quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 

“ROMEU & JULIETA

(E ROSALINA)”
ou

(DE COMO, APENAS

CITADA,

ALGUÉM SE TORNA PROTAGONISTA.)




       No último texto, de 2021, que publiquei no blogue, revelei minha grande frustração, no que dizia respeito à qualidade das “toneladas” de “experimentos cênicos virtuais” a que assisti, sempre me preocupando em deixar bem claro quanto respeito e admiro todos os que se jogaram nessa aventura, “muito louca”, de produzir, a grande maioria, com parcos recursos, trabalhos “on-line”, QUE NÃO SÃO TEATRO, da mesma forma como os acho, mesmo ficando a dever, em qualidade, importantíssimos, porque serviram para tornar nossas vidas menos tristes e monótonas, por imposição desse maldito vírus, que já estava na hora de experimentar a vida em outros planetas desabitados. Serão? Não sei. Mesmo odiando e desprezando os negacionistas e aplaudindo, DE PÉ, a CIÊNCIA e os(as) cientistas, mormente os brasileiros, ainda não sei a resposta para este questionamento: Há vida, fora do planeta Terra? Acho que ninguém tem, ainda, essa certeza, ou estou mal informado.

        Ih! Parece que o meu texto está virando uma “enrolação”, o que está bem longe do meu propósito, mas acho que essa introdução é bem válida, em função do que vou escrever a respeito de um desses “experimentos”, que, obviamente, teria como destino não as telas, mas os palcos, que é “ROMEU & JULIETA (E ROSALINA)”, uma das melhores coisas a que assisti, no meu martírio pandêmico, em agosto de 2020, transmitido diretamente do palco do Teatro PetraGold, e que eu sonhava, e rezava aos DEUSES DO TEATRO, que, logo, pudesse estar concreto, ao vivo, num palco, presencialmente, para quem tivesse a coragem de voltar a frequentar os Teatros.



       Eu tinha muito medo de voltar às salas de espetáculo, e confesso que ainda não me sinto 100% seguro, ainda mais depois desta infeliz variante, que atende pela alcunha de “Ômicron”, porém confio, antes de tudo, em Deus e, se Ele achar que eu tenha que entrar nas estatísticas, mas só nas dos infectados, sem maiores consequências, nada poderei fazer. Fazendo uma digressão, notem que utilizei o termo "infectados". Pois bem! Se eu tivesse empregado o vocábulo "contaminados" estaria errando, porque contaminação" é a transmissão de impurezas ou de elementos nocivos, capazes de prejudicar a ação normal de um OBJETO. Um bisturi, por exemplo, ao cair no chão, está “contaminado”. Quando descrevemos o processo de transmissão de um vírus, de uma pessoa para outra, devemos dizer que ela foi “infectada”. Aprendi faz pouco tempo. Pandemia também é cultura. Tomo todos os cuidados e sei que os Teatros cumprem, à risca, as determinações das autoridades sanitárias, no que diz respeito à desinfecção de todas as partes do estabelecimento. O Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, por exemplo, é um nos quais eu confio plenamente. Além disso, exige, mesmo, o documento que prova que a pessoa está vacinada contra a COVID-19, para o que, infelizmente, alguns Teatros cariocas "fazem vista grossa".



       Infelizmente, em função do perigo que nos oferece o tal do Ômicrom, tive de cancelar quase uma dezena de convites para estreias e reestreias presenciais, neste início de ano – mas hei de remarcar todos esses espetáculos (Já diz com alguns.) -, porém mantive minha ida ao Teatro das Artes, com um pouco de medo, confesso, para assistir à montagem que é o motivo desta crítica. Parece que a “enrolação” continua, mas é só vontade de escrever mesmo. Vou passar, logo, a dissertar sobre a peça em tela, uma comédia (COMO EU GOSTO DE UMA BOA COMÉDIA!!!), que já elogiei e à qual consegui assistir no último domingo, 9 de janeiro de 2022.

         Poucos, no mundo, não conhecem a trágica história de amor impossível entre “os amantes de Verona”. A intolerância entre duas famílias rivais impediu que dois jovens adolescentes vivessem seu sonho de amor. Até aí, tudo bem; ou melhor, tudo mal, porque não deveria ter sido assim. Se um óbice, porém, não existisse, o bardo inglês, William Shakespeare, não teria escrito a peça. “C’est la vie”, e casos idênticos ou parecidos sempre existiram fora da ficção. Não haverá, nesta crítica, como, de hábito, incluo, uma SINOPSE da peça, uma vez que, ao longo dela, a crítica, quem a lê já vai ficar sabendo de que trata o texto.



     Não tenho como computar quantas versões dessa tragédia – a original - tive a oportunidade de ver (Nunca me neguei a assistir a nenhuma que me era oferecida.), em diferentes mídias, na forma de TEATRO, cinema (Que linda e inesquecível foi a concepção do gênio Franco Zeffirelli!) e balé. Mas ninguém muda o enredo. Só que existe, no Brasil, um dramaturgo, genial e premiado, chamado GUSTAVO PINHEIRO, que teve a felicíssima ideia de contar a história sob um ângulo nunca antes explorado (Eu, pelo menos, não conheço. O final da trama é diferente do original, mas não contem com o meu "spoiler".)), ou seja, na visão de uma das personagens da trama, ROSALINA. Mas quem é ROSALINA?


GUSTAVO PINHEIRO


    Quem conhece a história há de se lembrar de quase todos os personagens nela envolvidos, porém quase ninguém se lembra da nossa protagonista, uma vez que ela é apenas mencionada e nem aparece em cena, ainda que acabe servindo de “cupido” para o jovem casal. Para avivar a memória dos que me leem, transcrevo um trecho que se encontra no “release” da peça, a mim encaminhado pelo próprio GUSTAVO PINHEIRO: “Pouca gente se dá conta, mas, quando ROMEU vai ao baile de máscaras, na casa da família Capuleto, arquirrival dos Montecchio, ele ia ao encontro de ROSALINA, seu grande amor, até aquele momento. Mas quis o destino que ROMEU desse de cara com JULIETA e aí... nunca mais as histórias de amor foram iguais.”. Quem se lembra disso? EU!!!



   Fazendo uso de muito humor, da melhor qualidade, bastante ácido, por vezes, o que é ótimo, GUSTAVO decidiu escrever a versão dos fatos, via ROSALINA, a, antes, pretendida e, depois, desprezada. O texto é divertidíssimo e inteligente, em função de uma leitura anárquica da narradora – aliás, “anárquica” é pouco -, ao mesmo tempo que, vez por outra, emocionante, passando por temas como independência, liberdade, solidão e sororidade, que nada mais é, para quem não sabe, que "a união e a aliança entre mulheres, baseadas na empatia e no companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. O conceito da sororidade está fortemente presente no feminismo, sendo definido como um aspecto de dimensão ética, política e prática desse movimento de igualdade entre os gêneros.”. (Mais uma "aulinha" e uma "colinha" despretensiosa.). Isso torna a peça bastante contemporânea. Falando em contemporaneidade, ao transformar o “experimento” em TEATRO de verdade, num palco, com plateia, GUSTAVO deu uma nova roupagem ao texto, muito oportuna, aproveitando o triste momento político e social por que passamos, e o roteiro ficou mais hilário ainda, em função das críticas, que provocam muitas e sonoras gargalhadas da plateia, mas que devem nos servir de reflexões. Posso dizer que todos os seus textos foram sucesso de público e de crítica, como, por exemplo, "A Tropa" (2016), "Alair" (2017), "Relâmpago Cifrado (2019), "Os Impostores" (2019), "A Lista" (2020 - "on-line", a ser estreada, em, março, presencialmente, em São Paulo).  


 

    É excelente a dramaturgia de GUSTAVO, entretanto de nada vale um bom texto, se falta talento a quem o interpreta. Mais sério, ainda, como é o caso, num monólogo, quando todas as atenções se voltam para uma só pessoa. O ator ou a atriz se reveste de uma grande responsabilidade, por não ter com quem repartir a “cara a tapa”. Pensando nisso, a escolha recaiu sobre JÚLIA RABELLO e, na minha modesta opinião, foi muito acertada, uma vez que ela já demonstrou que é uma exímia atriz cômica, com características muito próprias, de dizer, em determinados momentos, coisas engraçadíssimas, com uma máscara facial, teatral e uma entonação e inflexão de uma “falsa seriedade” ou ironia. Na verdade, JÚLIA já havia encomendado um monólogo a GUSTAVO, e ele mesmo ficou surpreso, ao perceber que havia, na peça de Shakespeare, uma ROSALINA, que é apenas citada. E não é que a personagem “fantasma” virou protagonista?



   JÚLIA talvez não seja muito conhecida por tantas pessoas que vão ao Teatro, uma vez que não é tão “habituée” dos palcos. Gostaria de poder vê-la mais em cena. Já a conhecia, porém, antes de ficar conhecida pelas telas e telinhas. Mas quem não se lembra, por exemplo, do grande sucesso de JÚLIA, no vídeo, da série “Porta dos Fundos” - acho que o mais acessado de todos -, intitulado “Sobre a Mesa”, na pele da personagem Odete, quando ela, simplesmente, responde ao marido, Mário Alberto, com a maior cara de quem estava participando de um velório, o que deseja para finalizar o jantar, depois de um estafante dia de trabalho, ante as reclamações dele, pelo fato de a sobremesa ser apenas uma fruta? Agora, já sabem quem é a JÚLIA, não é? Se, mesmo assim, ainda não tiveram o prazer de conhecer seu talento de atriz, assistam ao vídeo. E vão ao Teatro das Aretes!!!. Mas eu conheço seu trabalho, sobre as tábuas, “de outros carnavais” ("Obrigado, Cartola" - 2004; "Vestindo Nelson" - 2006; "Um Homem Célebre" - 2008; "O Interrogatório" - 2009; "Atreva-se" - 2013.) e sempre o admirei. Neste espetáculo, JÚLIA RABELLO encontrou a oportunidade de provar, mais uma vez, seu fabuloso talento, alicerçada pela qualidade do texto, volto a repetir.




   Mas, se o texto é bom, o(a) intérprete, do monólogo, no caso, idem, está pronto o espetáculo? É claro que não!!! E o “maestro”, para “reger”, no caso, aqui, a atriz? Seu trabalho pode ser descartado? De forma alguma!!! A função do diretor é importantíssima, para determinar a linha de interpretação do(a) artista, bem como propor marcações, posturas, inflexões... Agir como um orientador e balizador, missão, nesta montagem, muito bem desempenhada pelo competente diretor FERNANDO PHILBERT, o qual, depois de tantas assistências de direção, de grandes mestres, acabou, já há algum tempo, por fazer parte desse eminente rol. São dele, por exemplo, as direções de "Antígona" (2013), "Nefelibato" (2016), "O Escândalo Phillippe Dussaert" (2016), "O Corpo da Mulher Como Campo de Batalha" (2018), "Contos Negreiros do Brasil" (2017), "Cuidado com as Velhinhas Carentes e Solitárias" (2017), "O Ator e o Lobo" (2019), "Diário do Farol - Uma Peça Sobre a Maldade" (2019), "Quando as Máquinas Param" (2019) e "Todas as Coisas Maravilhosas" (2019)


FERNANDO PHILBERT


   Nos dias atuais, com todas as dificuldades que o TEATRO enfrenta, para que uma peça seja levantada, potencializadas pela falta de incentivo governamental, louvo a iniciativa de GUSTAVO PINHEIRO e seus artistas criadores e amigos, os quais, com parcos recursos próprios, se cotizaram e conseguiram levar à cena um espetáculo de excelente qualidade, bem “franciscano”, mas contando com a colaboração de ótimos profissionais, para auxiliá-lo.

Se há falta de cifrões, façamos o melhor com o mínimo às mãos. A própria natureza do texto e a concepção do diretor convergiram para a exigência de poucos recursos cênicos, mas que agregassem valores ao espetáculo. NATÁLIA LANA não precisou mais do que um banco e uma grande bolsa, que fica no chão, ao lado do banco, de onde ROSALINA retira alguns objetos interessantes, a serem utilizados em algumas cenas, para definir o cenário da peça.


NATÁLIA LANA


  VILMAR OLOS também surge com uma proposta de iluminação bem simples, sem rebuscamentos, com poucas variações, mas que funciona muito bem. Não sei se estarei fazendo um comentário equivocado, mas, creio que, num aspecto, o iluminador deve ter combinado com a cenógrafa (Eles têm o hábito de trabalhar em conjunto.). Refiro-me a muitas lâmpadas que pendem do teto, em alturas diversas, e preenchem todo o espaço cênico, as quais, no “baile dos Capuleto”, por vezes, “viram pessoas”, com as quais ROSALINA troca uma ou outra palavra, um ou outro comentário crítico, na maioria das vezes. Pareceu-me um trabalho conjunto de cenografia/iluminação.


VILMAR OLOS


    TIAGO RIBEIRO, que, no momento, se encontra em Paris, trabalhando com MADAME Ariane Mnouchkine, no “Théâtre du Soleil”, fez o único figurino da peça, que mistura elementos da época do original de Shakespeare com detalhes bem modernos, como, por exemplo o comprimento da saia: curta, quase uma minissaia.


TIAGO RIBEIRO


     Acho oportuno transcrever um trecho, do já citado “release”, sobre a peça, pela boca de JÚLIA RABELLO: “ROMEU e JULIETA" virou o ideal de amor romântico no imaginário coletivo, mas a gente não prestou atenção no fato de que a linda história de amor aconteceu num período de menos de cinco dias; ou seja, eles se apaixonaram, se relacionaram, se casaram e se mataram em menos de uma semana! Acho que é mais uma história de dois impulsivos e temperamentais do que uma história de amor, né?”. Agradou- me essa provocação, cheia de humor, da parte de JÚLIA.

  Ainda retirado do “release” uma “explicação”, de GUSTAVO PINHEIRO, para a existência do espetáculo, desta montagem: “Há algum tempo, eu e JÚLIA pensamos em fazer um trabalho juntos. Sou grande admirador da mulher que ela é, da sua personalidade e do seu temperamento como atriz. Temos um humor meio parecido e é nessa frequência que a gente se entende. Quando comentei com ela a ideia da ROSALINA, ela curtiu e foi uma alegria! Quis a vida que a montagem acontecesse agora, durante a pandemia. Coincidentemente (Coincidências existem?), pouca gente repara que “ROMEU e JULIETA” também se passa durante uma pandemia de peste, que assola a Itália”.


 


 

FICHA TÉCNICA:


Texto: Gustavo Pinheiro

Direção: Fernando Philbert

 

Atuação: Júlia Rabello

 

Cenografia: Natália Lana

Figurinos: Tiago Ribeiro

Iluminação: Vilmar Olos

Música Incidental: Fernando Philbert

Fotos: Pino Gomes e Cristina Granato

Produção: Celso Lemos

Realização: Me Gusta! Produções

 

 





 

SERVIÇO:

 

Temporada: de 08 de janeiro a 31 de janeiro/2022

Local: Teatro Das Artes

Endereço: Shopping da Gávea – Rua Marquês de São Vicente, 52 – 2º piso – Rio de Janeiro

Telefone: (21) 2540-6004

Dias e Horários: sábados, às 21h, e domingos, às 20h

Duração: 60 minutos

Valor dos Ingressos: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia entrada)

Ingressos à venda em www.divertix.com.br

Classificação Etária: 14 anos

Gênero: Comédia

 



 

           Para começar bem o ano de 2022, com o pé direito, com muita esperança de que o pesadelo que estamos vivendo está chegando ao seu final, nada melhor do que rir com esta deliciosa comédia, que agrada, com certeza, a gente de qualquer idade. E com segurança!!!

        Recomendo muito o espetáculo. Mas isso nem era necessário dizer, não é?




CELSO LEMOS

 

 

FOTOS: PINO GOMES

E

CRISTINA GRANATO

 



A COMÉDIA




E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

 

 

















































 

 

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