quarta-feira, 16 de julho de 2025

“ALICE DE COR

E SALTEADO”

ou

(UMA DELICIOSA

“VIAGEM LISÉRGICO-TEATRAL”.)

ou

(DE HISTÓRINHA INFANTIL É QUE

NÃO TEM NADA.

 




         É mais que comum encontrarmos, nas livrarias, perdidos, na seção reservada à literatura infantil e infantojuvenil, livros que, aparentemente, são destinados aos dois nichos, porém, na verdade, concentram todas as suas principais mensagens nas entrelinhas, apenas captadas pelos adultos. E olha que nem todos conseguem chegar lá! É o caso de um campeão de vendas, “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, talvez o melhor exemplo, e tantos outros. “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Caroll, que conta a história de Alice, uma menina que segue um Coelho Branco apressado e entra em uma toca, caindo no País das Maravilhas, um mundo cheio de personagens fantásticos e situações absurdas, é outro. Lá, ela interage com o Chapeleiro Louco, a Rainha de Copas e o Gato de Cheshire, entre outros, e se envolve em eventos, cada vez mais, estranhos e sem sentido, como um chá maluco e um julgamento caótico. Alice cresce e encolhe constantemente e, no final, descobre que tudo não passou de um “sonho”.




         O espetáculo musical sobre o qual passo a discorrer, “ALICE DE COR E SALTEADO”, inédito no Brasil, transporta o clássico “infantil”, livro de grande penetração em todo o planeta, para o contexto de uma guerra, ficando, infelizmente, muito próximo da realidade atual.




 

SINOPSE:

O musical reimagina a clássica história de “Alice no País das Maravilhas” em meio ao caos e à destruição da guerra.

A trama acompanha Alice, uma jovem, que se refugia em seu livro desgastado de “Alice no País das Maravilhas”, enquanto está presa em um abrigo antibombas, um “bunker”, com seu amigo de infância Alfred, que está gravemente doente.

Enquanto os horrores da guerra se intensificam, após um bombardeio, Alice escapa para um mundo de fantasia, onde pode reescrever sua própria história e encontrar força para lidar com a realidade brutal ao seu redor.

No entanto, ao mergulhar, cada vez mais, no País das Maravilhas, ela se vê confrontada por desafios e personagens que refletem seus medos, sua perda e sua necessidade de amadurecer.

A história se desenrola como uma jornada de autodescoberta, na qual a menina precisa aprender a deixar o passado para trás e encontrar uma nova forma de seguir em frente.


 



O espetáculo tem a idealização da dupla de atores, expertos em musicais, DIEGO MONTEZ e GABI CAMISOTTI, com direção geral de GUSTAVO BARCHILON, música de DUNCAN SHEIK e letras de STEVEN SATER, os mesmos do esplêndido “O Despertar da Primavera”, um dos meus musicais preferidos.




O espetáculo, “Alice by Heart”, no original, estreou em 2012, em Londres, no Royal National Theatre e, posteriormente, ganhou uma produção de destaque, no circuito Off-Broadway, em Nova York. Agora, o espetáculo chega ao Brasil com uma versão inédita, adaptada por RAFAEL OLIVEIRA, contando com GUI LEAL, na direção musical e CIÇA SIMÕES, assinando as coreografias, na equipe criativa




      O espetáculo agradou-me, profundamente, pelo inusitado da ideia, muito bem desenvolvida pelos seus autores e pelo adaptador, a despeito de ser um texto um tanto hermético, para um pronto entendimento. Confesso que, vez por outra, “viajei” um pouco, mas logo me reencontrava no fio da meada da narrativa. Não é uma montagem para ser vista displicentemente. É necessária toda a atenção do espectador, que deve ir juntando os pontinhos, durante toda a encenação, até atingir a imagem de uma figura definida.




         GABI CAMISOTTI e DIEGO MONTEZ, além de grandes amigos, são sócios na Moca, umna das empresas que produzem o musical; a outra é a Barho. GABI diz que “Escolher ‘Alice By Heart’ como uma das primeiras produções da Moca tem um significado muito especial pra mim. É o meu musical preferido — e, justamente por isso, eu sabia que, quando fosse montá-lo, teria que ser em um momento simbólico. E foi”. É a primeira vez que os dois protagonizam uma montagem juntos e o fazem de forma esplêndida, com muita personalidade e cumplicidade em cena. E continua ela: “É uma obra poética, delicada e intensa, que fala sobre a força da imaginação em momentos de perda, sobre crescer em meio ao caos, sobre encontrar refúgio naquilo que nos move por dentro. Produzir ‘Alice By Heart’ é, de certa forma, reafirmar o que nos move como companhia: contar histórias que nos atravessam — e que, com sorte, também atravessem quem assiste”.





 Acrescenta DIEGO MONTEZ: “Eu e Gabi temos nossas trajetórias embaladas e envolvidas pela obra de Duncan Sheik e Steven Sater. E essa em particular, o ‘Alice...’, a história de dois melhores amigos que mudam a vida um do outro com a força de uma história. É sobre como a arte motiva, consola, ensina e transforma. Me parecia quase uma obrigação passar essa mensagem adiante, e tinha que ser com ela (Gabi). A equipe com a gente nessa aventura é brilhante, com ídolos que sempre quis trabalhar, não só nos criativos como no elenco.”





         GUSTAVO BARCHILON realiza mais um de seus vitoriosos e férteis trabalhos de direção, enfrentando um grande desafio. Diz ele que “desde sua estreia no Off-Broadway, a peça passou por várias transformações, tanto no texto quanto em algumas canções. E isso é o que acho mais fascinante: é uma obra viva, em constante evolução. E poder trocar diretamente com os criadores da montagem tem sido fantástico”.





         Para os padrões de um musical, da maneira como, via de regra, são montados os espetáculos, podemos dizer que este se trata de uma produção bem simples, “franciscana” até, do ponto de vista plástico, contando com uma cenografia (NATÁLIA LANA), figurinos (LUISA GALVÃO) e desenho de luz (MANECO QUINDERÉ) bem comedidos, porém adequados à proposta de um “pocket musical”, no formato de arena.





         Quanto ao elenco, este reúne alguns dos mais representativos nomes do TEATRO Musical Brasileiro, todos com um notável tendimento: além de GABI CAMISOTTI, como Alice Spencer, e DIEGO MONTEZ, como Alfred e o Coelho Branco, no protagonismo da peça, YASMIN GOMLEVSKY, VALERIA BARCELLOS, RENAN MATTOS, BRUNA PAZINATO, THALES CÉSAR, JESSÉ SCARPELLINI, JOÃO VICTOR, BRUNO SIGRIST, JOÃO FERREIRA, HELENA BASTOS e MÔ AMARAL.





Nesta nova ambientação, os personagens do clássico de Lewis Carroll aparecem em cena sob novas roupagens: os soldados, enfermeiros e pacientes do abrigo antibombas assumem os papéis do Chapeleiro Maluco, Gato de Cheshire, Rainha de Copas etc.. Isso cria um efeito intrigante de realidade misturada com fantasia, o que leva a confundir um pouco o espectador meio desligado. Repito que é preciso - imperativo, até mesmo - estar muito atento às ações, para poder aproveitar o deleite proporcionado pela peça.




O espetáculo pode ser considerado, mais que uma metáfora, uma grande alegoria sobre a resiliência, a dor da despedida e da morte, o luto e o poder transformador da imaginação. É desejo da protagonista permanecer no mundo de sua infância, mas precisa enfrentar a realidade. O conflito entre inocência e maturidade é um tema forte, que ressoa, especialmente, com adolescentes e jovens adultos.




Ao contrário da maioria dos musicais, este não apresenta uma trilha sonora em que algumas das canções são facilmente assimiladas pelo público, que deixa o teatro cantarolando-as. Pelo contrário, as canções são bem sofisticadas, mas nas melodias que nas letras, um toque bastante marcante, como uma marca registrada dos compositores. São cantadas ao vivo e os atores são acompanhados por uma ótima banda, formada por seis músicos.




 

FICHA TÉCNICA:

Libreto: Jessie Nelson

Adaptação de Texto e Versão Brasileira: Rafael Oliveira

Músicas: Duncan Sheik

Letras: Steven Sater

Direção Artística: Gustavo Barchilon

Assistência de Direção: Lara Mendes

Direção Musical: Gui Leal

Assistência de Direção Musical: Mô Amaral

 

Elenco: Gabi Camisotti, Diego Montez, Yasmin Gomlevsky, Valeria Barcellos, Renan Mattos,  Thales César, Bruno Sigrist, Bruna Pazinato, Jessé Scarpellini, João Victor, João Ferreira,   Helena Bastos e Mô Amaral

 

Coreografia e Direção de Movimento: Cecilia Simões

Cenografia: Natália Lana

Figurino: Luisa Galvão

Desenho de Luz: Maneco Quinderé

Desenho de Som: João Baracho 

Preparação Vocal: Rafael Villar

Assistência de Figurino e Objetos: Acrides 

Assistência de Coreografia: Nay Fernandes

Stage Manager”: Andressa Cericato

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Fotos: Gi Alcayaga

Direção Produção: Thiago Hofman


 




 

SERVIÇO:

Temporada: De 07 de junho a 04 de agosto.

Local: Teatro Estúdio.

Endereço: Rua Conselheiro Nébias, nº 891, Campos Elíseos – São Paulo (Próximo ao metrô Santa Cecília.).

Capacidade: 170 lugares.

ACESSIBILIDADE NO LOCAL.

Dias e Horários: 6ª feira, sábado e 2ª feira, às 20h30min; domingo, às 16h.

Valor dos Ingressos: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia-entrada).

Vendas “on-line”, em Sympla, e na bilheteria física do Teatro, 3 horas antes do início do espetáculo.

Duração: 90 minutos.

Classificação: Livre.

Gênero: Musical.


 





         Este espetáculo é amplamente RECOMENDADO aos que são amantes de um bom TEATRO musical e, em particular, aos que demonstram uma “quedinha” pelo surreal e pelo realismo fantástico. Gostaria muito de rever o musical num dos teatros de arena do Rio de Janeiro ou, até mesmo, numa nova versão para palco italiano.

 

 

 

 

 

FOTOS: GI ALCAYAGA

 

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!

 

 

 

















































































































































































































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