quarta-feira, 21 de agosto de 2013


O JARDIM SECRETO   -   SEM MUROS E NEM TÃO SECRETO ASSIM

 
            O público de teatro tem de se renovar sempre.  Em sua maioria, atualmente, é formado de pessoas mais velhas, muitas, até, bastante idosas.  É necessário que os mais jovens também troquem outras formas de lazer por um bom espetáculo teatral.  E podem ir com suas próprias pernas. 

Com relação às crianças, estas dependem da boa vontade e disponibilidade dos pais.  A maioria, quando vai pela primeira vez, fica encantada por aquele tipo de entretenimento e se tornam amantes da arte.  Isso, porém, só ocorre quando lhes é oferecido um espetáculo de qualidade e que, de preferência, agrade também aos pais, os quais sentirão o desejo de alimentar aquela nova descoberta. 

Infelizmente, com raras exceções, a grande maioria dos espetáculos infantis em cartaz no Rio de Janeiro, a despeito das boas intenções de produtores, diretores e atores, é de péssima qualidade, funcionando com um cartão de visitas às avessas, para quem é neófito na área, e servem para desestimular pais e filhos a outras incursões ao teatro.  São, na verdade, tentativas de teatro, com “t” minúsculo.

É uma delícia e um prazer desmedido ver um espetáculo grandioso, projeto no qual foram reunidos profissionais do maior gabarito, com o objetivo de produzir uma obra de arte que mereça ser chamada de TEATRO, com todas as letras maiúsculas.

 
         Lindo cenário de Analu Prestes

Foi o que vi, no último domingo, no Teatro II do Centro Cultural do Brasil.  A peça se chama O JARDIM SECRETO, um clássico da literatura infantil, surgido da sensibilidade da inglesa Frances Hodgson Burnett, que recebeu uma adaptação por parte de uma grande autora, muito premiada na área do teatro infantil, embora já venha se afirmando, também como uma grande dramaturga “para adultos”: Renata Mizrahi, que contou com a colaboração de Isabel Falcão, Luísa Arraes e Mariah Schwartz.  Esta dividiu a direção com Rafaela Amado, a qual vem se mostrando, nos últimos tempos, uma excelente diretora, para crianças e adultos.

Esta montagem, que ficará em cartaz até 13 de outubro, aos sábados e domingos, sempre às 16h, como deve ser um bom texto de teatro infantil, proporciona duas visões paralelas: os pequenos fazem a leitura que sua capacidade de abstração lhes permite alcançar e se encantam com o visual exposto no palco e com as “gracinhas” do texto e dos atores.  Os que os acompanham, adultos, obviamente, conseguem, facilmente, já que o texto é muito simples (tornar algo complexo não faz parte da cartilha de Renata Mizhari), entender a grande metáfora do “jardim secreto” que há dentro de cada um ou que pode vir a ser construído, “dependendo de nós”.

            Num rápido resumo, a peça conta a história de Miranda, uma menina que vai passar as férias de verão, pela primeira vez, na casa de seu tio Heitor.  Assim que chega, é recepcionada por Gertrudes, a governanta autoritária, que a proíbe de brincar, correr e falar alto; ou seja, não lhe permite ser criança. Cansada de tantas proibições, ela conhece Nicolau, sobrinho de Gertrudes e jardineiro da casa.  Ele fala à menina da existência de um jardim secreto, que fica trancado nos fundos da propriedade, desde que a tia de Miranda, esposa de seu tio Heitor e mãe do seu primo Gregório, morreu.

            Juntos, Miranda, Nicolau e Gregório aprontam muitas peripécias, para encontrar a chave que os levaria ao tal jardim secreto e, depois da experiência de conhecê-lo, é Miranda quem promove as mais inesperadas mudanças na vida daquela família, principalmente no que diz respeito ao primo Gregório, ao tio Heitor e à autoritária e antipática Gertrudes.

Trata-se de um espetáculo lindo, como há muito tempo não se vê nos palcos cariocas, direcionado a crianças (e a adultos também) e merece ser visto, sem qualquer restrição.  Como ocorreu na primeira semana, os ingressos se esgotam muito rapidamente.  É preciso adquiri-los com bastante antecedência, ao inacreditável valor de R$6,00 (inteira) e R$3,00 ( meia entrada).

 

                                                                    
                                                                          Camilla Amado

É muito difícil apontar destaques nesse espetáculo:

- O texto original dispensa qualquer comentário.

- A adaptação, como já foi dito, é perfeita.

- A direção, a quatro mãos, é brilhante.

- O elenco é, simplesmente, de fazer perder o fôlego:

CAMILLA AMADO – completando 60 anos de excelentes serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO, interpreta uma Gertrudes muito convincente, que facilmente arrancará vaias das crianças por suas atitudes hostis às personagens infantis da peça.  Para ela, deve ser uma emoção muito grande ser dirigida, pela primeira vez, pela filha Rafaela.  Isso pode ser percebido por quem a conhece mais profundamente.

ELISA PINHEIRO – é a Miranda.  Elisa é uma atriz de grandes recursos de representação, usando e abusando, principalmente, das caras e bocas e de sua voz.  Grande trabalho.

ARLINDO LOPES – emociona a plateia, com seu jeito doce de rapaz-menino e com o “phisique du rôle” para o papel.  A evolução do seu personagem, desde que descoberto pela prima (ele que vivia isolado, num quarto, com uma suposta “doença”) até abandonar, com muita dificuldade, a cama e chegar a correr e a explorar todo o jardim, e a própria casa, é fascinante.

JOÃO VELHO – é o Nicolau, o jardineiro, sobrinho de Gertrudes.  É o  personagem mais próximo do comportamento de uma criança normal, embora, às vezes, se reprima, com medo dos castigos da própria tia e do severo Sr. Heitor.  João parece estar muito à vontade no papel.  Passa-nos a impressão de que está se divertindo muito em cena, que o seu Joãozinho encarnou no corpo do João (velho) – perdão pelo trocadilho.

- Ainda completam o elenco:

LUIZ HENRIQUE NOGUEIRA, muito mais agradável ao público de qualquer idade, na pela do personagem A SOFÁ.  Isso mesmo, no feminino.  Também interpreta o tio Heitor.  Está muito bem nos dois papéis.

GRASIELA MÜLLER, no papel de Cadeira e tocando acordeão, também executa sua tarefa com bastante competência.

 


                                                              Arlindo Lopes

Para completar o time de craques reunidos num só espetáculo:

Cenário (lindíssimo) – ANALU PRESTES

Figurino – NEY MADEIRA, PATI FAEDO e DANI VIDAL

Direção de Produção – GUSTAVO NUNES

Iluminação – LUIZ PAULO NENEN

Vídeos – PAOLA BARRETO, LUCAS CANAVARRO e ALEXANDRE ANTUNES

Trilha Sonora original – MARCELO NEVES

Direção de Movimento – Rafaela Amado e Mariana Baltar

 


                                                      Elisa Pinheiro

Procure, dentro de você mesmo, a chave que dá acesso a esse JARDIM SECRETO e passe a viver nele.  Sua vida nunca mais será a mesma.

 

 


             

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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