segunda-feira, 9 de março de 2020


LUPITA


(E VIVA LA MUERTE!
E VIVA LA VIDA TAMBIÉN!
E VIVA O TEATRO INFANTOJUVENIL!!!)




        Levando-se em conta a quantidade de peças a que assisto, por semana, a qualidade, infelizmente, quase sempre duvidosa, da maioria dos espetáculos infantojuvenis e minhas outras ocupações, quando me proponho a escrever sobre uma montagem voltada para os pequenos, é porque ela variou, na minha escala de avaliação, de BOA a OBRA-PRIMA. No caso desta, sobre a qual me proponho a escrever uma apreciação crítica, não tenho a menor dúvida em classificá-la, dentro do seu nicho, no topo da minha escala: OBRA-PRIMA.

            A peça em questão chama-se “LUPITA” e está em cartaz no Centro Cultural OI Futuro (OI Futuro Flamengo) (VER SERVIÇO.).




            Se, na maioria das vezes, saio triste e frustrado de um Teatro – mas não deixo de ir ao máximo que me é possível-, após ter assistido a uma peça infantojuvenil, por outro lado, quando me deparo com uma encenação de altíssimo nível, cuidadosamente produzida, visando a oferecer um espetáculo da melhor qualidade a um público que está em formação (Eles serão os espectadores do futuro.) e a seus acompanhantes adultos também, sem subestimar sua inteligência e bom gosto, aplaudo-a com todo o meu vigor e entusiasmo, e isso me faz acreditar que ainda existem artistas que respeitam os pequenos e se preocupam em preservar o BOM TEATRO INFANTOJUVENIL. Foi com muita alegria que vibrei e me emocionei com “LUPITA” e é com o mesmo entusiasmo que escrevo sobre o espetáculo.




A peça, além de belíssima, é, no mínimo, de uma “ousadia” incomensurável, uma vez que a autora do texto, e, também, sua diretora, FLÁVIA LOPES, teve a coragem de tocar num tema que sempre foi, é e continuará sendo um grande tabu, que é a morte. É muito difícil entender e aceitar o fato de que, um dia, todos deixarão e existir. Falar de morte entre, ou para, adultos, já é bastante complicado. E quando o público-alvo são as crianças, pré-adolescentes e adolescentes? Mas, para tudo, há um jeito, e FLÁVIA foi buscar, como inspiração, a cultura mexicana, na qual a morte é encarada de forma totalmente oposta à nossa maneira de vê-la e senti-la. Diferenças culturais; apenas isso.




Antes de dar início à minha modesta análise crítica, com relação a “LUPITA”, julgo ser necessário e importante, para o espetáculo seja bem entendido, falar um pouco sobre a maneira como o povo mexicano encara a morte e se apropria dela, para, paradoxalmente, valorizar e celebrar a vida. Para tanto, vali-me de uma profunda pesquisa – espero não ser enfadonho – tomando por base, principalmente, a Wikipédia, com cortes e adaptações, além de outras fontes. 




   



Guardadas as devidas proporções, porém com bastante semelhança, podemos dizer que a festa dos mexicanos, no dia 2 de novembro, “Dia de Finados”, para nós, “El Dia de los Muertos”, para eles, nos remete ao carnaval brasileiro, por mais que isso possa parecer estranho ou absurdo, para quem ainda não tinha conhecimento desse fato. No México, morte é sinônimo de festa, um dado da cultura mexicana que vem, provavelmente, de um sincretismo entre crenças católicas e mesoamericanas, remontando à era pré-colombiana, antes, portanto, da chegada dos espanhóis, o que se pode comprovar por meio de vasto material arqueológico encontrado em escavações de cerca de 3.000 anos.




SANTA MUERTE é uma figura sagrada, venerada no México, representada por um esqueleto, para lembrar às pessoas, principalmente as ricas e “poderosas”, da alta sociedade, que todos somos mortais, enfeitado com adereços, como terços e rosários, elementos do catolicismo. Ela vem vestida com um longo manto (Imaginem um esqueleto sob um manto!), carregando um ou mais objetos, normalmente uma foice e um globo. Aquela simbolizando o instrumento que ceifa vidas; este, para mostrar, talvez, que ela está em qualquer parte do planeta e ninguém dela escapa. A morte é “democrática”. (Tentando ser engraçado. Só tentando.) Por ser clandestino, até pouco tempo, o culto à SANTA MUERTE se dava, por meio de preces e outros rituais, dentro das casas, às escondidas. A partir das duas últimas décadas, ou um pouco mais atrás, ainda que sem a aprovação do Vaticano, a veneração à “SANTA”  tornou-se mais pública, especialmente na Cidade do México. Esse culto, no país, está firmemente entranhado nas tradições das classes baixas e marginalizadas do México e, a cada dia, aumenta o número de fiéis à SANTA MUERTE, talvez por uma questão, também, de “subveter” a ordem, desobedecer ostensivamente. É uma celebração que honra os falecidos; existe, para que todos cultuem as lembranças dos seus mortos, com alegria, valorizando os bons momentos que privaram com eles.


Santa Muerte.


La Catrina.


É uma das festas mexicanas mais animadas. Reza a lenda que os mortos vêm visitar seus parentes. Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos falecidos; os das crianças são as caveirinhas de açúcar. Segundo a crença popular, nos dias e 2 de novembro, os mortos têm permissão divina para visitar parentes e amigos, motivo pelo qual as pessoas enfeitam suas casas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram, além de fazerem máscaras de caveira, vestirem roupas com esqueletos pintados ou se fantasiarem de “morte”. Famílias inteiras vão aos cemitérios, com cerveja e comida, que são decoradas com muitas flores de outono, bem coloridas e semelhantes ao girassol. Há, inclusive, familiares que contratam “mariachis” (Explicação mais adiante.) e trios especializados em ir cantar nas tumbas, para “animar” o ambiente. (Seriam uma espécie das nossas carpideiras, ao contrário. Eles cantam com alegria; elas com tristeza.).




Encarado de forma mórbida, pela maioria das culturas, o dia de venerar os mortos, no México, representa o momento de “reencontrar” os que já se foram, sem nenhum medo. Acredita-se que todos retornam do além, para uma visita regada a comida, bebida e dança, sobre as lápides dos cemitérios. As celebrações começam em 1º de novembro, quando se comemora o “Dia de Todos os Santos”. De acordo com a crença local, nesse dia, as almas das crianças retornam. É por isso que as ruas são tomadas por uma meninada, que não tem medo de maquiagem carregada e fantasias de personagens um tanto assustadores. Levadas pelas mãos dos pais, imitam vampiros, múmias, bruxos e personagens de filmes de terror. Muito parecido com a festa do “Halloween”, o “Dia das Bruxas”. No dia seguinte, quando as almas dos mais velhos voltam a esta dimensão, os adultos repetem o ritual.




Não há festa completa sem alguns itens “de primeira necessidade”, para os mexicanos. O mais onipresente deles é o altar (Os dois que existem, no cenário da peça, ocupando as duas laterais do palco, são verdadeiras obras de arte. Sobre eles, falarei no momento oportuno,). Construído em três níveis, está sempre perto de uma janela, “para facilitar a entrada dos mortos”. Os copos d’água servem para acalmar a longa viagem dos espíritos, que se guiam pelo perfume de uma flor de pétalas alaranjadas, a “cempasúchil”, também conhecida como “cravo-de-defunto”, de um amarelo intenso. Para agradar aos homenageados, comidas e bebidas de sua preferência também são ofertados, além de velas, plantas e fotos. Os altares não são erguidos apenas nas casas. Em lojas, museus e, até mesmo, em escritórios, uma mesa é sempre destinada às oferendas. As ruas e os monumentos, especialmente estátuas e bustos, são cercados por cruzes, velas e flores. Tal como acontece no Brasil, por ocasião das festas juninas, os espaços são enfeitados com bandeirinhas típicas, geralmente feitas em papel de seda. A diferença é que, no México, esse material é recortado em grafias alusivas a caveiras, imagem-símbolo de toda a festança, com perfurações, formando desenhos. Esses orifícios no papel, acreditam os fiéis, permitem que as almas passem através da celulose. Em todos os lugares, é possível encontrar o “pan de muertos” (“pão dos mortos”), geralmente assado em formato de coração, jacaré ou borboleta, e recoberto por uma camada de açúcar cristalizado.




Nesse período, os brindes mais comuns são as caveirinhas de açúcar, também feitas de chocolate ou amaranto, um tipo de grão, baseadas no esqueleto de uma mulher, batizada de LA CATRINA, envergando um chapéu pomposo e distintivo da alta sociedade, lembrando que a morte anula qualquer diferença social. Em trajes e materiais diferentes, as miniaturas da musa controversa dominam as lojas de presentes do país e é difícil voltar para casa sem uma caveirinha na bagagem. As “catrinas” também inspiram fantasias e concursos.

Uma outra semelhança com o nosso carnaval é que, como aqui, nem os políticos e as pessoas que ocupam a vida pública escapam da “brincadeira” e das críticas. As caveiras políticas tratam de criar epitáfios ou rimas que ironizam a situação do país. No México, em vez de flertar com a melancolia, seus habitantes andam de mãos dadas com o grande mistério que começa quando a vida se extingue.




Como, em toda festa, não pode faltar música, ao celebrar a vida, por meio da morte, uma presença marcante, nos eventos, é a dos “mariachis”, um grupo de músicos, formado, geralmente (o mais típico), por até oito violinos, duas trombetas e, pelo menos, um violão, incluindo uma “vihuela” estridente e um baixo acústico, chamado “guitarrón”. Os músicos não apenas tocam, mas, também, cantam. “Mariachi” também significa um tipo de música típica mexicana, que remonta a, pelo menos, o século XVIII, passando por evoluções, até os nossos dias.

As crianças estão familiarizadas com o tema. Por isso há até desenhos animados que explicam o “Dia dos Mortos”. Elas também recebem um presente por esta data, chamado de “calaverita” (caveirinha).




Dando início, propriamente, à análise da peça, não posso deixar de começar falando da estupenda produção do espetáculo. Não houve economia, em nada; pelo menos, no que concerne a talento, bom gosto e criatividade. Ouso dizer que é uma das mais ricas, se não a mais, não sob o ponto de vista econômico, produções voltadas para o público infantojuvenil que já vi até hoje. É uma daquelas em que, por mais que se tente encontrar, com o auxílio de uma gigantesca lupa, um erro, um excesso ou uma ausência, será perda de tempo, porque tudo é perfeito e funciona a contento.






SINOPSE:
Para evitar que a DONA MUERTE dançasse com o seu avô (MÁRCIO NASCIMENTO), durante a tradicional festa do “Dia dos Mortos”, o que significaria que ele seria o próximo a ser levado por ela, LUPITA (MARISE NOGUEIRA), uma agitada menina de 10 anos, imagina uma mirabolante rota de fuga, para escapar com ele, que, além de seu avô, é seu melhor amigo, para bem longe do vilarejo de SAN MIGUEL DEL CORAZÓN, no interior do México, o fictício lugar em que se passa a história.
Inspirada na cultura e nas cores mexicanas, a montagem, de formas animadas, se utiliza de máscaras, bonecos, objetos manipulados, projeções e luz negra, interagindo com as linguagens do TEATRO, da palhaçaria, da música e da poesia, para falar do tema mais misterioso da vida, e o mais temido: a morte.







O texto flui naturalmente e vai, desde seu início, prendendo a atenção do público. Assisti à peça no dia de sua estreia, 29 de fevereiro (2020), e revi-a no segundo sábado da temporada, 7 de março, por dois motivos: em primeiro lugar, porque adorei o espetáculo; em segundo, para observar detalhes – e olha que são muitos - que não tive a oportunidade de anotar, quando fui apresentado a “LUPITA”. Nas duas vezes, fiz algo que gosto muito de praticar, quando estou na plateia de um espetáculo infantojuvenil: observar as reações dos pequenos. Vi olhinhos atentos, brilhantes, curiosos, embevecidos, e “ouvi um silêncio” quase sepulcral, em ambas as vezes. Todos muito atentos ao que viam e ouviam. Ninguém assustado. Tudo o que eu escrevi, lá em cima, sobre o que representa a morte, na cultura mexicana, está no texto, de uma maneira simplificada, quase didática, e, ao mesmo tempo, de forma lúdica e poética, traduzida pelos diálogos e detalhes, na encenação, inseridos pela diretora. A história é contada em dois planos: por meio de diálogos e de trechos narrativos, feitos por LUPITA, no proscênio.




Segundo FLÁVIA LOPES, autora e diretora da peçatexto extraído do “release” que me foi enviado por LYVIA RODRIGUES (AQUELA QUE DIVULGA – ASSESSORIA DE IMPRENSA)“‘LUPITA’ é uma história sobre o amor. A minha motivação nasceu do meu olhar sobre a própria vida, das perdas que vi e vivi. Da dificuldade em ver adultos lidando com situações de dores e perdas com suas crianças. Como artista e professora de TEATRO, é importante poder criar um espetáculo teatral que me atravesse e possa exercer em cena um tema tão delicado. ‘A vida tem dessas coisas’ e é sobre essas coisas que precisamos falar”. Ao falar de sua motivação para escrever a peça, FLÁVIA funciona como uma porta-voz de todos nós, que já vivenciamos, uma ou muitas vezes, a dor da perda de um parente, um amigo, um ente querido...




            Para dar forma a seu texto, FLÁVIA bebeu em muitas excelentes fontes: o programa do Chaves/Chapolin, as novelas mexicanas, os contos e lendas indígenas mexicanos, as músicas e as obras de artistas como Frida Kahlo e Diego Rivera e do artesão Pedro Liñares Lópes (1906 – 1992), que criou, no século XX, os folclóricos alebrijes, figuras feitas de papelão, camadas de papel machê e tiras de de jornal, pintadas com cores quentes, berrantes, as quais representam algum animal fantástico. Além disso, contou com uma consultora da pedagoga Alessandra Gracio, professora de educação infantil no México, e também retirou elementos de conversas com famílias mexicanas.


            Com o objetivo de chamar a atenção dos que me leem, acerca das fortes pinceladas de poesia, utilizadas, na peça, para justificar e explicar o sentido da morte, depois de muito me questionar, se deveria ou não fazê-lo, optei por não privá-los de umas boas linhas retiradas do excelente “release” a que já me referi.
“Em um México imaginário, a menina LUPITA, de 10 anos, faz parte de uma família muito parecida com tantas outras famílias. Ela vive com a sua mãe e seu avô, que também é o seu melhor amigo. LUPITA a adora ouvir as histórias dele, principalmente de quando ele era bem pequeno, do tamanho de um botão, que cabe na palma da mão. Com seu avô, ela aprendeu a ouvir e a contar histórias. Aprendeu, também, que tudo é música - até o silêncio - e que ‘nada é impossível, para quem tem imaginação’. A sua jornada começa com a tradicional festa do ‘Dia Dos Mortos’, que acontece, todos os anos, no Vilarejo de San Miguel del Corazón, mas que, naquele ano, seria diferente e mais especial, por ser o primeiro ano da partida de seu avô. A encenação é uma viagem pela memória de LUPITA, quando o público se torna cúmplice de suas lembranças, entre presente e passado.


Antes de ‘virar passarinho’, o avô de LUPITA a presenteia com um livro em branco, para que ela escreva suas próprias histórias, a partir de sua memória e imaginação. Dito e feito, a menina desenha uma mirabolante rota de fuga, para escapar com seu avô, evitando, desta forma, que a DONA MUERTE dance com ele, durante os festejos do ‘Dia dos Mortos’.  
Não foi possível evitar o inevitável, mas, para aceitar o desejo de seu avô, de seguir o curso da vida, foram necessárias muitas folhas, para que a pequena heroína descobrisse que ‘o amor nunca morre’ e que ela e seu avô estarão unidos, para sempre, nas memórias e nas histórias que viveram juntos.”.




            A extensa lista de nomes, dos mais conceituados profissionais de TEATRO, que consta na ficha técnica da peça já seria suficiente para atrair qualquer pessoa à plateia. É muita gente competente envolvida no projeto, numa profunda comunhão de empenhos, para que a excelência fosse atingida, como, de fato, ocorre.


          Não sendo necessário acrescentar nenhum comentário ao excelente texto de FLÁVIA LOPES, falemos dela na função de diretora do espetáculo. O fato de ser a própria dramaturga já lhe confere liberdade total para dirigir a peça. Creio que essa concepção artística já deve ter começado a se formar, em sua mente, à medida que ia escrevendo cada cena, o que foi sendo, depois, aprimorado com o concurso dos outros artistas de criação, os quais foram sendo agregados ao “audacioso”, no bom sentido, projeto. A direção é impecável, seja pelas marcações, seja pela exploração exata de cada detalhe do texto, seja pela condução do trabalho dos atores, seja por todas as soluções empregadas em cada cena, contando, repito, com a participação e colaboração de seus outros criadores. É bastante interessante e providencial a cena que abre o espetáculo, quando um trio de “mariachis” adentra o auditório, cantando e interagindo com o público. Ali já começa a se formar a cumplicidade que deve existir entre palco e plateia, e que permanece até o fechar do pano. Várias outras cenas de destaque poderiam ser citadas, como a do “voo de LUPITA com seu avô” ou a “viagem de barco dos dois”, mais a da aparição de CATRINA, a do aprisionamento do pássaro Ilo e sua imediata soltura, a de quando o avô vira passarinho e voa para o céu...


            FLÁVIA é uma referência e unanimidade, no universo do TEATRO INFANTO JUVENIL, tendo fundado importantes companhias (Os Sanzussô – Povo de Teatro, a Cia. Dos Bondrés e o Atelier Gravulo) e conquistado muitos prêmios e indicações a, como dramaturga, diretora e atriz, além de atuar em peças “para adultos” e de exercer suas pesquisas na linguagem de TEATRO de Formas Animadas, Palhaçaria, Bufonaria e Comicidade.


            Grande admirador que sou da cultura mexicana, que conheço “in loco”, um apaixonado por ela, em todos os seus representantes artísticos e culturais (Viva Frida Kallo! Viva Diego Rivera! Viva el México!) e em tudo, de uma forma geral, fiquei extasiado, tão logo adentrei a plateia e vi o magnífico cenário, já exposto. Não tenho a menor dúvida de que CARLOS ALBERTO NUNES merece, no mínimo, indicações a prêmios de TEATRO, por esse fantástico trabalho. No fundo do palco, apenas um tecido, esticado, para receber projeções. O espaço cênico, propriamente dito, é completamente livre, entretanto o que se vê, na boca de cena e no proscênio é de fazer chorar, de emoção. Nas duas laterais do palco, indo do chão ao limite da altura da referida boca, há dois altares, como os descritos, alguns parágrafos acima, “et similiter” (da mesma forma), sem faltar um detalhe, inclusive fotos dos “nossos entes queridos falecidos”; no caso, de artistas que contribuíram para construir e escrever a história do TEATRO INFANTOJUVENIL no Brasil, sendo que, ao final de cada sessão, um deles é homenageado, com seu nome lembrado e a projeção de sua imagem, no fundo do palco, enquanto todos do elenco o reverenciam, ao som dos aplausos da plateia. Muito emocionante!!! No dia da estreia, o homenageado foi Ilo Krugli; na segunda vez em que vi a peça, foi Monica Botafogo Selig (Que lindo gesto de homenagem!). São duas peças deslumbrantes, que eu não pensaria duas vezes em adquirir, pelo menos uma, para decoração em minha casa. Não estou exagerando mesmo, pois é uma obra de arte. Ligando os dois, pelo alto, uma espécie de portal, feito com centenas das já citadas flores dos mortos (“cempasúchil”, também conhecida como “cravo-de-defunto”, de um amarelo intenso), no qual há quatro máscaras da SANTA MUERTE. Esta também aparece, em forma de estátuas, não em tamanho natural, mas bem grandes, nas duas laterais do palco. Também gostaria de ter uma na minha decoração de casa. E não estou exagerando – repito. Arrumados, no proscênio, mais propriamente, na ribalta, conjuntos de velas e arranjos florais, muito coloridos. A cenografia se estende à plateia, na forma de cordões com bandeirolas e gambiarras, com pequenas lâmpadas coloridas, como se estivéssemos num quintal ou em um ambiente externo da vila, num daqueles dias de festa. Um deleite total para os olhos! E tudo totalmente relacionado ao tema explorado na peça.


            NUNES assina, também, os figurinos, da mesma forma, dignos de indicações a prêmios de TEATRO, por sua beleza e fino acabamento, reproduções fiéis do trajes típicos do povo mexicano do interior, peças ricas em detalhes de aplicações e bordados, todas, como não poderia deixar de ser, exageradas nas cores. O traje vestido pela SANTA MUERTE, ou CATRINA, por exemplo, na cena em que ela aparece, para dançar com o avô de LUPITA, é, simplesmente, genial, realçado pela luz negra, que faz parte do conjunto de iluminação, próximo elemento a ser apreciado. Antes, porém, um “viva” às máscaras e adereços confeccionados, a muitas mãos, para o espetáculo (Observar na ficha técnica.).


            Um espetáculo como este exige uma luz vibrante, colorida, aprofundada na paleta de cores, imposições, sabiamente, seguidas por ANA LUZIA MOLINARI DE SIMONI. A luz negra não é muito utilizada, em TEATRO, porém, aqui, tinha que aparecer, para ajudar na criação de cenas nas quais os atores manipuladores, completamente vestidos de preto, não poderiam ser vistos, e os bonecos e objetos manipulados tinham de ganhar um grande realce, em tintas fosforescentes, o que é totalmente alcançado. Fora isso, todas as cenas ganham cores e intensidades afinadas, ajustadas às exigências da narrativa cênica.


            Quanto ao elenco, todos, revezando-se - a maioria dos atores - em mais de um personagem, várias vezes, com rapidíssimas trocas de figurinos, se entregam, de corpo, alma e coração, às figuras que representam, de sorte que o conjunto do trabalho me leva a sugerir, se houvesse, em algum prêmio de TEATRO carioca (Acho que há num deles, apenas, mas não estou certo.) a categoria “elenco”, que este grupo fosse indicado. MARISE NOGUEIRA está excelente, como a protagonista. LUPITA é o diminutivo de Guadalupe, nome muito comum, no México e na Espanha, em homenagem à Virgem de Guadalupe, Nossa Senhora de Guadalupe (Nuestra Señora de Guadalupe), Padroeira do México e da América. MÁRCIO NASCIMENTO, como sempre perfeito no que faz, é um delicioso avô (É tratado, apenas, como “avô”, anônimo, de propósito, por parte da autora, para marcar bem o arquétipo.), daqueles que todos queriam ter. Como não tive a oportunidade de conhecer nenhum dos meus dois, que faleceram antes de eu vir ao mundo, enxergo, no personagem de MÁRCIO, o “vô” com o qual sempre sonhei e que procuro ser, para os meus três netos. Aquele avô me emocionou demais. Nos papéis coadjuvantes – não me canso de repetir: os personagens; não os atores – aplaudo, com o mesmo entusiasmo como aplaudi neta e avô, ALINE MOROSA (ROSÉLIA, irmã gêmea de ROSITA, e MARIACHI DOM CARMELO), CAIO PASSOS (ANGELINA e MARIACHI MURILO), GABRIELLY VIANNA (ROSITA, irmã gêmea de ROSÉLIA, e MARIACHI BOLAÑOS, uma merecida homenagem a Roberto Bolaños, o eterno Chaves / Chapolin Colorado.) e MARIA ADÉLIA (MÃE DE LUPITA – não identificada por um nome próprio, também para marcar o arquétipo; sempre chamada de “mamita” - e CATRINA). Um detalhe que ficou marcado, para mim: a caracterização da mãe lembra muito a figura de Frida Kallo, uma das grandes paixões da minha vida.


            Como poderão constatar abaixo, e eu já me referi a isso, a ficha técnica é extensíssima, porém não posso omitir alguns nomes, os quais, com seu talento e profissionalismo, também contribuem para o sucesso deste impecável espetáculo, como, por exemplo, de todos os que participaram da confecção dos muitos adereços e dos bonecos, habilmente manipulados (Verificar na FICHA TÉCNICA.), assim como o de GUILHERME FERNANDES, importantíssimo, na criação dos videografismos, que ilustram, correta, precisa e lindamente, muitas das cenas; o de VERÔNICA MACHADO, na preparação de voz; o de MONA MAGALHÃES, responsável pela criação da perucaria; e dois nomes, responsáveis pela ótima direção musical: KARINA NEVES e JONAS HOCHERMAN, os quais nos brindam com uma trilha sonora, contendo peças do cancioneiro mexicano, incluindo várias vinhetas com gravações de “mariachis”, sem falar no emblemático “Cielito Lindo”, uma espécie de “hino da despedida”, escrita em 1882, por Quirino Mendoza y Cortés (“Ay, ay, ay, ay, / Canta y no llores, / Porque cantando se alegran, / Cielito lindo, los corazones.” – “Ai, ai, ai, ai, / Canta e não chores, / Porque cantando se alegram, / Cielito lindo, os coraçõs.”). No Brasil, esse refrão ganhou outra versão: “Ai, ai, ai, ai, / Está chegando a hora, / O dia já vem raiando, / Meu bem, tenho que ir embora.”.




FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia e Direção: Flávia Lopes
Assistente de Direção: Tatiane Santoro
Direção Musical: Karina Neves e Jonas Hocherman

Atuação: Atores\Personagens (por ordem alfabética):
Aline Marosa - Rosélia e Mariachi Don Carmelo
Caio Passos - Angelina e Mariachi Murilo
Gabrielly Vianna - Rosita e Mariachi Bolaños
Márcio Nascimento - Avô
Maria Adélia – Mãe e Catrina
Marise Nogueira - Lupita

Cenografia e Figurinos: Carlos Alberto Nunes
Cenógrafa e Figurinista Assistente: Arlete Rua
Estagiária de Figurino e Adereços: Duda Costa
Estagiária de Cenografia e Adereços: Letty Lessa
Costureiras: Carla Costa e Meraki Ateliê
Cenotécnico: Marcos Souza

Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni  
Iluminador Assistente: João Gioia
Montagem: Juca Baracho e João Gioia

Estrutura de Bonecos: Márcio Newlands
Finalização de Bonecos: Maria Adélia e Luciana Maia
Alebrijes, Lupitinha e Pássaros: Maria Adélia e Luciana Maia
Máscaras: Flávia Lopes, Maria Adélia e Marise Nogueira

Videografismo: Guilherme Fernandes

Preparação vocal: Verônica Machado
Assistente de Preparação Vocal: Tamara Innocente
Oficina de Canto: Taiana Machado e Roberta Jardim

Perucas: Mona Magalhães

Músicos de Estúdio:
Renata Neves - violino e viola
Pedro Franco - violão e bandolim
Aquiles Moraes - trompete

Gravação e sonoplastia: Yuri Villar
Operação de som: Paulo Mendes
Operação de luz: João Gioia
Operação de vídeo: Guilherme Fernandes

“Designer gráfico”: Guilherme Fernandes
Assessoria de imprensa: Lyvia Rodrigues (Aquela que Divulga)
Mídias Sociais: Guilherme Fernandes
Fotógrafo: Rodrigo Menezes

Coordenação Administrativa Financeira: Estufa de Ideias
Assistente de produção: Luciano Lima
Produção executiva: Fernando Queiroz
Direção de Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda Pascoal (Pagu Produções Culturais)
      










SERVIÇO:

Temporada: De 29 de fevereiro a 12 de abril de 2020.
Local: Centro Cultural Oi Futuro (OI Futuro Flamengo). 
Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro (Próximo à estação Largo do Machado, do metrô).
Telefone: 3131-3060.
Dias e Horários: Sábados e domingo, às 16h.
Valor dos ingressos:  R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Classificação Etária: Livre.
Duração: 60 minutos.
Lotação do Teatro: 63 pessoas.
Gênero: Teatro Infantojuvenil. 






(Obra “El Jarabe en Ultratumba”, de José Guadalupe Posada)



            No fechamento desta crítica, é importante que se dê um crédito ao OI Futuro, na pessoa de Roberto Guimarães, seu Gerente-Executivo de Cultura, por ter acreditado tanto neste vitorioso projeto e por tantos outros espetáculos de altíssimo nível, que vêm sendo apresentados naquele espaço, desde sua criação.
            Agora, só me cabe uma pergunta: O que está faltando para que você corra ao Centro Cultural OI Futuro, e se deixar emocionar, voltar a ser criança, com esta excelente montagem, que RECOMENDO MUITO?!

 


Dia de estreia. (Eu, na ponta esquerda, segunda fila.)


(FOTOS: RODRIGO MENEZES  )


E VAMOS AO TEATRO!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!


A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!


RESISTAMOS!!!


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PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!



















































































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