segunda-feira, 2 de junho de 2025

“O SOM QUE VEM DE DENTRO”

ou

(O ENCONTRO DE DUAS GERAÇÕES DE QUEM SABE FAZER TEATRO.)

ou

(UMA MONTAGEM EMOCIONANTE.)


 

 

         Ir ao um teatro com uma (boa) expectativa e deixá-lo com a certeza de que assistiu a um excelente espetáculo não tem preço, um dos melhores em cartaz, hoje, no Rio de Janeiro. Foi o que aconteceu comigo, no último sábado, dia 24 de maio de 2025, quando fui, a convite da produção, assistir a “O SOM QUE VEM DE DENTRO”, um grande sucesso da Broadway que aportou no Rio de Janeiro, trazendo duas gerações de excelentes atores, GLAUCIA RODRIGUES (40 anos de TEATRO) e ANDRÉ CELANTE (cerca de 15), sob a direção de JOÃO FONSECA.



         Para iniciar, já RECOMENDO O ESPETÁCULO, que está em cartaz no Teatro Glaucio Gill, de facílimo acesso, ao lado de uma estação de metrô (VER SERVIÇO). A peça, com o título original de “The Sound Inside”, é bastante recente e foi escrita por ADAM RAPP, dramaturgo norte-americano, contemporâneo, autor de quase 30 textos teatrais, não inédito no Brasil, dado que uma de suas peças, O Inverno da Luz Vermelha”, finalista do “Prêmio Pulitzer”, em 2006, teve uma montagem brasileira, trazendo a grande atriz Marjorie Estiano como protagonista, sob a direção de Monique Gardenberg. Creio que tenha sido a única, até o momento, se não me equivoco, embora eu gostasse de ver outros textos seus encenados entre nós.



A peça estreou no Williamstown Theatre Festival, em 2018, e, depois, fez uma temporada de grande sucesso, na Broadway, em 2019 / 2020, tendo recebido 6 indicações ao “Tony Award”, incluindo a de “Melhor Peça”, ganhando o prêmio de “Melhor Atriz”. Também recebeu indicações e distinções no “Prêmio Drama Desk” e no “Círculo de Críticos Externos”.   

 

 

 

SINOPSE:

A história de O SOM QUE VEM DE DENTRO” gira em torno da relação de Bella Lee Baird, (GLAUCIA RODRIGUES), uma professora de Literatura na Universidade de Yale, que se vê diante de um câncer em estágio avançado, e Christopher Dunn (ANDRÉ CELANT), um jovem escritor com um espírito inquieto e desajustado.

A cada palavra, a cada gesto, a peça expõe as dores e as esperanças desses dois personagens em uma luta constante contra suas realidades.

Ao mesmo tempo, ela revela o que há de mais profundo na existência humana: a busca por significado, por conexão e pela resposta a perguntas que, por vezes, não podem ser respondidas.


 


         O espetáculo reúne os ingredientes que levam uma montagem teatral a receber, de um crítico exigente, porém não cruel (SÓ ESCREVO QUANDO GOSTO DO ESPETÁCULO. SE NÃO ME AGRADA, ESQUEÇO-ME DE QUE ASSISTI A ELE.) como eu, a classificação de “ÓTIMO”. Carrega um excelente texto, que caiu nas mãos de um super competente diretor e é interpretado por uma dupla de magníficos atores, os quais não medem esforços para darem o melhor de si. E o conseguem.



         Considero de muito bom gosto e bastante coragem a ideia de montagem desta peça, um inquietante “thriller” de suspense, capaz de atrair a atenção do espectador logo nas primeiras falas da personagem Bella e o prende até o desfecho, imprevisível que é. “O SOM QUE VEM DE DENTRO” é aclamado mundialmente e obteve imenso sucesso na Broadway, expondo uma “trama de suspense, intensa e cheia de nuances, uma imersão no universo de dois personagens que, mesmo distintos, se encontram na fragilidade humana, diante da vida e da morte, abordando temas como a luta contra o câncer e o suicídio”. A trama fala de temas pesados, considerados, até mesmo, tabus, porém de uma forma muito natural e, até certo ponto, um tanto “poética”, a ponto de a protagonista conseguir convencer o jovem aluno a ajudá-la naquilo que seria uma “autoeutanásia” (Até a página 5.) A história vai evoluindo de uma certa forma a levar o espectador por um caminho que não vai dar, exatamente, no lugar esperado por ele.



         Considero bastante original e assaz criativa a ideia do autor de colocar, lado a lado, ou frente a frente, dois personagens tão díspares e, ao mesmo tempo unidos pela fragilidade humana diante da vida e da morte, numa trama de suspense intensa e cheia de nuances, uma imersão no cenário de duas criaturas que, mesmo distintas, se encontram no final de uma mesma trilha.



         Quando não conhecemos o texto original, ficamos meio sem parâmetros para avaliar uma tradução, entretanto, conhecendo o nível de competência de CLARA CARVALHO, nessa seara, só posso dizer que a tradução e a devida adaptação do texto original são de extremíssima qualidade. Achei muito interessante e pertinente a ideia de os dois personagens fazerem alusão a obras de grandes autores brasileiros, apesar de a história se passar em outro país, contudo não podemos nos esquecer de que Bella é uma professora de Literatura, conhecendo, portanto, e transmitindo, a seus discípulos, grandes obras da literatura universal. Uma bela homenagem aos escritores nacionais.



         O texto joga sobre a mesa fatos e detalhes que nos levam a refletir sobre a essência da vida e da morte, sobre como devemos encarar essas duas realidades, as quais não podemos ignorar e das quais não nos é possível fugir. Propõe ADAM RAPP uma meditação sobre o viver e o deixar de existir, assim como sobre “as escolhas que fazemos e as que nos são impostas”. Cabe ao espectador refletir sobre a devastação que o câncer faz na vida de alguém, bem como a depressão que dele advém, e também aborda “a ideia do suicídio e o vazio existencial de um mundo que, muitas vezes, parece ser implacável, provocando o espectador a refletir sobre suas próprias angústias e medos”.



         O autor do texto se esmera em ir mostrando, à medida que os encontros entre os dois personagens se tornam mais frequentes e íntimos, no escritório de Bella, na universidade, ou em sua casa, como cada um deles se deixa revelar, com suas fraquezas, incertezas e medos, tudo isso através de um jogo teatral originalíssimo e muito bem construído, abordando “assuntos tão delicados, como o sofrimento que a falta de perspectiva no tratamento de uma doença grave pode causar, assim como o sofrimento que o jovem passa num mundo tão difícil de se enquadrar. Tudo isso feito com uma carga de tensão e mistério que surpreendem o espectador do início ao fim.”.



         Enquanto a professora Bella se coloca como uma pessoa muito corajosa, moderna e empoderada, uma mulher que escolhe uma vida fugindo ao tradicional “casamento e filhos”, deixando, àqueles que se incomodam com isso, um “motivo” para ser vista como homossexual, o aluno Christopher “é o retrato de um jovem que, em sua obsessão literária – em especial por “Crime e Castigo”, de Dostoiévski - e seus traumas, se vê perdido em um mundo que não sabe como acolher sua autenticidade”. Bella o considera um prodígio, pór conta de um romance que escreveu, mas ele, pouco confiante em seu talento literáruio, pensa que a opinião da mestra é só para agradá-lo.



         Segundo JOÃO FONSECA, diretor desta montagem, O SOM QUE VEM DE DENTRO” não é apenas uma peça sobre câncer ou suicídio. É uma reflexão sobre as questões universais da existência, da identidade e da necessidade humana de se conectar com o outro. A obra é também um grito de resistência, uma lembrança de que a arte, em todas as suas formas, tem o poder de nos transformar e de nos fazer confrontar as questões mais profundas e urgentes de nossa humanidade. E nos desafia, nos emociona e nos faz pensar sobre o que realmente significa viver.”. Concordo, em gênero e número e grau, com o JOÃO, um diretor eclético, que “joga na defesa, no meio e no ataque”. Seu talento está presente no JOÃO FONSECA “dos musicais, das comédias e dos dramas”, com a mesma eficiência, bom gosto e criatividade, obtendo magníficos rendimentos, como neste trabalho.



         O destaque maior desta produção recai sobre o brilhante trabalho de GLAUCIA RODRIGUES, uma atriz que se adapta a qualquer papel e sempre dá conta do recado, com bastante maestria, já tendo recebido várias merecidas indicações a prêmios e conquistado muitos. A propósito, seu trabalho, nesta peça, é digno de muitas nomeações a “Melhor Atriz”, com muita possibilidade de conquistar láureas. Ela sabe dosar os sentimentos da personagem e responder à altura ao “assédio” de seu aluno, o que a incomoda, no início, mas desaparece, a partir do momento no qual ela percebe que poderia usá-lo como um vetor para ajudá-la em seu funesto plano de sair de uma zona de nenhum conforto para algo “melhor”.



         Aplaudo muito o trabalho de ANDRÉ CELANT, que faz seu personagem coadjuvante quase se alçar à categoria de protagonista, graças ao seu talento e dedicação neste trabalho. Ambos os atores estão a um serviço mútuo, visando à concretização de uma excelente empreitada.



         Nada de importante a falar sobre os figurinos, de MARIETA SPADA, trajes do cotidiano, bem ajustados aos personagens, porém muito me agradou o cenário – Leia-se NELLO MARRESE. – muito expressivo, marcado por galhos secos ao fundo, simbolizando o outono, estação do envelhecimento, da proximidade com “o inverno da morte”, e a aridez daquelas vidas, mormente a de Bella. E é correta a iluminação, assinada por DANIELA SANCHES.



 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Adam Rapp
Tradução: Clara Carvalho
Direção: João Fonseca

 

Elenco: Glaucia Rodrigues e André Celant

 

Cenário e Adereços: Nello Marrese
Figurino: Marieta Spada
Iluminação: Daniela Sanchez

Assessoria de Imprensa: Carlos Pinho

Fotos: Cláudia Ribeiro

Produção Executiva: Valéria Meirelles
Direção de Produção: Edmundo Lippi
Realização: João Fonseca e Cia Limite 151

Produção: L. W. Produções Artísticas Ltda.

 

 

 

 


SERVIÇO:

Temporada: De 10 de maio a 02 de junho de 2025.
Local: Teatro Glaucio Gill.

Endereço: Praça Cardeal Arcoverde, s/nº - Copacabana, Rio de Janeiro.

Dias e Horários: De sábado a segunda-feira, às 20h.

Valor dos Ingressos: De R$ 20 a R$ 80.

Vendas e mais informações: https://funarj.eleventickets.com/

Duração: 80 minutos.

Classificação Etária: 14 anos.

Lotação: 102 lugares.

Rede social: https://www.instagram.com/osomquevemdedentro/  




         Esta peça é IM-PER-DÍ-VEL. A interpretação de GLAUCIA RODRIGUES é comovente, e o texto é dos melhores a que tive acesso nos últimos tempos. Só isso já seria o suficiente para eu RECOMENDAR O ESPETÁCULO, mas tudo é precioso nesta montagem.

 

 

 

FOTOS: CLÁUDIA RIBEIRO

 

 

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!

 

 

 
















 



























 













































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