terça-feira, 4 de novembro de 2025

“A CONSTRUÇÃO”

ou

(DESCONSTRUIR

PARA CONSTRUIR.)


 

 


         Todos os que me dão a honra de suas leituras sabem que só escrevo sobre um espetáculo teatral quando ele me agrada, acrescenta-me valores. Sabem, também, que, se, por qualquer motivo, eu não tiver condições de escrever sobre a peça, enquanto ela ainda está em cartaz, faço questão, mesmo assim, de registrar as minhas boas impressões sobre ela. É o caso de “A CONSTRUÇÃO, que esteve em cartaz, até o último dia 02 de novembro (2025), na Sala Multiuso do SESC Copacabana. Foi uma pena que a temporada tenha sido tão curta e exibida num pequeno espaço físico, que comportava poucos espectadores.




 

 

SINOPSE:

Em cena, o narrador-protagonista, interpretado por MARCELO OLINTO, é um animal mamífero, um texugo, que se dedica, obsessivamente, à criação e manutenção de sua toca subterrânea, um refúgio seguro criado para sua proteção.

Cercado por uma atmosfera claustrofóbica, o personagem oscila entre o orgulho de seu trabalho e o medo paranoico de ter a sua toca invadida por inimigos, sejam reais ou imaginários. 

Ao encenar a história desse animal, envolvido na construção de sua moradia-fortaleza, a obra aborda, metaforicamente, os sentimentos que acompanham o ser humano durante toda a sua vida: a necessidade de um teto e o medo da morte.



 



 

    Seis meses antes de sua morte, FRANZ KAFKA (1883-1924), escritor boêmio de língua alemã, autor de romances e contos, considerado, pelos críticos, como um dos escritores mais influentes do século XX, escreveu uma novela, chamada “A CONSTRUÇÃO”, que ficou incompleta, publicada, postumamente, em 1931. Pelas mãos do premiado dramaturgo PEDRO EMANUEL, a obra, por meio de uma adaptação dramatúrgica, ganhou uma montagem teatral, sob a direção de BETO BROWN, trazendo MARCELO OLINTO na interpretação do solo, numa realização de FLÁVIA PORTELA, do “Estúdio F”.



         O monólogo é um corajoso projeto, bastante ousado, nada convencional, que deu certo e agrada aos espectadores de todos os tipos e desperta neles um interesse incondicional, da primeira à última cena, pelo conjunto da obra, a soma de todos os elementos que entram na montagem da peça.



           Ainda que obra original já contabilize um século de escrita, ela é universal e atemporal, trazendo temas caros a qualquer criatura humana, em qualquer ponto do planeta Terra, embora, na dramaturgia, o protagonista seja um animal irracional.



         Trata-se de uma narrativa que propõe fundadas reflexões sobre a luta pela sobrevivência em um ambiente hostil, como era a Europa, na época em que foi escrita a novela de KAFKA, momento em que o continente europeu assistia à ascensão do fascismo. Infelizmente, nos dias de hoje, um século depois, o mundo constata, perplexo, a repetição da História, não somente no Velho Continente, mas também em países da América do Sul, incluindo o Brasil, da Ásia e da África. Durante cerca de 60 minutos, tempo que dura a encenação, vi-me, vez por outra, trazendo toda aquela narrativa para o Brasil de 2019 a 2022, período pelo qual nenhum cidadão, REALMENTE, de bem mereceu passar. E, o que é pior: não parou por lá. Conquanto tenhamos, hoje, um governo federal progressista, voltado para o bem-estar do povo brasileiro, comprometido, verdadeiramente, em honrar as instituições e, principalmente, a Constituição Brasileira, ainda sentimos a força e a opressão de uma extrema- direita, exercida pelo que há de pior na política. Derrotamos um “mito” pífio, mas não conseguimos, ainda, nos livrar dos que o seguem, da forma mais violenta e cruel possível.





         Esta montagem é uma soma de acertos. O texto é, de certa forma, um pouco rebuscado, hermético, necessitando de bastante atenção e concentração do espectador. Interessantíssima é a adaptação dramatúrgica, feita, com muito cuidado e precisão, por PEDRO EMANUEL. A plasticidade é de uma justeza ímpar, representado por uma sombria cenografia, curiosíssima e criativa, assinada por TECA FICHINSKI, que ajuda a construir a necessária atmosfera desejada pelo texto. Criado por MARCELO OLINTO, em parceria com o estilista ALMIR FRANÇA, o figurino é um exótico terno preto, com textura que remete a um animal, “comme il fault”. A equipe de criação conta, ainda, com a direção de movimento da coreógrafa LAVÍNIA BIZZOTTO, que qualifico como um OBRA-PRIMA, a trilha sonora original, de Mario Olinto, e a iluminação veio da premiada ADRIANA ORTIZ, outro elemento da maior importância para criar uma atmosfera lúgubre e misteriosa.





         Aplaudo tudo, com o maior empenho, contudo a “cereja do bolo” não é outra, senão o preciosíssimo trabalho de interpretação de MARCELO OLINTO. Não consigo, e não aceito, deixar de vê-lo nas listas de indicados a prêmios de MELHOR ATOR, relacionado à temporada de TEATRO de 2025, no Rio de Janeiro. É muito comovente e perfeito o seu trabalho. Sua postura corporal, entonações e máscaras faciais são marcantes e corretíssimas. Deixei o Teatro “com a água lavada e enxaguada”, “de queixo caído”, com a “performance” de OLINTO.





       Infelizmente, na FICHA TÉCNICA, não consta o nome do(a) artista responsável pelo fantástico visagismo da peça. Meus aplausos a quem o tenha criado!




 

 

 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Marcelo Olinto

Texto Original: Franz Kafka

Adaptação Dramatúrgica: Pedro Emanuel

Direção: Beto Brown

 

Atuação: Marcelo Olinto

 

Direção de Movimento e Preparação Corporal: Lavinia Bizzotto

Cenografia: Teca Fichinski

Figurino: Almir França e Marcelo Olinto

Iluminação: Adriana Ortiz

Composição “A Construção – Suíte Sinfônica”: Mario Olinto

Ateliê de Costura: Empório Almir França

Estúdio: Mega

Produção Executiva: Flávia Portela (Estúdio F)

Assessoria de Imprensa: Catharina Rocha e Paula Catunda

Fotografia: Nil Caniné

Mídias Sociais: Rafael Teixeira

“Design” Gráfico: Maria Cristina dos Santos

Intérprete em Libras: Davi Vasconcelos

Audiodescrição: Locução - Sérgio Nostra | Estúdio - Heleno Hauer

Filmagem e Edição de Vídeo: Bruna Baitelli

Produção: Beto Brown, Flávia Portela (Estúdio F), Marcelo Olinto e Sérgio Nostra

Realização: Estúdio F


 


 



 

           Durante a escrita desta merecidíssima crítica, fui informado de que – QUE BOM! – o espetáculo, em função do sucesso de público, ganhará uma segunda temporada, ainda que bem curta, na “Sede da Cia dos Atores”, também no Rio de Janeiro. Será uma nova oportunidade para quem não conseguiu assistir a este excelente espetáculo no SESC Copacabana. Segue-se o SERVIÇO da nova temporada:




 

 


SERVIÇO:

Temporada: De 07 a 16 de novembro de 2025.

Local: Sede da Cia dos Atores.

Endereço: Rua Manuel Carneiro, nº 12 – Escadaria Selarón – Lapa – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$ 20 (meia-entrada) e R$ 40 (inteira) no “site” da Sympla (com cobrança de taxa de serviço) ou na bilheteria do Teatro (sem cobrança de taxa de serviço), uma hora antes do início da sessão.

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 60 minutos.

Gênero: Monólogo Dramático.

 


 




         “A CONSTRUÇÃO” é, indubitavelmente, um dos melhores solos que vêm passando pela temporada teatral carioca, em 2025, motivo que me leva a RECOMENDÁ-LO, COM TODO O MEU EMPENHO.

 

 

 


FOTOS: NIL CANINÉ.





 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!

 

 










































































































































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