domingo, 21 de julho de 2019


ERA MEDEIA

 (O QUE ERA PARA SER,
MAS ACABOU NÃO SENDO,
EMBORA QUASE FOSSE.)






Na minha eterna luta contra a falta de tempo, mas com vontade de escrever sobre todos os espetáculos de que gosto, vejo-me, agora, fazendo uso de um tempinho “fabricado”, para tecer alguns comentários, ainda que poucos, mas com muita vontade, contrariando uma marca pessoal de aprofundamento nas minhas críticas, sobre uma peça que me agradou pela ideia do argumento, pelo texto bem escrito e pela boa interpretação do casal de atores, principalmente. Chama-se “ERA MEDEIA”, e está em cartaz, encerrando a temporada, curta, no dia 28 de julho (2019), na Sala Multiuso do SESC COPACABANA (VER SERVIÇO.).









SINOPSE:

A peça se passa durante os ensaios de uma adaptação da tragédia “Medeia”, de Eurípedes, pano de fundo para uma discussão, que passa pelo machismo, o abuso de poder, a exposição da vida privada e a importância do processo na criação artística.

Em cena, estão EDUARDO HOFFMANN (PEDRO LOBO) e ISABELLE NASSAR (VERÕNICA ALBUQUERQUE)

No fundo, trata-se de uma inaceitável exposição da relação pessoal entre um diretor “contemporâneo” e uma atriz, durante o ensaio aberto, à revelia desta.






            A ética está em discussão. Como utilizar seus valores éticos e saber se eles são verdadeiros e corretos? Até que ponto vai a vaidade humana, na pele de um diretor de TEATRO, e seu desejo de medir força, impor-se a um ser mais fragilizado? Três itens abomináveis reunidos num só roteiro: machismo, abuso de poder e exposição da vida privada.




            A falta de ética, o desrespeito de um ser humano por outro já começa quando o diretor convida amigos e conhecidos, para assistirem a um ensaio aberto de uma peça, a tragédia “Medeia”, numa adaptação “contemporânea”, em forma de um monólogo, sem, ao menos, ter avisado à atriz, pegando-a de surpresa e, obviamente, provocando seu descontentamento, sua desaprovação, que darão margem a tantas discussões e percalços que acontecem durante aquilo que deveria ser um simples ensaio, mas que acaba se tornando uma “lavagem de roupa suja”, provocada, de forma cruel, pelo diretor, aproveitando-se da sua condição de macho e superior, hierarquicamente, naquele processo.




PEDRO LOBO é o que se pode chamar de um “diretor excêntrico”, que, para mim, merece outros adjetivos, impublicáveis. Infelizmente, há alguns, em atividade, no TEATRO BRASILEIRO, incensados por algumas pessoas, que não devem entender nada do que seus grandes "mitos" desejam expressar, mas não querem, esses espectadores, receber a pecha de ignorantes e/ou conservadores, se é que haja algo a ser expresso e entendido, nas montagens loucas, feitas por esse "gênios", só para eles mesmos e suas "turminhas". Comigo não se criam.




VERÔNICA ALBUQUERQUE, uma atriz insegura, afastada dos palcos há algum tempo, vindo de uma carreira de modelo, porém consciente de seu ofício e não se adapta à proposta louca, bizarra, estapafúrdia de seu diretor, com quem já tivera um relacionamento íntimo, no passado, que acabou por gerar um filho, abortado. VERÔNICA não consegue – e isso é muito compreensível – enterrar esse fantasma.




“O público é convidado a assistir a um ensaio aberto do espetáculo, no qual estão trabalhando juntos. Aos poucos, o passado deles vem à tona, e os espectadores passam a ser testemunhas de um acerto de contas íntimo entre os personagens.” (Retirado do “release”, enviado por RACHEL ALMEIDA – RACCA COMUNICAÇÃO).




Ainda extraído do referido “release”: “A escolha de ‘Medeia’, como o texto que os personagens ensaiam, tem um propósito: é um ícone da representação de uma mulher que rompe com os padrões sociais estabelecidos. Apesar de tomar atitudes cruéis, ela é uma personagem que não fica à mercê das decisões e escolhas dos homens à sua volta”, explica o ator e diretor EDUARDO HOFFMANN. “E aí é que está a contradição. O diretor está montando ‘Medeia’ justamente para enaltecer a força dessa mulher, que rompe com os padrões repressivos e, no entanto, o modo como ele lida com a atriz (que já foi mulher dele) é extremamente repressor e abusivo”, acrescenta.





            Ainda extraído do “release”: “A partir da exposição da vida íntima do ex-casal, ‘ERA MEDEIA’ também faz uma reflexão sobre por que o público de hoje parece se interessar mais pelos bastidores da criação do que pela própria criação”. E acrescenta o diretor: “O fato de estarmos vivendo uma realidade social e política extremamente espetacularizada contribui para que o caráter ficcional da arte esteja, cada vez mais, com sua potência diminuída. E já faz bastante tempo que os ‘reality shows’ tornaram as pessoas personagens mais interessantes, aos olhos do público, do que os personagens criados nas obras de ficção. É uma extrema necessidade de ser arrebatado pelo REAL, até porque o cotidiano atual está extremamente teatralizado”.




            Em tempos bicudos, de perseguição á classe artística, principalmente aos que fazem “balbúrdia” no TEATRO, e sem patrocínio, é de se louvar que o espetáculo seja mais uma prova de resistência dos artistas e amor à arte e à profissão. Com parcos recursos financeiros, os envolvidos no projeto conseguiram montar uma peça simples, descomplicado e de excelente qualidade.



           
            Gostei muito do texto, inspirado num argumento de MARINA MONTEIRO, o qual, além de cumprir com a sua função, de levar o público a discutir e refletir sobre temas tão delicados e importantes, é, ao mesmo tempo, bem humorado, bem escrito, inteligente e se aproveita, o autor, o próprio EDUARDO HOFFMAN, que, além de ser um dos protagonistas, também dirige, de forma correta, a peça (Cobra o escanteio, corre para cabecear e marcar o gol, pega a bola, no fundo das redes, e a leva ao centro do campo, para o reinício do jogo.), para fazer uma crítica muito interessante a um certo tipo de “diretor cabeça”, que não fazem muito a minha. Ou melhor, o “muito” está sobrando.




            A dupla, EDUARDO e ISABELLE atua de forma bem entrosada, ambos com ótimas interpretações, bem naturais e convincentes, generosamente lançando a bola um para o outro. Ambos têm seus momentos de destaque e não os desperdiçam.



           
            Os elementos técnicos funcionam em harmonia: a concepção cenográfica, de CÉSAR AUGUSTO e EDUARDO HOFFMAN; a iluminação, de RENATO MACHADO; o figurino, de TIAGO RIBEIRO, bem interessante o da atriz, que usa uma veste com a qual ela dialoga, fazendo com que a peça de roupa assuma várias formas; e a trilha sonora, de JOÃO MELLO e GABRIEL REIS.




            A boa direção contou com a luxuosa supervisão de CÉSAR AUGUSTO, e não posso deixar de mencionar a importância de GUILHERME NANNI, corajosamente, abraçando o projeto e produzindo, heroicamente, a montagem.







FICHA TÉCNICA:


Texto e Direção: Eduardo Hoffmann
Supervisão Artística: César Augusto
Argumento: Marina Monteiro

Elenco: Isabelle Nassar e Eduardo Hoffmann

Concepção Cenográfica: Cesar Augusto e Eduardo Hoffmann
Figurino: Tiago Ribeiro
Costura: Ateliê das Meninas (Maria e Zezé)
Produção de adereços: Patrícia Ramos
Iluminação: Renato Machado
Trilha Sonora: João Mello e Gabriel Reis
Arte gráfica e Identidade Visual: Márcio de Andrade
Produção de Vídeos: Celavi Filmes (Eduardo Paganini e Jamal Dizete)
Assessoria de imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Fotografia: Renato Mangolin

Produção: Guilherme Nanni




           






SERVIÇO:

Temporada: De 11 a 28 de julho de 2019. 
Local: Sesc Copacabana / Sala Multiuso
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2547-0156
Dias e Horários:  De 5ª feira a domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência).
Duração: 60 minutos.
Lotação: 80 pessoas.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Comédia Dramática







            Infelizmente, as temporadas de TEATRO estão “encolhendo”, a cada dia, privando as pessoas de se deliciarem com muitos espetáculos em cartaz, como é o caso deste. Os profissionais ensaiam, trabalham pesado, por meses, para fazerem 12 apresentações, condensadas em três semanas. Considero isso um grande absurdo e falta de respeito, para com os artistas. Mas é, infelizmente, o quadro a que reduziram o TEATRO no Brasil, principalmente, no Rio de Janeiro. A esperança é de que se transfiram para um outro Teatro, encarando uma segunda temporada, pelo que torço muito.




            Recomendo bastante a peça!!!






E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, 
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!











(FOTOS: RENATO MANGOLIN.)


































































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