“PEDRINHAS
MIUDINHAS”
ou
(E VIVA A ANCESTRALIDADE!”)
ou
(UM ESPETÁCULO
BEM CARIOCA,
MAIS QUE BRASILEIRO.)
O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de
Janeiro (CCBB - RJ) está recebendo uma Ocupação da Cia. Teatro
Esplendor, capitaneada por um de seus fundadores, o grande
ator e diretor BRUCE GOMLEVSKY. Um dos quatro espetáculos oferecidos ao
público, nesta Ocupação, é o
alvo desta crítica. Falo de um excepcional
monólogo, “PEDRINHAS MIUDINHAS”, uma adaptação teatral, inspirada na obra quase homônima, de 2021, do conceituadíssimo historiador e escritor LUIZ ANTÔNIO SIMAS, dirigida por BRUCE e magnificamente interpretada por
RICARDO LOPES. O pouco que escrevi até agora, sobre esta montagem, já dá o
tom com que me conduzirei nestas minhas considerações.
SINOPSE:
A obra percorre vários temas, como religiosidade,
samba,
forró
e futebol,
além de homenagear figuras emblemáticas, como Garrincha, Noel
Rosa e Jackson do Pandeiro.
Em “Pedrinhas Miudinhas – Ensaios sobre Ruas,
Aldeias e Terreiros”, o livro que deu origem à peça, LUIZ ANTÔNIO SIMAS fala sobre festas
populares, afetos urbanos e os saberes cotidianos, característicos
da sua prosa poética.
O solo, interpretado por RICARDO LOPES, explora, as raízes da cultura popular brasileira.
O espetáculo propõe uma reflexão sobre
identidade, resistência e ancestralidade.
Na
já referida mostra (Ocupação), dois dos espetáculos são reencenações: “Outra
Revolução dos Bichos”, com dramaturgia de DANIELA PEREIRA DE CARVALHO, a mesma de “PEDRINHAS MIUDINHAS”, e “Um Tartufo”, um dos grandes
carros-chefes, bastante premiado, da Cia.. Os outros dois espetáculos são
estreias: o monólogo em tela e uma nova leitura, de BRUCE GOMLEVSKY, para o clássico “Hamlet”, de William
Shakespeare, a estrear em agosto próximo.
O
livro que serviu de base para esta adaptação é de um dos homens mais cultos e
inteligentes que conheço, uma verdadeira enciclopédia em brasilidade, LUIZ ANTÔNIO SIMAS. Trata-se de uma coletânea
de 43
ensaios, além de apresentar outros textos de obras recentes do autor,
propondo, assim, um mergulho nas raízes da cultura popular brasileira. Essa é a
primeira vez que uma obra de SIMAS é
adaptada para os palcos. Espero que outras mais venham por aí, de preferência
pelas mãos adaptadoras de DANIELA.
O
fio da narrativa sai da boca de uma espécie de “preto velho”, um ancestral
escravizado (Assim decodifiquei o personagem.), que, vez por outra, dá voz
ao próprio ator ou a Exu. São muito interessantes as trocas
de postura corporal do ator, na passagem de um personagem a outro. Aproveitando
o gancho, chamo atenção para o talento e a entrega de RICARDO neste espetáculo, muito bem orientado por BRUCE GOMLESKSKY, na direção.
O excelente
e emocionante trabalho de RICARDO
LOPES é digno, no mínimo, de muitas indicações a prêmios de TEATRO,
a prevalecer a desejada e esperada meritocracia.
Uma
“simplicidade
exótica” marca esta montagem, muito bem amparada pela parte plástica do
espetáculo, representada por uma correta iluminação, da parte de ELISA TANDETA, que também opera a luz,
assim como o curioso figurino, de LORENA
SENDER, a mesma artista que assina uma interessantíssima cenografia, na
qual se destaca uma encruzilhada, traçada e limitada por um desenho de folhas
secas, um trabalho bastante criativo, tudo a ver com o texto.
(Fotos: Gilberto Bartholo.)
São
palavras do diretor, que eu abraço totalmente: “SIMAS é um grande escritor. E
encontramos, no RICARDO LOPES, um diálogo com essa (digna e marcante) ancestralidade
afro-brasileira, que caiu como uma luva. São temas muito caros a ele, que
precisam ser debatidos, como a questão da perseguição religiosa. Ele vai
funcionar como um contador de histórias. A peça revela uma escrita que valoriza
as manifestações culturais do cotidiano, uma vez que SIMAS destaca, em sua obra,
a importância das tradições populares e dos saberes populares que moldam a
identidade nacional”.
Grande
admirador da “sabença” e da sensibilidade de LUIZ ANTÔNIO SIMAS, julgo pertinente falar um pouco sobre ele: SIMAS é historiador, professor,
escritor, babalaô e um dos principais pensadores da cultura popular brasileira
contemporânea. Nascido no Rio de Janeiro, em 1967,
é autor de obras fundamentais sobre o samba, as religiões afro-brasileiras, a
cidade do Rio de Janeiro e os saberes ancestrais que moldam o Brasil
profundo. Com um estilo de escrita lírico, oral e cheio de ginga, alia a erudição
acadêmica à vivência das ruas, dos terreiros e das escolas públicas, onde atuou
por décadas como professor.
Não
poderia deixar de mencionar o trabalho de dois excepcionais musicistas,
que sublinham toda a encenação, da primeira à última cena, com uma excelente
sonoplastia, saída de seus instrumentos de percussão. Sem sombra de dúvida,
ELIAS ROSA e LYTHO SANTANA são duas peças fundamentais na excelência deste
trabalho.
FICHA TÉCNICA:
Da obra de Luiz Antônio
Simas
Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho
Direção: Bruce Gomlevsky
Interpretação: Ricardo
Lopes
Musicistas: Elias Rosa e
Lytho Santana
Cenário: Lorena Sender
Figurino: Lorena Sender
Iluminação: Elisa Tandeta
Assessoria de Comunicação: Dobbs Scarpa
Fotos: Dalton Valério
Direção de Produção: Gabriel Garcia
SERVIÇO:
Temporada: De 18 de
julho a 04 de agosto de 2025.
Local: Centro
Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro (CCBB – RJ).
Endereço: Rua Primeiro
de Março, nº 66 – Centro (Candelária) - Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ª
feira, sábado e 2ª feira, às 19h; domingo, às 18h.
Valor do Ingressos: R$
30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).
Capacidade: 60 lugares.
Duração: 60 minutos.
Classificação Etária: 12
anos.
Gênero: Monólogo.
É extremamente lamentável que um espetáculo
formidável (O adjetivo é uma homenagem a Nelson Rodrigues e à DONA Fernanda Montenegro.)
como este só tenha conseguido uma pauta curtíssima num teatro carioca,
porém tenho certeza de que terá vida longa, em outras casas do Rio
de Janeiro e pelo país afora, de tal monta como é apresentado, a julgar
pela maneira como o público vem frequentando o Teatro III, do CCBB –
RJ, com lotações esgotadas e filas de espera, por desistências.
(Foto: Gabriel Garcia.)
FOTOS: DALTON VALÉRIO
GALERIA PARTICULAR
(Foto: Elisa Tandeta)
Com Ricardo Lopes.
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há
de melhor no TEATRO brasileiro!
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