“A MULHER
DA VAN”
ou
(UM CÉU PARA
UMA ESTRELA
BRILHAR.)
O “céu”
é o excelente texto de ALLAN BENNETT,
um ator, autor, dramaturgo e roteirista inglês, muito premiado, com tradução
de CLARA CARVALHO; a “estrela”
é nada menos que DONA NATHALIA TIMBERG, do alto
de seus 95 anos de idade, às vésperas do 96º, com mais de
sete décadas dedicadas ao TEATRO Brasileiro. Refiro-me,
evidentemente, ao espetáculo “A MULHER
DA VAN”, em cartaz no Teatro Bravos, em São
Paulo (VER SERVIÇO.). Esta é a segunda temporada de imenso sucesso da
peça, na capital paulista, com promessa e esperança de viajar pelo Brasil.
Que
os DEUSES DO TEATRO digam “amém”!
SINOPSE:
A
peça conta a história real de Mary Shepherd (NATHALIA TIMBERG), uma senhora idosa, inglesa, acumuladora, que,
na década de 1970, morava dentro de uma van, num subúrbio de Londres,
Camden
Town.
Com um passado misterioso e
problemático, de tempos em tempos, essa mulher, de hábitos pouco higiênicos,
estaciona na frente das residências, cujos moradores não gostam nem um pouco,
por sua aparência e pelo odor que exalava.
Inicialmente, relutante em interagir
com a Mulher da Van, Alan (CACO CIOCLER), um escritor e dramaturgo, o único vizinho que a
tolera e que, vez por outra, permite que ela use seu banheiro, gradualmente,
desenvolve uma relação de amizade e compreensão com ela.
Após algum tempo, os moradores
conseguem que a Prefeitura proíba que qualquer carro fique estacionado nas ruas
do bairro.
A intenção era de que a Sra.
Shepherd deixasse o local, mas ela encontra uma saída, quando Alan,
generosamente, lhe oferece a sua própria vaga, em sua casa.
Ao longo da história, Alan
tenta conciliar sua própria vida pessoal e profissional com a presença de Shepherd.
Ele se torna, cada vez mais, envolvido
em sua vida, oferecendo-lhe assistência prática e apoio emocional.
A relação entre os dois personagens
principais é marcada por humor, compaixão e reflexões sobre solidão,
humanidade, envelhecimento e os desafios da convivência.
Decididamente,
este espetáculo é uma grande motivação para se rever uma atriz do gabarito de DONA NATHALIA
TIMBERG nos palcos, mais uma vez, para os que já tiveram a oportunidade de
aplaudi-la em outros trabalhos, e para ser apresentada aos mais jovens, que só
a conheciam por meio de outras mídias: cinema e televisão.
Trata-se
de uma excelente produção, dirigida por RICARDO GRASSON, trazendo uma magnífica FICHA TÉCNICA (Conferir mais
abaixo.), na qual se destaca um grandioso elenco, da melhor
qualidade possível.
O
espetáculo aborda complexas relações humanas, como a tolerância – e a falta dela - e o etarismo.
O formidável
texto (“The Lady in the Van”, no original) é do autor inglês ALAN
BENNETT, trama já foi adaptada para o cinema (“A Senhora da Van”, título no
Brasil.). Esta montagem nacional da peça é feita sobre uma ótima
tradução de CLARA CARVALHO,
que manteve todas as principais características do original, o que também foi a
intenção do diretor, principalmente com relação ao ritmo do espetáculo.
Se o texto e a direção
são dois grandes acertos nesta encenação, não menos importante é o fabuloso
elenco, liderado pela grande dama do TEATRO Brasileiro, DONA NATHALIA
TIMBERG, trazendo grandes nomes do TEATRO: CACO CIOCLER, NILTON BICUDO, NOEMI MARINHO, DUDA MAMBERTI, LILIAN BLANC, ROBERTO ARDUIN, CLÉO DE PÁRIS e LARA
CÓRDULLA, a grande maioria mais atuante nos palcos paulistas e todos, sem
exceção, com vibrantes atuações.
Sobre a escolha deste grande elenco,
são palavras do diretor RICARDO GRASSON:
“Todos eles são atores de
transfiguração, de composição, porque eles têm muita facilidade de se
transformar no próprio personagem, mudando o jeito de andar, de falar, a voz, o
corpo e expressões. Esse tipo de ator é muito raro e, na montagem, eu tenho
certeza de que formamos um time muito poderoso”. Concordo plenamente, GRASSON.
A ideia de
montar este espetáculo data de, mais ou menos, uns 15 anos e é de DONA NATHALIA, um sonho antigo. “Ela tinha esse texto há mais de 15 anos e, quando nós fazíamos a
peça “33 Variações”, em 2016, me contou sobre a vontade de montá-la. Com a
pandemia de Covid-19, ela ficou cinco anos longe do palco e, então, me ligou
dizendo que gostaria de finalmente retomar o projeto – possivelmente seu último
trabalho”, revela o diretor. Gostaria de não concordar com o final do depoimento
de GRASSON, entretanto,
infelizmente, a lei natural da vida me impele a recomendar a todos que não percam
esta oportunidade de aplaudir a grande atriz no palco, visto que o trabalho
exige muito de uma criatura que já não nada em vigor físico, por conta da
idade, evidentemente, mas que dá conta, muito bem, da sua enorme participação
na peça.
Curiosamente, o personagem do escritor,
o “protetor”
da Mulher
da Van, apesar de ter uma
relação muito boa com a própria mãe idosa, que morava em outra cidade, precisou
interná-la em uma casa de repouso, pois não tinha como cuidar dela. E o
texto fala um pouco sobre essas relações humanas e do cuidado que, às vezes,
não conseguimos ter com uma pessoa da própria família, mas acabamos tendo por
um desconhecido. São, na verdade, relações diferentes, no caso, marcadas pela
distância física.
RICARDO GRASSON revela que não tentou atualizar o texto para os nossos dias, mas procurou fazer um
paralelo com o realismo fantástico, seu trabalho de pesquisa. “Toda a encenação, a parte plástica do
espetáculo, tem a influência dessa estética, que é muito mais comumente vista
na literatura e no cinema. E o realismo fantástico nada mais é do que o
realismo distorcido, que é um pouco como a nossa vida”, acrescenta.
Na parte criativa, a montagem conta com
a participação de CESAR COSTA, responsável por uma discreta e acertada cenografia,
com destaque para uma van muito velha, em precário estado, que parece bem real; de MARICHILENE ARTICHEVICS,
nos acertados figurinos; de CESAR PIVETTI, que assina um correto e
belo desenho
de luz; de LP DANIEL, na trilha sonora e desenho de som; e SIMONE
MOMO, no visagismo. Todos, num trabalho integrado, colaboram para o
enriquecimento desta montagem. A produção geral é de MARCO GRIESI,
da Palco 7 Produções.
Apesar de durar quase duas horas (100 minutos)
e de manter um ritmo, propositalmente, pendendo mais para o moroso, o
espetáculo prende a atenção dos espectadores, por sua excelente qualidade e por
tudo que traz nas entrelinhas, nos pequenos conflitos, que funcionam como
satélites do drama principal. É uma história
surpreendente, que traz aos habitantes de um típico bairro de classe média alta
britânico a pobreza nua e crua, escancarada e ao alcance das mãos. A sutilidade e
a perspicácia presentes no relacionamento entre a senhora Shepherd e seus vizinhos
concorrem para a sutileza do roteiro e também a beleza da situação, como um
todo.
Extraído de uma
fonte que fala do filme, totalmente aplicável à peça: “Por
mais que, às vezes, surja uma ajuda aqui ou ali, na verdade todos os envolvidos
querem mesmo é que a senhora e sua van desapareçam de suas vidas. A existência
de uma pessoa que aceite passar por necessidades, morando tão próximo,
incomoda, não apenas pela existência de tal realidade em um bairro abastado,
mas também pela dificuldade em lidar com o diferente. E isto vale também para
Alan, o “herói” da narrativa”. É bem verdade que, mesmo com
todos os seus preconceitos, ainda assim Alan demonstrou humanidade ao
ajudá-la. Ele se mostrou, de certa forma, empático, o que passava muito longe
dos demais vizinhos.
O incômodo da pobreza ao lado, é
tratado mais a partir de comentários ácidos, típicos do senso de humor inglês,
e um certo “coitadismo”, que logo se transforma numa espécie de adoção
coletiva “compulsória” da figura excêntrica do bairro, ante a
insistência da impertinente mulher que se recusava a abandonar aquele local.
FICHA TÉCNICA
Idealização: Nosso Cultural
Texto: Alan
Bennett
Tradução: Clara Carvalho
Direção Geral: Ricardo Grasson
Assistência de Direção: Heitor Garcia
Elenco: Nathalia
Timberg, Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Noemi Marinho, Duda Mamberti, Lilian
Blanc, Roberto Arduin, Cléo De Páris e Lara Córdulla.
Cenário: Cesar Costa
Figurino: Marichilene Artisevskis
Desenho de Luz: Cesar Pivetti
Trilha Sonora: LP Daniel
Visagismo: Simone Momo
Assistência de Cena: Ligia Fonseca
Camareira: Beth Chagas
Direção de Palco: Victor Ribeiro
Contrarregragem: JP Franco
Coordenação de Comunicação: André Massa
Comunicação Visual e Animação: Kelson Spalato
Redes Sociais: Gatu Filmes / Gabriel Metzner e Arthur
Bronzatto
Estratégia Digital: Motisuki PR / Régis Motisuki e Matheus
Resende
Fotografia: Priscila Prade
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Direção de Produção: Marco Griesi
Coordenação de Produção: Bia Izar
Produção Executiva: Diogo Pasquim e Tame Louise
Produção Geral: Palco7 Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 04 de julho a 03 de agosto de 2025.
Local:
Teatro Bravos.
Endereço:
Rua Coropé, nº 88 – Pinheiros – São Paulo.
Dias e Horários:
Sexta-feira, às 21h; sábado, às 17h e 21h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: Plateia Premium = R$ 200 (inteira) e R$
100 (meia-entrada); Plateia Baixa = R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia-entrada);
Mezanino = R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).
Vendas: Sympla.
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 100 minutos.
Capacidade: 611 lugares.
Acessibilidade: Teatro acessível a cadeirantes e
pessoas com mobilidade reduzida.
Gênero:
Drama.
Desnecessário seria dizer que RECOMENDO,
COM O MAIOR EMPENHO O ESPETÁCULO e que ainda espero revê-lo no Rio
de Janeiro.
FOTOS: PRISCILA PRADE
GALERIA PARTICULAR
(Foto: Guilherme de Rose.)
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e
constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica,
para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!
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