"AVENIDA
PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO"
ou
(UMA BELA
FÁBULA URBANA.)
ou
(UMA "ARTÉRIA" PULSANTE.)
Indo
a São
Paulo, sempre reservo um dia para visitar o Centro Cultural Fiesp (Teatro
Sesi-SP), a fim de assistir à peça que lá está em cartaz, sempre uma
surpresa melhor que outra. Há exatos 20 anos, o Teatro do SESI-SP, que
celebra seis décadas de história, viu a passagem do espetáculo “Avenida
Dropsie”, dirigido por FELIPE HIRSH,
que também assina como diretor de “AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO”, a peça “da
vez”, espetáculo que dura 3 horas e deixa os espectadores com “gostinho
de quero mais”.
SINOPSE:
Uma grande cidade é um
tecido de sonhos, frustrações, desejos, possibilidades, dúvidas, convívios e
solidões.
Milhões de solidões
entrecruzadas.
Sem dormir, sem parar.
Mas e se decidirmos parar
para ver?
“AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO”, peça inédita, é um
retrato volante da inquietude da principal avenida de São Paulo -quiçá do Brasil -,
sua história, seu presente, suas ausências.
É uma peça que sinaliza que o Brasil
está em uma encruzilhada, propondo uma nova comunicação e o
reestabelecimento do diálogo entre o TEATRO e o público.
“AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO” é uma obra que reflete a crise brasileira, que começou em 2013.
Para celebrar duas datas tão importantes, registradas no primeiro
parágrafo, FELIPE HIRSCH, consagrado
encenador,
retorna à atmosfera e ao mesmo conceito de “Avenida Dropsie”, espetáculo seu, que narrava a história de um bairro, no
sul do Bronx, Estados Unidos, desde a chegada dos
primeiros colonos holandeses, em 1870, até a transformação em
condomínio de classe média, cem anos depois, para apresentar esta outra Avenida, a
Paulista, a brasileira, deslocando seu olhar dos cortiços do Bronx,
no começo do século 20 para o coração da maior cidade da América
Latina. Trata-se de uma montagem
que mergulha na essência vibrante e multifacetada da principal avenida
de São
Paulo.
Sinto a peça como um tributo a
uma artéria paulista, que pulsa 24 horas por dia, e à cidade que
acolheu o diretor e um dos autores da dramaturgia, ao lado de CAETANO GALINDO, GUILHERME GONTIJO FLORES e JUUAR,
criada com o elenco de atores, calcada na vivência do dia a dia de cerca de 1.500.000
de transeuntes, anônimos e solitários, perdidos e “sozinhos na multidão”,
cidadãos paulistanos e um sem-número de migrantes, brasileiros e de fora, que passam
por algum trecho dos 2.700 metros de extensão da Paulista,
e buscam, a cada dia, o “eldorado” naquela “selva
de pedra antropofágica”.
O espetáculo é uma colagem de
pequenas cenas que reproduzem o ir e vir, e o morar também, daquelas pessoas
que cruzam a Avenida diariamente. Estamos diante de um mosaico humano, em
busca da sobrevivência, numa grande metrópole, capaz de “engolir” os menos safos.
É, na verdade, um passeio entre dois pontos que marcam o início da Avenida
(Paraíso) ao seu final (Consolação; na verdade, Higienópolis –
qualquer informação que não bata, deve-se à ignorância geográfica deste
paulistano “de coração”, que recorreu ao “Tio GOOGLE”.). Creio que a inversão
do título da peça, esteja mais ligada aos significados dos dois substantivos: CONSOLAÇÃO e PARAÍSO.
Não se pode negar que a Avenida Paulista nos leva do estado
de “consolação”
a um verdadeiro “paraíso”.
A Avenida
Paulista é o mais importante e simbólico logradouro de São Paulo, numa das regiões
mais elevadas da cidade. É um polo financeiro, cultural e turístico da capital
paulista, concentrando dezenas de importantes empresas, bancos, consulados,
hotéis, hospitais, teatros, escolas, restaurantes e instituições científicas,
além de ser o local preferido para “shows” e outros eventos ao ar livre
e manifestações políticas, tanto da esquerda quanto da direita. É, no fundo,
uma Avenida
democrática e um “coração de mãe”, principalmente para os comerciantes e os
artistas de rua.
Com tanta diversidade humana que a
cruza diariamente, passar pela Paulista significa estar se sentindo
uma ilha, cercada da maior contraposição possível de pessoas, das mais humildes
às engravatadas, dos operários aos executivos, dos mais incultos aos que detêm
o saber, da mesma forma como os que nela habitam – e é muita gente – se
acomodam em espaços que vão de quitinetes a suntuosos apartamentos de vários
dormitórios, o que traduz, também, uma diferença social entre seus habitantes.
E pensar que já foi uma Avenida aberta para a passagem do gado e teve seus
momentos de glória, representado pela construção de mansões e outras habitações
aristocráticas, até chegar ao domínio dos “espigões”.
Extraí, do “release” que recebi de Laura
Maluf, da Gerência de Comunicação e Marketing do SESI, as seguintes frases,
que bem resumem a obra: “Uma carta bem-humorada de amor à vida
em uma metrópole. Um mergulho no coração mais que pulsante da cidade. (...)
é uma reflexão poética sobre o cotidiano dessa cidade tão cosmopolita.”.
É um espetáculo que, a despeito de ser
longo, prende a atenção do espectador, sempre à espera de uma nova e agradável
surpresa, o que sempre acontece, com o elenco se multiplicando em vários
personagens, com uma infinidade de troca de figurinos, alguns complexos,
num mísero espaço de tempo. Uma das atrizes, querida amiga, me confidenciou que
faz 26
trocas de roupa durante uma sessão.
E já que falei nos figurinos, de CASSIO
BRASIL, todos são excelentes, o mesmo podendo ser aplicado a uma cenografia
estática – com mais de 10 metros de altura, reproduzindo três andares da fachada do prédio do Conjunto Nacional -, assinada, a quatro mãos,
pelo talento de DANIELA TOMAS e FELIPE TESSARA, também responsáveis
pela direção de arte. Já encaixo aqui os merecidos elogios à favorável e
adequada iluminação, a cargo do sempre mestre BETO BRUEL.
Em alguns poucos momentos, eu, que adoro estar na Avenida Paulista, entretanto não conheço todos os seus emblemáticos personagens, aqueles que já fazem parte da memória afetiva dos paulistanos, não consegui saber quem eram, como o homem que vendia urina como se fosse um milagroso remédio ou uma famosa travesti, que acabou recebendo o apelido de "Fofão da Augusta", de tanto aplicar silicone no rosto, a ponto de ficar deformada. Em compensação, identifiquei o homem que se vestia de Batman e se oferecia, "ingenuamente", para tirar fotos com as crianças, um disfarce para exercer a sua "profissão" de vendedor de drogas, sem despertar suspeitas.
Ainda
que o espetáculo reúna várias canções originais, compostas por 15
artistas, especialmente para a peça - Alzira E., Arnaldo Antunes, DJ K., Kiko
Dinucci, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Maria Beraldo, Maria Esmeralda,
Maurício Pereira, Negro Leo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo
Fróes e Tulipa Ruiz -, não o considero um musical, visto que as
canções servem para ilustrar uma ou outra cena, porém não entram,
especificamente, como parte do texto; da dramaturgia, sim, para ajudar a contar
as histórias de cada um personagem. Vários atores participam da execução dos
números musicais, como musicistas, ficando a trilha sonora original para ARTHUR
DE FARIA, sendo que a precisa direção musical e os arranjos são
assinados por MARIA BERALDO.
Costurar
todas as histórias, cena por cena, não é uma tarefa muito fácil, para que não
fiquem soltas no ar. Apesar de cada narrativa ser “independente” (até a página 5),
todas fazem parte de um todo, um uno indivisível, noção que FELIPE HIRSH resolveu, de uma forma
correta e agradável para o espectador e com “um jumbo” de
criatividade, contando com a assistência de direção de JUUAR. HIRSH é um dos mais férteis e premiados encenadores, no Brasil
e no exterior, talento que está presente na montagem em tela. A genialidade de FELIPE HIRSH é capaz de ATÉ fazer chover, literalmente, por um longo tempo, no palco do Teatro.
Felipe Hirsh (foto retirada da internet,
autoria desconhecida.
E que elenco!!!
Não perdi muito tempo para procurar os destaques, uma vez que todos, sem a
menor exceção, valorizam cada uma de suas aparições, seja dando um texto
verbal, seja com seus silêncios verborrágicos. Dão o recado, por ordem
alfabética: AMANDA LYRA, ARETHA SADICK, FABIO SÁ, FERNANDO SAMPAIO, GEORGETTE FADEL, GUI CALZAVARA, HELENA TEZZA, HELOISA ALVINO, JOCASTA GERMANO, JULIA
TOLEDO, KAUÊ PERSONA, LEE TAYLOR, LELLO BEZERRA, MARAT
DESCARTES, NEGRO LEO, ROBERTA ESTRELA D’ALVA, THALIN e VERÓNICA VALENTTINO. Para homenagear a todos, com muita
dificuldade, pois os 18 artistas são formidáveis no que
fazem cenicamente, aponto GEORGETTE
FADEL, como o destaque maior da encenação, talvez motivado pelos
comentários de outrem, ouvidos por mim à saída do Teatro. O que é GEORGETE FADEL em cena? Que vulcão em atividade! Mas também quero
registrar a minha satisfação em ver, brilhando no palco, HELENA TEZZA e KAUÊ PERSONA,
dois muito jovens atores da Trupe Ave Lola, de Curitiba,
convidados para o elenco.
FICHA TÉCNICA:
Direção Geral: Felipe Hirsch
Codireção Juuar.
Dramaturgia:
Caetano W. Galindo, Felipe Hirsch, Guilherme Gontijo Flores, Juuar, com a
colaboração de textos improvisados pelo elenco
Canções
Inéditas de Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal,
Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Maria Esmeralda, Maurício Pereira, Negro Leo, Nuno
Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes, Tulipa Ruiz
Elenco (em ordem alfabética): Amanda Lyra, Aretha Sadick, Fernando Sampaio, Georgette Fadel, Gui Calzavara,
Helena Tezza, Jocasta Germano, Kauê Persona, Lee Taylor, Marat Descartes,
Roberta Estrela D’Alva, Verónica Valenttino.
Narrador (em "off"):
Renato Borghi
Músicos:
Fabio Sá (baixos e synths), Gui Calzavara (bateria e percussão), Heloisa Alvino
(trombone), Julia Toledo (piano e rhodes), Lello Bezerra (guitarra, samplers e
synth), Negro Leo (vitrola, synths e percussões), Thalin (bateria, percussão,
percussão vocal e synths)
Direção de
Arte e Cenografia: Daniela Thomas e Felipe Tassara
Direção
Musical: Maria Beraldo
Arranjos:
Maria Beraldo, com colaboração dos músicos e Fernando Seiji Sagawa
Trilha
sonora original: Arthur de Faria
Paisagens Sonoras: Os Fita (Abel Duarte e Cainã Bomilcar)
"Design" de
Luz: Beto Bruel
Figurino:
Cássio Brasil
Coreografia:
Marcelo Evelin
"Design" de
Som: Tocko Michelazzo
Direção de Palco: Nietzsche
Coordenação
de Cenografia: Blue Bird Produções Artísticas
Produção
de Cenografia: Mauro Amorim e Patrícia Almeida
Arquitetura
de Cenografia: Maurício Zati
Engenharia de Cenografia: Murilo Jarreta
Assistente
de Direção: Carol Araújo
Segunda Assistente de Direção e Operadora de Vídeo: Sarah Rogieri
Assistente
de Direção Musical: Fernando Seiji Sagawa
Preparação Vocal: Joana Mariz
Edição de Som: Matheus Miguens
Engenheiro Operador de Som: Murilo Gil
Microfonista:
Eder Eduardo
Assistente
de Iluminação e Operadora de Luz: Sarah Salgado
Assistente
de Figurino: Patrícia Sayuri Sato
Estagiária
de Figurino: Ju Porto
Camareira:
Ariane Sá, Aline Delgado
Costura:
Salete Paiva, Nomeia Ribeiro, Tiago Nohara, Valéria Lilian e Enrique Casas
Efeito
Chuva: Espirro, Nietzsche
Contrarregras:
Dell Jesus, Espirro
Pesquisa de Campo: João Marcelo Iglesias
"Designer" Gráfico: Bruno Senise
Assessoria
de Imprensa: Vanessa Cardoso – Fatoria Comunicação
Fotos: Helena Wolfenson
Assessoria
jurídica: MCBA – Miessa, Corchs, Barra & Augusto Advogados
Assistente
de Produção: Paloma Rodrigues
Produção Executiva: Arlindo Hartz
Coordenação
de Produção: Camila Bevilacqua
Direção de Produção: Luís Henrique Luque Daltrozo
Produção:
Daltrozo Produções
Agradecimentos:
Guilherme Weber, Elcio Nogueira Seixas, Teatro Oficina
SERVIÇO:
Temporada: De 15 de fevereiro a 29 de junho de 2025.
Local: Teatro SESI-SP (Centro Cultural FIESP).
Endereço: Avenida Paulista, nº 1313 (em frente ao metrô Trianon-Masp).
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Valor dos ingressos: Os ingressos para o espetáculo são GRATUITOS e devem ser reservados pelo “Meu SESI” (https://sesisp.org.br/eventos), às segundas-feiras, a partir das 8 horas, para as apresentações da semana.
Classificação Indicativa: 16 anos.
Duração: 3 horas (sem intervalo).
Acessibilidade: Sessões com Libras e audiodescrição aos sábados e
domingos.
Gênero: TEATRO Documental
Consegui
assistir a esta montagem, que ficará, para sempre, fixada na minha memória, na
última maratona teatral que pratiquei em São Paulo, em março passado, e,
mesmo que os 8 espetáculos a que tive a oportunidade de assistir tenham sido
ótimos,
considero este o melhor da safra e vou querer revê-lo, motivo pelo qual O
RECOMENDO, COMO IM-PER-DÍ-VEL.
FOTOS: HELENA WOLFENSON
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e
constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica,
para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!
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