sexta-feira, 8 de junho de 2018


NUON

(POESIA, AINDA QUE 
NA GUERRA.
ou
ENCANTAMENTO,
EM MEIO À DOR.)







            Com as malas carregadas de “excesso de bagagem”, em função de tantos prêmios conquistados, desde sua estreia, e com uma semana de atraso para o início de sua temporada no Teatro Ipanema (VER SERVIÇO.), em função de o caminhão que trazia o cenário e demais equipamentos ter ficado retido na estrada, vindo de Curitiba, por conta dos desagradáveis e inadmissíveis (É A MINHA OPINIÃO!!! RESPEITEM-NA!!!) bloqueios nas estradas do país, finalmente, aportou, no Rio de Janeiro, o espetáculo “NUON”, motivo desta crítica. Anteriormente, depois de ter estreado em Curitiba, a peça passou por São Paulo, onde foi muito bem recebida, como o será, pelos cariocas.


















SINOPSE:

“NUON” é um espetáculo que fala, específica e aparentemente, sobre a Guerra do Camboja e, no entanto, fala sobre todas as guerras.

Todas as guerras são iguais, na medida em que empurram as pessoas à perda dos valores simbólicos que os estruturam, como indivíduos, seres civilizados e membros de uma sociedade. 

Ainda que o assunto abordado possa sugerir uma forma épica, a encenação de “NUON” opta por um caminho intimista e constrói cenas que evidenciam a dor das pessoas, no momento em que se dão conta de sua impotência frente ao caos gerado por decisões políticas e sociais das quais eles não participam.






A perda dos afetos, da educação, da civilidade, da solidariedade humana e, principalmente, a interrupção de sua capacidade de gerar poesia e valor simbólico. Tudo o que constitui a ideia de humanidade fica suspenso e sucumbe à barbárie. 

“NUON” aborda temas atuais. Os personagens se encontram em situação em que estão obrigados a escolher entre viver em meio à dor e à brutal desconstrução de suas referências ou morrer, em uma tentativa de resgatar, ainda que por um último instante, sua humanidade. 

Por meio da beleza estética que o oriente inspira, a peça faz uma reflexão sobre guerra, refugiados, fronteiras imigração e a perda dos valores humanos. 

A obra escolhe o silêncio, o belo e a poesia, para falar da dor do atroz e da perda de tudo.

Seguindo um provérbio oriental: “Contra a dor, só a beleza”.



















            Achei por bem incorporar, na sinopse, todas as informações que me chegaram às mãos, por meio do “release”, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), para facilitar a compreensão do texto, por quem ainda vai assistir à peça, e aproveito parta registrar os vários prêmios que o espetáculo, merecidamente, conquistou, a começar pela mais importante premiação do teatro paranaense, celeiro de grandes artistas, que é o Prêmio Gralha Azul (2016), nas categorias Melhor Ator Coadjuvante (Marcelo Rodrigues de Oliveira), Melhor Atriz Coadjuvante (Janine de Campos e Helena Burmann Tezza), Melhor Iluminação (Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski), Melhor Figurino (Eduardo Giacomini) e Melhor Sonoplastia (Mateus Ferrari). Nesse importante Prêmio, a montagem recebeu onze indicações.

            “NUON” é um espetáculo extremamente “sensorial”, no sentido de mexer com as nossas emoções, os nossos sentidos, apelando, principalmente para os da visão e da audição. Plasticamente, é um deleite para os olhos.







Não é um espetáculo fácil de ser compreendido, referindo-me ao texto, um tanto hermético e cuja boa parte é narrada, uma vez que, praticamente, exige, do espectador, conhecimentos históricos, sobre a terrível Guerra do Camboja, uma guerra civil, que assolou o país na década de 70, tendo como ápice a ascensão do brutal regime do Khmer Vermelho, que começou como uma guerrilha comunista, liderado por Pol Pot, entre 1975 e 1979, o que gerou um covarde genocídio, um assassinato em massa, no qual se estima que, em quatro anos, foram executados cerca de 1,7 a 2 milhões de pessoas, aproximadamente 25% da população da época, entre membros do governo anterior (deposto), servidores públicos, militares, policiais, professores, vietnamitas, líderes cristãos e muçulmanos, pessoas da classe média e com boa formação escolar






Esse pesadelo, após cinco anos de luta feroz, que trouxe enormes baixas, destruição da economia, escassez de alimentos para a população e graves atrocidades, teve fim em 1975. Embora fosse uma guerra civil, ela é considerada como parte da Guerra do Vietnã (1963-1978).

Ainda que demande conhecimentos do conflito bélico, para que sejam compreendidos detalhes do texto, como diz, porém, a própria sinopse, “Todas as guerras são iguais...”. Sendo assim, o espectador não consegue deixar de ficar ligado a tudo o que ocorre em cena, pela força e beleza do texto, assim como pelo visual e os estímulos sonoros que recebe, durante todo o espetáculo, produzidos, ao vivo, por dois exímios músicos, BRENO MONTE SERRAT e MATEUS FERRARI, os quais tocam instrumentos de percussão, típicos da região em que se dá a ação, e outros de sopro.

O fato de ter escrito o texto confere a ANA ROSA TEZZA, competente diretora, quiçá, um pouco de facilidade, na direção do espetáculo, tarefa desafiante, o que, nas mãos de outro diretor, poderia se tornar uma faina mais difícil e pesada. ANA soube como conduzir cada cena e orientar seus atores, no sentido de criar uma obra de rara beleza e poesia. A peça é um poema cênico!!!










O elenco, quase todo se revezando em mais de um personagem, é muito homogêneo e consegue transmitir, com bastante propriedade, todas as nuanças que a montagem exige. Não ousaria destacar nenhum nome, para não cometer uma injustiça. Cada um dos cinco elementos parece ter abraçado suas funções com muito esmero e dedicação, nem sempre observados no ofício de representar.

Na verdade, não seria exagero incluir os dois já citados músicos no elenco, uma vez que a trilha sonora é fundamental, nesta montagem, sublinhando, praticamente, todas as cenas, da forma mais harmoniosa possível. Embora já tenha me referido aos dois como ótimos musicistas, acrescento um crédito a MATEUS FERRARI, pelo fato de ser o responsável pela riqueza da composição musical.

A parte visual, plástica, do espetáculo chama a atenção pelo apuro dos elementos presentes no belíssimo figurino, assinado por EDUARDO GIACOMINI, alguns merecedores de destaque; pelo lindo cenário, que leva a criatividade de FERNANDO MARÉS: a brilhante ideia de espalhar passarelas e pequenas plataformas de madeira, no palco, indicando o desnivelamento no topo de uma montanha, assim como um portal, todo trabalhado em arabescos vazados, simétricos, uma verdadeira obra de arte; e pela encantadora e hipnotizante iluminação, a cargo de BETO BRUEL e RODRIGO ZIOLKOWSKI. Acrescente-se o virtuoso trabalho na plástica dos personagens e nas máscaras, saído das mãos delicadas e criativas de MARIA ADÉLIA.









FICHA TÉCNICA:

Produção: Ave Lola Trupe de Teatro 
Texto e Direção: Ana Rosa Tezza. 

Elenco: Evandro Santiago, como Arun, Kim, Sambath e Diretor do Campo de Refugiados; Helena Tezza, como Bopha, Nuon e Ampeu Hengsaa; Janine de Campos, como Príncipe Norodom Sihanouk, Nuon e Koylan; Marcelo Rodrigues, como Tã e Mestre Viseth; Regina Bastos, como Nuon
Músicos: Breno Monte Serrat e Mateus Ferrari 

Composição Musical: Mateus Ferrari 
Figurinista:Eduardo Giacomini
Cenógrafo: Fernando Marés 
Iluminação: Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski
Plástica do Personagem e Máscaras: Maria Adélia 
Operador de Luz: Jean Carlos Sanchez
Contrarregra: Mozart Machado
Produção: Laura Tezza e Larissa de Lima
Assistente de Produção: Dara van Waalwijk van Doorn 
Cenotécnico: Anderson Quinsler
Design Gráfico: Mateus Ferrari 
Realização: Ave Lola e as Meninas Produções Artísticas LTDA. 
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

















​ 

SERVIÇO:

Temporada: De 02 de junho a 03 de julho de 2018.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sábado a 2ª feira, às 20h30min.
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia entrada), na bilheteria do Teatro Ipanema; R$24,00 (inteira) e R$12,00 (meia entrada), na compra antecipada, pelo Site Ticket Mais.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Os ingressos são vendidos uma hora antes de cada sessão. Aceitam-se cartões de débito e de crédito, na bilheteria do Teatro Ipanema, de 5ª a 2ª feira.
Capacidade: 193 lugares.
Gênero: Drama.
Classificação Etária: 16 anos.

OBSERVAÇÃO: Sessões Extras: 29/06 (6ª feira) e 03/07 (3ª feira).










Para encerrar, não poderia deixar de dizer que este espetáculo é uma grandiosa produção da AVE LOLA TRUPE DE TEATRO, com sede própria em Curitiba, Paraná.

“A AVE LOLA ESPAÇO DE CRIAÇÃO é um local onde artistas inquietos sonham e trabalham juntos por um fazer artístico poético e humano inserido no seu tempo histórico.

A equipe multidisciplinar da AVE LOLA é formada por profissionais das áreas de TEATRO, audiovisual e música, os quais mantêm uma relação amorosa com a arte. É um grupo de pessoas, buscando preservar a noção de coletividade, por meio de um trabalho realizado em equipe.

A AVE LOLA reúne pessoas comprometidas com um diálogo poético com a sociedade civil, acreditando ser o belo um direito do ser humano. Nesse sentido, tem desenvolvido um competente trabalho nas áreas de TEATRO, formação em artes e audiovisual, conquistando, a cada dia, maior reconhecimento público.

Em sua sede, a AVE LOLA possui uma sala de TEATRO, onde realiza temporadas de suas produções teatrais, exposições e oficinas, além de receber companhias do Brasil e do mundo, que dialoguem com sua linguagem. Sua missão é criar, por meio da arte, um ambiente de reflexão e diversão para artistas e audiência. Sua visão é ser um empreendimento artístico de referência no Brasil e no Mundo.”. (Extraído do "site" da Companhia.)






A AVE LOLA, assim como a grande maioria das companhias de TEATRO do Brasil, tem feito um exercício hercúleo, para se manter viva e ativa e não mediu esforços, para, em meio ao tumultuado momento político e social por que vem passando o país, nos brindar com o imenso prazer de aplaudir “NUON”, merecendo, por isso, nosso respeito e agradecimento.

Não faltam motivos, portanto, para que todos assistam a este belíssimo espetáculo, que recomendo MUITO, e que o divulguem entre seus pares.









“CONTRA A DOR, SÓ A BELEZA.”







E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O BOM TEATRO BRASILEIRO!!!






(FOTOS: KELLY KNEVELS
e
MARINGAS MACIEL.)






























































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