segunda-feira, 14 de julho de 2025

“A MULHER

DA VAN”

ou

(UM CÉU PARA

UMA ESTRELA

BRILHAR.)

 

 


         O “céu” é o excelente texto de ALLAN BENNETT, um ator, autor, dramaturgo e roteirista inglês, muito premiado, com tradução de CLARA CARVALHO; a “estrela” é nada menos que DONA NATHALIA TIMBERG, do alto de seus 95 anos de idade, às vésperas do 96º, com mais de sete décadas dedicadas ao TEATRO Brasileiro. Refiro-me, evidentemente, ao espetáculo “A MULHER DA VAN”, em cartaz no Teatro Bravos, em São Paulo (VER SERVIÇO.). Esta é a segunda temporada de imenso sucesso da peça, na capital paulista, com promessa e esperança de viajar pelo Brasil. Que os DEUSES DO TEATRO digam “amém”!



 

SINOPSE:

         A peça conta a história real de Mary Shepherd (NATHALIA TIMBERG), uma senhora idosa, inglesa, acumuladora, que, na década de 1970, morava dentro de uma van, num subúrbio de Londres, Camden Town.

Com um passado misterioso e problemático, de tempos em tempos, essa mulher, de hábitos pouco higiênicos, estaciona na frente das residências, cujos moradores não gostam nem um pouco, por sua aparência e pelo odor que exalava.

Inicialmente, relutante em interagir com a Mulher da Van, Alan (CACO CIOCLER), um escritor e dramaturgo, o único vizinho que a tolera e que, vez por outra, permite que ela use seu banheiro, gradualmente, desenvolve uma relação de amizade e compreensão com ela.

Após algum tempo, os moradores conseguem que a Prefeitura proíba que qualquer carro fique estacionado nas ruas do bairro.

A intenção era de que a Sra. Shepherd deixasse o local, mas ela encontra uma saída, quando Alan, generosamente, lhe oferece a sua própria vaga, em sua casa.

Ao longo da história, Alan tenta conciliar sua própria vida pessoal e profissional com a presença de Shepherd.

Ele se torna, cada vez mais, envolvido em sua vida, oferecendo-lhe assistência prática e apoio emocional.

A relação entre os dois personagens principais é marcada por humor, compaixão e reflexões sobre solidão, humanidade, envelhecimento e os desafios da convivência.


 

Homem com turbante na cabeça

Descrição gerada automaticamente


         Decididamente, este espetáculo é uma grande motivação para se rever uma atriz do gabarito de DONA NATHALIA TIMBERG nos palcos, mais uma vez, para os que já tiveram a oportunidade de aplaudi-la em outros trabalhos, e para ser apresentada aos mais jovens, que só a conheciam por meio de outras mídias: cinema e televisão.



         Trata-se de uma excelente produção, dirigida por RICARDO GRASSON, trazendo uma magnífica FICHA TÉCNICA (Conferir mais abaixo.), na qual se destaca um grandioso elenco, da melhor qualidade possível.



         O espetáculo aborda complexas relações humanas, como a tolerância – e a falta dela - e o etarismo. O formidável texto (“The Lady in the Van”, no original) é do autor inglês ALAN BENNETT, trama já foi adaptada para o cinema (“A Senhora da Van”, título no Brasil.). Esta montagem nacional da peça é feita sobre uma ótima tradução de CLARA CARVALHO, que manteve todas as principais características do original, o que também foi a intenção do diretor, principalmente com relação ao ritmo do espetáculo.




         Se o texto e a direção são dois grandes acertos nesta encenação, não menos importante é o fabuloso elenco, liderado pela grande dama do TEATRO Brasileiro, DONA NATHALIA TIMBERG, trazendo grandes nomes do TEATRO: CACO CIOCLER, NILTON BICUDO, NOEMI MARINHO, DUDA MAMBERTI, LILIAN BLANC, ROBERTO ARDUIN, CLÉO DE PÁRIS e LARA CÓRDULLA, a grande maioria mais atuante nos palcos paulistas e todos, sem exceção, com vibrantes atuações.



Sobre a escolha deste grande elenco, são palavras do diretor RICARDO GRASSON: “Todos eles são atores de transfiguração, de composição, porque eles têm muita facilidade de se transformar no próprio personagem, mudando o jeito de andar, de falar, a voz, o corpo e expressões. Esse tipo de ator é muito raro e, na montagem, eu tenho certeza de que formamos um time muito poderoso”. Concordo plenamente, GRASSON.




A ideia de montar este espetáculo data de, mais ou menos, uns 15 anos e é de DONA NATHALIA, um sonho antigo. “Ela tinha esse texto há mais de 15 anos e, quando nós fazíamos a peça “33 Variações”, em 2016, me contou sobre a vontade de montá-la. Com a pandemia de Covid-19, ela ficou cinco anos longe do palco e, então, me ligou dizendo que gostaria de finalmente retomar o projeto – possivelmente seu último trabalho”, revela o diretor. Gostaria de não concordar com o final do depoimento de GRASSON, entretanto, infelizmente, a lei natural da vida me impele a recomendar a todos que não percam esta oportunidade de aplaudir a grande atriz no palco, visto que o trabalho exige muito de uma criatura que já não nada em vigor físico, por conta da idade, evidentemente, mas que dá conta, muito bem, da sua enorme participação na peça.




Curiosamente, o personagem do escritor, o “protetor” da Mulher da Van, apesar de ter uma relação muito boa com a própria mãe idosa, que morava em outra cidade, precisou interná-la em uma casa de repouso, pois não tinha como cuidar dela. E o texto fala um pouco sobre essas relações humanas e do cuidado que, às vezes, não conseguimos ter com uma pessoa da própria família, mas acabamos tendo por um desconhecido. São, na verdade, relações diferentes, no caso, marcadas pela distância física.




RICARDO GRASSON revela que não tentou atualizar o texto para os nossos dias, mas procurou fazer um paralelo com o realismo fantástico, seu trabalho de pesquisa. “Toda a encenação, a parte plástica do espetáculo, tem a influência dessa estética, que é muito mais comumente vista na literatura e no cinema. E o realismo fantástico nada mais é do que o realismo distorcido, que é um pouco como a nossa vida”, acrescenta.



Na parte criativa, a montagem conta com a participação de CESAR COSTA, responsável por uma discreta e acertada cenografia, com destaque para uma van muito velha, em precário estado, que parece bem real; de MARICHILENE ARTICHEVICS, nos acertados figurinos; de CESAR PIVETTI, que assina um correto e belo desenho de luz; de LP DANIEL, na trilha sonora e desenho de som; e SIMONE MOMO, no visagismo. Todos, num trabalho integrado, colaboram para o enriquecimento desta montagem. A produção geral é de MARCO GRIESI, da Palco 7 Produções.



Apesar de durar quase duas horas (100 minutos) e de manter um ritmo, propositalmente, pendendo mais para o moroso, o espetáculo prende a atenção dos espectadores, por sua excelente qualidade e por tudo que traz nas entrelinhas, nos pequenos conflitos, que funcionam como satélites do drama principal. É uma história surpreendente, que traz aos habitantes de um típico bairro de classe média alta britânico a pobreza nua e crua, escancarada e ao alcance das mãos. A sutilidade e a perspicácia presentes no relacionamento entre a senhora Shepherd e seus vizinhos concorrem para a sutileza do roteiro e também a beleza da situação, como um todo.




Extraído de uma fonte que fala do filme, totalmente aplicável à peça: Por mais que, às vezes, surja uma ajuda aqui ou ali, na verdade todos os envolvidos querem mesmo é que a senhora e sua van desapareçam de suas vidas. A existência de uma pessoa que aceite passar por necessidades, morando tão próximo, incomoda, não apenas pela existência de tal realidade em um bairro abastado, mas também pela dificuldade em lidar com o diferente. E isto vale também para Alan, o “herói” da narrativa”. É bem verdade que, mesmo com todos os seus preconceitos, ainda assim Alan demonstrou humanidade ao ajudá-la. Ele se mostrou, de certa forma, empático, o que passava muito longe dos demais vizinhos.




O incômodo da pobreza ao lado, é tratado mais a partir de comentários ácidos, típicos do senso de humor inglês, e um certo “coitadismo”, que logo se transforma numa espécie de adoção coletiva “compulsória” da figura excêntrica do bairro, ante a insistência da impertinente mulher que se recusava a abandonar aquele local.




 

FICHA TÉCNICA

Idealização: Nosso Cultural

Texto: Alan Bennett

Tradução: Clara Carvalho

Direção Geral: Ricardo Grasson

Assistência de Direção: Heitor Garcia

 

Elenco: Nathalia Timberg, Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Noemi Marinho, Duda Mamberti, Lilian Blanc, Roberto Arduin, Cléo De Páris e Lara Córdulla.

 

Cenário: Cesar Costa

Figurino: Marichilene Artisevskis

Desenho de Luz: Cesar Pivetti

Trilha Sonora: LP Daniel

Visagismo: Simone Momo

Assistência de Cena: Ligia Fonseca

Camareira: Beth Chagas

Direção de Palco: Victor Ribeiro

Contrarregragem: JP Franco

Coordenação de Comunicação: André Massa

Comunicação Visual e Animação: Kelson Spalato

Redes Sociais: Gatu Filmes / Gabriel Metzner e Arthur Bronzatto

Estratégia Digital: Motisuki PR / Régis Motisuki e Matheus Resende

Fotografia: Priscila Prade

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Direção de Produção: Marco Griesi

Coordenação de Produção: Bia Izar

Produção Executiva: Diogo Pasquim e Tame Louise

Produção Geral: Palco7 Produções


 

 




SERVIÇO:

Temporada: De 04 de julho a 03 de agosto de 2025.

Local: Teatro Bravos.

Endereço: Rua Coropé, nº 88 – Pinheiros – São Paulo.

Dias e Horários: Sexta-feira, às 21h; sábado, às 17h e 21h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: Plateia Premium = R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada); Plateia Baixa = R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia-entrada); Mezanino = R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).

Vendas: Sympla.

Classificação Etária: 12 anos.

Duração: 100 minutos.

Capacidade: 611 lugares.

Acessibilidade: Teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

Gênero: Drama.


 



 

        Desnecessário seria dizer que RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO O ESPETÁCULO e que ainda espero revê-lo no Rio de Janeiro.






 

 

 

FOTOS: PRISCILA PRADE

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Foto: Guilherme de Rose.)




 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!



































































































































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