda sobre a parte musical, destaco outra ideia interessante, concentrada na
utilização de trechos de “hits” populares, na trilha sonora da peça, todos do agrado do
grande público. Pela ótima direção musical, responde ROGER HENRI.
Musical sem coreografia
é o mesmo que “romeu e julieta só com queijo ou goiabada”; ou seja, algo
incompleto. A este espetáculo, dois dos nossos melhores profissionais no ofício
de coreografar, TONI RODRIGUES e JULIANA GAMA, deram sua inestimável
colaboração e contribuíram para que a montagem seja bastante dinâmica e alegre,
com seus “bailados”, muito bem executados por todos do elenco.
Por falar em elenco,
este se apresenta de forma impecável, tanto os artistas adultos quanto os
demais, crianças e adolescentes. Presume-se que atores adultos já estejam com
uma boa base profissional solidificada, mas sabemos todos que interpretar, para
os pequenos, não é algo que nos chegue com a devida naturalidade. Via de regra,
são interpretações “forçadas e falsas”, que nos levam – a mim, pelo menos – ao
estágio da irritação. Não é o que acontece aqui. O elenco de crianças e
adolescentes responde, à altura, às provocações dos colegas adultos, e o resultado
final é o melhor possível. Todos interpretam, cantam e dançam muito bem. No que
tange a cantar, destaco, com muito prazer, a atuação de VITÓRIA RODRIGUES. Que voz abençoada!
Cada
um dos personagens traz sua marca registrada. Beethoven,
excelentemente interpretado por DU HERRERA, é apresentado como um
sábio bem humorado, que usa seu conhecimento musical como base para as analogias
que faz sobre a vida. Tranquilo e racional, na maior parte das vezes, mas, em momento
de exaltação, é um pouco desastrado.
Apesar de parecer uma pequena adulta, por ser sensata, prática e de humor sarcástico, além de sofrer com as brigas e competição constantes dos pais separados, a personagem Flora "não é chata", embora tivesse tudo para ser, graças ao bom trabalho de MANU ESTEVÃO.
Já Luna,
personagem defendida por ESTHER SAMUEL ou BRUNA NEGENDANK (Como não
conheço nenhuma das duas, não sei quem esteve em cena na sessão em que estive
presente, mas asseguro que o trabalho foi bem cumprido.) tem um
jeito doce de falar e, depois da chegada do irmãozinho, anda meio triste, por
crer que já não tem mais a mesma importância para os pais.
Mike, personagem de ENZO
PACÍFICO ou PIETRO CHEUEN (Aqui, aplica-se o mesmo que escrevi sobre
a personagem Luna.) é um pouco acelerado, fala
atropelando as palavras, faz amigos com facilidade e gosta de todos, mas não
aguenta seus primos implicantes, com quem vive desde que perdeu os pais. Gosta
muito dos seus pais substitutos - o tio e seu marido.
CAROL DONATO destaca-se na personagem Harmonia, a mais
desconfiada dos três elementos da música. Vaidosa, adorou virar gente e quer
aproveitar tudo da nova vida. Adora aromas.
A mais
“de
bem com a vida”, entre os três elementos da música, é a Melodia,
personagem, esplendidamente, vivido por VITÓRIA RODRIGUES, a que
topa tudo e adora sabores.
Com
uma atuação muito marcante, RODRIGO
FERNANDO interpreta, da forma mais solta possível, o Ritmo, o mais dinâmico entre os três elementos da música, o qual perde
a paciência, quando não consegue resolver as coisas, e adora cores.
O papel
de diretora do Colégio Beethoven, a professora Cléa, ficou com FRANCIANE
MELO, que também merece muitos
aplausos. Ela é severa, mas amiga dos alunos; perde a paciência
diante de qualquer tipo de injustiça. Alimenta o sonho de ser cantora, mas acha
que não conseguiria viver de música. Desde cedo, precisou trabalhar para ajudar
em casa.
O Professor
Eliseu, uma espécie de “faz-tudo” do Colégio
Beethoven, é muito bem interpretado por Rômulo Weber. Ele
também aparece como uma espécie de mestre de cerimônias do musical.
Competente e simpático, um pouco desorganizado, mas é alguém com que se pode
contar.
Os elementos de criação
concernentes à parte plástica do espetáculo são de causar espanto,
positivamente, e nos provocar um saudabilíssimo sentimento de orgulho do
artista brasileiro, pelo conjunto da obra. Não é sempre que tenho a oportunidade
de testemunhar, num palco, um triálogo tão pertinente, frutífero e
proficiente quanto à “conversa” entre GLAUCO BERNARDI (cenografia),
BRUNO OLIVEIRA (figurino) e ROGERIO WILTGEN (iluminação). A cenografia
é impecável e bastante variada, com diversos ambientes trocados à vista do
público, com eficiência e adequação. Os figurinos, principalmente os dos
personagens Beethoven, Melodia, Ritmo e Harmonia,
são algo de espantoso, em termos de beleza e criatividade. Aliás, tanto com
relação aos cenários como os trajes vestidos pelo elenco, acrescento um detalhe
muito importante: todos os acabamentos são impecáveis, com detalhes que saltam
aos olhos. Tive a oportunidade de estar, rapidamente, com os atores, cara a
cara, após a sessão, e fiquei extremamente bem impressionado com o que vestiam. Esses quatro personagens parecem "estátuas vivas". E, sinceramente, não sei o que dizer sobre o lindíssimo desenho de luz, criado por ROGÉRIO WILTGEN. Ele se apresenta, aqui, como um "mago das cores", utilizando uma paleta de cores quentes e vibrantes, valorizando, mais ainda, todos os detalhes da cenografia e dos figurinos, que não podiam, absolutamente, passar ao largo.
Para completar o visagismo
dos personagens, registro a refutável perfeição, beleza, bom gosto e
criatividade empregada por DICKO LORENZO,
principalmente no que se refere à maquiagem.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Gustavo
Nunes e Rose Dalney
Dramaturgia: Adalberto
Neto
Direção: Roberto Bomtempo
Assistência de Direção: Anna
Sant’Ana
Direção Musical: Roger
Henri
Elenco Adulto: Du
Herrera, Franciane Melo, Rômulo Weber, Carol Donato, Vitória Rodrigues e
Rodrigo Fernando
Elenco Infantil: Enzo
Pacifico, Pietro Cheuen, Esther Samuel, Bruna Negendank e Manu Estevão
Cenografia: Glauco
Bernardi
Figurino: Bruno
Oliveira
Iluminação: Rogerio
Wiltgen
Coreografia: Toni
Rodrigues e Juliana Gama
Visagismo: Dicko Lorenzo
Produção Executiva:
Clayton Epfani
Produção Financeira:
Mariana Teixeira
Produtora de Captação:
Gheu Tibério
Produção de Elenco:
Giselle Lima e Fabiana Tolentino
Assistência de Produção: Marcos
Goerdeler
Gestor de Tráfego: Tiago
da Silveira
Mídia Social: Juliana
Braga
“Designer” gráfico: Felipe Braga
Apresentado por Lei de
Incentivo à Cultura e Bradesco Seguros.
Patrocínio: LGA
MINERAÇÃO
Realização: Miniatura 9
Produções
Produção: Turbilhão de
ideias
Fotos: Carlos Costa –
Estúdio CAC
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 07 a 29 de outubro de 2023.
Local: Teatro das Artes.
Endereço: Rua Marquês de São
Vicente, nº 52 – Shopping da Gávea - 2º piso – Gávea – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2540-6004.
Capacidade: 418
espectadores
Acessibilidade: SIM.
Dias e Horários: sábado,
às 14h e 17h; domingo, às 16h.
Valor dos Ingressos: R$100,00
e R$50,00 (meia-entrada). Preços promocionais,
limitados a 20% da lotação: R$39,00 e R$19,50 (meia-entrada), na bilheteria
Horários de
Funcionamento da Bilheteria: De 5ª feira a dom, a partir das 15h.
Vendas “on-line”: https://divertix.com.br/teatro/a-fabulosa-fabrica-de-musica
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária:
LIVRE e indicada para crianças a partir de 2 anos
Gênero: Musical
Infantill (Para a família.)
“A FABULOSA FÁBRICA DE MÚSICA – O MUSICAL” nasceu do desejo de
seus idealizadores, GUSTAVO
NUNES e ROSE DALNEY,
de explorar o impacto da música na
vida do ser humano. Trata-se de um projeto que aspira a uma vida longa,
com a intenção de apresentar uma série de espetáculos musicais que ofereçam ao
público uma experiência teatral sobre o poder da música, seus diferentes ritmos e sua importância para a
formação da identidade cultural ao longo da história. Este é
apenas o primeiro deles. Não posso me furtar a prestar uma homenagem a GUSTAVO e ROSE, pelo cuidado e empenho como se comportam à frente desta
produção, a qual EU RECOMENDO COM O MAIOIR EMPENHO.
FOTOS: CARLOS COSTA
(ESTÚDIO CAC)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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