sábado, 26 de janeiro de 2019


FULANINHA
E
DONA COISA

(UMA COMÉDIA DIGESTIVA,
COM A CARA DO
VERÃO CARIOCA.
ou
O QUE DÁ PARA RIR
DÁ PARA REFLETIR.)







           Dando continuidade a uma vitoriosa trajetória, iniciada em Niterói, em 2017, passando por uma longa temporada, para os dias de hoje, de três meses, em São Paulo, e depois de ter feito uma turnê, pelas cidades de Fortaleza, Recife, Natal, Belo Horizonte, Salvador, Novo Hamburgo e Porto Alegre, todas com estrondoso sucesso de público e crítica, chegou ao Rio de Janeiro, para uma curta temporada, a comédia “FULANINHA E DONA COISA”, em cartaz no Teatro FIRJAN SESI Centro (VER SERVIÇO.).

            Pode um texto fazer tanto sucesso, nos dias de hoje, tendo sido escrito há 30 anos? É claro que sim! Por que não? Basta ser de boa qualidade, receber uma roupagem nova, bem moderna, que a temática seja, de preferência, atemporal e que chegue facilmente ao grande público. É o caso de “FULANINHA E DONA COISA”, texto de NOEMI MARINHO, com direção de DANIEL HERZ, trazendo NATHALIA DILL (FULANINHA) e VILMA MELO (DONA COISA), como protagonistas, ao lado de TIAGO HERZ (MIGUEL).









SINOPSE:

            Explorando o bom humor, “FULANINHA E DONA COISA” retrata as dificuldades da convivência diária entre patroa e empregada, falando de duas mulheres que apresentam extremas diferenças de origem, duas pessoas, ao mesmo tempo, tão ricas e distintas.

De um lado, DONA COISA (VILMA MELO), mulher moderna, independente, recém-separada do marido, que prefere manter certa distância em suas relações. Do outro, FULANINHA (NATHALIA DILL), uma jovem com a cabeça cheia de sonhos, que chega do interior, para trabalhar como empregada doméstica, leva um choque cultural, diante de tanta tecnologia, até então, desconhecida para ela, e se envolve, afetivamente, com MIGUEL (TIAGO HERZ), técnico de uma companhia telefônica.
Boa parte do humor vem das trapalhadas de FULANINHA, a qual, diante de tanta coisa “diferente”, resolve, por exemplo, lavar roupas na piscina do prédio, achando que fosse um “açude de gente rica”, e colocá-las, para secar, na rede de vôlei; que leva tremendos sustos com o toque do telefone, com o qual demora a criar uma “intimidade”; que se confunde com o elevador...

Apesar de todos os óbices e de sua matutice, FULANINHA tem um misto quê de ingenuidade e esperta e usa a inteligência para conquistar a patroa, a qual só admite a empregada, em sua casa, com muitas exigências, como dormir no local, trabalhar nos finais de semana e não namorar.

Ignorando seus direitos trabalhistas, a moça concorda com as exigências da patroa (até a página 5), por também gostar desta e se faz valer disso, para tirar proveito daquela casa, como se ela fosse sua, como se fosse um membro da família, usando as roupas de DONA COISA e comendo suas comidas preferidas.

O relacionamento entre as duas proporciona boas gargalhadas e serve para que o público perceba, nas entrelinhas ou por trás de certas “piadas”, críticas à sociedade e ao tratamento opressivo, muitas vezes, dispensado aos serviçais.







           O espetáculo é uma comédia leve, com a cara do verão carioca. Uma peça “retrô”, como a classifica o diretor, DANIEL HERZ, o qual acrescenta que “Todos temos, na vida, um lado FULANINHA e um lado DONA COISA” e que optou por uma direção bem diferente da que foi assinada por Marco Nanini, em 1991, e que trazia Aracy Balabanian, como DONA COISALouise Cardoso, vivendo a FULANINHA. Na época, a peça ficou sete anos em cartaz. Depois, vieram outras montagens, antes desta que estamos analisando.

           Optando por uma encenação afastada do realismo, HERZ achou por bem manter detalhes e elementos anacrônicos, na sua montagem, encontrados na década de 90, como, por exemplo, para ficar apenas no campo da comunicação, o velho telefone com fio, fixo, que, às vezes, resolvia “não dar linha”; a secretária eletrônica, que nos salvava de atender às chamadas indesejáveis; e o “bip” de mensagens. Outro objeto, interessantemente colocado em cena, em tamanho gigante, e que contém um significado, no corpo da peça, sobre o qual falarei adiante, é o desafiador cubo mágico.

           Mas é claro que a peça também ganhou toques de contemporaneidade, em função dos avanços que a legislação trabalhista, afeta às empregadas domésticas, atingiu. DANIEL ficou atento a isso, porém manteve a fidelidade ao texto original, sabendo explorar, com acerto, a forte dose de humor nele contido. Não há, na ficha técnica, menção a alguém, em especial, responsável pela direção de movimento, o que me leva a concluir que as boas marcas, os deslocamentos dos atores em cena, com alguns toques quase que coreográficos, leves e engraçados, ainda que, alguns, meio previsíveis, são atribuídos ao próprio diretor.








          FULANINHA passa longe daquela empregada doméstica de antigamente, que só era admitida, se dormisse no emprego, o que significava, praticamente, estar a serviço da família contratante 24 horas por dia, sem folga, podendo ser convocada a trabalhar a qualquer hora, do dia e da noite. Era como se fosse da família, mas, no fundo, salvo raras exceções, não passava de uma agregada, de uma serviçal, com aquele ranço de escrava, principalmente porque a grande maioria pertencia à raça negra; ou eram nordestinas ou mocinhas do interior, analfabetas, as preferidas, para “aprender o serviço e se moldar ao meu gosto”. Isso mudou, e muito, graças a Deus, embora ainda se encontrem “fulaninhas” por aí. Anônimas. É quanto a esse aspecto que a peça nos oferece um prato cheio para reflexões.

           Pode ser, também, que a relação patroa / empregada sirva apenas de um pretexto para outra intenção. É possível que, também, antes de mais nada, o que se vê em cena, em primeiro plano, sejam duas mulheres díspares, cara a cara, discutindo e trocando ideias e conselhos sobre as suas carências, os seus diferentes tipos de solidão, seus anseios, sonhos, suas frustrações, perdas...






            Isso fica bem marcado, no texto de NOEMI MARINHO, quer no que está escrito, para ser dito pelas atrizes, quer pelo que fica implícito, nas entrelinhas e nos silêncios. Considero a dramaturgia boa, por sua simplicidade, que leva a uma fácil assimilação, por parte do grande público, mesmo pelos que não são tão “habitués” das salas de espetáculo.
           Voltando à direção, de DANIEL HERZ, agrada-me muito o detalhe da escolha das atrizes que interpretam a patroa e a empregada, pormenor que intriga alguns desavisados ou “pré-conceituosos”. A patroa é negra e a empregada é branca. Por que não? Por que não subverter os estereótipos? Grande sacada! Melhor ainda, na cena, ainda que breve, na qual as atrizes mudam de personagens, dizendo um mesmo texto, já previamente apresentado ao público. É, segundo HERZ, “uma brincadeira”, que serve, segundo a minha visão, para intensificar a mensagem de que “o que vocês estão vendo é de verdade”.
“É engraçado observar como temos tantos brasis dentro do Brasil. Em algumas cidades, quando entrávamos em cena, muitos se perguntavam: ‘É aquela ali que é a Dona Coisa? É a Nathalia Dill que faz a empregada?’. Então, temos, também, com a peça, o compromisso social de mudar esse olhar; o olhar do por que não?”, comenta a atriz VILMA MELO.

            “A possibilidade de emocionar o público, dentro de uma comédia, é algo que me instiga e me interessa”, comenta DANIEL HERZ.







“No momento em que o país passou por transformações, nos direitos trabalhistas dos empregados domésticos, a peça aparece como uma oportunidade de falar das recentes modificações, de maneira bem-humorada, sem deixar de ser informativa. Um espetáculo que fala das muitas possibilidades e ambiguidades que existem numa relação entre o personagem que oprime e o que é oprimido”, afirma o produtor EDUARDO BARATA, que foi assistente de direção de Marco Nanini, na montagem de 1991.

“A gente fala de uma relação muito complexa, porque é trabalhista e, ao mesmo tempo, acontece dentro de casa. O público se identifica muito; ora com uma, ora com outra”, aponta NATHALIA DILL. Eu acrescento que o texto apresenta uma relação de interdependência entre as protagonistas, o que uma acaba, no fundo, no fundo, por enxergar na outra, sem demonstrar isso de forma clara.

É bem acertado o trabalho do trio de atores. VILMA, veterana dos palcos, mais uma vez, empresta seu talento para construir uma personagem, até certo ponto, um pouco exagerada, nas suas ações, impressão inicial, que é desfeita, com o decorrer da peça. Sua “expansividade” parece-me bem proposital, para contrastar com o comportamento comedido e caipira da personagem de NATHALIA, a qual, aos poucos, também vai se soltando e se adaptando às exigências do novo meio. Atriz mais presente na TV, NATHALIA mostra que é uma boa atriz de TEATRO, também. Duas boas atuações. Quanto a TIAGO HERZ, o qual substituiu Rafael Canedo, que era o titular do papel, ele executa sua função de forma discreta, para não ofuscar as ações das duas protagonistas e funciona muito bem como personagem coadjuvante.








FERNANDO MELLO DA COSTA nos brinda com um ótimo cenário, despojado de muitos detalhes, bastante comedido, intencionalmente, para dar, ao público, a oportunidade de “viajar” na imaginação e ver o que não está, concretamente, em cena. Considero genial sua ideia de pôr, no palco, ao fundo, duas janelas, sem a forma tradicional destas, representadas por uma espécie de persiana, e um gigantesco cubo mágico, numa das laterais do palco, que serve como mesa, sobre o qual se vê, apenas, um aparelho telefônico antigo, vermelho. Aquele espaço é uma sala de estar, cuja imagem será completada ao gosto de cada um espectador. Também a ausência de mais elementos cenográficos em cena, deixando o palco livre, possibilita que esse mesmo espaço sirva a outros. Voltando ao cubo mágico, armo-me de coragem para “voar” e ver nele algo simbólico, representando o alto grau de dificuldade de entendimento entre patroa e empregada, considerando-se quão difícil é a resolução que ele propõe a quem intenciona deixá-lo com todas laterias completadas com a mesma cor. Viajei muito?  







Diante do ritmo acelerado, imposto pelo texto, com muitas cenas curtas, e pela direção, diante da possibilidade real de tantas mudanças de cena, CLÍVIA COHEN teve a genial ideia de criar um figurino funcional, que passasse por transformações em múltiplos elementos e adereços. Assim, por exemplo, Uma hora, a bolsa da DONA COISA vira o avental de FULANINHA (símbolo da empregada doméstica); outra hora, a saia vira um mantô (símbolo de poder e riqueza). Então, assim como a relação entre as duas vai se transformando, os figurinos seguem a mesma proposta, diz a figurinista.

RENATO MACHADO assina uma luz muito interessante, que valoriza as cenas e se adéqua à proposta de focar, dependendo da situação, mais o empoderamento de uma ou outra personagem protagonista.

A montagem é embalada uma boa direção musical, feita por LEANDRO CASTILHO, que compôs vinhetas e selecionou trilhas que auxiliam nas transições de cenas. “A música contribui bastante com o humor. Aproveitei ritmos bem brasileiros, como batucada de tamborim, cuíca e samba.”, acrescenta o diretor musical.









FICHA TÉCNICA:

Texto: Noemi Marinho
Direção: Daniel Herz
Assistência de Direção: Tiago Herz

Elenco: Nathalia Dill, Vilma Melo e Tiago Herz (Do dia 24/01 até 10/02, o papel de Fulaninha, será interpretado pela atriz Cláudia Ventura.)
Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurino: Clívia Cohen
Iluminação: Renato Machado
Direção Musical e Trilha Sonora Original: Leandro Castilho
Fotos: Gui Maia
Direção de Produção: Elaine Moreira
Produção Executiva e Diretor de Palco: Tom Pires
Idealização e Produção: Eduardo Barata
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação – Julie Duarte













SERVIÇO:

Temporada: De 11 de janeiro a 10 de fevereiro de 2019.
Local: Teatro Firjan SESI Centro.
Endereço: Avenida Graça Aranha, n°1 – Centro – Rio de Janeiro (Metrô estação Cinelândia).
Tel: (21) 2563-4164.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia.










            “FULANINHA E DONA COISA” é uma comédia de família para família. Leve e, aparentemente, despretensiosa, a peça consegue arrancar, do público, boas gargalhadas, que geram uma “recompensa”, ao final da última cena, por meio de aplausos prolongados ao elenco.

            RECOMENDO O ESPETÁCULO.








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TEATRO BRASILEIRO!!!









Nathalia Dill, Vilma Melo e Cláudia Ventura.





(FOTOS : GUI MAIA.)





























































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