“ROCK IN RIO
- 40 ANOS
– O MUSICAL”
ou
Tenho uma
profunda admiração por Roberto Medina, a quem não conheço pessoalmente, um empresário e
publicitário, idealizador do festival “Rock in Rio”, por sua coragem e
determinação. Sem dúvida, o maior empreendedor cultural brasileiro. A primeira edição
do "Rock in Rio", considerado o 7º maior festival de música do mundo, ocorreu entre 11 e 20 de janeiro de 1985, na
antiga "Cidade do Rock", localizada em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, construída num terreno de 250.000m², próximo ao Riocentro.
O festival durou 10 dias, consecutivos, com um total de 1 milhão e 380 mil espectadores.
EU FUUUUI!!! EM TODOS OS DIAS!!!
Devido às chuvas que
castigavam, severamente, a cidade e a um piso que não suportava bem a drenagem,
o público patinava e atolava na lama, porém isso não fazia diminuir a nossa
euforia. A “Cidade do Rock” foi planejada e projetada com uma grande
infraestrutura para atender a quase 1,5 milhão de pessoas (o
equivalente a cinco Woodstocks, que frequentaram o evento.
O festival foi
responsável por convencer gravadoras, empresários musicais e a imprensa, de um
modo geral, de que o "rock" era um mercado rico, ainda a ser explorado, e
também fez o Brasil ser mais incluído em turnês internacionais. Até então,
nosso país só recebia a visita de grandes astros da música mundial muito
raramente, como Frank Sinatra, trazido ao Rio e São Paulo, em 1980
e 1981,
pelo mesmo Medina. O “Rock in Rio” abriu as portas para
que os grandes artistas de todas as partes do mundo desejassem se apresentar
por aqui.
A cada dia, havia “shows”
de 4
a 6 atrações, todas num único palco, motivo para que as atividades
fossem encerradas em plena madrugada, em função do tempo necessário para a
troca de aparelhagens dos artistas. Mas valia muito a pena aguardar as
apresentações de grandes atrações nacionais e internacionais, algumas já
consagradas e outras até em início de carreira; no caso dos brasileiros,
alguns: Barão Vermelho, "Paralamas do Sucesso", Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Rita
Lee, Ivan Lins, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Lulu
Santos, Blitz, Moraes Moreira, Alceu Valença e Kid
Abelha, entre outros nomes. A lista de atrações internacionais era um
sonho e eu sentia vontade de me beliscar, para ter a certeza de que não estava
sonhando, tendo à minha frente, num palco de 5.000m², artistas de fama
internacional, alguns dos meus ídolos, como Queen, Al
Jarreau, James Taylor, George Benson, Rod Stewart e Yes,
por exemplo.
Após o fim
do megaevento, a “Cidade
do Rock” foi demolida, por ordem do, então, governador do estado do Rio
de Janeiro, Leonel Brizola, que foi
incapaz de perceber o ouro, para a cidade, que ele estava jogando no lixo. Não
foi sensível a isso. Depois de um hiato de seis anos, mas graças ao enorme
sucesso do evento original, Roberto Medina nos brindou, em 1991,
com o “Rock in Rio II”,
mantendo as mesmas características do primeiro, com algumas adaptações e
novidades, realizado no estádio de futebol do Maracanã, cujo gramado foi adaptado para
receber o palco e os espectadores (700 mil pessoas, em nove dias de evento),
que também puderam assistir às apresentações das arquibancadas e cadeiras do
estádio. Também lá estava eu. Daquela vez, carregando uma filha adolescente com
mais três amigas.
Houve, então, um hiato maior, de dez anos, para que nos encontrássemos, outra vez, com o festival, o “Rock in Rio III”, no mesmo local onde aconteceu a primeira edição, agora com a construção de uma nova “Cidade do Rock”, com a capacidade para receber 250 mil espectadores por dia. Foi a minha terceira e última incursão no evento, que já começou a assumir uma nova roupagem, abrindo espaço para concertos paralelos aos do palco principal, de música eletrônica e música africana, tudo realizado em tendas. O evento recebeu a legenda de “Por Um Mundo Melhor”. A “Cidade do Rock” construída para o “Rock in Rio III” foi demolida apenas em 2012, para a construção da Vila Olímpica dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016.
O sucesso do “Rock
in Rio”, àquela altura, já dominava o mundo, e Medina partiu para a
realização do evento fora do país: Lisboa, Madrid, reiteradas vezes, e uma única edição, em Las
Vegas, para comemorar os 30 anos do festival. A volta do “Rock
in Rio” à sua cidade de origem só se deu em 2011, a quarta
edição, após dez anos da última. A Prefeitura construiu um novo local
permanente, também chamado de “Cidade do Rock”, bem próximo ao
espaço onde o festival aconteceu pela primeira vez, o que permite uma maior
periodicidade do evento. A mais recente edição do evento, no Rio
de Janeiro, a décima, aconteceu em 2024. Particularmente, a atual
estrutura e a proposta do festival não me agradam muito, mas continuo sendo um
entusiasta do “Rock in Rio”, pelo que ele representa, como uma vitrine cultural do Brasil e sua importância para o mundo do entretenimento, e
acompanho, na medida do possível, a distância, pela televisão, curtindo o que
me interessa e dentro da minha disponibilidade de tempo.
Para
comemorar 40 anos de existência do festival, ele “foi transposto” para um
palco de TEATRO, o que considero ótimo, com uma história de sua
trajetória, ou melhor, como tudo começou, o que é muito bom, num país “sem
memória” e que tem uma boa parte da população valorizando só o que vem
de fora, não enxergando o trabalho e a valorização de brasileiros, como Roberto
Medina.
SINOPSE:
O musical
conta a saga de Roberto Medina,
para erguer a lendária primeira edição do festival, nos anos 1980.
“ROCK IN RIO 40 ANOS – O MUSICAL” se passa
nos últimos meses de 1984 e naqueles primeiros dias no
ano seguinte.
Enquanto o Brasil experimentava uma
série de transformações políticas e sociais, Roberto Medina (RODRIGO
PANDOLFO) comandava uma equipe que perseguia o sonho –
praticamente, impossível – de realizar um “festival de rock de proporções gigantescas”, em um país
ainda fora do grande circuito de “shows” internacionais.
Os obstáculos eram intermináveis: da
negativa de centenas de patrocinadores e artistas até o local onde o evento se
instalou, um terreno pantanoso e em declive, na então inóspita região de Jacarepaguá.
O foco principal da história é
justamente nos bastidores, em uma verdadeira celebração de todos aqueles que
trabalham para fazer um espetáculo acontecer e ficam invisíveis, por trás dos
palcos, mas também, paralelamente, acompanhamos uma história de amor.
Ao contar os caminhos percorridos por Medina e toda a sua equipe, que
tornaram aquele sonho em algo real, palpável, concreto, CHARLES MÖELLER,
autor do texto e responsável pela direção geral, homenageia os
trabalhadores que doam as suas vidas para que o “show” aconteça.
O espetáculo é fruto de uma profícua
parceria entre os consagrados diretores e realizadores CHARLES MÖELLER e
CLAUDIO BOTELHO, considerados os “Reis
dos Musicais”, com o empresário Roberto
Medina, iniciada nos últimos anos, resultando em três
espetáculos, que foram apresentados durante as duas últimas edições do “Rock in Rio” e na estreia
do festival “The Town”, uma espécie de “Rock in Rio” paulista, cujo “pai” também é Medina:
“Uirapuru” (2022), “The Town, O Musical” (2023)
e “Sonhos, Lama e Rock’n’roll” (2024),
os quais ocuparam espaços especialmente construídos para as montagens de TEATRO
dentro dos festivais.
Muita gente não conhece o longo e
acidentado caminho percorrido por Roberto
Medina, para a realização de seu grande sonho. Daí, a ideia de focar
nos bastidores e não na realização dos múltiplos e variados “shows”, uma vez que estes já estão,
fartamente, documentados e podem ser acessados por qualquer um, a qualquer
momento, principalmente pelos mais jovens. É muito importante lembrar que se
trata de uma produção 100%
brasileira, que EU RECOMENDO, COM MUITO PRAZER E EMPENHO, e que me
faz reforçar o meu pensamento de que não devemos nada aos espetáculos da “Meca
dos Musicais”, a Broadway, em Nova York, e West End, em Londres. É o que,
realmente, sinto, ao ver muitas das grandes produções nacionais, com esta. Já
há muito tempo, sou da opinião de que tínhamos artistas formidáveis, para o TEATRO
MUSICAL, faltando-nos, porém, recursos técnicos e, principalmente,
financeiros, contudo, de cerca de pouco mais de uma década, um pouco mais, talvez,
passamos a contar com patrocínios e apoios de peso, graças à Lei
Rouanet - sobre a qual seus ignorantes críticos de plantão nada sabem -,
o que nos permite atingir a perfeição, com produções que são motivo de orgulho para
os brasileiros. Sei que comigo só poderão concordar os que já tiveram a graça
de poder assistir a musicais nos Estados Unidos e na Inglaterra,
os dois maiores polos de produção de musicais (O Brasil vem em terceiro lugar.), e que apenas poderão achar que é um exagero e um ataque de ufanismo da minha
parte os que não tiveram, ainda, tal oportunidade ou os que não apreciam o
gênero.
“Não
vamos contar o que se passou nos palcos... O nosso musical vai, justamente,
olhar para o 'backstage',
para pessoas que abdicam das suas vidas e suas famílias, por meses, para fazer
o evento acontecer. O empenho dessas pessoas, em 1984, mudou, completamente, a
História. Todos nós, que criamos e produzimos entretenimento no Brasil, devemos
muito ao Roberto e à
sua enorme capacidade de enfrentar os desafios, para colocar um sonho de pé.”.
Essas são palavras de CHARLES MÖELLER,
extraídas do “release” que me enviou PEDRO
NEVES (Comunicação e Conteúdo),
assessor de imprensa da peça. CHARLES,
que além da direção, é o autor do texto, chegou à versão
final deste após uma minuciosa e intensa pesquisa sobre a época e todas as
canções que já passaram pelo festival. Não poderia ter sido mais profundo
esse mergulho e sua transposição para o papel e, consequentemente, para o palco.
O
texto
é descomplicado, simples, ágil, parecendo até despretensioso, mas, no fundo,
não o é. CHARLES MÖELLER foi preciso
na sua principal intenção, de mostrar a coragem e o propósito de um homem e seu
sonho. Sonhar não custa nada; não se paga imposto por isso. De forma inteligente
e sagaz, para reforçar a comunicação com público, houve por bem desenvolver uma
história de amor paralela à principal. Graças ao autor, descobri, neste
espetáculo, que eu e Roberto Medina temos um ponto em
comum: uma profunda paixão pelo personagem Dom Quixote. Fiquei, extremamente,
emocionado, diante da feliz ideia da dramaturgia, colocando, em dois momentos,
o personagem de Miguel de Cervantes, cantando a versão, em português, para a
canção “The Impossible Dream” (“O Sonho Impossível”), que faz
parte da trilha sonora original do musical “O Homem de la Mancha”.
A
direção
geral, também de MÖELLER, é
cirúrgica, alicerçada por outros elementos que entram na montagem. Ela é um
ótimo reflexo da agilidade do texto e da criatividade da direção
musical e das coreografias, sobre o que falarei,
especificamente, adiante. Uma direção impecável! O musical em tela
comemora dois momentos importantíssimos: quatro décadas de realização de um dos maiores
festivais de “rock” do mundo e a 50ª assinatura da grife MÖELLER &
BOTELHO. São dois feitos que, até agora, ninguém, no Brasil, se não me equivoco, atingiu e, dificilmente, atingirá. Para mim, creio que, só em uma única vez,
gostei “menos” de um dos 50 espetáculos da dupla -
quase todos musicais -, fazendo questão de dizer que sãos meus
preferidos “maestros” do gênero musical.
Todos
os artistas
de criação se empenharam, ao máximo, para pôr um tijolinho nesta
produção, a começar pela cenografia - leia-se ANA BIAVASCHI –, calcada em cenários
projetados, em altíssima resolução, de profundo bom gosto e qualidade, deixando o palco livre,
na maior parte do tempo, utilizando poucas peças móveis - principalmente
cadeiras e mesas -, aproveitadas em algumas coreografias, que entram (nas) e saem das cenas, de acordo com a
necessidade de cada uma delas.
Sempre faço questão de nomear os artistas de criação, uma vez que, para o grande público, de praxe, não são lembrados; apenas para quem é assíduo frequentador das salas de espetáculo seus nomes são familiares. Assina os figurinos um dos maiores artistas do gênero neste país, o premiado FABIO NAMATAME, que, como sempre, acerta em seus trabalhos. Aqui, o figurinista não se utiliza de luxo, em suas peças, porém foi acurado, com relação ao que era usado à época em que se passa a história. Seus figurinos refletem nobreza e elegância, mesmo que seja um traje despojado, para jovens.
A
iluminação,
belíssima, diga-se de passagem, e totalmente funcional, é assinada por VINÍCIUS ZAMPIERI, que brinca, com
liberdade criativa e um admirável senso estético, com as luzes, não abrindo mão
de uma variadíssima paleta de cores, o que o faz, como já escrevi na crítica
anterior a esta, responsável por uma “luz de festa”, uma “luz
de comemoração, de celebração”.
Congratulo-me
com ANDRÉ BREDA, por conta de seu
excelente desenho de som, que permite a chegada de todo e qualquer ruído
aos espectadores acomodados no imponente auditório da Grande Sala da Cidade das Artes
(1.235 lugares), onde o espetáculo está sendo apresentado. Muitas vezes,
em musicais, não conseguimos entender o que é cantado em cena, porque o som dos
músicos encobre a voz de quem canta. Aqui, em momento algum, percebi isso. A
equalização dos distintos sons é perfeitíssima.
A
história nos leva a um passeio pelos anos 1980, o que exige uma harmonia
estética, reflexo da época. É aí que entra, com vigor e profundo conhecimento
do assunto, o visagismo, proposto por um nome respeitado entre seus colegas de profissão e por quem, como eu, valoriza esse trabalho: FELICIANO SAN ROMAN, responsável pela maquiagem
e pela perucaria. Os cabelos (penteados) criados pelo artista são de
um acabamento que, seja de longe, seja de perto, não permite que alguém
identifique uma peruca nos personagens, por exemplo.
Tudo
é fascinante, nesta obra, e um de seus destaques, com efeito, são as coreografias,
criadas pelo talento de MARIANA BARROS,
a qual colabora, eficazmente, para o dinamismo sobre um palco. É um colírio
para os nossos olhos ver todo o elenco executando, com perfeição, os passos,
milimetricamente, criados pela coreógrafa. A valorização e execução dos
movimentos são totais. São muitas coreografias, todas alegres e criativas.
Sempre
presente - ainda bem - nos espetáculos da dupla MÖELLER & BOTELHO, MARCELO CASTRO, mais uma vez, nos presenteia com uma irrepreensível direção musical, com estupendas
surpresas, bem originais, com relação aos arranjos de canções, cantadas ou
soladas pela banda, na íntegra ou em pequenas partes, quase que como vinhetas.
Exímios músicos fazem parte da banda: o próprio MARCELO, como regente e nos teclados; ANDRÉ DANTAS (guitarra e violão); BETO BONFIM (percussão); EZEQUIEL FREIRE (trompete e flugel); KELLY DAVIS (violino); MÁRCIO ROMANO (bateria); OMAR CAVALHEIRO (baixo acústico e elétrico);
SAULO VIGNOLI (violoncelo) e WHATSON CARDOZO (sax e clarinete). Na supervisão
musical, o importante e certeiro dedo de CLAUDIO BOTELHO.
Chegamos à apreciação do elenco, e aqui não podemos omitir o nome de MARCELA ALTBERG, ligado à seleção e formação do elenco. Atendeu ao convite da produção, para fazer parte do grupo de atores e atrizes, um estupendo número de candidatos, que são atrelados a outros, convidados para os diversos papéis da peça. É uma responsabilidade muito grande para quem coordena esse trabalho. Sinceramente, em poucas vezes, vi um elenco tão afinado no mesmo diapasão e comprometido, num espetáculo musical, como o de “ROCK IN RIO...”. Refiro-me àqueles que representam os principais personagens e estendo o elogio aos demais, incluindo os “swings”.
São,
ao todo, 30 grandes artistas. Sobre aqueles que interpretam os
principais papéis, falarei no próximo parágrafo. Os demais são: YAS FIORELO (Suzy / Ensemble), MARIANA GRANDI (Tereza / Ensemble), MARIANNA ALEXANDRE (Lurdinha / Ensemble), SAULO RODRIGUES (Benício / Ensemble), HAMILTON DIAS (Evandro / Ensemble), LEONAM MORAES (Bola / Ensemble), MURILO ARMACOLLO (Eduardo Souto Neto / Ensemble),
VINÍCIUS CAFER (Dom Quixote / Ensemble),
CEZAR ROCAFE (Manuel / Ensemble), CAIO NERY (Cidinho / Ensemble), ROBERTO JUSTINO (Justin / Ensemble), AMAURY SOARES (Ensemble), ANDREINA SZOBOSZLAI (Ensemble), ANDRESSA
SECCHIN (Ensemble), CRISTIANO PRADO (Ensemble), FELIPE SOUZA (Ensemble), GABI MONTE (Ensemble), GABRIEL QUERINO (Ensemble), HENRIQUE REINESCH (Ensemble), KARINE BONIFÁCIO (Ensemble), CÉSAR VIGGIANI (swing), MAVI CARPIN (swing) e VINÍCIUS COSANT (swing).
Que
privilégio é ver tantos nomes de formidáveis atores e atrizes, juntos, numa
única montagem! Nem sei o que dizer, além de que fazem parte do “Olimpo” dos atores de
musicais, sobre RODRIGO PANDOLFO (Roberto
Medina), MALU RODRIGUES (Beth),
BETO SARGENTELLI (João),
BEL KUTNER (Elizabeth), GOTTSCHA (Dora), ANDRÉ DIAS (Oscar / Dom Quixote), BRUNO NARCHI (Luís / Alternante de Roberto Medina)
e YARA CHARRY (Marie). Sobre todos, à
exceção de YARA, já teci muitas
elogiosas considerações, em vários outros espetáculos em que atuaram. Pensem em todos os adjetivos relativos a boa técnica e talento. Todos são aplicados a eles. Quero,
porém, destacar um momento que “quase me leva ao Nirvana”,
quando YARA CHARRY interpreta uma
canção, na versão em francês, e que eu adoro, “Happy Togheter” (“Hureux Ensemble”), lançada, originalmente em
inglês, em 1967, pela banda estadunidense “The Turtles”, canção que
marcou a minha juventude, por um motivo
muito particular, que me é bastante caro. Obrigado, ZÉ RICARDO, que criou a extraordinária e eclética trilha
sonora da peça. Os números musicais são
complementares aos diálogos, nada surge de repente, mesmo os que são cantados em outro idioma (inglês
e francês). Às vezes, é apenas uma frase melódica ou uma estrofe, ou
mesmo só um instrumental, para dar a intenção de um acontecimento e nos
remontar às 10 edições do festival, no Brasil. Como canções marcantes, na
trilha sonora selecionada, estão “hits” internacionais, como “Live and Let Die” (Guns
and Roses), “We Will Rock You”
(Queen), “Viva la Vida”
(Coldplay), “Firework” (Katy Perry)
e “Crazy in Love” (Beyoncé), ao lado de sucessos
brasileiros, como “Alagados” (Paralamas
do Sucesso), “A
Queda” (Gloria Groove), “Vou
Deixar” (Skank), “Rádio
Blá” (Lobão) e “América
do Sul” (Ney Matogrosso).
PANDOLFO não economizou, em talento, na
criação do personagem, merecidamente, homenageado. O Medina do ator é humano e
com todas as características quixotescas de alguém que persegue, com tenacidade,
um “sonho
impossível”; para os outros, mas não para ele, que não enxergava aquilo
como uma utopia. Como o ator sabe trabalhar as máscaras faciais e o tom de voz,
de acordo com os diferentes sentimentos do personagem!
Rodrigo Pandolfo.
Sobre MALU, não posso fugir aos adjetivos que sempre reservo para ela, em
todos os trabalhos em que a vejo em cena: linda, ótima atriz e dona de uma
inimitável voz, com um extenso alcance, sem o menor esforço físico, um bálsamo
para os nossos ouvidos, sem falar no seu carisma. E se resolve muito bem na
pele de uma jovem, também sonhadora, de 17 anos, que se desloca de sua
cidade natal, no interior do Rio de Janeiro, para a capital
fluminense e vai parar na agência de publicidade Arteplan, de propriedade
de Roberto
Medina, onde nasceu o “Rock in Rio”, disposta a ser uma
publicitária.
Malu Rodrigues.
BETO SARGENTELLI é outro grande, no universo dos musicais. Já perdi a conta de quantas
vezes, da plateia, a ele lancei gritos de “Bravo!”, por suas fantásticas
interpretações, tais quais esta. Como se costuma falar, em tom de brincadeira,
que “os
baianos não nascem; estreiam”, sobre BETO, digo, seriamente, que ele também “não nasceu; estreou”. Parece
que veio ao mundo destinado e pronto para o ofício que abraçou: ator, fundamentalmente,
forjado para espetáculos musicais.
Beto Sargentelli (à direita).
BEL KUTNER, na pele de Elizabeth, funciona, neste espetáculo, como um liame. Seria a
versão adulta de Beth, narrando e juntando os fios da meada, de forma brilhante.
A personagem, assim, é uma testemunha ocular da missão de levantar um grandioso
festival de “rock”.
Bel Kutner (à esquerda de Malu.)
GOTTSCHA, como Dora, um dos braços direitos de Medina, na Arteplan,
só faz ratificar o que dela penso, como uma de nossas mais importantes “cantrizes”.
O estresse da personagem, diante das situações difíceis, adversas, por que
passaram os que fizeram o festival acontecer é um termômetro do que aquela gente,
de verdade, passou naquele momento.
Gottsha.
ANDRÉ DIAS é um veterano em musicais e interpreta Oscar (Ornstein), outro braço,
o esquerdo, “com funções do direito”, para o protagonista. Sua aparição,
quase ao final da peça – não vou dar “spoiler”-, na pele de
outro personagem, é de arrepiar, e me fez bater mais forte o coração e me
esforçar, no sentido de evitar as lágrimas. Que cena emocionante, valorizada
pelo talento do ator!
André Dias.
BRUNO NARCHI é Luís. Não há, na teoria, mais braços para
Medina,
mas ele é como se houvesse um terceiro. Figura marcante em todos os musicais em
que o vi atuar, também se sai muito bem em seu personagem.
Bruno Narchi (no centro, em pé).
E sobre YARA CHARRY, só posso dizer que já começa e se desenhar como parte
da minha galeria de favoritas atrizes de musicais, desde quando a vi, pela
primeira vez, na TV, na novela “Todas as Flores” e, depois,
pessoalmente, num musical a que assisti em São Paulo, “Iron, o Homem da Máscara de
Ferro”, entretanto não conhecia seu imenso talento de cantora.
FICHA
TÉCNICA:
Um
espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho
Supervisão
Musical: Claudio Botelho
ELENCO: Rodrigo Pandolfo (Roberto Medina), Malu Rodrigues (Beth), Bel Kutner (Elizabeth), Gottsha (Dora), Beto Sargentelli (João), André Dias (Dom Quixote / Oscar), Bruno Narchi (Luiz), Yara Charry (Marie), Cezar Rocafi, Leonam Moraes, Mariana Grandi, Marianna Alexandre, Murilo Armacollo, Vinicius Cafe, Yas Fiorelo, Amaury Soares, Andreina Szoboszlai, Andressa Secchin, Caio Nery, Cesar Viggiani, Cristiano Prado, Felipe Souza, Gabi Monte, Gabriel Querino, Henrique Reinesch, Karine Bonifácio, Mavi Carpin, Roberto Justino e Vinicius Cosant.
Cenografia: Ana Biavaschi
“Design” de Som: André Breda
“Casting”: Marcela Altberg
Coordenadora
do Projeto: Sheila Aragão
Assessoria
de Comunicação: Pedro Neves (Comunicação e Conteúdo)
SERVIÇO:
Temporada:
De 11 janeiro a 23 fevereiro de 2025.
Local:
Cidade das Artes (Grande Sala).
Valor dos
Ingressos: Plateia: entre R$ 100 e R$ 200; Frisa Lateral: entre R$ 50 e R$ 100;
Camarote 3º Andar: entre R$ 20 e R$ 40; Camarote 4º Andar: entre R$ 20 e R$ 40.
A variação nos preços depende da localização dos lugares.
Gênero:
Musical.
Confesso,
com total assunção das minhas palavras, que, embora fosse um trabalho de CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, parti para assistir a este musical com muita
expectativa, mas, também, um pouco, preparado para alguma decepção, porque
poderia encontrar, talvez, uma peça com outro viés, diferente de todos os
que a dupla sempre nos apresentou, entretanto tudo o que vi, naquela memorável noite de 25 de janeiro de 2025, me
pegou bem acima de todas as minhas melhores expectativas.
Para terminar, lembro o tom de otimismo ,de uma mensagem “para
cima”, contida na letra da canção-tema do “Rock in Rio”, criada por Eduardo Souto Neto e Nelson
Wellington, que também está no roteiro: “Se
a vida começasse agora / E o mundo fosse nosso outra vez / Se a gente não parasse
mais de cantar e sonhar, de viver...”.
FOTOS: CAIO
GALLUCCI
GALERIA PARTICULAR
Fotos: GILBERTO BARTHOLO
e
ANA CLÁUDIA MATOS.
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva.
Faz-se necessário resistir
sempre mais.
Compartilhem esta crítica, para
que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!
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