quinta-feira, 10 de novembro de 2016


UM ENSAIO SOBRE AMARO

  

(UM PROCESSO,

AINDA EM CONSTRUÇÃO,

QUE CONSIDERO PRONTO.

ou

“MINHA MELANCOLIA

ME FAZ COMPANHIA”.)

 

 
 


Começar a semana, numa segunda-feira, assistindo a “UM ENSAIO PARA AMARO”, no CCBB (Rio de Janeiro) – Teatro II, com EDUARDO RIOS, é um bom presságio, sinal de que a semana teatral promete grandes surpresas e emoções. Assim, iniciei uma postagem, numa rede social, tão logo cheguei a casa, depois de ter assistido ao espetáculo, motivo desta modesta crítica.

 

 

 

 
SINOPSE:
 
“UM ENSAIO SOBRE AMARO” é um ensaio sobre a tristeza, que se desenvolve no exato instante em que um ator, que nega os seus próprios sentimentos, se vê obrigado a reensaiar o seu personagem mais triste: AMARO.
O ator e o personagem entram, juntos, em cena, para travar um embate entre a melancolia e a euforia, a lealdade e o desapego, a aceitação e a necessidade de mudar.
O ator, EDUARDO RIOS, usa, como recursos principais, um forte trabalho físico e um dinâmico tempo cômico para, sozinho, dar vida a um inquieto e filosófico dilema entre as facetas que habitam um mesmo ser.
Brincando entre linguagens teatrais extremas, o espetáculo aposta na mescla entre dança, teatro de máscaras, manipulação de objetos, música e ilusionismo, para convidar o público a uma conversa com a tristeza em tempos em que ela não é mais ouvida.
 

 



Por mais paradoxal que possa parecer, existe beleza na tristeza. Mais que isso, poesia. É possível que se construa uma ode à tristeza, explorando caminhos nunca, antes, percorridos, quando ela é o tema. É o que nos provam YAEL KARAVAN e EDUARDO RIOS, criadores e idealizadores do projeto. Ela também dirige o espetáculo, enquanto ele se doa, por inteiro, na representação de dois personagens, que se fundem num só: um ator (ZACK) e AMARO, um de seus personagens.
            Com relação ao processo de construção da montagem, considerado, pela produção e pelo ator, “ainda em processo”, embora eu já o considere pronto, diz EDUARDO: “‘UM ENSAIO SOBRE AMARO é um espetáculo solo que construí a partir de um encontro com a artista YAEL KARAVAN, no Rio de Janeiro. Nós já nos conhecíamos e a convidei para explorar um tema que já perdurava em minha cabeça havia três anos: a tristeza. Nessa época, eu ainda não imaginava que, desse encontro, nasceria um espetáculo. Mas eu sentia uma necessidade grande de me aprofundar mais no universo do teatro físico, que sempre foi a base da minha formação artística. Levei alguns materiais, que eu havia colecionado em torno do tema, como músicas, cores, roupas, imagens, textos, arquivos familiares e uma máscara, que eu tinha confeccionado, sob a orientação do Grupo Moiatará, a qual veio a se tornar um ponto chave da criação e da peça.  Após uma semana, percebemos que já tínhamos o esboço de um espetáculo, mas, devido aos limites da distância física (YAEL mora em Brighton, na Inglaterra), foi necessário aguardar dois anos, até que eu pudesse reencontrá-la, para criar a peça em mais duas semanas”.
E continua: “O tema da tristeza começou a nascer, em mim, em 2011, enquanto eu estudava TEATRO, em Londres, e caminhava, pelas ruas, tentando compreender aquela melancolia que se instalava em mim, de uma maneira nunca, antes, sentida. Com o passar do tempo, fui me habituando a ela e, mais do que isso, comecei a me encantar por ela. A melancolia se mostrou uma grande companheira, que me tornava criativo, reflexivo e mais conhecedor de mim mesmo. Numa sociedade em que a tristeza é abominada, decidi adotá-la e torná-la tema do meu espetáculo solo. Busquei referências da minha própria vida, como o meu próprio avô, Amaro Edno Rios, que carregava um divertido e sarcástico ar melancólico em seu semblante. E, então, criei dois personagens: ZACK, baseado no meu lado que não aceitava a tristeza, e AMARO, baseado na tristeza que me estagnava. O encontro entre os dois personagens me permite chegar, durante o espetáculo, no EDUARDO que sou hoje: o que aceita a tristeza e dialoga com ela, para entender mais sobre si mesmo sem se estagnar.
 
 
 
 
            Depois dessas belíssimas palavras do ator/criador, qualquer pessoa, com o mínimo de sensibilidade e paixão pelo TEATRO, certamente, sentirá vontade de correr ao Teatro II, do Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro), para ser apresentado a essa obra-prima de uma arte multifacetada, mais do que, somente, TEATRO.
Aqui estão palavras da diretora da peça, material, como o anterior, retirado do “release”, que me chegou às mãos, via assessoria de imprensa (LUCIANA DUQUE): “Quando EDUARDO me convidou para dirigir o seu solo, ele me mostrou uma bela máscara, que tinha feito. Conhecendo-o bastante, eu não poderia imaginá-lo por trás de uma máscara o espetáculo inteiro. Então, começamos a pesquisar várias maneiras de criar a peça, aproveitando seus diversos talentos. Isso se deu por meio de trabalhos com teatro físico, comédia, música e objetos. O resultado foi um leque de ferramentas, composto, de maneira única, para os múltiplos talentos de EDUARDO. Foi um prazer descobrirmos, juntos, esse material e um desafio trazer à tona todos esses elementos no que veio a se tornar uma história muito especial, feita por um completo arco-íris de cores e emoções” 
            Então? Cresceu a vontade de assistir ao espetáculo, não é? Não se permita, portanto, perdê-lo!
            É um pouco difícil analisar o espetáculo, tecnicamente falando, porque o que rola de emoção, da primeira à ultima cena, roubou-me um pouco do referencial crítico, porém, em compensação, me fez embarcar numa linda viagem, tendo a tristeza como companheira de assento.
 
 
 
 
            O texto, propriamente, verbal, que pouco aparece em cena, não exerce grande influência no monólogo. O que o seu conteúdo desperta e se amplia é o que há de mais importante nesta montagem. Uma frase do personagem ator, ZACK, dita, ao telefone, repetidas vezes, mudando, apenas, o adjetivo final, cada vez mais “bombástico” - "Gerald, eu tenho um novo personagem pra você. Ele é SENSACIONAL!"é responsável por todo um texto acessório, não-verbal. Ela representa a tentativa de não aceitação da tristeza, personificada em AMARO, personagem do qual ZACK deseja se afastar definitivamente, mas se vê obrigado a fazê-lo, mais uma vez, por dinheiro, ou seja, para garantir, por meio de um trabalho, a sua subsistência, na condição de pessoa. Trata-se daquela condição em que muitos artistas se veem, durante sua trajetória profissional, vendo-se obrigados a aceitar trabalhos que não lhes satisfazem. Aliás, isso ocorre em qualquer atividade profissional. Só que, aqui, metaforicamente, o não querer representar AMARO significa não querer mais ser triste.
            São várias as tentativas, todas infrutíferas, de “enterrar” AMARO, até o ponto de ZACK aceitar a tristeza – mais que isso, a melancolia – como companheira, convivendo com ela, numa zona de conforto, que nos contagia. 
 
 


            A atuação de EDUARDO RIOS é algo comovente. Não se pode chamá-lo, apenas, de ator, porque ele é um artista completo, com um total controle do corpo (até o ato de se vestir, em cena, é coreografado) e das expressões faciais, da mesma forma como canta bem e dança com muito desembaraço e flexibilidade. Revelou-se, também, pelo menos para mim, um grande mímico e ilusionista. Sem falar nas suas qualidades como multimusicista e no seu imenso carisma. E ele não precisou de alguém para lhe indicar uma direção de movimento; o próprio se dirigiu.
            O que se vê em cena é fruto de muito tempo de pesquisa e dedicação a uma ideia, a um projeto que, por mais simples e “despretensioso” que possa parecer, requer talento de dois grandes artistas: EDUARDO RIOS e YAEL KARAVAN, esta com um trabalho muito feliz de direção.
            A simplicidade do cenário, ainda que criativo, que o ator altera, durante a peça, cuja autoria não aparece na ficha técnica, mas, talvez, possa ser atribuída a JÚLIA FONTES, a qual, lá, está como responsável pela direção de arte, ganha relevo, quando bem iluminado pelo desenho de luz de RODRIGO MACIEL, que cria alguns lindos efeitos de sombra.
 





 
 

            Embora, também, não conste, na ficha técnica, o nome de um(a) responsável pelo figurino, totalmente em conformidade com o espetáculo, soube que sua concepção (?) coube a NATASCHA FALCÃO, que consta, na ficha, como responsável pela assistência artística.
            A máscara do personagem AMARO é uma obra de arte, confeccionada por EDUARDO RIOS, sob a supervisão do GRUPO MOITARÁ. Quanta expressividade! Esta, associada aos gestos com a cabeça e ao comportamento corporal do ator, fala mais do que qualquer palavra.
            Há, ainda, no espetáculo, uma bela trilha sonora, que conduz as cenas, mormente naquilo que podemos chamar de segundo momento da peça, quando o silêncio das palavras é quase total, cedendo lugar à representação gestual. Embora também não esteja presente na ficha técnica, tudo indica que seja da responsabilidade e criação do próprio EDUARDO RIOS. Tem a sua marca.  


           
 

 
FICHA TÉCNICA:
Criação: Eduardo Rios e Yael Karavan
Direção: Yael Karavan
Atuação: Eduardo Rios
Direção de Arte: Júlia Fontes
Iluminação: Rodrigo Maciel
Adereços: Alexandre Guimarães
Assistência Artística: Natascha Falcão
Máscara: Grupo Moitará e Eduardo Rios
Diretor Assistente: Thomás Aquino
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Assessoria de Imprensa: Luciana Duque
 

 


 
SERVIÇO:
Temporada: De 24 de outubro a 21 de novembro de 2016.
Local: CCBB RJ – Teatro II
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro 
Tel: (21) 3808-2020 
Dias e Horários: 2ªs e 4ªs feiras, às 19:30h
Valor do Ingresso: R$20,00 (inteira); R$10,00 (clientes e funcionários do BB, estudantes e maiores de 60 anos) 
Horário de Funcionamento da Bilheteria: de 4ª a 2ª feira, das 9h às 21h
Vendas online: www.ingressorapido.com.br
Duração: 50min
Capacidade: 155 lugares
Classificação Indicativa: 12 anos
Acesso para portadores de necessidades especiais. 
Para mais informações, acesse: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/
 




 

O espetáculo é fascinante, e nem os que já conhecem o excelente trabalho de EDUARDO RIOS fazem ideia da grandiosidade desta sua experiência num espetáculo-solo. 

Trabalho lindo e emocionante, indescritível, que eu recomendo, às segundas e quartas-feiras, às 19h30min, somente até o dia 21 de novembro.


SURPREENDENTE e IMPERDÍVEL!!!

 
 

(FOTOS: ANA CARVALHO)
 
 
 
  

(Galeria particular: Eu e Eduardo Rios - foto: Luciana Duque.)


 

 

 

 

 
 

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