sexta-feira, 30 de setembro de 2022

                                    “MARROM,

O MUSICAL”

ou

(UM ESPETÁCULO

À ALTURA DO TALENTO

DE ALCIONE.)

 





        Pessoas importantes, em qualquer atividade, que, no seu fazer diário, tenham contribuído, de forma positiva, para enaltecer o Brasil e agradar e levar alegria ao seu povo merecem, sempre, uma justa homenagem, e isso é melhor ainda quando tal preito se dá com o homenageado ainda vivo. O ator e produtor JÔ SANTANA, diretor da “Fatto Produções”, merece nossos agradecimentos e aplausos, pelo fato de ter sido o idealizador da “Trilogia do Samba”, iniciada em 2016, com o musical “Cartola - O Mundo é um Moinho”, seguindo-se, em 2018, “Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro”, ambos dois belos espetáculos, que vi duas vezes, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, e que muito me emocionaram. Agora, convidou o consagrado multiartista MIGUEL FALABELLA, para dirigir o musical que encerra a já citada “Trilogia”, “MARROM, O MUSICAL”, uma justa e bela homenagem à cantora ALCIONE, carinhosamente chamada, por seus amigos e admiradores, pelo singelo apelido de “MARROM”, em alusão à cor de sua pele.

 

 



 

      No Brasil, nos últimos anos, o nicho dos musicais vem crescendo a olhos vistos, para a minha alegria, eu, amante incondicional desse gênero teatral, a ponto de viajar a São Paulo, algumas vezes por ano, com o objetivo de assistir aos musicais que não virão para o Rio.

 

 

  Existem alguns encenadores que reúnem, em seus currículos, várias assinaturas de direção em musicais. Todos, a meu juízo, cometem pecados e atingem virtudes, em seus trabalhos. Há, infelizmente, os que não sabem, ainda, como dirigir um musical, mas continuam tentando. Acho válido, porém, esperando que aprendam, com cada erro, e consigam acertar um dia. MIGUEL FALABELLA é daqueles que sabem fazer ótimos musicais. Quando erra, é por pouco; quando acerta, é por muito, como é o caso do espetáculo em tela. É bom deixar registrado que, todas as vezes que consegui enxergar algumas falhas nos muitos musicais que receberam a assinatura de FALABELLA, com o meu modesto olhar de crítico, sempre pronto a melhorar e evoluir, nas minhas análises, estas foram de pouco relevo e jamais chegaram a “anular” um trabalho seu.

 

"Criador" e "Criatura". 


 

    Para qualquer um que esteja interessado em conhecer a importância de FALABELLA para as ARTES brasileiras, basta “dar um Google” e encontrará, na Wikipédia, a “enciclopédia livre virtual”, informações que ocupam um considerável espaço, tão gigantesca é a sua obra, como ator, autor, diretor, apresentador, roteirista, dublador e produtor. Aqui, seu trabalho será comentado, no momento devido, na condição de autor e diretor.

 

 



 

 

SINOPSE: 

“MARROM, O MUSICAL” narra a vida e a obra de um dos maiores nomes da MPB: ALCIONE.

Tem, como base dramatúrgica, a estrutura do “Boi” maranhense, que resgata uma história típica das relações sociais e econômicas da região, durante o período colonial, mesclando as culturas europeia, africana e indígena.

Essas culturas mesclam o sotaque de matraca, de zabumba, de orquestra, da baixada e de costa de mão.

Assim, usando ritmos e toadas nossas, o espetáculo se apropria de estruturas clássicas do TEATRO MUSICAL e traz, para os palcos, um “Boi” jamais visto antes.

 

 




 

      ALCIONE, maranhense que nunca deixa de valorizar e divulgar a cultura de seu estado natal e, consequentemente, o Brasil, além da grande cantora que é, também é compositora e multi-instrumentista, com 30 álbuns gravados em estúdio e 9, ao vivo, já tendo vendido 8.000.000 de discos, no mundo inteiro, em 50 anos de carreira. Essa longevidade no ofício, com o qual se notabilizou, guarda muitas histórias e vivências, capazes de render um musical de TEATRO. E coube a MIGUEL FALABELLA ser, ao mesmo tempo, o autor de um texto sobre a trajetória dessa grande artista, assim como ser um “maestro” a reger atores, bailarinos e músicos, para contar essas histórias. Como dramaturgo, FALABELLA foi muito feliz, ao pôr em pratica a ótima ideia de contar, paralelamente, duas principais histórias, sem, aparentemente, nada ter a ver uma com a outra, que são a da cantora e a do “Bumba-Meu-Boi do Maranhão”. E por que essa escolha? Simplesmente porque não se pode falar de ALCIONE sem falar do Maranhão, estado conhecido por suas muitas e variadas manifestações artísticas populares, com destaque para aquele folguedo. Assim, o que se vê, no palco, é uma história triste que acaba em festa, a do Boi, revisitada, entremeada com a história dessa maranhense ilustre.

  



 

        A história do Boi está presente, nesta montagem, porque, desde criança, ALCIONE era apaixonada por ela e vivia pedindo à sua mãe que a contasse e recontasse para ela.  A festa do Boi é uma tradição que se mantém desde o século XVIII, arrasta maranhenses e visitantes, por todos os cantos da capital e do interior do estado, nos meses de junho e julho, e atinge e contagia gente de todas as idades, dos mais jovens aos mais velhos. Em dezembro de 2019, o “Bumba-Meu-Boi do Maranhão” foi declarado “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”, pela UNESCO. Sugiro que procurem ler sobre a história do “Boi”, que é assaz interessante. Vou pular essa parte, não por outro motivo que não seja me deter mais na figura de ALCIONE.

 

 



 

        O texto se apresenta numa sequência cronológica, desde quando ALCIONE deixa a casa dos pais, em São Luís do Maranhão, e vem para o Rio de Janeiro, a fim de, daqui, ter sua grande ARTE espalhada por todo o país e pelo exterior. Nessa trajetória, muitos altos e baixos, muitas aventuras aconteceram, e FALABELLA coloca tudo isso em cena, de uma forma bem descontraída, leve, valorizando todos os detalhes e momentos importantes da vida da protagonista. Vivo sempre repetindo que meu senso crítico sempre se aguça, quando se trata de um musical biográfico. Não gosto da maioria, por repetir a mesma formatação, que chega a entediar, porém não é o que acontece em “MARROM, O MUSICAL”. Tenho certeza de que boa parte do acerto da peça reside na genial ideia do autor do texto, ao colocar, para narrar, em alguns momentos, fazendo uma ponte entre as cenas, uma espécie de “corifeu”, do TEATRO grego, cercado por um coro, todos excelentes cantores e bailarinos, de modo que a narração ganha muito dinamismo e prende a atenção do público. É, realmente, uma das melhores ideias que destaco neste espetáculo.

 

 



 

     O “release”, que recebi, de ROGÉRIO ALVES MAURÍCIO AIRES (Amigos Assessoria de Comunicação), diz que “ALCIONE pode ser muitas: menina, mulher, uma loba, filha amorosa, musicista apaixonada, perseguidora de sonhos.”. Todas essas “alciones” são retratadas, na peça, e há um momento apoteótico, catártico, em que FALABELLA, exatamente porque ALCIONE, sendo uma só, não existe, achou de colocar nada menos do que onze magníficas cantrizes em cena, cantando, juntas, onze “alciones”, usando o mesmo exuberante figurino, um belo traje em amarelo, que “enche de luz” o palco do Teatro Sérgio Cardoso (VER SERVIÇO.). Aquilo me arrepiou de tal modo, que não pude conter meus gritos de “BRAVO!”, em cena aberta. Esse é apenas um dos detalhes da ótima direção de MIGUEL FALABELLA, mais uma vez colocando em prática seu talento, bom gosto e tudo o que já sabe, adquirido ao longo de uma carreira de cerca de quatro décadas, durante a qual, no TEATRO, dirigiu grandes espetáculos, musicais ou não, ou teve alguma participação neles, como autor, ator, produtor ou versionista, os quais estão escritos nos anais do TEATRO BRASILEIRO, como, por exemplo (Não estão em ordem cronológica.), “Emily”; “As Sereias da Zona Sul” (besteirol); “Como Encher um Biquíni Selvagem”; “O Beijo da Mulher Aranha”; “Alô, Dolly”; “Annie”; “Hebe – O Musical”; “South America Way”; “Godspell”; “Império”, dramaturgia dividida com Josimar Carneiro; “Os Produtores”; “Haispray”; “A Gaiola das Loucas”; “Cabaret”; “A Partilha”; “Veneza”; “Xanadu”; “Crazy For You”; “A Madrinha Embriagada”; “O Homem de La Mancha”; “Donna Summer, O Musical”; e “O Som e a Sílaba”. Já disse ao MIGUEL, creio que até mais de uma vez, em tom de brincadeira, é claro, que ele poderia montar o pior espetáculo do planeta, o que, decerto, jamais aconteceria, que isso seria perdoado, uma vez que quem deu vida a OBRAS-PRIMAS, como “A Partilha”, traduzida em outros idiomas e montada em vários países; “Império”, espetáculo a que assisti mais de vinte vezes; “O Homem de La Mancha”, uma das maiores paixões da minha vida, que também vi algumas vezes; e “O Som e a Sílaba”, que me fez perder o fôlego, em todas as vezes que assisti à peça, tem crédito de sobra. Não precisaria ter feito mais nada no TEATRO. E MIGUEL ainda vem agora com essa maravilha de “MARROM, O MUSICAL”!!!

 

 



 

          Já tendo me expressado sobre a excelente qualidade do texto e da direção, vamos falar, além do elenco, que ficará mais para adiante, dos elementos artísticos de criação, a começar pela cenografia, concebida, a quatro mãos, por ZEZINHO e TURÍBIO SANTOS, um palco redondo, giratório, com alguns níveis diferentes, uma peça única, que é deslocada, pelos próprios atores, durante toda a encenação, que, além de servir de base para várias locações, ainda leva dinamismo à montagem. Alguns poucos elementos, como espelhos de camarim, completam, pontualmente, o ótimo cenário.

  



 

        Dos elementos plásticos, o que mais me chamou a atenção foram os figurinos, assinados por três grandes artistas de criação: LÍGIA ROCHA, JEMIMA TUANY e MARCO PACHECO. Acho que, para uma só pessoa, ficaria difícil dar conta de tantas peças, trocadas muitas vezes, pelos atores e atrizes. São belíssimos os figurinos, exageradamente extravagantes, no bom sentido, coloridos e alegres, bem ao estilo de ALCIONE, sempre exuberante, quando se apresenta em público. O grande destaque, na minha opinião, motivo de comentários elogiosos das pessoas que me cercavam, na plateia, é a saia que um dos atores usa, na “Festa do Boi”, uma verdadeira obra de arte, pelo requinte e a beleza dos bordados e aplicações nela.

 

 

 

       VALMYR FERREIRA, totalmente inserido no contexto do espetáculo, criou uma iluminação “de festa”, visto que o musical nada mais é do que uma grande celebração. Muitas luzes, muitas cores, uma paleta de tintas bastante variada, luzes que também “dançam”, nas coreografias. Um “oceano de luzes e cores”, para iluminar, mais ainda, os caminhos da “MARROM”. Um desenho de luz dos melhores com que tive contato nos últimos tempos.

  



 

     Um musical pede coreografias; num musical em que uma sambista – ela não é apenas isso – e um folguedo, como o “Boi”, estão presentes pede uma coreografia exuberante, contagiante, “muito viva”, criada por BÁRBARA GUERRA e RAFAEL MACHADO, eximiamente executada por todos do elenco. Todas as coreografias, sem exceção, são excelentes, vibrantes, e merecedoras de muitos aplausos.

  



 

         GUILHERME TERRA faz um estupendo trabalho de direção musical, além de reger e tocar piano, vestindo, com arranjos especialíssimos, musicais e vocais, as muitas canções que desfilam, durante o espetáculo, a maioria, como não poderia deixar de ser, do repertório de ALCIONE, mas também fazem parte do “set list” canções gravadas por outros cantores, que passaram pela vida da “MARROM”. A orquestra recrutada para tocar, no musical, é composta por grandes músicos, profissionais de primeira linha.

  



 

        São, também, merecedores do meu reconhecimento e dos meus aplausos, por seus trabalhos, RAFAEL MENDES, aderecista e coordenador do Projeto Maranhão, pelos adereços e objetos de cena; RICHARD LUIZ, pelo “design” de vídeo; os profissionais da AUDIO S.A, pelo claríssimo desenho de som; e um profissional que entende tudo de visagismo: DICKO LORENZO.

  

 

        E o elenco?! Que elenco!!! São, ao todo, 23 atores e atrizes, que ainda cantam e dançam, como exige um musical. Alguns – algumas atrizes, creio eu – foram convidados por FALABELLA, mas a grande maioria foi selecionada em audições, o terror de todos os artistas de musicais. Pela extrema qualidade do material humano em cena, imagino quão difícil tenha sido a seleção, até que se chegasse ao elenco, formado apenas por negros e negras, o que nos enche de orgulho. Como é lindo e emocionante ver tanto talento negro num palco, provando que a hegemonia branca, no TEATRO, já não cabe mais e que existem, sim, e isso é formidável, muitos grandes artistas negros, prontos a demonstrar seus talentos, bastando que sejam convocados para isso. Todos executam, magnificamente, seu trabalho, porém não posso negar destaque aos nomes de KAREN HILLS, LETÍCIA SOARES e LILIAN VALESKA. Outros, certamente, também o merecem, entretanto, infelizmente, não os conheço, porém deixo, aqui, meus aplausos especiais para LUCAS WICKHAUS, o excepcional ator que interpreta o já citado “corifeu”. Que felicidade, naquela tarde de um sábado, ver aquela gente atuando!!! Saí do Teatro em total estado de graça.

       






 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Jô Santana

Texto: Miguel Falabella

Direção: Miguel Falabella
Diretora Assistente: Iléa Ferraz

Direção Musical, Arranjos, Piano e Regência: Guilherme Terra
Assistente de Direção Musical: Márcio Guimarães

ELENCO (por ordem alfabética): Ágata Matos, Anastácia Lia, Carol Roberto, Daniela Santana, Eddy, Fernando Leite, Hipólyto, Jefferson Gomes, Joyce Cosmo, Karin Hills, Lázaro Menezes, Leandro Villa, Leilane Teles, Letícia Nascimento, Letícia Soares, Lilian Valeska, Lucas Wickhaus, Luci Salutes, Mariana Gomes, Millena Mendonça, Rafael Leal, Rafael Machado e Renato Caetano

 

MÚSICOS: Bruno Garcia Fermiano – Trompete; Bruno Vieira - Violão 7 Cordas; Diego Pereira - Bateria e Alegria; Guilherme Montanha - Sax, Flauta e Clarinete; Márcio Guimarães - Percussão e Cordas; e Felipe Rodrigues Mota - Baixo

 

Coreografia: Bárbara Guerra e Rafael Machado
Cenografia: Zezinho e Turíbio Santos
Figurino: Ligia Rocha, Jemima Tuany e Marco Pacheco
Aderecista e Coordenador Projeto Maranhão: Rafael Mendes
Iluminação: Valmyr Ferreira
“Design” de Vídeo: Richard Luiz
“Designer” de Som: Audio S.A
Visagismo: Dicko Lorenzo
Assessoria de Comunicação: Maurício Aires e Rogerio Alves (Amigos Assessoria de Comunicação)
Fotos e Vídeo: Patrícia Ribeiro
“Marketing” Cultural: Gheu Tibério
“Design” Gráfico: Dorotéia “Design”
Direção de Produção: Renato Araújo
Coordenação de Produção: Selma Santos
Produção Executiva: Márcia Uchôa
Assistente de Produção: Marcela Lima e Igor Reis
Produção: Fato Produções Artísticas
Crédito da Foto: Dorotéia “Design”

 

 

 



 



SERVIÇO:

Temporada: De 26 de agosto até 07 de novembro de 2022.

Local: Teatro Sérgio Cardoso.
Endereço: Rua Rui Barbosa, nº 153 – Bela Vista – São Paulo – SP.

Telefone: (11) 3288-0136.

Dias e Horários: sexta-feira e segunda-feira, às 20h30min; sábado, às 16h e às 20h30min; domingo, às 17h.
Ingressos à venda na plataforma Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/74871/d/148103
Ponto de Venda, sem taxa de conveniência: Bilheteria do Teatro Sérgio Cardoso, de terça-feira a sábado, das 14h às 19h, e vendas para o espetáculo do dia, das 14h até o início do espetáculo.

Valores dos Ingressos: De R$80,00 a R$200,00 (inteiras). Também há meia entrada, correspondente a 50% do valor das inteiras.

Compras pela internet, com taxa: www.sympla.com.br

VENDAS PARA GRUPO: Entrar em contato com “Fato Produções”, pelo telefone (11)98043 8763 

Duração: 90 minutos.

Classificação Etária: Livre.

Gênero: Musical.   

Não será permitido entrada após o início do espetáculo.

 

 




 

  Trecho extraído do já citado “release”: “Um espetáculo que pretende reafirmar o TEATRO como um ato de comunhão. Que vai fazer rir, chorar, cantar junto, se espantar, se emocionar, ser criança de novo, encontrar o desconhecido. Vive bem quem sempre espera um gracejo. Quem vier de olhos e braços abertos vai, certamente, sair da plateia, depois das quase duas horas – pouco para contar e cantar tanto – como Alcione é com relação à vida e à arte (...).”. Se essa era a proposta do espetáculo, posso garantir que ela foi totalmente atingida, o que me faz recomendar, com muito entusiasmo, esse excelente musical.

 

 

 







(Foto: autoria desconhecida.)

 


FOTOS: PATRÍCIA RIBEIRO

 

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