terça-feira, 24 de julho de 2018


FAVELA 2 –
A GENTE
NÃO DESISTE
(TEATRO É RESISTÊNCIA.
FAVELA É RESISTÊNCIA.
FAVELA, NO TEATRO,
É RESISTÊNCIA MAIOR.
ou
NADA DE “COMUNIDADE”!
FORA, “POLITICAMENTE CORRETO”!
FAVELA É FAVELA!!!)






            Montar um espetáculo teatral, no Brasil, é, na grande maioria das vezes, uma imensa ousadia, algo hercúleo. E isso vem se agigantando, cada vez mais, nos últimos tempos. Levar público aos teatros está muito difícil, ultimamente; lotar as casas de espetáculo, então, mais ainda. Ficar em cartaz durante muito tempo, com um espetáculo, fazendo sucesso, tornou-se uma raridade neste país. Basta ver as temporadas muito curtas das peças em cartaz. Vez por outra, porém, surge algum “fenômeno” teatral que contradiz tudo isso.

            Com muita dificuldade, porém com excesso de amor ao TEATRO e respeito ao público, há cinco anos um grupo de amigos se juntou para erguer uma peça que marcou época, grande sucesso de público e de crítica. Estou falando de “Favela”, hoje conhecida como “Favela 1”, uma vez que o mesmo grupo de amigos e outros novos se juntaram para montar “FAVELA 2 – A GENTE NÃO DESISTE”, motivo desta crítica.







            “Favela (1)” era uma comédia musical que estreou, em dezembro de 2012, no FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra), quando ganhou o Prêmio Especial (Troféu Ítalo Rossi), para o elenco, e indicação a Melhor Texto, lotando um espaço com 1500 lugares. A estreia oficial, no Rio de Janeiro, aconteceu em abril de 2013, no Teatro Fashion Mall, o que provocou, na época, muitos comentários, pelo fato de um espetáculo com a temática “favela” estrear no Shopping Fashion Mall, um dos mais sofisticados da ex-Cidade Maravilhosa, em pleno bairro de São Conrado, um dos preferidos da chamada classe “A”. Em seguida, vieram temporadas no Teatro do Leblon, na Sala Baden Powell, no Teatro João Caetano (por duas vezes), no SESC Tijuca, SESC São Gonçalo, SESC São João de Meriti e no Teatro Carlos Gomes. Fora do da cidade do Rio de Janeiro, a peça foi, também, apresentada em Campos (RJ) e na cidade de Itu (SP). A última temporada de “Favela 1” foi em setembro de 2017, novamente no Teatro João Caetano, fechando um longo e vitorioso ciclo. Durante cinco anos, a “Favela (1)” foi vista por mais de 80.000 espectadores. Algumas pessoas, como eu, assistiram a ela mais de uma vez. Creio que esse pequeno texto, que trata da trajetória de um espetáculo teatral no Brasil, é mais que suficiente, para justificar o desejo de o grupo voltar ao cartaz com outra peça, “FAVELA 2 – A GENTE NÃO DESITE”, que é uma espécie de “continuação” do espetáculo anterior.





           



Segundo o “release” da montagem (adaptado), enviado por RÔMULO RODRIGUES (PRAMA COMUNICAÇÃO) “O espetáculo mostra, de forma bem humorada, o dia a dia numa favela, sem falar apenas de bandidos, do lado violento de uma ‘comunidade’. Mostra pessoas comuns, relações familiares, relações de amor; mostra o cotidiano de seus moradores. O texto apresenta uma abordagem bem diferente de tudo o que já foi apresentado sobre o assunto. Mostra que a violência é inegável, dentro de uma comunidade, mas também que histórias comuns podem acontecer ali, como em qualquer outro lugar; histórias engraçadas e comoventes, que levam o público, em questão de minutos, a rir muito, se emocionar e a questionar a vida. O grande mote do espetáculo é “A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS”. O que você quer da vida? Quais escolhas você fez ? Aonde elas te levaram? Quais escolhas você fará?

Em tempos de pacificação de comunidades, quando favela é o tema de muitas manchetes, e, na maioria das vezes, esse tema é a violência, nada mais oportuno de se levar aos palcos, para todos os tipos de público, que uma visão, sem preconceito e mais abrangente, dos moradores de uma favela.

O espetáculo tem como diferencial ser uma peça que fala de um tema bem atual, mas com um enfoque diferente, uma ênfase nos seus
moradores comuns, gente que trabalha, que tem problemas familiares e amorosos, como todo mundo, e não apenas convivem com a violência, como é comumente retratado no cinema, na TV e no Teatro”
.







Para escrever o texto, das duas peças, principalmente da primeira, RÔMULO RODRIGUES envolveu-se, durante dois anos, numa profunda pesquisa de campo, mergulhado em livros, filmes, documentários, notícias veiculadas na imprensa e, principalmente, convivendo com moradores de favelas cariocas, tendo como companheiro de trabalho MÁRCIO VIEIRA, idealizador do projeto e diretor das duas versões. Essa experiência levou a dupla a desmistificar toda uma opinião pré-concebida, que tinham, sobre a favela e seus moradores, e é essa desmistificação que o espetáculo leva à cena, contagiando todos os espectadores.

Embora a montagem conte com músicas inéditas, feitas, especialmente, para ela, e seja classificada como uma “comédia musical”, vejo-a mais, em termos estruturais, como uma deliciosa comédia, com inserções musicais, já que as canções são em menor número do que se vê, comumente, nos musicais, e as letras não, obrigatoriamente, ajudam a contar a trama. São mais para apoio e ilustração do espetáculo, o que não constitui o menor problema na sua classificação tipológica.






            A peça, como já tive a oportunidade de dizer,  é a continuação das histórias do espetáculo “Favela (1)”, contando com os mesmos personagens e, salvo engano, um ou outro novo, só que vem para mostrar histórias inéditas desses personagens. Passados alguns anos, todos tomaram os seus rumos e assumem os riscos de suas escolhas. Os mesmos personagens, com novas histórias. “O humor continua presente, durante toda a peça, mas tudo se encaminhando para um pedido de atenção e cuidado com os moradores das favelas. Em cena, personagens cômicos e dramáticos, que falam de temas muito atuais, como empoderamento feminino, corrupção, violência nas favelas, o mau uso da internet, entre outros assuntos. As últimas falas do espetáculo resumem, um pouco, o alerta que ele pretende fazer: “ É morador! É morador! É preto! É pobre! É favelado! Não é bandido! É morador! É morador! É preto! É pobre! É favelado! É gente do bem! É gente do bem!”











SINOPSE:

            A ameaça de destruição da favela e a eleição para o novo presidente da associação de moradores servem de pano de fundo para as novas histórias das personagens que encantaram a todos na primeira fase do espetáculo, que comemorou cinco anos, em 2017.

            Nessa continuação, DONA JUREMA (DJA MARTINS) está comemorando 100 anos e terá um belo baile de debutante; JUVENAL (DÉRIO CHAGAS) virou pagodeiro famoso e enfrenta uma crise no casamento, porque um “nudes” dele vazaram na internet; MEIRE (PAULA PARDON) está grávida de OSMAR (LEANDRO SANTANNA) ​e inferniza a vida do marido com desejos malucos; VALDIRA (DILENE PRADO) casou-se com um gringo milionário e está de volta ao Brasil, de férias, na favela; JEOMAR (TITO SANT’ANNA) realiza seu grande sonho de trabalhar como engenheiro, mas vive o conflito de participar ou não da derrubada da favela, e a sua esposa ELISA (CINTHIA ANDRADE) virou pastora da Igreja e se une a seu EUZÉBIO (THIAGO JUSTINO), que é da umbanda, para lutar pela favela.

            Essas são apenas algumas das novidades do “FAVELA 2 - A GENTE NÃO DESISTE”.








Trata-se de um espetáculo de cunho popular, no melhor sentido do termo, voltado para uma plateia eclética, que vai do favelado às pessoas de maior posse, dos de pouca instrução aos que têm seus diplomas, dos que gostam de rir, de se divertir, aos que procuram um TEATRO que faça pensar.

Ao analisar a ficha técnica da peça, não podemos deixar de dar destaque a vários nomes, como o de RÔMULO RODRIGUES, responsável por um texto que flui, sem nenhuma sofisticação e com bastante verdade; o de MÁRCIO VIEIRA, na direção, que fez um trabalho simples, ainda que difícil, já que o elenco é numeroso, um trabalho sem firulas e sabendo explorar a riqueza dos personagens; o de MILTON FILHO, na assistência de direção; o de DERÔ MARTIN, que construiu um excelente cenário, salvo engano, uma repetição do primeiro, com um ou outro elemento a mais ou a menos; o de RICARDO ROCHA, preciso nos figurinos; o de DJALMA AMARAL, na competente iluminação; o de SUELI GUERRA, na coreografia, um grande desafio, quando se trata de um elenco que não me pareceu ter muita intimidade com a dança, à exceção de poucos; o de PEDRO LIMA, na preparação vocal; o de MÁRCIO EDUARDO MELO, na direção musical; e o de VINNY RODRIGUES e JENIFER DEMÉTRIO, no ótimo visagismo.






Chegou a hora de falar do trabalho do elenco, formado por alguns atores de grande experiência e longo currículo, atuando ao lado de nomes desconhecidos, mas de bom rendimento no palco, somando-se, uns aos outros, para que o resultado se tornasse positivo. Vejo destaque em alguns e correção em outros. Merecem destaque, a meu juízo, VILMA MELO (DONA VILMA), sempre roubando as cenas de que participa; JUVENAL (DÉRIO CHAGAS), compondo, na medida, o personagem do pagodeiro “que se deu bem”; HUGO MOURA (MURILO), cadeirante, que ficou impedido de andar, por conta da violência (levou um tiro na coluna vertebral); CINTHIA ANDRADE (ELISA), a jovem pastora evangélica, que se alia a um líder umbandista, para “salvar” a favela, uma ótima sacada do texto; DJA MARTINS (DONA JUREMA), a fofoqueira centenária, que vive na janela e é a “rede social” da favela; e PAULA PARDON (MEIRE), dona de um tempo para o humor que merece ser aplaudido, assim como LEANDRO SANTANNA (OSMAR), seu marido.   






FICHA TÉCNICA:

Texto: Rômulo Rodrigues
Direção e Idealização: Márcio Vieira

PERSONAGEM / ELENCO:
Seu Euzébio – Thiago Justino
Dona Vilma – Vilma Melo / Sarito Rodrigues
Juvenal – Dério Chagas
Suelen – Renata Tavares
Murilo – Hugo Moura
Jeomar – Tito Sant’anna
Elisa – Cinthia Andrade
Dona Jurema – Dja Martins
Osmar – Leandro Santanna
Meire – Paula Pardon
Valdira – Dilene Prado
Menina Marilyn “Mou” – Ana Paula Quevedo
Pastor Pereira – Natálio Maria
Dona Antônia – Helena Giffonni
Fiel Kadu – Jéferson Melo e Daniel Almeida
Ex-policial Celsão – Henrique Sathler
Bandido “Sinistro” – Walace Fortunato
Bandido “D’onde” – Júlio Nunes
Moça Jane – Gisele Castro
Moça Sara – Cláudia Leopoldo
B Boy – Vinícius Rodrigues
Stand-in - Murilo - Hugo Carvalho
Stand- in - Seu Euzébio – Jorge Jeronymo
Stand-in - B Boy – Peterson Christopher
Stand-in - Dona Jurema – Maria Zenayde

Músicos: Caio Martins, Leandro Lopes, Jorge China e Patrick Angello

Direção Musical: Márcio Eduardo Melo
Músicas inéditas: Xande de Pilares, Thiago Tomé e Efferson Souza (Jeff Ss)
Assistente de Direção: Milton Filho
Coreografia: Sueli Guerra
Iluminação: Djalma Amaral
Cenário: Derô Martin
Figurinos: Ricardo Rocha
Preparação Vocal: Pedro Lima
Visagismo: Vinny Rodrigues e Jenifer Demétrio
Fotografia: Fernanda Sabença e Marden Nascimento
Programação Visual: Leandro Antônio
Assessoria de Imprensa: Vítor Minateli
Direção de Produção: Rômulo Rodrigues e Márcio Vieira
Produção: Milton Filho E Gilbert Magalhães
Realização: Prama Comunicação e Sobradinho Cultural












SERVIÇO:

Temporada: De 15 de junho a 19 de agosto de 2018. 
Local: Teatro João Caetano.
Endereço: Praça Tiradentes, s/nº - Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 19h30min; domingo, às 18h.
Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Capacidade: 1222 pessoas.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Comédia Musical.







                “FAVELA 2 – A GENTE NÃO DESISTE” tem tudo para seguir os mesmos caminhos de “FAVELA (1)”, a julgar pelo fato de estar levando, ao Teatro João Caetano, centenas de espectadores, em cada sessão e de já estar com a agenda lotada, em outras temporadas, até o final do ano.
            Não percam a oportunidade de verificar, “in loco”, as minhas palavras.
            Recomendo, com muita alegria, o espetáculo.









E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!











(FOTOS: FERNANDA SABENÇA
e
MARDEN NASCIMENTO.)








































Um comentário:

  1. O espetáculo Favela 2 - A gente não desiste é realmente sensacional e emocionante. Suas palavras retratam a realidade do teatro brasileiro e ressaltam a magnitude deste espetáculo. Já assisti duas vezes e assistiria mais. Amei! É realmente um fenômeno teatral! Parabéns pelas belas palavras!

    ResponderExcluir