terça-feira, 29 de julho de 2025

“PEDRINHAS

MIUDINHAS”

ou

(E VIVA A ANCESTRALIDADE!”)

ou

(UM ESPETÁCULO

BEM CARIOCA,

MAIS QUE BRASILEIRO.)

 


         O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB - RJ) está recebendo uma Ocupação da Cia. Teatro Esplendor, capitaneada por um de seus fundadores, o grande ator e diretor BRUCE GOMLEVSKY. Um dos quatro espetáculos oferecidos ao público, nesta Ocupação, é o alvo desta crítica. Falo de um excepcional monólogo, “PEDRINHAS MIUDINHAS”, uma adaptação teatral, inspirada na obra quase homônima, de 2021, do conceituadíssimo historiador e escritor LUIZ ANTÔNIO SIMAS, dirigida por BRUCE e magnificamente interpretada por RICARDO LOPES. O pouco que escrevi até agora, sobre esta montagem, já dá o tom com que me conduzirei nestas minhas considerações.




          

SINOPSE:

A obra percorre vários temas, como religiosidade, samba, forró e futebol, além de homenagear figuras emblemáticas, como Garrincha, Noel Rosa e Jackson do Pandeiro.

Em “Pedrinhas Miudinhas – Ensaios sobre Ruas, Aldeias e Terreiros”, o livro que deu origem à peça, LUIZ ANTÔNIO SIMAS fala sobre festas populares, afetos urbanos e os saberes cotidianos, característicos da sua prosa poética.

O solo, interpretado por RICARDO LOPES, explora, as raízes da cultura popular brasileira. 

O espetáculo propõe uma reflexão sobre identidade, resistência e ancestralidade.


 

 


            Na já referida mostra (Ocupação), dois dos espetáculos são reencenações: “Outra Revolução dos Bichos”, com dramaturgia de DANIELA PEREIRA DE CARVALHO, a mesma de “PEDRINHAS MIUDINHAS”, e “Um Tartufo”, um dos grandes carros-chefes, bastante premiado, da Cia.. Os outros dois espetáculos são estreias: o monólogo em tela e uma nova leitura, de BRUCE GOMLEVSKY, para o clássico “Hamlet”, de William Shakespeare, a estrear em agosto próximo.



        O livro que serviu de base para esta adaptação é de um dos homens mais cultos e inteligentes que conheço, uma verdadeira enciclopédia em brasilidade, LUIZ ANTÔNIO SIMAS. Trata-se de uma coletânea de 43 ensaios, além de apresentar outros textos de obras recentes do autor, propondo, assim, um mergulho nas raízes da cultura popular brasileira. Essa é a primeira vez que uma obra de SIMAS é adaptada para os palcos. Espero que outras mais venham por aí, de preferência pelas mãos  adaptadoras de DANIELA.



     O fio da narrativa sai da boca de uma espécie de “preto velho”, um ancestral escravizado (Assim decodifiquei o personagem.), que, vez por outra, dá voz ao próprio ator ou a Exu. São muito interessantes as trocas de postura corporal do ator, na passagem de um personagem a outro. Aproveitando o gancho, chamo atenção para o talento e a entrega de RICARDO neste espetáculo, muito bem orientado por BRUCE GOMLESKSKY, na direção. O excelente e emocionante trabalho de RICARDO LOPES é digno, no mínimo, de muitas indicações a prêmios de TEATRO, a prevalecer a desejada e esperada meritocracia.




            Uma “simplicidade exótica” marca esta montagem, muito bem amparada pela parte plástica do espetáculo, representada por uma correta iluminação, da parte de ELISA TANDETA, que também opera a luz, assim como o curioso figurino, de LORENA SENDER, a mesma artista que assina uma interessantíssima cenografia, na qual se destaca uma encruzilhada, traçada e limitada por um desenho de folhas secas, um trabalho bastante criativo, tudo a ver com o texto.




(Fotos: Gilberto Bartholo.)


            São palavras do diretor, que eu abraço totalmente: “SIMAS é um grande escritor. E encontramos, no RICARDO LOPES, um diálogo com essa (digna e marcante) ancestralidade afro-brasileira, que caiu como uma luva. São temas muito caros a ele, que precisam ser debatidos, como a questão da perseguição religiosa. Ele vai funcionar como um contador de histórias. A peça revela uma escrita que valoriza as manifestações culturais do cotidiano, uma vez que SIMAS destaca, em sua obra, a importância das tradições populares e dos saberes populares que moldam a identidade nacional”



            Grande admirador da “sabença” e da sensibilidade de LUIZ ANTÔNIO SIMAS, julgo pertinente falar um pouco sobre ele: SIMAS é historiador, professor, escritor, babalaô e um dos principais pensadores da cultura popular brasileira contemporânea. Nascido no Rio de Janeiro, em 1967, é autor de obras fundamentais sobre o samba, as religiões afro-brasileiras, a cidade do Rio de Janeiro e os saberes ancestrais que moldam o Brasil profundo. Com um estilo de escrita lírico, oral e cheio de ginga, alia a erudição acadêmica à vivência das ruas, dos terreiros e das escolas públicas, onde atuou por décadas como professor.



           Não poderia deixar de mencionar o trabalho de dois excepcionais musicistas, que sublinham toda a encenação, da primeira à última cena, com uma excelente sonoplastia, saída de seus instrumentos de percussão. Sem sombra de dúvida, ELIAS ROSA e LYTHO SANTANA são duas peças fundamentais na excelência deste trabalho.




 

FICHA TÉCNICA:

Da obra de Luiz Antônio Simas 
Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho
Direção: Bruce Gomlevsky

Interpretação: Ricardo Lopes

Musicistas: Elias Rosa e Lytho Santana

Cenário: Lorena Sender

Figurino: Lorena Sender

Iluminação: Elisa Tandeta

Assessoria de Comunicação: Dobbs Scarpa

Fotos: Dalton Valério

Direção de Produção: Gabriel Garcia


 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 18 de julho a 04 de agosto de 2025.

Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro (CCBB – RJ).

Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – Centro (Candelária) - Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6ª feira, sábado e 2ª feira, às 19h; domingo, às 18h.  

Valor do Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).

Capacidade: 60 lugares.

Duração: 60 minutos.

Classificação Etária: 12 anos. 

Gênero: Monólogo.


 



 

         É extremamente lamentável que um espetáculo formidável (O adjetivo é uma homenagem a Nelson Rodrigues e à DONA Fernanda Montenegro.) como este só tenha conseguido uma pauta curtíssima num teatro carioca, porém tenho certeza de que terá vida longa, em outras casas do Rio de Janeiro e pelo país afora, de tal monta como é apresentado, a julgar pela maneira como o público vem frequentando o Teatro III, do CCBB – RJ, com lotações esgotadas e filas de espera, por desistências.



(Foto: Gabriel Garcia.)

 

 

 

FOTOS: DALTON VALÉRIO

 

GALERIA PARTICULAR

(Foto: Elisa Tandeta)


Com Ricardo Lopes.



 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!

 

 





 
































































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