“ALICE DE COR
E SALTEADO”
ou
(UMA DELICIOSA
“VIAGEM
LISÉRGICO-TEATRAL”.)
ou
(DE HISTÓRINHA
INFANTIL É QUE
NÃO TEM NADA.
É mais que comum
encontrarmos, nas livrarias, perdidos, na seção reservada à literatura infantil
e infantojuvenil, livros que, aparentemente, são destinados aos dois nichos,
porém, na verdade, concentram todas as suas principais mensagens nas entrelinhas,
apenas captadas pelos adultos. E olha que nem todos conseguem chegar lá! É o
caso de um campeão de vendas, “O Pequeno Príncipe”, de Antoine
de Saint-Exupéry, talvez o melhor exemplo, e tantos outros. “Alice
no País das Maravilhas”, de Lewis Caroll, que conta a história de Alice, uma menina que
segue um Coelho Branco apressado e entra em uma toca, caindo no País
das Maravilhas, um mundo cheio de personagens fantásticos e situações
absurdas, é outro. Lá, ela interage com o Chapeleiro Louco, a Rainha
de Copas e o Gato de Cheshire, entre outros, e se
envolve em eventos, cada vez mais, estranhos e sem sentido, como um chá maluco
e um julgamento caótico. Alice cresce e encolhe
constantemente e, no final, descobre que tudo não passou de um “sonho”.
O
espetáculo musical sobre o qual passo a discorrer, “ALICE DE COR E SALTEADO”, inédito no Brasil, transporta o clássico “infantil”, livro de grande penetração em todo o planeta, para
o contexto de uma guerra, ficando, infelizmente, muito próximo da realidade
atual.
SINOPSE:
O musical reimagina a clássica história de “Alice
no País das Maravilhas” em meio ao caos e à destruição da guerra.
A trama acompanha Alice, uma jovem, que se
refugia em seu livro desgastado de “Alice no País das Maravilhas”,
enquanto está presa em um abrigo antibombas, um “bunker”, com seu amigo
de infância Alfred, que está gravemente doente.
Enquanto os horrores da guerra se intensificam,
após um bombardeio, Alice escapa para um mundo de fantasia, onde pode reescrever
sua própria história e encontrar força para lidar com a realidade brutal ao seu
redor.
No entanto, ao mergulhar, cada vez mais, no País
das Maravilhas, ela se vê confrontada por desafios e personagens que refletem seus medos, sua perda e sua necessidade de amadurecer.
A história se desenrola como uma jornada de autodescoberta,
na qual a menina precisa aprender a deixar o passado para trás e encontrar uma
nova forma de seguir em frente.
O espetáculo tem a idealização
da dupla de atores, expertos em musicais, DIEGO MONTEZ e GABI
CAMISOTTI, com direção geral de GUSTAVO
BARCHILON, música de DUNCAN
SHEIK e letras de STEVEN
SATER, os mesmos do esplêndido “O
Despertar da Primavera”, um dos meus musicais preferidos.
O espetáculo, “Alice by
Heart”, no original, estreou em 2012,
em Londres,
no Royal National Theatre e,
posteriormente, ganhou uma produção de destaque, no circuito Off-Broadway, em Nova
York. Agora, o espetáculo chega ao Brasil com uma versão inédita,
adaptada por RAFAEL OLIVEIRA, contando com GUI LEAL, na direção
musical e CIÇA SIMÕES, assinando as coreografias, na equipe
criativa.
O espetáculo agradou-me, profundamente, pelo inusitado da ideia, muito bem desenvolvida pelos seus autores
e pelo adaptador, a despeito de ser um texto um tanto hermético, para um pronto
entendimento. Confesso que, vez por outra, “viajei” um pouco, mas logo me
reencontrava no fio da meada da narrativa. Não é uma montagem para ser vista
displicentemente. É necessária toda a atenção do espectador, que deve ir
juntando os pontinhos, durante toda a encenação, até atingir a imagem de uma
figura definida.
GABI
CAMISOTTI e DIEGO MONTEZ, além
de grandes amigos, são sócios na Moca, umna das empresas que produzem
o musical; a outra é a Barho. GABI diz que “Escolher
‘Alice By Heart’ como uma das primeiras produções da Moca tem um significado
muito especial pra mim. É o meu musical preferido — e, justamente por isso, eu
sabia que, quando fosse montá-lo, teria que ser em um momento simbólico. E foi”. É a primeira vez que os dois protagonizam
uma montagem juntos e o fazem de forma esplêndida, com muita personalidade e
cumplicidade em cena. E continua ela: “É uma obra poética, delicada e intensa, que
fala sobre a força da imaginação em momentos de perda, sobre crescer em meio ao
caos, sobre encontrar refúgio naquilo que nos move por dentro. Produzir ‘Alice
By Heart’ é, de certa forma, reafirmar o que nos move como companhia: contar
histórias que nos atravessam — e que, com sorte, também atravessem quem
assiste”.
Acrescenta DIEGO MONTEZ: “Eu e Gabi temos nossas
trajetórias embaladas e envolvidas pela obra de Duncan Sheik e Steven Sater. E
essa em particular, o ‘Alice...’, a história de dois melhores amigos que mudam
a vida um do outro com a força de uma história. É sobre como a arte motiva,
consola, ensina e transforma. Me parecia quase uma obrigação passar essa
mensagem adiante, e tinha que ser com ela (Gabi). A equipe com a gente nessa
aventura é brilhante, com ídolos que sempre quis trabalhar, não só nos
criativos como no elenco.”.
GUSTAVO
BARCHILON realiza mais um de seus vitoriosos e férteis trabalhos de direção,
enfrentando um grande desafio. Diz ele que “desde
sua estreia no Off-Broadway, a peça passou por várias transformações, tanto no
texto quanto em algumas canções. E isso é o que acho mais fascinante: é uma
obra viva, em constante evolução. E poder trocar diretamente com os criadores
da montagem tem sido fantástico”.
Para
os padrões de um musical, da maneira como, via de regra, são montados os
espetáculos, podemos dizer que este se trata de uma produção bem simples, “franciscana”
até, do ponto de vista plástico, contando com uma cenografia (NATÁLIA LANA), figurinos (LUISA GALVÃO) e desenho de luz (MANECO QUINDERÉ) bem comedidos, porém
adequados à proposta de um “pocket musical”, no formato de
arena.
Quanto
ao elenco,
este reúne alguns dos mais representativos nomes do TEATRO Musical Brasileiro, todos com um notável tendimento:
além de GABI CAMISOTTI, como Alice
Spencer, e DIEGO MONTEZ,
como Alfred
e o Coelho
Branco, no protagonismo da peça, YASMIN GOMLEVSKY, VALERIA
BARCELLOS, RENAN MATTOS, BRUNA PAZINATO, THALES CÉSAR, JESSÉ
SCARPELLINI, JOÃO VICTOR, BRUNO SIGRIST, JOÃO FERREIRA, HELENA BASTOS e
MÔ AMARAL.
Nesta nova
ambientação, os personagens do clássico de Lewis
Carroll aparecem em cena sob novas roupagens: os soldados,
enfermeiros e pacientes do abrigo antibombas assumem os papéis do Chapeleiro
Maluco, Gato de Cheshire, Rainha de Copas etc.. Isso cria um
efeito intrigante de realidade misturada com fantasia, o que leva a confundir
um pouco o espectador meio desligado. Repito que é preciso - imperativo, até
mesmo - estar muito atento às ações, para poder aproveitar o deleite
proporcionado pela peça.
O espetáculo pode ser
considerado, mais que uma metáfora, uma grande alegoria sobre a resiliência,
a dor da despedida e da morte, o luto e o poder transformador da imaginação. É
desejo da protagonista permanecer no mundo de sua infância, mas precisa enfrentar
a realidade. O conflito entre inocência e maturidade é um tema forte, que
ressoa, especialmente, com adolescentes e jovens adultos.
Ao contrário da
maioria dos musicais, este não apresenta uma trilha sonora em que
algumas das canções são facilmente assimiladas pelo público, que deixa o teatro
cantarolando-as. Pelo contrário, as canções são bem sofisticadas, mas nas
melodias que nas letras, um toque bastante marcante, como uma marca registrada
dos compositores. São cantadas ao vivo e os atores são acompanhados por uma
ótima banda, formada por seis músicos.
FICHA TÉCNICA:
Libreto: Jessie Nelson
Adaptação de Texto e Versão Brasileira: Rafael Oliveira
Músicas: Duncan Sheik
Letras: Steven Sater
Direção Artística: Gustavo Barchilon
Assistência de Direção: Lara Mendes
Direção Musical: Gui Leal
Assistência de Direção Musical: Mô Amaral
Elenco: Gabi Camisotti, Diego
Montez, Yasmin Gomlevsky, Valeria Barcellos, Renan Mattos, Thales César, Bruno Sigrist, Bruna Pazinato, Jessé
Scarpellini, João Victor, João Ferreira, Helena Bastos e Mô Amaral
Coreografia e Direção de Movimento: Cecilia Simões
Cenografia: Natália Lana
Figurino: Luisa Galvão
Desenho de Luz: Maneco Quinderé
Desenho de Som: João Baracho
Preparação Vocal: Rafael Villar
Assistência de Figurino e Objetos: Acrides
Assistência de Coreografia: Nay Fernandes
“Stage
Manager”: Andressa Cericato
Assessoria de
Imprensa: Pombo Correio
Fotos: Gi Alcayaga
Direção Produção: Thiago Hofman
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de junho a 04 de agosto.
Local: Teatro Estúdio.
Endereço: Rua Conselheiro Nébias, nº 891, Campos
Elíseos – São Paulo (Próximo ao metrô Santa Cecília.).
Capacidade: 170 lugares.
ACESSIBILIDADE NO LOCAL.
Dias e Horários: 6ª feira, sábado e 2ª feira, às
20h30min; domingo, às 16h.
Valor dos Ingressos: R$ 140 (inteira) e R$ 70
(meia-entrada).
Vendas “on-line”,
em Sympla, e na bilheteria física do Teatro, 3 horas antes do início do espetáculo.
Duração: 90 minutos.
Classificação: Livre.
Gênero: Musical.
Este espetáculo é amplamente RECOMENDADO aos que são amantes de
um bom TEATRO musical e, em particular, aos que demonstram uma “quedinha”
pelo surreal
e pelo realismo fantástico. Gostaria muito de rever o musical num dos
teatros de arena do Rio de Janeiro ou, até mesmo, numa nova versão para palco
italiano.
FOTOS: GI
ALCAYAGA
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói,
sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que,
juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!
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