segunda-feira, 14 de julho de 2025

“PEQUENO CIRCO DE

MEDIOCRIDADES”

ou

(FRAGMENTOS DE BANALIDADE EXPLÍCITA.)

ou

(SURREALISMO AO ALCANCE DO ESPECTADOR.)

        


         Está em cartaz um excelente espetáculo no Teatro Poeirinha: “PEQUENO CIRCO DE MEDIOCRIDADES”, com texto e direção do premiadíssimo dramaturgo, e também grande ator, LEONARDO NETTO, em temporada que vem se solidificando dia a dia.



 

SINOPSE:

Sete cenas independentes formam um painel crítico, irônico e de humor ácido sobre a elite branca brasileira, a classe média dos anos 2020, e seus preconceitos e moralismos, abordando temas como consumismo, impunidade, paranoia armamentista, intolerância, hipocrisia e desigualdade social.

AS SETE HISTÓRIAS:

1) “CENA DE JOGO”: Dois casais amigos se reúnem para um jogo de baralho em que o vencedor levará um prêmio inusitado.

2) “FATALIDADE”: Um casal apaixonado conta como se conheceu, mas, conforme esmiúça os detalhes, se depara com um desfecho nada romântico.

3)OLHOS DE RESSACA”: Uma bibliotecária moralista, e com o dedo sempre pronto a apontar os erros e as fraquezas dos outros, acompanha uma amiga a uma gafieira. Enquanto observa o movimento e toma alguns drinques, aos poucos, confronta suas verdades ocultas.

         4) MONSTROS EMBAIXO DA CAMA”: Um casal conversa sobre banalidades, antes de dormir, depois de acalmar o filho, que afirma ter visto um monstro embaixo da cama. Mas ignoram o verdadeiro perigo, que segue no quarto ao lado.

         5) “O BURACO NO SALÃO”: Um homem descobre que o imóvel em que investiu suas últimas economias é, na verdade, uma ruína irrecuperável.

       6) “ATROPELAMENTO E FUGA”: Numa delegacia, uma mulher tem uma conversa elucidativa com um homem que trabalha no local.

         7) SELVAGERIA”: Um jantar de dois casais, em um restaurante, é interrompido por um brutal acontecimento na rua.


 


         Após ter assistido à peça, saí do teatro com a impressão de ter tido contato com um verdadeiro “circo dos horrores”, diante de tantas aberrações cometidas por seres considerados “normais” e “humanos”, mas que não passam de exemplares riquíssimos, para estudos, nas mãos de qualquer psicanalista.



Percebi que a pessoa que elaborou a SINOPSE da peça teve o cuidado de produzir um texto aberto, omitindo detalhes que poderiam chegar, aos futuros espectadores do espetáculo, como “spoilers”, o que me obriga a ser bastante cuidadoso, para não dizer o que deve ser guardado como surpresas na peça. O espetáculo é um “suco puro e concentrado” de estranhas novidades. Na verdade, isso equivale a dizer que a síntese de cada história não está, totalmente, correta, o que é bom para quem ainda irá assistir a esta montagem e vai rir, de nervoso, como eu, e se assustar e se indignar com aquilo de que pessoas sem-noção, de nada, são capazes de fazer e dizer. A plateia ri do patético que está diante dos seus olhos e ouvidos.



Transcrevo um pequeno trecho do “release” que recebi de STELLA STEPHANY, da assessoria de imprensa da peça, porque o considero útil à minha análise do espetáculo: Entre jogos de baralho, casais apaixonados, crianças com medo do escuro, imóveis precisando de reforma, jantares entre amigos, um pouco do dia a dia corriqueiro da chamada classe média. Esse grupo de pessoas que, ora se queixa da vida, ora se sente privilegiado. O grupo do meio, que se enxerga como elite, mas, na verdade, está míope de si mesma.”



Da primeira à última fala, a peça não passa de uma feroz crítica à classe média brasileira e seus valores arraigados e distorcidos. São aquelas pessoas, brancas, que não se consideram racistas, mas que titubeiam, ao responder se gostariam de ver seu filho ou filha casado(a) com um(a) negro(a). São aquelas pessoas que não sabem ser felizes sem abrir mão das aparências. São aquelas pessoas que se consideram empáticas, mas pouco estão se importando com o sofrimento do próximo. São aquelas pessoas capazes de produzir barbaridades, em nome de um benefício a si próprias.



“Através de seus personagens moralistas, preconceituosos, competitivos e risíveis, a narrativa mergulha no humor e na ironia, para traçar um perfil da classe média branca brasileira dos anos 2020, um grupo social em permanente ameaça pela evolução do mundo e dos costumes.”



“Em 2020, quando este texto foi escrito, a classe média representava 51% da população brasileira. Hoje, 66% dos brasileiros se consideram da classe média. Mais da metade, portanto. E o sociólogo e professor Jessé Souza já tinha dito que o que define a classe média não é só o fator econômico, mas também um sistema de valores morais. Com isso na cabeça, comecei a escrever o texto, pensando em jogar luz sobre esse sistema de valores. Cada uma das cenas da peça busca abordar um aspecto desse sistema. A classe média é complexa. Acho importante falar sobre ela. Com senso crítico e com um olhar às vezes cruel, às vezes piedoso. E com bom humor, sempre.”, conta LEONARDO NETTO, autor e diretor.



Sobre “CENA DE JOGO”: Demorei um pouco para ter a certeza de que as falas, dos quatro personagens, que eu ouvia eram aquelas mesmas, de tão patético em que se dá o teor das apostas, diante de uma mesa de jogo. Ri bastante, porém meio contido, por conta das brutais inconsequências advindas das apostas.



“FATALIDADE”, apesar do corretíssimo trabalho da dupla de atores, GUSTAVO FALCÃO e ELISA PINHEIRO, causou-me uma certa dúvida, quanto ao final do esquete.



“OLHOS DE RESSACA” pareceu-me o melhor de todos os micro textos, muito por conta, também, da magnífica interpretação de MARINA VIANNA. Vejo a personagem como um exemplo de tantas mulheres como ela, espalhadas pelo planeta.



“MONSTROS EMBAIXO DA CAMA” está recheado de preconceitos e tem um final surpreendente, que desafia a inteligência do espectador.



Para escrever “O BURACO NO SALÃO”, o autor deixou vir à tona a sua porção “realismo fantástico” e produziu um texto interessante e bastante instigante, valorizado pela brilhante atuação de GUSTAVO FALCÃO.



Em “ATROPELAMENTO E FUGA”, partimos de uma mentira, dita pela personagem Maria Lúcia (MARINA VIANNA) e ficamos com aquela informação na cabeça, enquanto vamos testemunhando a conversa dela com um homem numa delegacia, o delegado, na verdade, e ficamos bastante surpreendidos com o final da história.



“SELVAGERIA”, como o próprio nome sugere, é uma das mais cruéis histórias, em que uma personagem, aparentemente empática – até a página 5 – se vê em luta, ética e moral, contra três seres desprovidos do menor senso de empatia. Este esquete me causou um misto de vários sentimentos. Cabe acrescentar a excelência dos trabalhos de atuação, que estendo a todos do elenco, e em todas as histórias: ALEXANDRE VARELLA, ELISA PINHEIRO, GUSTAVO FALCÃO e MARINA VIANNA.



Via de regra, agrada-me muito o trabalho de direção, quando tal atividade é exercida por quem escreveu o texto, e este não fugiu ao esperado. Tenho a impressão de que, ao ir escrevendo suas histórias, LEONARDO NETTO já ia pensando nas soluções para cada cena, e o resultado é uma primorosa direção.


Leonardo Netto.


Cumprem, a contento, suas funções ANDRÉ SANCHES, com um simples e muito bem bolado cenário; LUIZA FARDIM, que criou os vários figurinos da peça; PAULO CESAR MEDEIROS, que assina uma correta iluminação; MARCIA RUBIN, responsável pela direção de movimento; e LEONARDO NETTO, organizador da trilha sonora.






 

 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Leonardo Netto

Direção: Leonardo Netto

 

Elenco: Alexandre Varella, Elisa Pinheiro, Gustavo Falcão e Marina Vianna

Personagens:

“CENA DE JOGO”: Luiz (Gustavo Falcão), Luciana (Elisa Pinheiro), Sérgio (Alexandre Varella) e Vilma (Marina Vianna)

“FATALIDADE”: Ele (Gustavo Falcão), Ela (Elisa Pinheiro)

“OLHOS DE RESSACA”: Eudóxia (Marina Vianna)

“MONSTROS EMBAIXO DA CAMA”: Roberto (Alexandre Varella) e Solange (Elisa Pinheiro)

“O BURACO NO SALÃO”: Artur (Gustavo Falcão)

“ATROPELAMENTO E FUGA”: Maria Lúcia (Marina Vianna), Homem (Alexandre Varella)

“SELVAGERIA”: Otávio (Gustavo Falcão), Ângela (Elisa Pinheiro), Guilherme (Alexandre Varella), Ana Paula (Marina Vianna)

 

Cenário: André Sanches

Figurino: Luiza Fardin

Iluminação: Paulo Cesar Medeiros

Direção de Movimento: Marcia Rubin

Trilha Sonora: Leonardo Netto

“Design” Gráfico: Lê Mascarenhas

Fotos: Dalton Valerio

Mídias Sociais: Rafael Teixeira

Produção Executiva: Bruno de Sousa

Realização: Fulminante Produções Culturais

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

 

 













 

SERVIÇO:

Temporada: De 03 de julho a 31 de agosto de 2025.

Local: Teatro Poeirinha.

Endereço: Rua São João Batista, nº 104 – Botafogo – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2537-8053.

TEATRO COM ACESSIBILIDADE.

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).

Vendas:https://bileto.sympla.com.br/event/103853/d/306792/s/2093880 e na bilheteria do Teatro, de 3ª feira a sábado, das 15h às 20h, e domingo, das 15h às 19h.

Capacidade: 67 lugares.

Duração: 90 minutos.

Classificação Etária: 14 anos.

Gênero: Comédia Dramática.


 

 






Ainda que possamos sair incomodados com as práticas cotidianas de todos os personagens, vale muito a pena assistir a este espetáculo, que também diverte e provoca reflexões pessoais, motivos pelos quais RECOMENDO MUITO A MONTAGEM.

 

 






 

FOTOS: DALTON VALERIO

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!




 






















































































































































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