segunda-feira, 14 de abril de 2025

 

"AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO"

ou

(UMA BELA FÁBULA URBANA.)

ou

(UMA "ARTÉRIA" PULSANTE.)

 

 


         Indo a São Paulo, sempre reservo um dia para visitar o Centro Cultural Fiesp (Teatro Sesi-SP), a fim de assistir à peça que lá está em cartaz, sempre uma surpresa melhor que outra. Há exatos 20 anos, o Teatro do SESI-SP, que celebra seis décadas de história, viu a passagem do espetáculo “Avenida Dropsie”, dirigido por FELIPE HIRSH, que também assina como diretor de “AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO”, a peça “da vez”, espetáculo que dura 3 horas e deixa os espectadores com “gostinho de quero mais”.


 


SINOPSE:

Uma grande cidade é um tecido de sonhos, frustrações, desejos, possibilidades, dúvidas, convívios e solidões.

Milhões de solidões entrecruzadas.

Sem dormir, sem parar.

Mas e se decidirmos parar para ver?

“AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO”, peça inédita, é um retrato volante da inquietude da principal avenida de São Paulo -quiçá do Brasil -, sua história, seu presente, suas ausências.

É uma peça que sinaliza que o Brasil está em uma encruzilhada, propondo uma nova comunicação e o reestabelecimento do diálogo entre o TEATRO e o público.

“AVENIDA PAULISTA, DA CONSOLAÇÃO AO PARAÍSO” é uma obra que reflete a crise brasileira, que começou em 2013.

 

 


 

Para celebrar duas datas tão importantes, registradas no primeiro parágrafo, FELIPE HIRSCH, consagrado encenador, retorna à atmosfera e ao mesmo conceito de “Avenida Dropsie”, espetáculo seu, que narrava a história de um bairro, no sul do Bronx, Estados Unidos, desde a chegada dos primeiros colonos holandeses, em 1870, até a transformação em condomínio de classe média, cem anos depois, para apresentar esta outra Avenida, a Paulista, a brasileira, deslocando seu olhar dos cortiços do Bronx, no começo do século 20 para o coração da maior cidade da América Latina. Trata-se de uma montagem que mergulha na essência vibrante e multifacetada da principal avenida de São Paulo.


 

Sinto a peça como um tributo a uma artéria paulista, que pulsa 24 horas por dia, e à cidade que acolheu o diretor e um dos autores da dramaturgia, ao lado de CAETANO GALINDO, GUILHERME GONTIJO FLORES e JUUAR, criada com o elenco de atores, calcada na vivência do dia a dia de cerca de 1.500.000 de transeuntes, anônimos e solitários, perdidos e “sozinhos na multidão”, cidadãos paulistanos e um sem-número de migrantes, brasileiros e de fora, que passam por algum trecho dos 2.700 metros de extensão da Paulista, e buscam, a cada dia, o “eldorado” naquela “selva de pedra antropofágica”.


 

O espetáculo é uma colagem de pequenas cenas que reproduzem o ir e vir, e o morar também, daquelas pessoas que cruzam a Avenida diariamente. Estamos diante de um mosaico humano, em busca da sobrevivência, numa grande metrópole, capaz de “engolir” os menos safos. É, na verdade, um passeio entre dois pontos que marcam o início da Avenida (Paraíso) ao seu final (Consolação; na verdade, Higienópolis – qualquer informação que não bata, deve-se à ignorância geográfica deste paulistano “de coração”, que recorreu ao “Tio GOOGLE”.). Creio que a inversão do título da peça, esteja mais ligada aos significados dos dois substantivos: CONSOLAÇÃO e PARAÍSO. Não se pode negar que a Avenida Paulista nos leva do estado de “consolação” a um verdadeiro “paraíso”.


 

         A Avenida Paulista é o mais importante e simbólico logradouro de São Paulo, numa das regiões mais elevadas da cidade. É um polo financeiro, cultural e turístico da capital paulista, concentrando dezenas de importantes empresas, bancos, consulados, hotéis, hospitais, teatros, escolas, restaurantes e instituições científicas, além de ser o local preferido para “shows” e outros eventos ao ar livre e manifestações políticas, tanto da esquerda quanto da direita. É, no fundo, uma Avenida democrática e um “coração de mãe”, principalmente para os comerciantes e os artistas de rua.



         Com tanta diversidade humana que a cruza diariamente, passar pela Paulista significa estar se sentindo uma ilha, cercada da maior contraposição possível de pessoas, das mais humildes às engravatadas, dos operários aos executivos, dos mais incultos aos que detêm o saber, da mesma forma como os que nela habitam – e é muita gente – se acomodam em espaços que vão de quitinetes a suntuosos apartamentos de vários dormitórios, o que traduz, também, uma diferença social entre seus habitantes. E pensar que já foi uma Avenida aberta para a passagem do gado e teve seus momentos de glória, representado pela construção de mansões e outras habitações aristocráticas, até chegar ao domínio dos “espigões”.



         Extraí, do “release” que recebi de Laura Maluf, da Gerência de Comunicação e Marketing do SESI, as seguintes frases, que bem resumem a obra: Uma carta bem-humorada de amor à vida em uma metrópole. Um mergulho no coração mais que pulsante da cidade. (...) é uma reflexão poética sobre o cotidiano dessa cidade tão cosmopolita.”.



      É um espetáculo que, a despeito de ser longo, prende a atenção do espectador, sempre à espera de uma nova e agradável surpresa, o que sempre acontece, com o elenco se multiplicando em vários personagens, com uma infinidade de troca de figurinos, alguns complexos, num mísero espaço de tempo. Uma das atrizes, querida amiga, me confidenciou que faz 26 trocas de roupa durante uma sessão.



         E já que falei nos figurinos, de CASSIO BRASIL, todos são excelentes, o mesmo podendo ser aplicado a uma cenografia estática – com mais de 10 metros de altura, reproduzindo três andares da fachada do prédio do Conjunto Nacional -, assinada, a quatro mãos, pelo talento de DANIELA TOMAS e FELIPE TESSARA, também responsáveis pela direção de arte. Já encaixo aqui os merecidos elogios à favorável e adequada iluminação, a cargo do sempre mestre BETO BRUEL.



            Em alguns poucos momentos, eu, que adoro estar na Avenida Paulista, entretanto não conheço todos os seus emblemáticos personagens, aqueles que já fazem parte da memória afetiva dos paulistanos, não consegui saber quem eram, como o homem que vendia urina como se fosse um milagroso remédio ou uma famosa travesti, que acabou recebendo o apelido de "Fofão da Augusta", de tanto aplicar silicone no rosto, a ponto de ficar deformada. Em compensação, identifiquei o homem que se vestia de Batman e se oferecia, "ingenuamente", para tirar fotos com as crianças, um disfarce para exercer a sua "profissão" de vendedor de drogas, sem despertar suspeitas.



         Ainda que o espetáculo reúna várias canções originais, compostas por 15 artistas, especialmente para a peça -  Alzira E., Arnaldo Antunes, DJ K., Kiko Dinucci, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Maria Beraldo, Maria Esmeralda, Maurício Pereira, Negro Leo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes e Tulipa Ruiz -, não o considero um musical, visto que as canções servem para ilustrar uma ou outra cena, porém não entram, especificamente, como parte do texto; da dramaturgia, sim, para ajudar a contar as histórias de cada um personagem. Vários atores participam da execução dos números musicais, como musicistas, ficando a trilha sonora original para ARTHUR DE FARIA, sendo que a precisa direção musical e os arranjos são assinados por MARIA BERALDO.


 

         Costurar todas as histórias, cena por cena, não é uma tarefa muito fácil, para que não fiquem soltas no ar. Apesar de cada narrativa ser “independente” (até a página 5), todas fazem parte de um todo, um uno indivisível, noção que FELIPE HIRSH resolveu, de uma forma correta e agradável para o espectador e com “um jumbo” de criatividade, contando com a assistência de direção de JUUAR. HIRSH é um dos mais férteis e premiados encenadores, no Brasil e no exterior, talento que está presente na montagem em tela. A genialidade de FELIPE HIRSH é capaz de ATÉ fazer chover, literalmente, por um longo tempo, no palco do Teatro.


Felipe Hirsh (foto retirada da internet, 

autoria desconhecida.

 

         E que elenco!!! Não perdi muito tempo para procurar os destaques, uma vez que todos, sem a menor exceção, valorizam cada uma de suas aparições, seja dando um texto verbal, seja com seus silêncios verborrágicos. Dão o recado, por ordem alfabética: AMANDA LYRA, ARETHA SADICK, FABIO SÁ, FERNANDO SAMPAIO, GEORGETTE FADEL, GUI CALZAVARA, HELENA TEZZA, HELOISA ALVINO, JOCASTA GERMANO, JULIA TOLEDO, KAUÊ PERSONA, LEE TAYLOR, LELLO BEZERRA, MARAT DESCARTES, NEGRO LEO, ROBERTA ESTRELA D’ALVA, THALIN e VERÓNICA VALENTTINO. Para homenagear a todos, com muita dificuldade, pois os 18 artistas são formidáveis no que fazem cenicamente, aponto GEORGETTE FADEL, como o destaque maior da encenação, talvez motivado pelos comentários de outrem, ouvidos por mim à saída do Teatro. O que é GEORGETE FADEL em cena? Que vulcão em atividade! Mas também quero registrar a minha satisfação em ver, brilhando no palco, HELENA TEZZA e KAUÊ PERSONA, dois muito jovens atores da Trupe Ave Lola, de Curitiba, convidados para o elenco.

 

 


 

FICHA TÉCNICA:

Direção Geral: Felipe Hirsch 

Codireção Juuar.

Dramaturgia: Caetano W. Galindo, Felipe Hirsch, Guilherme Gontijo Flores, Juuar, com a colaboração de textos improvisados pelo elenco

Canções Inéditas de Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Maria Esmeralda, Maurício Pereira, Negro Leo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes, Tulipa Ruiz


Elenco (em ordem alfabética): Amanda Lyra, Aretha Sadick, Fernando Sampaio, Georgette Fadel, Gui Calzavara, Helena Tezza, Jocasta Germano, Kauê Persona, Lee Taylor, Marat Descartes, Roberta Estrela D’Alva, Verónica Valenttino.


Narrador (em "off"): Renato Borghi

Músicos: Fabio Sá (baixos e synths), Gui Calzavara (bateria e percussão), Heloisa Alvino (trombone), Julia Toledo (piano e rhodes), Lello Bezerra (guitarra, samplers e synth), Negro Leo (vitrola, synths e percussões), Thalin (bateria, percussão, percussão vocal e synths)


Direção de Arte e Cenografia: Daniela Thomas e Felipe Tassara

Direção Musical: Maria Beraldo

Arranjos: Maria Beraldo, com colaboração dos músicos e Fernando Seiji Sagawa

Trilha sonora original: Arthur de Faria

Paisagens Sonoras: Os Fita (Abel Duarte e Cainã Bomilcar)

"Design" de Luz: Beto Bruel

Figurino: Cássio Brasil

Coreografia: Marcelo Evelin

"Design" de Som: Tocko Michelazzo

Direção de Palco: Nietzsche

Coordenação de Cenografia: Blue Bird Produções Artísticas

Produção de Cenografia: Mauro Amorim e Patrícia Almeida

Arquitetura de Cenografia: Maurício Zati

Engenharia de Cenografia: Murilo Jarreta

Assistente de Direção: Carol Araújo

Segunda Assistente de Direção e Operadora de Vídeo: Sarah Rogieri

Assistente de Direção Musical: Fernando Seiji Sagawa

Preparação Vocal: Joana Mariz

Edição de Som: Matheus Miguens

Engenheiro Operador de Som: Murilo Gil

Microfonista: Eder Eduardo

Assistente de Iluminação e Operadora de Luz: Sarah Salgado

Assistente de Figurino: Patrícia Sayuri Sato

Estagiária de Figurino: Ju Porto

Camareira: Ariane Sá, Aline Delgado

Costura: Salete Paiva, Nomeia Ribeiro, Tiago Nohara, Valéria Lilian e Enrique Casas

Efeito Chuva: Espirro, Nietzsche

Contrarregras: Dell Jesus, Espirro

Pesquisa de Campo: João Marcelo Iglesias

"Designer" Gráfico: Bruno Senise

Assessoria de Imprensa: Vanessa Cardoso – Fatoria Comunicação

Fotos: Helena Wolfenson

Assessoria jurídica: MCBA – Miessa, Corchs, Barra & Augusto Advogados

Assistente de Produção: Paloma Rodrigues

Produção Executiva: Arlindo Hartz

Coordenação de Produção: Camila Bevilacqua

Direção de Produção: Luís Henrique Luque Daltrozo

Produção: Daltrozo Produções

Agradecimentos: Guilherme Weber, Elcio Nogueira Seixas, Teatro Oficina


 






SERVIÇO:

Temporada: De 15 de fevereiro a 29 de junho de 2025.

Local: Teatro SESI-SP (Centro Cultural FIESP).

Endereço: Avenida Paulista, nº 1313 (em frente ao metrô Trianon-Masp).

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos ingressos: Os ingressos para o espetáculo são GRATUITOS e devem ser reservados pelo “Meu SESI” (https://sesisp.org.br/eventos), às segundas-feiras, a partir das 8 horas, para as apresentações da semana.

Classificação Indicativa: 16 anos.

Duração: 3 horas (sem intervalo).

Acessibilidade: Sessões com Libras e audiodescrição aos sábados e domingos.

Gênero: TEATRO Documental


 


 

         Consegui assistir a esta montagem, que ficará, para sempre, fixada na minha memória, na última maratona teatral que pratiquei em São Paulo, em março passado, e, mesmo que os 8 espetáculos a que tive a oportunidade de assistir tenham sido ótimos, considero este o melhor da safra e vou querer revê-lo, motivo pelo qual O RECOMENDO, COMO IM-PER-DÍ-VEL.


 

 

FOTOS: HELENA WOLFENSON

 

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro! 



















































































































Nenhum comentário:

Postar um comentário