“CAPIROTO”
ou
(MAS PODE ME CHAMAR DE DIABO,
DEMÔNIO, BELZEBU,
TINHOSO – “ADORO ESSE NOME!” -,
ANJO DAS TREVAS, LÚCIFER,
CÃO-TINHOSO,
SATANÁS, PRÍNCIPE DAS
TREVAS...)
ou
(VOCÊS VIVEM COMETENDO
AS MAIORES ATROCIDADES,
E O DIABO SOU EU?!
ME POUPEM!!!)
ou
(“VOCÊ E EU SOMOS IGUAIS /
NÃO MUDAMOS JAMAIS.” –
EVALDO GOUVEIA E JAIR AMORIM.
Esta crítica já era para ter sido publicada há cerca
de dois meses, porém um fato bem inusitado impediu-me de fazê-lo. Foi o terceiro
espetáculo presencial a que assisti, no dia 6 de agosto de 2021,
na parte externa do Teatro Prudential, durante este período pandêmico (COVID-19).
Morrendo de medo, ainda, eu fui, porque queria muito assistir à montagem,
entusiasmadíssimo que fiquei e, da mesma forma, interessado nela, pelo que li
no “release”, a mim enviado por ALESSANDRA COSTA, da assessoria
de imprensa.
(JR)
Fiquei
com a impressão de que não perderia o meu tempo e que valeria a pena enfrentar
aquele medo e a insegurança, indo até onde o artista está, função de um
crítico de TEATRO, seja lá aonde for, e não o vendo atuar por uma tela. Se
é TEATRO, ele só existe, se for presencial. Só pela proposta da peça
e por sua ficha técnica, com destaque para o protagonista, LEANDRO
MELO – trata-se de um monólogo -, agendei, com a ALESSANDRA,
rezei “846.932 vezes”, para os meus santos de fé, implorando-lhes
que me poupassem de ser infectado, e parti, “cheio de amor pra dar”,
para o bairro da Glória, no Rio de Janeiro, onde fica localizado
o Teatro, cruzando a cidade, em, aproximadamente, 30 quilômetros.
(JR)
Tudo correu às mil maravilhas. O Teatro oferece o
máximo, em segurança, para todos, público e artistas. Ocupei o meu lugar, na
terceira fila, e esperei, ansioso, que o espetáculo começasse. A
felicidade de encontrar vários amigos “da classe” já me
empolgava. Imaginei o que sentiria diante daquele “CAPIROTO”.
(JR)
Ocorreu, contudo, um fato mais que estranho. Se alguém me
perguntasse, terminada a sessão, se eu havia gostado da peça, eu
não saberia dizer “sim ou não”. Poderão falar que isso é natural,
que, muitas vezes, precisamos de um certo tempo, para fazer amadurecer uma
opinião, refletir, pesar os prós e contras, testar as ponderações necessárias e
chegar a uma única resposta: “gostei ou não gostei”. (Nunca
perco a oportunidade de lembrar que só escrevo sobre o que me agrada.). Sei
muito bem disso, porque já me ocorreu várias vezes. Curiosamente, pelo que já
fui sabendo acerca da montagem, do texto, principalmente, e sua proposta,
e pelo que me foi dado apreciar, do ponto de vista da plasticidade, eu
poderia dizer que tinha a certeza de que a peça era boa, no entanto um “pequenino
detalhe” fez toda a diferença, e só ele bastou para que eu saísse do Teatro
bastante triste e, não vou esconder, muito irritado. Quero esquecer aquela
noite, à exceção dos encontros com os amigos. Motivo? Tudo me pareceu perfeito:
a interpretação do ator, a direção, os elementos cênicos
(cenografia, figurino, iluminação, trilha sonora...),
mas quem vai a um Teatro, para assistir a uma peça que
tenha um texto verbal, quer, e precisa, ouvir as palavras, as
frases, o que está sendo dito, e, por um seriíssimo problema técnico,
que, parece-me, foi, parcialmente, resolvido, a partir do dia seguinte (Fui
no dia da estreia.), mas não totalmente, não devo ter ouvido 80% do
texto, ou mais, a despeito de estar sentado num lugar privilegiado, bem à
frente. E esse comentário era geral, à saída. Quase todo mundo fazia a mesma
reclamação. Ninguém conseguira ouvir bem o texto. Muito desagradável
mesmo! É que aquele espaço externo do Teatro Prudential é ótimo para “shows”,
como muitos que já foram e estão sendo, ainda, apresentados lá, porém não se
presta a uma montagem teatral.
(JR)
Conversei, por muito tempo, com o LEANDRO, um querido
e velho amigo, logo após o término da sessão, ele vestindo um roupão (Ou
seria um refinadíssimo “robe de chambre”?), para ocultar a nudez
da última cena, e disse-lhe, com a maior sinceridade, que deve haver entre os
amigos, tudo o que estou dizendo agora, acrescentando que a minha tristeza
maior é que eu acreditava que o espetáculo era, realmente, da melhor
qualidade, porém não poderia escrever sobre ele, o que mais eu desejava naquele
momento, pelo fato de não ter ouvido o texto. E acrescentei que
invocaria os “Deuses do TEATRO”, para que o espetáculo fizesse
uma nova temporada, numa sala fechada, com uma boa acústica e uma aparelhagem
de som de alta qualidade, e que, inclusive, pudesse dispensar a utilização de
microfones, OS QUAIS FORAM O GRANDE PROBLEMA DA PRIMEIRA TEMPORADA.).
Prometi-lhe que, se isso acontecesse – tinha a certeza de que iria acontecer
-, eu faria questão de estar presente, na estreia, sentado na primeira fila
(Poltrona A2.), o que, de fato, ocorreu anteontem, dia 21 de outubro/2021),
quando o monólogo reestreou, para curtíssima temporada, infelizmente,
agora no Teatro Firjan SESI, no Centro do Rio de Janeiro,
e que iria escrever uma crítica sobre a peça, uma boa crítica,
à altura da qualidade do espetáculo. E a promessa está sendo cumprida.
(JR)
Então, aos trabalhos!
(JR)
SINOPSE:
Você já viu o “DIABO”?
E se ele não “existisse”,
de quem seria a culpa das mazelas humanas?
Só o próprio “CAPIROTO” poderá
responder!
(JR)
Quem
me lê deve estar se perguntando o que eu vi de tão interessante, de tão
instigante, numa “microssinopse” (quase um pleonasmo) como a
desta peça, “que diz tão pouco”. Parece pouco, curta,
rasa, mas é muito profunda, quando lemos a proposta que nos faz o autor
e diretor da montagem, RODRIGO FRANÇA, texto também presente no já
citado “release”, complementando a “SINOPSE”, uma vez que,
por trás de tudo, “A peça propõe uma reflexão sobre a
apropriação religiosa, exclusão, fé, tolerância e respeito às religiões não
cristãs.”.
(JR)
É lógico que todos já sabem
que “CAPIROTO”, como consta num dos subtítulos desta crítica, é
uma das muitas denominações do DIABO, assim como tantos outros
substantivos que lá estão. E há muitos mais, alguns frutos de regionalismos. Na
tradição judaico-cristã, representa uma figura do mal, em oposição a Deus,
ícone máximo e extremo do bem e da bondade. Mas as representações dos santos da
Igreja Católica não ocorrem nas religiões de matriz africana, o que
muitos não sabem, e isso provoca terríveis equívocos. Falar, com profundidade,
sobre isso implicaria gastar muito tempo e tornar este trabalho, por demais,
longo, cansativo, enfadonho, mas sugiro que pesquisem sobe a figura do DIABO,
nas religiões de origem africana, se tiverem o interesse que me moveu, para escrever esta crítica.
(JR)
Em algum sentido, “forçando um
pouquinho a barra”, isso tem, de certa forma, a ver com o sincretismo
religioso, surgido do “confronto” entre brancos e negros, escravos,
no Brasil, durante o período da escravidão. (Passou esse tempo?! Isso é uma
provocação, sim.) Perseguidos pelos senhores, cristãos, que queriam
catequizá-los e torná-los católicos, fazendo-os renegar as suas religiões, os
escravos, arraigados às suas crenças e à sua cultura, inteligentemente,
associaram seus orixás, mais ligados aos fenômenos e elementos da
Natureza, os quais não tinham uma representação icônica, às imagens dos santos
da Igreja Católica, para que pudessem continuar a cultuá-los, dentro das
senzalas, sem sofrer sanções e castigos terríveis. Cada um dos 16 orixás – as
entidades cultuadas no candomblé e na umbanda – corresponde a um ou
mais santos católicos. (A distância entre as fazendas e a
dificuldade de comunicação entre os escravos provocaram algumas divergências
nesse sincretismo.). Eis algumas das correlações: Exú = Santo Antônio de Pemba ou Santo Antônio; Oxalá = Jesus
Cristo ou Senhor do Bonfim; Ogum = São Jorge ou
Santo Antônio; Oxóssi = São Sebastião, Santo Antônio ou
São Jorge; Xangô = São Pedro, São Jerônimo ou
São João; Obaluaê/Omolu = São Lázaro ou São Roque;
Logun Edé = Santo
Expedito; Oxum = Nossa Senhora Aparecida ou Nossa
Senhora da Conceição; Iemanjá = Nossa Senhora das Candeias,
Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes ou Nossa
Senhora da Glória; Iansã = Santa Bárbara; Nanã
Buruquê = Nossa Senhora Sant’Ana; Ibeji = Cosme
e Damião... Minha pesquisa pode conter alguns “equívocos”, admito,
pelos quais já, antecipadamente, peço desculpas aos iniciados nas religiões de
matriz africana, uma vez que “a internet é confiável até a página 5”
e não tive tempo de checar o que encontrei, com algumas pessoas que pensei
consultar. Mas isso não fará a menor diferença, aqui, quanto à análise da
peça, a que me proponho.
(JR)
Enquanto, no catolicismo, as
imagens dos santos ficam nos altares, nas religiões vindas da África,
elas estão num “congá”, a mesma coisa, e, todas as vezes em que os
escravos eram surpreendidos, em cultos a seus orixás, diante de seus “congás”,
os capatazes julgavam que eles estavam voltando suas crenças e preces aos
santos católicos e que, portanto, haviam sido convertidos à religião de seus
senhores. “Inocentes!”
(JR)
Eu disse que seria como “uma
espécie desse sincretismo”, uma vez que o DIABO passou a
equivaler à figura do Exu, sem que o seja (Na peça, inclusive, em
certo momento, o personagem grita, e repete: “EU NÃO SOU EXU!”.),
representado, nas casas que vendem produtos utilizados em rituais para a
umbanda ou candomblé, por exemplo, por um ser humanoide, ou próximo a isso, todo
vermelho, com chifres, rabo e um tridente numa das mãos. A equivalência
feminina ficou para a Pomba-Gira, ambos, equivocadamente, considerados “do
mal”, pelos leigos, não católicos, visão que se estendeu, velozmente e
com uma aversão incomensurável, gritante, estúpida e inaceitável, aos evangélicos. Um tremendo
equívoco. Embora eu não seja ligado às religiões de matriz africana, já visitei
alguns terreiros de umbanda (De candomblé, nunca, mas gostaria de.), para
conhecer um pouco sobre elas. Também leio, vez por outra, sobre o assunto e
converso com os seus fiéis. Sou curioso e aprendi um pouco sobre esse grande equívoco,
que a peça procura desmitificar.
(JR)
Vejamos o que diz, nesse
sentido, o roteirista e diretor, RODRIGO FRANÇA; “O
espetáculo explicita as apropriações religiosas, ao longo do tempo, que
determinava que alguns deuses eram personificações do mal. Algumas sociedades
foram destruídas por essa estrutura dominadora. Não falamos sobre religião.
Falamos sobre o homem que mata, exclui, escraviza, gera miséria, em nome da sua
fé, dinheiro e poder. ‘CAPIROTO’ busca desdemonizar as divindades
das sociedades e / ou grupos não cristãos, através da tolerância e do respeito
entre as diferenças. Acredito que a humanidade não errou. Quem faz as
maiores atrocidades, por conta do poder econômico, financeiro e político, tem
raça, gênero, faixa etária, orientação sexual e classe. Então, a peça também
fala com essa ponta da pirâmide social. Precisamos falar sobre essa
tendência do ser humano em terceirizar a maldade que faz.”.
(JR)
E isso não basta, para aguçar a nossa
curiosidade sobre o espetáculo?! Aplaudo, com bastante vigor, FRANÇA,
pelas palavras acima, assim como pelo brilhante texto da peça, agora que
tive a oportunidade de ouvi-lo na íntegra.
(JR)
E continua RODRIGO: “Ao
falarmos sobre o século XXI, muitos, logo, apontam essa como a era da
tecnologia, da razão e da ampla circulação do conhecimento. Sob tal quadro,
fica difícil imaginar que a figura mítica do demônio tenha espaço na explicação
do mundo ou no próprio imaginário das pessoas. De fato, desde que o mundo é
mundo, pode-se observar que as culturas ocidentais e orientais elaboram formas
de explicar as mazelas que nos afligem. Nesse esforço, a construção de uma
figura maligna, acaba assumindo os valores morais e comportamentos de menor
prestígio, em nossa cultura. Nas religiões cristãs, judaica e islâmica, o mal
encarna a figura de um indivíduo que se opõe a Deus e busca atormentar a vida
de todos os seguidores de tais religiões.”. A gente sempre procura
encontrar alguém ou algo, para lhes atribuir a culpa por nossos erros e
fraquezas. Terceirizar, como já disse RODRIGO FRANÇA, os nossos humanos “pecados” parece nos
redimir deles. Ou não é assim mesmo?! Às favas com a empatia e o amor ao
próximo! Pensamento do Homem.
(JR)
E mais, da lavra de RODRIGO
FRANÇA, que merece fazer parte deste meu trabalho, ainda extraído do já citado
“release” da peça: “Atualmente, a descrença no Diabo
acaba alimentando um interessante debate entre os pensadores da cultura. Para
alguns destes, acreditar no Diabo é algo fundamental, para que a sociedade
reforce os seus limites éticos e morais. Desconstruir uma imagem do mal pode
levar as pessoas a, simplesmente, ignorar os comportamentos hediondos. No fim
das contas, acreditar nas forças malignas não deixa de ser uma forma de reforço
às qualidades positivas do indivíduo. O desenvolvimento da figura diabólica é
fruto das várias dualidades que permeiam o cotidiano do homem. O belo e o feio,
a sorte e o azar, o certo e o errado, a vida e a morte compõem jogos em que um
lado assume significação positiva e o outro, necessariamente, uma posição
completamente negativa. Dessa forma, não se enganem aqueles que acreditam que o
universo demoníaco seja somente um traço singular às três religiões
anteriormente citadas.”.
(RC)
Vamos, então, partir para a
análise crítica de cada um dos pilares que sustentam a ótima montagem
de “CAPIROTO”, a começar pelo texto, que já disse ser excelente,
com ótimas “tiradas” de um humor cáustico, bastante crítico, e
didático, ao mesmo tempo. Durante todo o espetáculo, o personagem
só deseja dizer ao público, representando a humanidade, quão hipócritas somos
todos nós, “diabos” que assumem aparências diversas, mas todos
com a mesma índole e sujeitos a fraquezas; uns mais, outros menos, mas ninguém
escapa. Ele nos apresenta um corolário de acusações, todas pertinentes, o que é
mais triste. E que cada um faça o seu “mea culpa”! Se tiver
coragem e a hombridade para fazê-lo.
(RC)
Tudo isso se dá por meio de um magnífico
texto – agora, posso dizê-lo, sem titubear -, que provoca muitos
risos e algumas gargalhadas, que nada mais são do que fruto de uma catarse que
cada um pode fazer, diante de alguma frase mais incisiva ou de uma acusação
mais que verdadeira, da qual parece que procuramos fugir ou jogar para debaixo
do tapete, ao longo de nossas vidas. Por vezes, um riso “nervoso”;
em outras, não. É muito importante registrar que, para chegar à dramaturgia,
RODRIGO FRANÇA contou com a preciosa colaboração de JONATHAN RAYMUNDO,
numa profunda pesquisa historiográfica.
(RC)
O resultado desse trabalho de
pesquisa serviu de base para o texto de uma peça “permeada de
perseguições de cunho religioso, com suas máximas expressões de intolerância,
em nome de Alá, Jesus, Maomé, Deus... ‘Inveja’, ‘ódio’, ‘mortes’, ‘injúrias’, ‘calúnias’,
‘perseguições’ e ‘torturas’ são algumas das palavras que passaram a ser usadas
no lugar de ‘tolerância’, ‘amor’ e ‘respeito’, na construção mútua da
civilidade humana.”.
(RC)
O texto da peça,
indiscutivelmente, para mim, o melhor, até agora, de toda a carreira de dramaturgo
de RODRIGO FRANÇA, lança uma instigante provocação, que é levar o
público a se questionar, voltado para tudo o que aprendeu, nas escolas formais,
oficiais, e na escola da vida, acerca da capacidade dos “humanos”
de serem cruéis, egocêntricos, egoístas, desrespeitosos, intolerantes e
indiferentes para com os seus semelhantes. Exemplos disso, desde os primórdios
da presença do Homem na Terra (QUE É REDONDA!!!), não
faltam, mas basta um só, para termos a certeza de que também somos “diabos”:
a “Santa Inquisição”, durante a qual, em nome de um Deus da Igreja
Católica, tanto se matou, tantas vidas humanas foram sacrificadas em
fogueiras. E esse tipo de racismo, essa intolerância religiosa chegou aos
nossos dias, não podemos negar, atenuada, ainda bem, porém jamais aceitável,
quando fanáticos e ignorantes, o que vêm a ser sinônimos – falo,
principalmente, de alguns evangélicos – invadem terreiros de religiões de
matriz africana, destruindo-os, quebrando tudo o que encontram pela frente,
verdadeiros vândalos, para “proteger a sua fé”, que julgam ser a
única a merecer crédito, porém sob a marca do ódio.
(RC)
Para viver o personagem-título,
assevero ter sido um acerto e tanto a escolha de LEANDRO MELO, um ator
muito aplicado e versátil, que, além de saber dominar a voz, para dizer o texto
e também cantar (A cena em que ele canta a canção “Lilium”,
deitado sobre uma mesa, é de arrepiar, aplaudida, prolongadamente, após seu
término.), além de emprestar as corretas inflexões às falas de seus personagens;
a este, em especial. LEANDRO tem um porte físico privilegiado e
invejável e um domínio desse corpo, em cena, que poucos atores
conseguem, graças à sua sólida formação na dança. É claro que, aqui, cabe,
direta ou indiretamente, um elogio ao brilhante trabalho de corpo, de direção
de movimento, creditado a KENNEDY LIMA. Mas os aplausos são mais
dirigidos, obviamente, à entrega do ator ao personagem. Nota-se,
em seu trabalho, que ele o executa com muito prazer e parece se divertir
bastante com o que faz, tornando, em alguns momentos, o que poderia ser “pesado”,
em algo leve, engraçado, divertido, conduzido pelo atalho do humor.
(RC)
Engana-se quem pensa que
vai encontrar um DIABO sério, raivoso, destilando fel, a lhe escorrer
pelos cantos da boca. Esqueçam isso! De forma genial, merecedora de premiações,
LEANDRO MELO, nos apresenta a um DIABO que diz as maiores
verdades, faz as mais afiadas acusações ao Homem, fala as coisas mais
sérias, graves e certas, de uma forma direcionada, debochada, irônica e, ao
mesmo tempo, muito divertida, sabendo explorar a sua veia cômica. Não lhe sai
da boca uma única palavra que não venha carregada de uma firme lucidez, de uma
convicção inquestionável, de uma forma que nos prende a atenção, da primeira à
última frase. E, como se já não bastasse, esbanja sensualidade, coragem e
despudor, numa prolongada cena de nu frontal, circulando pelo palco, jogando-se
ao chão, a qual, absolutamente pode chocar alguém sensato e não pudico, uma vez
que, no contexto da peça, é extremamente necessária.
(RC)
Já assisti a vários trabalhos de LEANDRO,
incluindo sua participação num espetáculo totalmente diferente deste,
mas igualmente arrojado, “Dzi Croquetes em Bandália”, em 2012,
quando o conheci e nos tornamos amigos, na Sala Marília Pêra, do antigo Teatro
Leblon, hoje PetraGold, seu primeiro trabalho, no Rio de Janeiro,
recém-chegado de passagens por várias cidades brasileiras, onde morou e
estudou, fez sua formação acadêmica, para o TEATRO, tendo nascido em Alto
Floresta, uma cidadezinha no meio da Amazônia. De lá para cá, jamais
deixei de assistir a qualquer espetáculo do qual ele fez parte,
incluindo musicais, e sinto, a cada dia, seu crescimento, como um
artista completo, que canta, dança e representa. E tenho a certeza de que ainda
poderá render muito mais, pelo amor que tem a seu ofício.
(JR)
Eu poderia tecer muitos elogios à corretíssima direção de RODRIGO FRANÇA, contudo restrinjo-me a dizer, apenas – e não é preciso mais que isto -, que, além de muito criativa, o diretor soube tirar partido de todos os elementos e possibilidades que lhe chegaram à mão, deixando, como legado, o que julgo ser seu melhor trabalho de direção e um dos mais interessantes a que venho assistido, nos últimos tempos. A cena de como e por que se deu o “pecado capital”, por exemplo, é fantástica, sendo que esta e várias outras mereceram, na noite de anteontem, aplausos em cena aberta, o que, certamente, ocorrerá em toda a temporada.
(JR)
Quem idealizou o fantástico cenário
de “CAPIROTO” foi WANDERLEY GOMES, um multiartista, também
responsável pelos figurinos da peça. Começarei pela cenografia,
que engloba uma enorme mesa, de metal e vidro, com algumas gavetas, de onde
saem objetos de cena. Sobre ela, numa das pontas, um grande e deslumbrante
tabuleiro de xadrez, com peças em vidro. Completam esse cenário uma
cadeira de escritório, branca, com rodinhas, detalhe importante, para a sua
utilização em cena. Ao fundo, cinco espécies de vitrais, em formato gótico, se
não me equivoco, nos quais são projetadas, de acordo com a exigência da cena,
figuras de divindades, entidades e outros seres. O mais importante, neste cenário,
além de sua beleza e criatividade, é o fato de que nada, nele, deixa de estar a
serviço da montagem. Tudo importa neste brilhante trabalho de WANDERLEY
GOMES.
(RC)
Sobre o WANDERLEY figurinista,
os mais merecidos aplausos, pelas duas vestes que o personagem exibe em
cena. Durante quase todo o espetáculo, o “CAPIROTO” veste-se com
uma elegância invejável, como ele próprio, por esnobação e deboche, diz ser um “Prada”.
Um “Prada” criado por WANDERLEY GOMES, que cai,
impecavelmente, no ator / personagem. Trata-se de um terno, com colete e
gravata borboleta, numa cor vermelha, puxando para o bordô, talhado,
milimetricamente, para o corpo de LEANDRO, com um caimento próprio de um
refinado trabalho de alfaiataria. Sapatos finos, clássicos, sem meia. Após a já
comentada cena de nudez, até os agradecimentos, o, também já referido, roupão
/ ”robe de chambre”, num tom neutro, variando entre o bege e o marrom, é uma peça que eu
gostaria de ter no meu guarda-roupa, por sua beleza, com destaque para os
bordados. Não sei se foi desenhada pelo figurinista e confeccionada, especialmente, para
a peça ou se foi comprada em alguma loja do ramo, porém o bom gosto
impera nela. O cenário e o figurino, frutos do trabalho e da
criatividade de um mesmo artista, WANDERLEY GOMES, são dois detalhes que se destacam nesta
montagem.
(RC)
Da mesma forma, considero o lindo desenho
de luz, assinado por PEDRO CARNEIRO, uma das melhores iluminações
a que tive a oportunidade de ter acesso nos últimos tempos. Sua paleta de
cores, usadas estas em momentos precisos, cria imagens, ou melhor, realçam-nas,
provocando um deleite aos nossos olhos e, certamente, ajudando na obtenção dos
resultados desejados pela direção. Um trabalho que me agradou
sobremaneira, da mesma forma como me deixei emocionar pela linda e precisa trilha
sonora e pelos efeitos de sonoplastia, cujo nome do artista criador
é JOÃO VINÍCIUS BARBOSA.
(RC)
A figura do “CAPIROTO”, para
ser perfeita, como nos é apresentada, conta, também, com um importante elemento
de composição, que é o visagismo, iniciado, para os vídeos de divulgação
da peça, por VÍTOR MARTINEZ e concluído, para a apresentação no
palco, por DIEGO NARDES. Não há uma maquiagem especial para o personagem,
mas o adorno que vai em sua cabeça, uma armação, em arame, forrado de vermelho,
ao feitio de uma cabeça de um, talvez, bode, com enormes chifres, é um detalhe
que, embora só usado por pouco tempo, no início do espetáculo, chama
muito a atenção, por seu significado, na errada representação do personagem,
por parte da imaginação das pessoas, pelos que lhes foi, e, ainda, é passado,
através dos tempos.
(RC)
FICHA TÉCNICA:
Autor e Diretor: Rodrigo França
Elenco: Leandro Melo
Direção de Movimento: Kennedy Lima
Diretor Assistente: Júlio Ângelo
Iluminação: Pedro Carneiro
Cenário e Figurino: Wanderley Gomes
Arte Digital: Akueran
Designer: João Eliel
Pesquisa Historiográfica: Rodrigo
França e Jonathan Raymundo
Consultoria de Representações Raciais
e de Gênero: Deborah Medeiros
Fonoaudiólogas: Débora Santos e Luisa
Catoira
Visagismo: Vítor Martinez e Diego
Nardes
Trilha Sonora: João Vinícius Barbosa
Costureira: Terezinha Silva
Fotos: Júlio Ricardo (oficial) e Regina
Cavalcanti
Direção de Produção: Fábio França
Assessoria de Imprensa: Alessandra
Costa
Produtores Associados: Fábio França e
Rodrigo França
Realização: Diverso Cultura e
Desenvolvimento e Orí Produções de Conhecimentos
(JR)
SERVIÇO:
Temporada: De 21 de outubro a 07 de
novembro de 2021.
Local: Teatro Firjan Sesi Centro.
Endereço: Av. Graça Aranha, nº 1 –
Centro - Rio de Janeiro.
Dias e Horários:5ªs e 6ªs feiras, às
19h; sábados e domingos, às 17h.
Valor do Ingresso: R$30,00 (inteira)
/ R$15,00 (meia entrada).
Classificação Etária: 18 anos.
Duração: 60 min.
(JR)
“CAPIROTO”
é um espetáculo que não pode deixar de ser visto, pelo conjunto da obra, porém
com destaque maior para o texto, a direção e a interpretação,
o tripé principal de sustentação de uma excelente montagem teatral, como
é o caso desta.
(RC)
(RC)
(RC)
Não percam tempo, uma vez que a temporada é curtíssima, e vão
ao Teatro Firjan SESI, no Centro do Rio de Janeiro, onde
seu gestor, Alessandro Martins, se preocupou em cumprir todas as exigências
impostas pelas autoridades sanitárias, no que diz respeito à proteção, dos
artistas e do público, contra a COVID-19! Ninguém tinha mais receio de
voltar aos espetáculos presenciais do que eu. Respeito a opinião de
todos e acho que cada um deve sentir o seu momento certo, para voltar
frequentar uma sala de espetáculos. Se não for assim, não vale a pena. Graças
aos DEUSES DO TEATRO, o meu momento já chegou, faz algum tempo.
(RC)
FOTOS: JÚLIO RICARDO (JR) -
(FOTÓGRAFO OFICIAL)
e
REGINA CAVALCANTI (RC)
GALERIA PARTICULAR
(FOTOS DE DIVERSOS AUTORES.)
(Teatro Prudential - Estreia.)
(Teatro Prudential - Estreia)
(Com Leandro Melo.)
(Com Rodrigo França.)
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário